As duas semanas que eu tinha entre a minha mudança definitiva para Boston pareciam voar: eu m*l tinha tempo de cumprir minhas metas diárias de organização e visitas de despedida. É claro que eu tinha tempo, entre minha mudança e o começo das aulas, eu tinha mais de duas semanas, mas decidi, juntamente com minha mãe e Spencer, que eu precisava de tempo par ame adaptar. Havia uma coisa que estava me incomodando um pouco, o fato de que eu não poderia levar o meu carro para Boston:
- É o Impala do vovô - eu dizia em tom de súplica - ele é um item de colecionador, único - eu protestei - não sei porque é que eu não poderia...
- Mariah - minha mãe me encarou séria - você pretende pegar uma auto estrada, num Impala? Quer visitar Spencer em New York com ele? Sabe que é frio, não sabe? Tem neve, tem trânsito...
- Eu sei, mas como eu poderia deixa-lo? - eu tinha os olhos marejados - Meu primeiro carro...
- Sim - ela abraçou-me - e eu sei todo o valor que ele tem para você, por isso - ela sorriu - não será preciso vender ele, escolheremos um modelo assim que chegarmos em Boston, e assim eu ficarei mais tranquila quanto aos seus planos de idas e vindas.
- Tudo bem - suspirei derrotada - mas vou querer manter ele aqui, por um tempo, pelo menos até eu decidir...
- Seu pai disse que ele tem lugar no East Garden - minha mãe responde - depois você pode pensar no que quer fazer com o carro.
- Tudo bem - eu digo - vai me ajudar a escolher um carro mais adequado?
- Sim - ela sorri - e por isso precisamos de um tempo antes das suas aulas.
- Sabe que posso usar o metrô? Eu sou perfeitamente capaz...
- Eu sei que sim - ela riu - mas você já está acostumada a ter sua liberdade de ir e vir e pode ser que precise dela para aproveitar todas as oportunidades da vida acadêmica.
- Tudo bem - eu suspiro.
- E as suas coisas? Conseguiu chegar no fim? - ela parece curiosa.
- Ainda não - eu respondo mordendo uma maça - mas falta pouco, bem pouco...
- Acho que você deveria concentrar-se em levar apenas o essencial - ela diz.
- Não consigo - respondo - eu sou muito, muito apegada, você sabe.
- Sim, eu sei sim...
Discutimos longos minutos sobre as coisas que ela acreditava que eu não precisava levar para Boston. Eu estava totalmente decidida a não abrir mão de algumas coisas, mas acabei mudando de ideia antes do fim da primeira semana quando percebi que já tinha coisas demais para carregar para o meu novo apartamento. Nunca havia vendido tantas coisas pelo eBay como naquele momento da vida: máquina de costura, fantasias de halloween, aparelho de som... Eu sabia que tinha quase tudo o que precisava no meu apartamento e que muitas daquelas coisas eu jamais usaria novamente.
- É a sobra das sobras? - perguntava Lindsey enquanto entrava no meu quarto depois de voltar de uma viagem com Justin - Amiga, eu estava morrendo de saudades.
- Eu também estava - abraço minha amiga que estava parecendo radiante - como foi de viagem?
- Maravilhosamente bem - ela sorri - acho que eu precisava de um tempo, um longo tempo, longe da mamãe e do meu irmão, sinceramente, eu queria ficar em paz - ela senta-se em minha cama - e com Justin você sabe, tudo é em paz, tudo tem um tempo diferente.
- Verdade - eu respondo sorrindo - que bom que foram bem e que você aproveitou.
- Cada minutinho - ela sorri - mas estava louca para voltar, queria te ver, queria te ajudar...
- Tudo sob controle - eu respondo - pelo menos e o que eu acho.
- Claro - ela da ombros - não vejo nenhuma possibilidade de estar com isso finalizado em tempo.
- Eu também não - respondo rindo - mas quero sorvete.
- Sorvete é bom...
- Vamos - eu digo e pego as chaves do Impala - acho que eu mereço um bom sorvete.
Saímos correndo escada abaixo e rindo. Mamãe falou algo sobre estarmos barulhentas, mas mesmo parecendo menos sensível, ela estava bem mais chata do que o normal nos últimos tempos. Dirigi com a capota abaixada, mesmo sentindo um vento mais frio vindo da costa, era a sensação de liberdade que eu gostava, o vento no rosto e sem muitos compromissos. Paramos em uma sorveteria do centro, Lindsey gostava daquela. Pedimos casquinhas e sentamo-nos sobre o capô do Impala, precisava dividir com alguém minha tristeza:
- Vou ter que deixar o Impala em Los Angeles - digo sem pensar muito.
- Nossa - ela esfrega uma das mãos sobre o capô - tadinho, ele vai sentir sua falta.
