Episódio 2

1775 Words
— Querida, olhe-se no espelho. Porque você é o exemplo vivo de mulher do processo. Você o ajudou a se tornar um cirurgião, pagou as contas para ele realizar o seu sonho. Você trabalhava em turno duplo e ia para a escola quase sem dormir para não incomodá-lo, porque o coitado estava sempre tão cansado que nem conseguia te buscar no trabalho. Não preciso te lembrar que ele usou o carro, enquanto você se deslocava de transporte público. Não foi a primeira vez que Aba me disse isso, embora tenha sido a primeira vez que me senti uma idio&ta quando ouvi isso. E agora... Ela balança a cabeça. — Você não quer saber o que vai acontecer... — O que vai acontecer? Eu perguntei. — Lena. A mãe de Alex nos interrompeu, me pegando pelo braço. — Alex acabou de nos ligar e disse que estava chegando em casa, que tinha algo importante para contar a você. Ela apertou um pouco o meu braço. — Acho que ele quer lhe dizer que ele vai marcar uma data. Ela pulou animadamente e me abraçou. — Você merece, depois de tudo que você o apoiou. Não aguento mais essa ansiedade, você finalmente vai se tornar legalmente a minha filha. Ela parecia genuinamente entusiasmada com a ideia de eu me tornar sua nora, embora no momento essa não fosse minha prioridade. Organizar um casamento pode demorar muito. Por outro lado, havíamos combinado que assim que eu pudesse pagar pagaria o meu mestrado, talvez fosse disso que se tratava. Eu a abracei de volta e pude ver por cima do ombro dela que o seu marido negava com um gesto preocupado. Então olhei para Alba com o canto do olho e a vi balançando a cabeça. Eu me perguntei o que estava faltando. O que foi que todo mundo viu e eu não? — Ele está chegando. Disse o seu pai e eu alisei o meu vestido para sair para encontrá-lo. — Comporte-se. Avisei a minha amiga, antes de seguir em direção à entrada e ela fingiu fechar os lábios com um zíper invisível. — Eu sempre me comporto. Ela ergueu as mãos, fingindo ser inocente. — Só estou tentando boicotar o seu relacionamento porque sei que ele não é seu príncipe. Eu lhe disse isso quando li as cartas para você e ainda as guardo. Ela disse baixinho o suficiente para que a minha sogra não o ouvisse. — Príncipes não existem. Assegurei-lhe, e depois fui embora. Fui até a frente do nosso pequeno apartamento, para avisar a todos que eu estava subindo com ele naquele momento e que deveriam se esconder. Aba, desligou a música, para que os convidados pudessem me ouvir: por favor, pessoal, encontrem um lugar para se esconder, vamos apagar as luzes! Bati palmas para chamar a atenção para a agitação. — Vou sair para o corredor e vocês devem estar prontos para gritar: Surpresa! Abri a porta da frente e saí para o corredor, assim que vi o elevador parou no andar. Alex saiu. O seu cabelo estava molhado e caía desordenadamente sobre a testa, grudando nela. Ele nem olhou para cima enquanto continuava andando, sem tirar os olhos do telefone com um sorriso. Enquanto isso eu estava imóvel diante da porta. Levei um momento antes de lembrar o que aquele sorriso em particular significava. Eu o conhecia tão bem que conseguia reconhecer cada gesto, careta ou tom de voz. No entanto, eu só a viu uma vez na vida. Para ser mais específica, há doze anos. Então descobri qual era o motivo. Ele estava mandando mensagens para outra garota. Então, ele me deixou e naquela mesma noite eu descobri que ele estava tendo um caso. — Você não pode me culpar por nada, porque tecnicamente não é uma traição. Ele me disse, embora para mim fosse. Eu me senti emocionalmente enganada. Foi quando eu entendi. Alba, eu tinha razão… Eu era a mulher do processo. Eu me encolhi e dei um passo para trás. — Lena. Eu o ouvi dizer e olhei nos seus olhos. — Há algo errado? Eu entendi que algo estava errado quase imediatamente e o meu corpo ficou tenso. Instintivamente, ele limpou os lábios e depois passou a mão molhada pelo pescoço. — Lena... — Você vai me deixar, não é? Quase gritei, apesar de saber que os convidados estavam atrás de mim. Escondido, mas ouvindo tudo. Eu ainda não me importei, dei um empurrão nele. Eu podia sentir o sangue fervendo nas minhas veias e a pulsação acelerada nos meus ouvidos. Me diga o nome dela. — Eu exigi porque sabia que ele me deixaria por outra pessoa. — Ela não tem nada a ver com isso. Isso o pegou desprevenido. Ele não queria admitir a sua culpa, porém, uma ação reflexa tomou conta dele. Alba, ela estava certo, ela estava completamente certa. Ele ia me deixar. Ele me usou todos esses anos para conseguir o que queria e agora iria me jogar na rua como um cachorro. Que vergonha. O que os meus pais diriam? "Nós avisamos, aquele garoto sempre nos deu um mau pressentimento." — Pare de me olhar assim. Ele tirou a gravata e colocou-a no bolso do paletó, como se estivesse se preparando para uma briga. Enquanto isso, pisquei, incrédula com a sua falta de remorso. — É para eu parar de olhar para