Episódio 1

1443 Words
Lena OITO ANOS DEPOIS Eu tenho uma teoria. Nada de bom pode ser esperado de uma noite que começou com um m*au presságio. Uma hora antes do início da festa. Uma chuva torrencial como aquela que não víamos há anos decidiu forçar metade dos meus convidados a cancelar. Na época, vi isso como algo negativo, embora algumas horas depois eu estivesse silenciosamente grata por ter sido assim. Foi irônico, na mesma noite em que o tempo decidiu quebrar uma sequência de mais de oito meses de seca. Foi a noite em que decidi quebrar o nariz de alguém. O curioso do caso foi quem eu quebrei o nariz com um soco. O meu namorado há mais de dez anos. Dei um soco no nariz dele. Pois bem, nessa altura ele já era meu ex-namorado porque tinha acabado de me dizer que eu não era a mulher com quem ele imaginava partilhar o resto da sua vida. E que uma verdade incômoda era melhor que uma mentira confortável. Eu ri amargamente, me perguntei para quem seria melhor e então disse: bem, você deveria ter pensado nisso, onze anos antes. De repente, fechei a mão em punho e fui direto para o rosto dele. O seu nariz imediatamente começou a escorrer sangue e Alex chorou como o covarde que era. Para ser sincera, eu estava com tanta raiva que se não fosse por Alba, a minha melhor amiga. Eu teria dado a ele a surra da sua vida. Me vingado com as minhas próprias mãos, pode doer. De uma forma muito literal. A minha mão doía muito, então abri e fechei várias vezes para acalmar o desconforto. Antes de olhar para a varanda e ver Alex com um saco de gelo numa mão e o celular na outra. Ele estava chamando a polícia porque eu bati nele? Na minha opinião, fui muito contido. Arrancar a sua cabeça teria me deixado um pouco mais satisfeita. Atrás dele estava a sua mãe chorando e o seu pai a confortava. O que mais me arrependi de ter me humilhado publicamente, na frente dos nossos amigos e dos seus pais, foi que eu sentiria muita falta dos meus sogros. .... Eu me encolhi na calçada ao lado das minhas malas, esperando que elas pelo menos me protegessem um pouco da chuva. Enquanto isso, esperava que Alba me buscasse para me levar o mais longe possível daquele lugar. Eu não podia nem ligar para meus pais, eles aproveitavam para esfregar na minha cara o quanto eu havia desperdiçado a minha vida. Talvez se eu tivesse ouvido todas as pessoas que me alertaram ao longo dos anos, teria doído menos. Os sinais estavam lá. Eu balancei a minha cabeça. Nada poderia ter me preparado para algo assim. Alba parou na minha frente com a seta ligada e eu pulei para correr para colocar as malas no porta-malas do carro dela. Então, olhei uma última vez para a varanda do apartamento onde morei os últimos seis anos da minha vida, antes de entrar no carro e dar a ele o dedo do meio bem alto. O suficiente para ele ver. — Fo*da-se Alex e espero que a por*ra do seu m****o caia! Gritei a plenos pulmões para fazê-lo me ouvir em meio à chuva e ele entrou, fechou o vidro corrediço e fechou as cortinas para não ter que me ver pela última vez. ━ ♡ ━━━━━━━━ ♡ ━━━━━━━━ ♡ ━━ ♡ ━━━━━━━━ ♡ ━━━━━ ━━━ ♡ ━━ ♡ ━━━━━━ ━━ ♡ ━━━━━━━━ ♡ ━ Duas horas antes. — Deus, isso é delicioso! Alba exclamou, com entusiasmo demais, antes de enfiar outro punhado de aperitivos na boca e eu lhe dei um olhar especulativo. Eu a conhecia bem o suficiente para saber que era a maneira dela de me dizer que estava prestes a atacar o meu namorado e não estou falando do jeito bom. Ela realmente odiava o Alex. — Você é uma mulher perfeita? Ele estendeu o copo para eu encher novamente. — É uma pena que ninguém veja... Lá estava ela de novo no mesmo assunto. Eu não estou dizendo isso do nada. São fatos, não opiniões. Você trabalha, cozinha maravilhosamente bem, estudou Direito com um emprego de oito horas... Como dizia a minha avó. Ela fez o sinal da cruz. — Muito presunto para tão pouco pão. Ela se inclinou, erguendo as sobrancelhas. Ela insistia