- E eu vou sentir falta dele - suspirei - é o carro que eu sempre quis...
- Sabe que sou suspeita, né? Eu não ligo muito para carros...
- Eu sei que não - respondo - mas para mim é muito estranho pensar que não vou estar dirigindo ele, acho que eu nem sei me comportar em outro carro.
- Nossa - ela riu - acho que essa é a coisa mais i****a que eu já ouvi na vida.
- É porque nunca amou um carro - eu respondo satisfeita.
- Eu amo o Justin - ela suspirou - e acho que é parecido, eu também vou ter que deixa-lo.
- Sim - suspirei, entendia que ela estava triste - mas pode ver ele...
- ... preferia deixa-lo em uma garagem do que na Universidade - ela responde rindo - ao menos eu saberia que ele estaria bem e... Sozinho.
- Que coisa mais profunda - suspiro - mas entendo você. Não sei se precisa se preocupar com Justin.
- Eu sei, ele parece extremamente passivo - ela riu - mas é inocente, sabe como as garotas são.
- Sim - revirei os olhos pensando no estrago que uma garota como Pamela Stone ou a antiga Mia fariam com um garoto como Justin - eu sei exatamente como elas são.
Conversamos sobre garotas cruéis enquanto terminamos nossos sorvetes. Decidimos voltar para a casa de praia e terminar de organizar minhas coisas, Lindsey dormiria comigo e estava decidida a terminar de embalar e organizar tudo aquilo que eu não usaria até o dia da viagem e nos primeiros dias em Boston:
- Uniformes velhos - ela largou outra pilha de camisas em uma caixa - e todos esses biquínis...
- Escolhe alguns para você - eu digo prontamente - ao menos você ainda vai estar na Califórnia.
- Acho o inverno muito charmoso - ela disse rindo.
- Me visite no inverno, então - eu respondo - sabe que sempre vai ter um lugar para você.
- Ai amiga - ela me abraça - eu sei que sim, vou morrer de saudades suas, sabia?
- Sim, eu sabia - respondo convencida - acho que conhecer você foi a melhor coisa que podia ter acontecido na minha vida - eu abraço minha amiga.
Aproveitamos nosso momento: rimos e choramos lembrando de nossas aventuras no ensino médio, desde o dia em que nos conhecemos, nosso "encontro de almas": Lindsey havia sido minha primeira amiga dentro do Highland Hall, e da vida também, eu tinha um costume esquisito de andar cercada de garotos bobocas, então, encontrar alguém com quem eu poderia dividir meus segredos e dúvidas, minhas alegrias e frustrações, tinha sido muito importante para mim.
Passamos de carro em frente ao colégio, encaramos o vazio: ali vivemos tanto, aproveitamos tanto e aprendemos tanto... Sempre carregaríamos em nossos corações as lembranças dos melhores anos das nossas vidas e todas as nossas aventuras. Deixei Lindsey em casa com um aperto no peito: sabia que ela ficaria bem, ela era forte e muito mais obstinada do que eu, e ainda nos falaríamos sempre, manteríamos o contato. Decidi ligar para Noah para despedir-me, já que eu estava perto, ele foi bem solícito e desceu instantaneamente para me ver:
- Não esperava te ver tão cedo - ele disse com uma expressão estranha.
- Acho que vai ficar mais apertado do que eu planejava - suspirei, eu estava procurando uma desculpa para fazer aquilo o mais rapidamente possível.
- Eu sei que vai - ele aproximou-se e me abraçou apertado - eu vou sentir a sua falta, Martinez.
- Eu também vou sentir a sua falta, esquisito - eu respondo apertando o abraço - de verdade, de coração.
- Acredito em você - ele afastou-se um pouco e beijou minha testa, pegando minhas mãos em seguida - eu vou estar sempre torcendo por você, sempre desejando que conquiste tudo o que sempre desejou - ele sorriu - e principalmente, vou estar rezando para que esteja se cuidando, para que se ouça, que respeite seus limites - ele beija minhas mãos - se precisar, sabe que eu atravesso o pais para te cuidar, não sabe?
- Eu acho que eu sei sim - abracei-o novamente, já com as lágrimas escorrendo pesadas de meus olhos - obrigada por tudo, por tanto...
- Não me agradece - ele beijou minha testa novamente e segurou meu rosto com as mãos - fica bem, que vamos nos ver de novo, certo?
Nossa despedida foi isso: dez minutos em frente ao prédio onde ele morava, eu chorando como um bebê e meu coração apertado: Noah era um garoto peculiar, esquisito mesmo, um dos caras mais sexys que eu tinha tido o prazer de conhecer, com um dos garotos mais cuidadosos e gentis dentro dele... Tinha sido a melhor surpresa do ano, e se eu ignorasse o fato de que tínhamos uma atração física forte, uma tensão não resolvida, ele era um dos amigos mais leais e cuidadosos que alguém poderia ter e por esse motivo, eu não queria nunca, jamais, perder ele.
