CAPÍTULO 01

2417 Words
CRISTAL Hoje é o dia mais importante da minha vida até agora. Faz uma semana que venho planejando, desde o meu aniversário de dezoito anos. Desenhei meu próprio vestido e minha tia Claire confeccionou para mim - eu disse que era apenas um teste é claro. Realmente ficou incrível, exatamente como eu queria, minha intenção é me destacar. Comprei uma peruca preta para esconder meus cabelos que poderiam ser facilmente reconhecidos. Meus fios loiros, compridos e ondulados chamam atenção, mas hoje estão escondidos numa peruca muito bem colocada de cabelo real e macios. Meu amigo Jay não pôde fazer nada a não ser aceitar que perdeu a aposta, inclusive tendo que me cobrir. Ele me ajudou dizendo que íamos ao shopping de tarde, me tirou de casa e eu fui a um SPA que já costumo frequentar. Fiz massagens e banho a óleo deixando meu corpo perfeitamente macio, finalizei com um leve bronzeamento artificial para realçar minha cor. Pedi para os funcionários do SPA colocarem a peruca de forma que não saísse com movimentos bruscos, bem pregados na minha cabeça. Os cabelos pretos da peruca alcançam a minha cintura. O vestido dourado brilhante realça a minha cor de pele chamando a atenção de qualquer um assim como eu planejava. Desenhei de forma perfeita, um vestido justo que favorece as minhas curvas. Os recortes dão um ar romântico para ser sexy mas não de forma vulgar. Meus s***s aparecem pelo decote, firmes e redondos - um belo decote devo dizer. O vestido é longo e tem tecido fino em saias soltas a partir do meio da coxa, que quando ando mostram o salto enorme que me deixa ainda mais alta e elegante. Eu mesma fiz meu penteado, arrumando a cabeleireira n***a com babyliss e prendendo a frente. Também me maquiei realçando os olhos, marcando o olhar no tom preto predominante. Estou deslumbrante, mais bela do que jamais estive, do jeito que planejei. Pego a bolsa e me cubro com um cardigã que eu desenhei também, para me esconder, de comprimento até o pé e capuz. A festa começa as 1h da manhã, mas os convidados podem entrar no clube a partir da 00h. — Chegou a hora, Cristal. — Digo a mim mesma puxando o máximo de ar que consigo antes de abrir a porta do meu quarto. Já é tarde pois tive que esperar todos dormirem para poder começar a me arrumar, agora, caminho até a cozinha tentando não fazer barulho com meus saltos altos. O Jay já está me esperando lá fora para me levar ao Dulce Prazer desde as 00h, agora já é quase na hora da festa começar e eu só consegui sair agora – Minha família parece corujas. Passei dias analisando os movimentos dos empregados nesse horário para ver se eu teria contratempos, deixei tudo milimetricamente pensado porque se houvesse algum imprevisto eu saberia lidar. Chego na cozinha e não demoro em sair pela porta dos fundos, quando estou no jardim ando como se eu fosse uma maratonista tendo um derrame graças aos saltos entrando na grama. A porta de saída é minha linha de chegada. Me escondo entre as árvores que temos no quintal na parte escura e pego meu celular na bolsa. Noto minhas mãos estão trêmulas ao procurar o contado do Jay para mandar mensagem, assim que acho tento digitar o mais rápido que consigo. “Estou tentando sair, preciso que distraía o porteiro” – Visualizado. “E como vou fazer isso, gênia?” “Não sei, dê seu jeito.” – Visualizado. Guardo o celular mostrando que não quero mais ver nada que ele diga, apenas preciso que ele faça o que eu falei. Fico parada observando e logo vejo de longe Jay aparecendo perto do portão principal, caminhando até a cabine do porteiro. Queria ser uma mosquinha para ouvir o que ele está falando. Durante minutos ele conversa, sorrindo cinicamente. Estou quase achando que não vai funcionar e que eu teria que pular o muro com esse vestido e de peruca, quando o nosso porteiro começa a caminhar para fora da cabine em direção a mansão. É a minha deixa. Assim que o Sr. Moacir some de minhas vistas caminho até a cabine o mais rápido que consigo com esses saltos altos. Visivelmente nervoso de sermos pegos Jay olha por segundo para a porta. Quando finalmente alcanço a portaria eu abro com a chave para não precisar ativar o automático pelo barulho e fecho da mesma forma. — Vamos, me ajude aqui. — Peço. Jay me oferece a mão, que aceito para andarmos mais rápido até o carro. — Achei que você desistiria dessa ideia louca. — Quando eu fui de desistir? — Eu sei, mas... estou