Capítulo 1
ANNA
Hoje completo oito meses de gestação, a barriga mexe conforme o táxi se movimenta me fazendo ter leves ondas de enjoo. A casa de Maia não é muito longe, mas a pé eu demoraria uma eternidade. Estou prestes a receber a última parcela do p*******o, pois o feto que carrego em meu ventre é dela. Ser barriga de aluguel não é fácil, mas foi uma escolha que tive que fazer.
O táxi para em frente ao portão, peço para ele esperar e desço, sigo até lá e aperto o interfone. Não obtive resposta, então continuo a apertar até que uma senhora aparece m*l-humorada.
— Mas que m***a, para que tanto barulho? — ela me encara dos pés à cabeça em total desprezo.
— Me desculpe, pensei que não tinha ninguém em casa.
— Que seja o que você quer? — ela me olha como se visse minha alma.
— Sou Anna, a barriga de aluguel da Maia, ela está?
— Não, ela viajou ontem, só vai voltar na semana que vem — informa impaciente pronta para voltar para dentro.
— Ela pelo menos deixou alguma coisa pra mim? — pergunto rezando para que ela diga que sim.
— Não, agora com licença, tenho algo mais importante para fazer — ela dá as costas e volta pra dentro.
Decepcionada, voltei pro táxi, eu precisava daquele dinheiro, mas àquela altura Maia estaria longe. Eu precisava ligar para lembrá-la da parcela desse mês. A viagem de volta foi silenciosa, o motorista não conversava e eu tentava descansar os olhos enquanto apoiava as mãos na barriga. Iago deveria estar na cama àquela hora, sempre gostou de dormir até tarde e ainda descansava quando saí.
Eu estava cansada devido ao balanço do carro e o peso da minha barriga. Eu precisava ir à farmácia e pedi ao táxi que me esperasse mais cinco minutos, precisava paga-lo e certamente o Iago teria o valor da viagem na carteira.
Destranquei a porta e entrei, coloquei as chaves sobre o pires da mesinha ao lado da porta e tirei minhas sapatilhas. Era para a casa estar silenciosa, mas um barulho estranho me chamou a atenção. Vinha do nosso quarto. Apoiei a mão na barriga e subi as escadas com cuidado. Andei pelo corredor e me aproximei da porta do nosso quarto, eu conhecia aquele som, eram gemidos.
Abri lentamente a porta e me deparo com o meu marido na cama com a Maia, aquela quem disse estar viajando desde ontem. Passei os olhos pelo quarto, roupas jogadas pelo chão, o salto dela perdido pelo quarto e uma toalha no chão, típico de amantes antigos. Na escrivaninha ao meu lado um envelope, o mesmo que recebo todo mês quando vou a casa dela. Como pude ser tão ingênua?
— Iago! – gritei, fazendo-o pular da cama e se virando para mim enquanto Maia puxava o lençol para cobrir seu corpo magro.
— Anna! Pensei que ia demorar a chegar hoje — ele alcança a cueca no chão. Mordo os lábios, cinco anos de casados eu nunca imaginava isso dele. Seguro o choro, eles não mereciam minhas lágrimas.
— Eu nunca pensei que você fosse capaz de fazer isso comigo! E você Maia – me virei para ela -, como pôde fazer isso comigo? Depois de tudo o que eu fiz por você e estou fazendo!
— Desculpa Anna, foi um momento de fraqueza, eu só passei aqui para te entregar o dinheiro e...
- Cale a boca! – gritei furiosa e ela obedeceu – você é a pessoa mais egoísta e cretina que já conheci – me virei para o Iago — Nunca mais eu quero ver vocês dois na minha frente.
Viro-me e pego o envelope sobre a mesinha e saio do quarto. Desço para sala segurando a barriga para que meus passos rápidos e furiosos não prejudicassem o bebê. Calço a sapatilha novamente e corro pra fora e entro no táxi.
- Vamos! – peço as pressas. Quando o carro começa a se locomover Iago aparece e tenta abrir a porta pedindo para que eu esperasse, mas a tranca o impede – Dirija e não pare! – pedi ao motorista e ele acelerou.
Ele ficou para trás junto com a minha sanidade. Eu nunca fui tão apunhalada dessa maneira, pelas pessoas que mais considerei da família. Era assim a sensação de ser traída? Aquela vontade de pegar a primeira coisa ao seu alcance e jogar na cabeça deles e bater até as forças se esvair. Eu queria bater neles, mas não tinha forças, e eu não correria o risco de afetar o bebê.
— Moça você está bem? — pergunta o motorista vendo meu estado.
— Sim, não se preocupe, são os hormônios. Por favor, me leve à casa da minha amiga — dou o endereço a ele. Enxugo as lágrimas, ele não merece que eu chore por ele não mais.
Milena estava no portão quando cheguei e me acolheu, contei o que havia acontecido e ela me deixou ficar em sua casa até que eu desse a luz. Eu iria recomeçar, num lugar muito longe e que ninguém me conheceria.