Voltei para casa e encontrei Spencer por lá, não era o que eu estava planejando, mas não tinha como fugir, precisava pensar em como eu iria explicar minhas lágrimas:
- Despediu-se da Lindsey - ele disse assim que entramos no meu quarto.
- Sim - respondo - e do Noah, fomos tomar sorvete.
- Sabe que não foi um adeus, não sabe? - ele me abraçou apertado - Sei que detesta mudanças, mas vai ficar bem...
- Sim - eu respondo e mesmo que eu sinta uma imensa vontade de chorar mais, eu controlo - só preciso me acostumar com isso também.
- Isso ai - ele diz e me beija com delicadeza - eu amo você, Martinez.
- Eu também amo você, Spencer.
Minha última semana em Los Angeles foi corrida e sofrida, conforme as palavras da mamãe: ou eu estava desesperada resolvendo alguma pendência ou estava chorando abraçada em alguém que eu não veria até as minhas férias. Despedi-me de Mark em uma sessão na quarta feira, ele recomendou que eu buscasse outro profissional ao menos para ter um ouvinte imparcial às vezes, aquilo soava engraçado, mas guardei o seu conselho. Almocei com Mia e Amélie neste dia, e apesar de me sentir triste por sabe que eu perderia muito do crescimento da pequena, saber que Mia e Peter tinham realmente começado uma família juntos e que estavam bem e felizes, me fazia feliz também.
Despedir-me da minha família no East Graden foi o mais difícil, e eu decidi faze-lo na quinta à noite, busquei vovó na Prince's House e jantamos juntos. Donna a Jonathan também compareceram, eles precisavam "despedir-se direito" como todos os outros da família. Meus primos, tias e tios pareciam estar bem com minha partida, mas Lorena estava visivelmente abalada, papai estava desolado e minha avó, apenas conformada:
- Faça-me o favor, Douglas - ela dizia ao papai - a menina vai para a faculdade, não para a guerra...
- Sim - ele disse abraçado em mim ao lado da Renegade de Spencer, pois eu já havia deixado o Impala na garagem - mas é a minha garotinha, e ela vai para longe...
- Sim - vovó deu uns tapinhas nele - e vai estar de volta em breve, formada e realizando todos os sonhos dela - ela por fim afastou o papai de mim - vou sentir muito a sua falta, sabia?
- Eu sabia sim - respondi abraçando-a - precisa se cuidar, precisa me telefonar e me atender - eu beijei o rosto da minha avó - e eu vou estar sempre perguntando de você, então não seja teimosa, tome seus remédios e não dê trabalho demais aos meninos - eu me referia aos enfermeiros da casa de repouso.
- Chega a ser pecado vir ao mundo e não dar trabalho aos meninos - ela riu alto - vá com Deus, fique bem e nunca se esqueça dos seus.
- Nunca mesmo - foi tudo o que disse antes de entrar no carro.
Spencer foi muito compreensivo: compreendeu meu silêncio, meu choro, minhas crises. Ao chegarmos em casa, ele apenas deitou ao meu lado e abraçou-me apertado, dizendo baixinho que tudo ficaria bem e que ele estava comigo, e eu chorei aninhada em seu abraço até adormecer.
Meu vôo era as duas horas da tarde. Mamãe e eu tínhamos um planejamento, que ninguém seguiu, e então, no fim das contas, estávamos atrasadas e correndo como loucas. Spencer embarcaria apenas na segunda feira, ele acreditava que eu precisava de um tempo com minha mãe na casa nova e bem, a mãe dele provavelmente queria um tempo com ele também, antes que ele viajasse para voltar apenas no período de férias. Spencer foi quem nos levou para o aeroporto: trajeto silencioso, eu tentava não pensar muito e agir com naturalidade, eu estava definitivamente mudando minha vida.
- Vou sentir sua falta - Spencer disse beijando-me - muita.
- E eu também vou - aninho-me em seu peito, temos pouco tempo.
- Antes de morrer de saudades, eu chego - ele riu - só me espera até segunda.
- Tudo bem - brinquei - acredito que eu consigo.
E assim nos despedimos, por um breve período de três dias. E no momento em que embarquei, sentindo um frio na barriga, antes mesmo que o avião decolasse rumo à minha nova casa, rumo à minha nova vida, eu sabia que absolutamente nada mais seria igual na minha vida, e sim, eu estava okay com isso. Esse era o meu momento, eu estava deixando tudo para trás e indo, definitivamente e com toda a certeza, em alta velocidade e sem arrependimentos, no caminho da vida adulta.