preocupado. Será que isso é uma boa ideia? Quer dizer, nós já aprontamos bastante mas isso... É demais até pra gente. — Sei que ele está nervoso com a situação toda. Não o culpo, é normal. Estou me enfiando em um clube do sexo que nem conheço após chantagear meu irmão, com ele dizendo que não era lugar para mim. Não sei o que ou que tipo de gente vou encontrar lá, estou escondendo minha identidade. Quão grande seria o escândalo se me descobrissem num lugar como esse? — A ideia foi minha então não deve ser coisa boa mesmo, mas isso também nunca me impediu de fazer merda. — Os riscos são tantos. Nem eu mesma estou tranquila, mas tento explicar a mim mesma que não é hora de voltar atrás e também acalmar meu amigo. — É, é verdade. — Chegamos no carro, entramos rápido e logo Jay começa a dirigir. Nesse momento sinto uma forte contração no meu abdômen, isso me faz sorrir. Era exatamente essa adrenalina que eu procurava. Sempre li sobre coisas assim, essas sensações boas. Estou nervosa mas passei muito tempo esperando por isso, esse nervosismo gostoso, essa insegurança do que vai acontecer me anima. Nunca fui a mocinha que sonha com um amor, talvez porque eu nunca precisei de um príncipe encantado para me salvar, já tenho três em casa – Meu pai, meu irmão e meu tio. Fora o Jay que é meu segundo irmão. Eu queria era deixar de ser virgem, estou cansada de apenas ler, imaginar todas aquelas sensações, de chegar na roda de garotas nos salões de beleza ou recepções e ouvir suas experiências sendo que eu nunca tive nenhuma. Estou fodidamente cansada disso! Claro que estou com medo, de ser doloroso demais, de não ser tão bom quanto eu espero... De algo dar errado. Mas o medo nunca me parou, ele me impulsiona. As inseguranças são tantas, principalmente nessa situação que estou procurando. Mas de qualquer forma é algo bom, eu só vou dormir com alguém se eu realmente quiser isso, se alguém me atrair. Se não, eu volto para casa com meu cabaço. Quero que ele seja experiente, saiba o que fazer, saiba me enlouquecer... quero que ele me ganhe. Tenho uma queda por homens mais velhos e isso é um ponto positivo, mais fácil encontrar alguém experiente se ele for mais velho. — Sei que você perdeu a aposta, mas posso te passar o contato da minha professora se ainda quiser. — Rompo o silêncio. — Depois vemos isso Cris, eu realmente estava torcendo para você não conseguir vencer a p***a da aposta. — Admite. — Não por mim, mas por você. Acho que você merece mais que uma noite de f**a com um desconhecido. Sei lá... É sua primeira vez e para ele vai ser só... mais uma. — Não é questão de merecer, eu teria mais que uma noite se eu quisesse mas eu não quero mais que isso, não quero um amor e suas complicações. — Ele sabe bem disso. — Só quero encontrar um rei do sexo que saiba fazer de forma prazerosa. Onde melhor para encontrar que em um clube de sexo? Não quero ter que vê-lo depois disso. — Acho que você é a única garota que pensa assim. — Ele olha a estrada atentamente, pelo menos é o que parece. Mas há um sorriso divertido em seus lábios. — Talvez a única que você conheça, ou que tenha coragem para admitir. Qual o problema de uma mulher ir escolher o cara que ela quer t*****r? Por que você e meu irmão tem que fazer disso um pecado tão grande? Os homens vivem escolhendo as mulheres como se fossem pedaços de carne expostos num açougue. Não. Eu também posso. — Não é um pecado, mas nós só... Eu não quero que se machuque. Você é minha melhor amiga e não quero te ver sofrer. Essa história de uma noite só para não se apaixonar geralmente... Não funciona muito bem. — Sinto uma felicidade encher meu coração. Ter pessoas assim ao redor é tudo. Não tenho muitos amigos, mas os que tenho, são tudo o que eu preciso. — Eu realmente amo você por isso, por ser tão incrível comigo. Mas eu não sou mais uma garotinha, nós crescemos. Sou uma mulher, posso fazer minhas escolhas e essa é a minha. Por favor... respeite isso. — Eu respeito, só acho que está jogando um jogo perigoso. Reviro os olhos, mesmo sabendo que esse é um jogo difícil de vencer. Mas se alguém pode fazer isso... Sou eu. Ficamos em silêncio o resto do caminho, passa das 1h da manhã e estou baita atrasada quando Jay vai estacionando. Respiro fundo e tiro o cardigã, Jay olha para mim abismado, seus olhos crescem em seu rosto e se enchem de brilho. É como se ele me visse pela primeira vez. — Como