Capítulo 4

3050 Words
................................................................. *Lilly* Peguei o primeiro avião que tinha disponível para Moscou de madrugada. Estava levando apenas duas malas pequenas, por que não sabia exatamente o que iria usar. Então, selecionei apenas o mais necessário e o que havia de melhor em meu guarda roupa. Entre eles os meus pijamas da Mulher Maravilha e do BB8 e minhas meias amarelas com listras pretas em homenagem ao meu Will. O que foi? Vocês já devem ter assistido “Como eu era antes de você” alguma vez na vida. Mesmo com a neve e o trânsito a todo vapor, consegui chegar a tempo no aeroporto e me despedir dos meus pais e minha avó. m*l haviam se passado 8 horas da notícia e eu já estava indo para o meu novo destino: Moscou. Da última vez em que tinha ido lá, não consegui visitar muitos lugares, pois só tinha ficado dois dias e estava nevando muito. Sem contar com a diferença gigantesca de fuso horário. Eu passava as noites acordada e o dia dormindo. Moscou estava 7 horas à frente de Atlanta. Para mim, que sempre fui de dormir cedo e acordar cedo, foi bem difícil de se acostumar. A minha sorte é que não ficaríamos em um lugar só por muito tempo, pois em cada prova seria realizada em um local diferente. Haveriam 5 delas, ou seja, 5 lugares diferentes que eu iria conhecer. Mal conseguia me conter de empolgação, ficara horas sem pregar os olhos e dormir. Não sabia se era pelo fato de não gostar de aviões, ou pelo fato de eu saber que apareceria em rede internacional. A Lilly da rua 27, magricela, desprovida de s***s e b***a, pálida demais para o seu próprio bem e sem nada interessante para mostrar, seria assistida 24 horas pelo mundo inteiro. Céus! eu não tinha nem feito minhas unhas. Minha avó tinha razão, não deveria ter ruido tanto assim. Mas agora já era tarde demais para tentar mudar a situação precária da minha beleza inexistente. “Seja o seu próprio padrão, garota!” era a frase que eu tinha acabado de salvar na minha página pessoal e guardada na pasta “Autoestima em dia”. Evidentemente, nada estava em dia na minha vida, nem mesmo minhas frases motivacionais. Não que eu me considerasse feia, mas também não era linda a ponto de fazer com que alguém parasse do nada em uma plataforma de trem e o deixasse desnorteado por mim. Era isso que tinha acabado de acontecer no romance de época que eu estava relendo durante o voo. Aquele bloquinho de folhas já estava amassado e amarelado pelo tanto de vezes que eu o havia lido. Era meu livro favorito. E sim! eu me via naquele personagem. O que eu podia fazer? A protagonista já era uma mulher empoderada mesmo estando no século vinte. Por mais que fosse um absurdo me inspirar em uma personagem fictícia, era exatamente isso que eu fazia e com direito a vários trechos destacados de marca texto colorido e muitos post its para marcar as melhores cenas. Fazia isso e com muito orgulho! “Guys,I’m a Valentini” (Galera, sou uma Valentini!) Forte, linda e em busca dos seus próprios sonhos. Fora do Casulo era o livro que minha avó havia me dado no meu aniversário de 18 anos. Era um presente de uma amiga para outra, por que é isso que nós éramos: melhores amigas; Unha e Carne; Cutícula e alicate; Glitter e pele; Inseparaveis. Não tinham sentido algum as comparações que eu havia formulado, mas quando não se dispunha de muitas companhias em um vôo tão demorado, precisava-se contar com sua própria capacidade criativa de falar consigo mesmo. “Senhores passageiros, pedimos que coloquem seus cintos e voltem suas cadeiras para a posição normal, estamos próximos da aterrissagem. Esperamos que tenham feito uma otima viagem. A tripulação Russian’s Air agradece por ter nos escolhido!”-disse a aeromoça, traduzindo a mesma frase em outros idiomas estranhos. Fiz o que a moça falou e senti o frio no estômago quando o avião começou a descer, exatamente a mesma sensação de quando se faz um Balloné no Ballet. