Mori já estava acordado, com várias ataduras em seu corpo pelos machucados da luta passada. Seu pai e o diretor estavam com ele na sala esperando que ele acordasse, notou também que Ochaco estava um pouco mais afastada sentada em uma cadeira e mexendo em algumas coisas. ─ provavelmente exames físicos do garoto ou algo do tipo ─ Já os demais professores estavam com sua turma em outro lugar. Eles queriam conversar em particular com o garoto além de deixar que ele tivesse como se recuperar com mais privacidade.
─ Depois desse ataque tenho certeza de que eles são os responsáveis pela transformação repentina de Mori, era tudo planejado desde o início ─ o diretor Yudi comentou sério.
─ Pai, alguma vez uma mulher na nossa família herdou o poder?
─ Não, sempre foram herdeiros... jamais uma mulher nasceu com ele. Eu nunca entendi o motivo de apenas homens conseguirem herdar o poder, mas também como nunca nasceu uma menina fica difícil saber se ela nasceria o possuindo ─ pensou um pouco tentando se recordar de algo que seu pai ou até mesmo seu avô tenha comentado, mas viu que não havia escutado nada do tipo na época. ─ Você acha que eles querem um sucessor?
─ Isso seria uma boa teoria... Mori tem um poder extremamente forte, todos já o associam a você mesmo ainda não questionando se vocês são pai e filho, confesso que fico surpreso por ninguém ainda comentar algo do tipo. Só que aparentemente ou os vilões têm esse conhecimento ou só querem Mori por ter um poder que pode ultrapassar o seu ─ o direto colocou a mão no queixo pensando sobre o assunto. ─ Então seria uma boa jogada transformá-lo em mulher.
─ Vocês estão afirmando que os vilões querem estuprar Mori até quele engravide? ─ Ochaco ficou pasma ao ouvir a teoria do diretor.
─ Eu só preciso treinar mais, e ficar forte o suficiente para eles não me pegarem. ─ começou a chorar e mordeu o lábio. ─ Só que eu estou com tanto medo... eu não quero ser capturado, não sei quanto tempo vou levar para ter um corpo bom o suficiente para lutar pela minha segurança.
─ Meu filho... ─ Yuto se aproximou sentado na cama onde seu filho estava e o abraçou com força, tentou ao máximo não chorar junto. Sentia as lagrimas molhando sua roupa e a força que aquelas mãos tremulas o seguravam, ele estava completamente assustado e ele não sabia como ajudar.
[...]
Enquanto isso os alunos foram levados a uma sala grande. O professor Grout tinha a habilidade de construir qualquer tipo de ambiente que não houvesse vida, foi ele que criou rapidamente os dormitórios. Então ele tinha levado os alunos até uma sala de ginásio vazia pois ele não poderia construir um local dentro da escola pois poderia prejudicar a construção e por não ter espaço suficiente ficaria apertado, então ele os levou até o ginásio para que pudesse criar duas construções, um para os meninos, outro para as meninas.
Havia vários tipos de salas de treinamento também, eles eram voltados a treinos em locais com aspecto voltados a vida real. Tinha cidades e até mesmo florestas. Já no ginásio o treino era como uma grande quadra ─ claro não uma normal, pois os alunos tinham poderes e ela tinha que suportar isso ─ onde eles não costumavam usar 100% de suas individualidades.
No local havia vários colchoes, além de lenções e cobertas, já que foram entre para os alunos, provavelmente alguém com uma habilidade de criação de objetos ou algo do gênero os fez. Só que também tinha a possibilidade de a própria escola ter esse tipo de coisa, ninguém sabia ao certo. No fundo todos ainda estavam muito assustados pelo acontecimento, então não reclamaram de dormir dentro no chão em cima de colchoes.
─ Arai, você sabe como Mori pode voltar ao normal? ─ Eiko perguntou curiosa, sua pergunta fez com que as meninas prestassem atenção e olhassem em direção a amiga que foi pega de surpresa com a pergunta. Como as paredes não eram muito grossas provavelmente os meninos também escutaram.
Querendo ou não aqueles dos dormitórios improvisados não tinham um aspecto que possuía paredes grossas era algo temporário e o professor achou que seria uma boa ideia deixar paredes um pouco mais finas, ─ ele avisou os alunos ─ caso acontecesse algo o outro lado poderia intervir. Saber que seus amigos estão seguros do outro lado poderia deixar todos mais calmos e relaxados, só fizera essa separação para não deixar as meninas desconfortáveis dormindo no mesmo ambiente que os meninos. Ele tinha noção que havia alguns meninos pervertidos na sala e não queria deixá-los juntos.
─ Também gostaríamos de saber, as paredes são finas o suficiente para escutar uma conversa ─ Murata disse alto para que as meninas pudessem escutar.
─ Não, eu menti ─ ela respondeu olhando para todas as garotas que ficaram chocadas com aquilo. ─ Eu pensei que falando aquilo ele acabaria dizendo algo. Como: '' ah, você não sabe, o jeito certo dele volta é fazendo isso e aquilo'', então eu acabei arriscando ─ viu as amigas a olharem com um olhar um pouco duvidoso. ─ Eu estava desesperada, tudo bem? Achei que esse era o único jeito de tentar descobrir uma maneira dele voltar ao normal.
Ninguém comentou nada, o que deixou a garota relaxada vendo que todos tinham caído em sua mentira. Aika não queria mentir para os amigos só que ela não contaria a verdade a eles, não depois de Mori ter confiado nela para guardar seu segredo se ela contasse ele nunca ia perdoá-la. O garoto quase tinha tido um ataque quando disse que era gay na época, então como ela poderia dizer isso a todos da sala sem ter um tipo de autorização?
[...]
Logo amanheceu, Aika e Akari foram as primeiras a acordarem e saírem o mais rápido da sala. Queriam muito ver Haru e saber do seu estado, esperavam vê-lo já no dormitório completamente curado. Correram desesperadas e ao chegar ao dormitório notaram que Grout estava saindo, pelo jeito ele havia acabado de arrumar o local. Ele deu um breve aceno para as meninas que o cumprimentaram e foi embora. Tomando um pouco mais de fôlego elas correram e subiram os quatro andares, ficando completamente exaustas ao chegar ao quinto. Perceberam que o quarto do amigo estava aberto com algumas caixas para fora, e ao se aproximarem viram que Mori já estava no quarto.
Ele usava uma camisa azul feminina, provavelmente alguma que as meninas haviam lhe dado, e trajava também um short que ia até o meio de suas coxas, preto. Seu braço que havia sido quebrado estava enfaixado e também possuía ataduras em seu rosto e pernas. Uma coisa que elas haviam reparado era que o seu cabelo estava curtíssimo, nem chegava ao ombro.
─ Mochan, você esta melhor? ─ Nomura se aproximou do amigo olhando para o corpo todo dele. ─ Seu cabelo...
─ Ah... Ontem ele puxou muito forte meu cabelo, acabei tendo que cortá-lo ─ disse baixo. ─ Mas agora meu cabelo está mais parecido de quando eu era um garoto.
─ Ficou perfeito em você esse corte ─ Aika disse próxima do amigo com um sorriso, tentou animá-lo dizendo tais palavras. ─ E o que são essas caixas?
─ Ontem... meio que algumas coisas minhas foram destruídas. E como eu tenho uma coleção de muitos produtos de heróis, que por sorte não foram danificadas, decidi mandá-las para casa ─ colocando mais uma caixa no corredor. ─ Não quero que nada quebre.
As meninas resolveram ajudá-lo a retirar tudo que fosse voltado a heróis do quarto. Elas viram o quão triste Haru ficava quando tirava qualquer boneco ou decoração, sabiam que ele amava aquelas coisas e ver o quarto tão vazio era de partir o coração, como se estivesse faltando um pedaço de Mori.
─ Pense pelo lado bom, assim nada vai ser destruído ─ Akari disse tentando levantar o ânimo do amigo.
─ Bom mesmo seria eu não ser atacado ─ respondeu ele com uma expressão cansada, m*l tinha dormido a noite passada depois da conversa que tivera ontem.
Um tempo depois, os demais colegas chegaram e foram todos ver como Mori estava. Fora um alívio para todos ver que ele estava bem e logo todos pediram desculpas por não terem sido úteis o suficiente para ajudá-lo no combate da noite passada. Haru os perdoo, afinal não era culpa de ninguém aquilo ter acontecido. Não tinha motivos para ele dizer tais palavras só que ao ver como seus amigos precisavam delas ele resolveu dizê-las.
Como estava próximo o começo das aulas, todos foram para seus quartos se arrumarem para a aula que teriam. Haru que estava terminando de colocar as caixas no corredor, tinha conversado com seu pai na noite anterior para que levasse suas coisas de volta para casa, e, para que convencesse a sua mãe a ir para um local mais seguro, pois temia pela segurança dela.
Foi então que notou que Sakurai estava no corredor segurando algumas caixas também. Primeiramente ficou confuso, afinal, só ele havia pedido caixas para empacotar suas coisas. Não compreendeu o motivo do amigo estar ali e o que o deixou ainda mais perplexo foi vê-lo entrar em um dos quartos vagos com aquelas caixas na qual ele notou ter coisas dentro.
─ Sakurai, o que você está fazendo aqui? ─ perguntou ele indo para o quarto ao lado e notando que havia bem mais caixas do que pensava.
─ Estou me mudando ─ respondeu abrindo um grande sorriso. ─ Decidi ficar nesse andar.
─ Mas é perigoso ─ alertou ficando preocupado com a segurança do amigo.
─ Por isso mesmo! Você se machucou muito e não pudemos fazer nada ─ disse apertando os punhos. ─ Eu quero ajudar você também, com qualquer coisa que possa acontecer daqui pra frente.
Arai e Nomura assistindo tudo de longe tiveram uma ideia uma tanto arriscada: ver se Jun era um bom pretendente para tirar aquela maldição. Tudo o que tinham que fazer era ter uma boa conversa em particular com o colega e tentar fazer com que aqueles dois se aproximassem mais, pois caso Sakurai não gostasse de Mori no momento, nada o impedia de gostar dele depois de ficar próximo constantemente do amigo. Elas sabiam que Jun era sincero e caso ele começasse a gostar de Mori seria sabendo que ele é um homem e não uma mulher.
─ Por que não começam a treinar juntos? ─ Arai disse chamando atenção dos dois. ─ Mori precisa treinar sua força e agilidade... e como bônus você, Sakurai poderia aperfeiçoar seus movimentos, afinal, Mori é um ótimo lutador e eu ouvi uma vez que você queria melhorar seu rendimento sem estar na forma completa de lobo.
─ Acho uma boa ideia, suas individualidades são ótimas para um treino em conjunto ─a amiga apoiou a ideia.
─ É uma ótima ideia! O que acha, Mori? ─ perguntou mostrando suas presas. ─ Podemos treinar todos os dias depois da aula.
─ Tem certeza? Eu não quero incomodar ─ disse com um tom pouco triste, não queria acabar sendo um incomodo.
─ Não seria incomodo nenhum ─ respondeu sem desfazer o sorriso.
─Então, tudo bem ─ concordou retribuindo o sorriso.
─ Espero que, Mochan não se machuque com essa aproximação, tudo que menos quero é que nosso plano acabe um desastre ─ disse baixo no ouvido da amiga para que os dois não escutassem, pois eles estavam um pouco perto e podiam escutar caso ela falasse normal.
─ Não temos outra opção, precisamos achar alguém que ame ele, mesmo que para isso precisemos arriscar um pretendente sem saber sua sexualidade ─ respondeu a amiga.
─ Mochan se arrume, precisamos ir para escola! ─ disse agora com seu tom normal chamando a atenção dos dois colegas.
─ Ah, verdade... Quero só ver como vai ser esse primeiro dia ─ viu o garoto desfazer o sorriso e ficar um pouco tenso.
─ Não se preocupe, vamos estar com você ─ Arai comentou tentando transmitir algo positivo.
Logo todos entraram no quarto para começarem a se trocar para ir para a escola. Sakurai ficou pensando em seu quarto como poderia ser o dia de hoje, sentia que as coisas não acabariam bem... ele queria ser positivo só que sabia como as pessoas podiam ser cruéis. Se dependesse de si, ninguém machucaria Mori, não com ele por perto.