você de que jeito? Ele ergueu a cabeça para o teto como se estivesse quebrando a cabeça. — Pare de me olhar com desaprovação. Como se isso fosse a morte de alguém. Ele balançou a cabeça como fazia quando pensava que eu era estúp*ida e fez a sua melhor cara de pôquer. — Eu sei que deveria ter te contado isso há muito tempo. Mas, para ser sincero, não consegui reunir a coragem necessária e pensei que mais cedo ou mais tarde você entenderia as dicas. Eu sinto muito. Engoli em seco, sentindo o aperto no peito. A dor dolorosa causada pelas palavras maldosas que ele cuspia como se não significassem nada. Elas não significavam para ele, isso é certo. Eu podia ver isso na maneira como ele respirava ou nos seus gestos. — Fiquei aliviado por finalmente poder sair. Não estou fazendo isso só por mim, estou fazendo isso por nós dois. Sinto muito. Fiz um esforço enorme para conter a onda de lágrimas que ameaçava estourar. Alex Mueller, ele não as merecia. Ele era o homem mais cru*el e hipócrita que já tive a infelicidade de conhecer. Eu não conseguia acreditar que ele estava comigo há onze anos. Me usando e depois me descartando como se eu fosse uma pilha de sucata. No entanto, era exatamente o que ele estava prestes a fazer. — Como é possível que você esteja fazendo isso comigo, depois de tudo que fiz por você? Cruzei os braços sobre o vestido para evitar dar um tapa nela na frente dos pais dela que certamente estavam ouvindo. — Você mentiu para mim esse tempo todo, para quê? Eu gritei. — Por que você brincou comigo dizendo que me amava e que estava morrendo de vontade de conseguir o cargo dos seus sonhos para que finalmente pudéssemos nos casar? Ele pressionou os lábios numa linha fina. — Trabalhei para nós dois até ficar cansada, então você só conseguia estudar porque os seus pais não podiam te ajudar e então apoiei as nossas finanças enquanto você fazia residência. E agora é a sua vez... Você vai me pagar assim? Eu deveria processar você, filho da…! Parei porque a mãe dele era santa e ela não merecia isso. Ele adotou aquela atitude indignada e esplêndida que só quem se julgava superior aos demais poderia assumir sem culpa. Sempre achei que ele era seguro de si, dono daquela segurança que me faltava. Porém, agora vi que ele era, na verdade um egomaníaco, presunçoso, nojento e egoísta. — Nunca te pedi nada, Lena. Ele respondeu ele com o maior atrevimento. — É assim que os casais funcionam, eles se apoiam até que tudo acabe. Eu estava cega de raiva, tinha até esquecido que os convidados provavelmente estavam atentos. Eles podem realmente estar assistindo a cena pelas minhas costas. Eu estava perigosamente perto de me tornar uma louca histérica, pronta para arrancar os seus olhos. — É incrível, como você pode ser tão cara de p*au. Eu ne*guei com desconfiança. Foi exatamente isso que você me disse: eu prometo que assim que você conseguir o emprego que almejava, você não precisará trabalhar novamente para nós dois e poderá fazer um mestrado. Apenas me dê tempo. Ele cruzou os braços. — Bem, as coisas mudaram. Vi pelo canto do olho que as luzes do apartamento estavam acesas. É fato que todos gostaram do show. Eles sentiriam pena de mim? Alguém riria de quão estúp*ida eu era? — Se eu não for honesto comigo mesmo e continuarmos como casal. Mesmo se nos casarmos, ambos seremos infelizes. Não quero ser responsável pela sua dor. — Você é responsável pela minha dor. Eu respondi. — Você é um golpista. — A culpa não é inteiramente minha, se você tivesse colocado um pouco mais de si... Fiquei paralisada, o que mais de mim deveria colocar? — Se você tivesse tentado um pouco mais. Eu pisquei. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. — Que di*abos você está falando? Perguntei, tentando acalmar a minha raiva. — Você acha que não contribuí o suficiente para esse relacionamento? — Olha, não tem jeito delicado de dizer isso... Ele esfregou o rosto, exasperado. — Eu não queria ter que fazer isso hoje, que foi um dia importante para mim. Desavergonhado. Ele permaneceu em silêncio por um eterno segundo. — Não gosto mais do que vejo. Eu não me sinto atraído por você como mulher. Ele ergueu as mãos, deixando-me saber que era algo que estava além do seu controle. — Pronto, eu já disse isso. Era isso que você queria saber? Ele abriu a boca quando viu que os meus olhos estavam cheios de lágrimas, embora imediatamente a fechasse novamente. — Isso não significa que não gosto de você. — Como? perguntei com a voz trêmula, essa foi a coisa mais humilhante que alguém já me disse na vida. — Quero dizer, desde quando? Respirei com dificuldade, sentindo o meu sangue ferver. — Você esperou terminar a residência e começar a trabalhar para perceber que não gostava mais de mim como mulher! Gritei histericamente. Ele evitou o meu olhar virando o rosto e bufou. ‎‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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