estou? — Parece outra pessoa, quer dizer, você sempre está linda mas não usa roupas tão decotadas e...justas. — Ele responde corado e desconcertado, juro que consigo ver uma gota de suor descer de sua testa. Olho para ele sorrindo e cruzo os braços. — Pra resumir você está linda, muito gostosa. Sou um p**a sortudo por ter tirado o seu “bv”. — Brinca e eu abro a boca fingindo estar ofendida dando um soco no braço dele. — É, você foi mesmo. — Mais sortudo ainda vai ser o cara que tiver a sua atenção hoje a noite. Espero que ele seja competente pelo menos para fazer o serviço direito e ver se apaga essa fornalha que você leva no meio das pernas. — Esse filho de uma... Gargalho. Olho para o prédio a nossa frente. É totalmente preto, apenas tem janelas de vidro dando um ar elegante. O lugar é grande e tem dois homens enormes na frente fazendo a segurança, eles usam um pequeno rádio na mão, provavelmente prontos pra chamar apoio caso haja necessidade. — Espero que tudo aconteça como esperado. Torça por mim. — Abro a bolsa enquanto Jay me assiste. — Agora... o toque final. Retiro a máscara dourada, belíssima, parece ouro puro e possui alguns cristais pregados nela, assim como os pontos de luz de cristal verdadeiro que espalhei pelo meu cabelo. Prendo a máscara no meu rosto e estou pronta, irreconhecível. — Boa sorte! Se cuide, Cristalzinho. — Diz pegando minha mão para me passar segurança e calma. — Qualquer coisa é só me chamar, vou estacionar por perto e esperar como prometido. — Está bem, não sei o que eu faria sem você. — Você me chantageou então na verdade não eu tenho muita escolha minha amiga. — Reviro os olhos novamente e abro a porta. — Até logo. Fecho a porta, volto a puxar o máximo de ar que consigo enquanto estufo o peito. Caminho confiante em cima de meus saltos até a entrada, os homens ficam cada vez maiores assim como o nome Dulce Prazer em letras carmesim. — Boa noite minha dama, como podemos ajuda-la? — Um deles questiona de forma gentil mas sem i********e, os dois são fortes e bem afeiçoados. — Boa noite. — Lanço um sorriso que o faz retribuir. Abro minha bolsa, pego o envelope e o entrego. — Vim para a Fascinação, tenho um convite. — Qual sua idade? Normalmente eu precisaria da sua identidade mas como hoje é a Fascinação e prometemos anonimato aos clientes, vou confiar apenas em sua palavra. Nós nunca te vimos por aqui antes. — Diz um pouco desconfiado. — Soube por meio de um contato que é m****o do clube e eu tenho vinte anos. — Minto um pouquinho. — Seja bem vinda, mas primeiro temos que fazer um cadastro, por segurança sabe? Todos fazem na primeira vez, mas não se preocupe, não vai precisar revelar sua identidade. — Eu não sabia disso, mas é algo que não posso contestar. — Tudo bem. — Aceito e ele chama alguém pelo rádio que carrega na mão. Fico parada até que a porta se abre e vejo uma mulher muito bonita sair dela, tem cabelos castanhos e olhos cor de mel, ela usa um elegante vestido preto de bom recorte. Também está de máscara e com saltos enormes. — Eu sou a Georgiana, pode me acompanhar? Farei um cadastro rápido. — Sim, é claro. — Eu a acompanho analisando cada detalhe. — Aproveite a noite, senhorita. — O segurança diz antes que eu entre. — Obrigada. — Sorrio e ele volta a fechar a porta. Sigo com a Georgiana que caminha com classe em cima de seus belos sapatos. Chegamos numa espécie de recepção, uma sala preta com um balcão e uma moça atrás, também é bem afeiçoada. Ao lado tem uma cortina vermelha de veludo envolvida em detalhes de ouro, parece a verdadeira entrada do lugar. — Senhorita? É por aqui. — Ela me chama gentilmente me tirando de meus pensamentos e caminhamos até uma porta. Lá dentro eu disse um nome falso que escolhi para a noite, a noite que me torno outra pessoa. Ela pegou minhas medidas, altura e tirou uma foto minha. Após tudo pronto ela me entregou um cartão com meu nome falso que pode me permitir entrar direto das “próximas vezes”. Não haverá próximas vezes. Cadastro concluído e ela me guiou de volta até a recepção que passei, sorrio satisfeita comigo mesma enquanto olho a cortina vermelha na minha frente. Não foi fácil, mas aqui estou e ao contrário do que todos acham, estou pronta. — Bem vinda oficialmente ao Dulce Prazer. Aproveite a Fascinação. — Ela me aponta a cortina, sorridente. Aceno para ela e sem mais delongas... Entro.
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