que eu era mulher demais para alguém como Alex e que quanto mais cedo eu percebesse isso, mais cedo poderia seguir em frente com a minha vida. Conheci Alba, apenas dois dias depois de começar a trabalhar num restaurante bacana chamado; “Las Cañas” e nos tornamos inseparáveis. Ela cobria os meus turnos quando tinha provas ou precisava de algumas horas extras para estudar. Eu sempre poderia contar com ela, mesmo que ela bombardeasse Alex, com toda a munição que tinha. — Humm... Fiz um beicinho quase imperceptível. — Não diria perfeito, demorei cinco anos a mais do que deveria para concluir o curso. — Claro, você trabalhou em turno duplo para que o seu namorado pudesse ser médico e depois, você fez hora extra, enquanto ele era residente... Eu suspirei. — Eu me visto como uma mendiga. Uma mulher perfeita definitivamente não se veste como eu. — Não é fácil estar na moda, quando você “MANTÊM” o seu eterno namorado e precisa trabalhar feito burro para isso. — Estou acima do peso. — Beleza é cara, é muito fácil ser magra e bem cuidada quando a sua única ocupação é ir à academia, fazer compras e marcar consulta na esteticista. Ela bebeu o champanhe de um só gole e balançou a cabeça. — Eu sei que pareço ressentida. E eu posso estar um pouco ressentida. Não admitir seria hipócrita, mas também estou cansada de mulheres no i********: que só nos fazem questionar o que estamos fazendo de errado. Nascer privilegiada não é fazer algo de errado? Eu ri alto. — Pelo menos agora que você está namorando o chefe da cirurgia de um dos melhores hospitais da cidade, você poderá fazer compras até desmaiar. E, por favor, force-o a comprar um carro para você. Pelo menos tire isso dele, antes... Ela parou e franziu os lábios ao perceber o que estava prestes a dizer. — Antes? Tirei o copo da mão dela. Embora tivéssemos que brindar, já era álcool demais para ela. — É um absurdo, você não me escutar. Ela apertou a minha mão. — Sou apenas um peidozinho e não consigo manter a minha boca fechada. Desculpe. — Sim, eu sei. Sorri para ela. — Embora também saiba que você está dizendo isso porque acha que nunca vamos nos casar. Você se engana, vamos nos casar, já conversamos muitas vezes sobre isso e decidimos esperar até que ele consiga um bom emprego. Agora é o momento perfeito e eu sei o que vai acontecer. Ela franziu os lábios. — Lena, você é a garota que o ajudou a chegar onde ele está e sempre o colocou à frente de você mesma. Revirei os olhos porque tinha certeza de que sabia exatamente onde ela estava indo e ela suspirou. — Você sabe como isso se chama? Servi champanhe para um dos amigos de Alex sem tirar os olhos de Alba. — Eu não tenho ideia, me esclareça. Virei-me para encher os copos dos nossos poucos amigos em comum, que estavam se preparando para a chegada do meu namorado, e a minha amiga me seguiu de perto. Alex foi nomeado chefe da cirurgia do hospital italiano. Depois de tantos anos de esforço, finalmente começávamos a ver os frutos de tanto trabalho. Eu tinha acabado de me formar como advogada, com muita dor. Mas ele conseguiu se tornar o melhor e eu estava muito orgulhosa disso. Senti que apoiá-lo foi a melhor decisão que poderia ter tomado. O dinheiro não era suficiente para nós dois, então tive que parar de estudar por alguns anos até nos estabelecermos. Achei que dar uma festa surpresa para ele o deixaria muito animado. Foi a minha maneira de dizer a ele que estava muito orgulhosa dele. — Você é a mulher do processo. Ela respondeu. — Como é ser a mulher do processo?! Eu me virei e olhei para ela divertido, quando vi os meus sogros, abrindo caminho entre as pessoas. Certamente, eles estavam procurando por mim. O nosso apartamento era pequeno, por isso e apesar de apenas metade dos convidados comparecer devido ao aguaceiro que começou a cair. Parecia lotado. ‎‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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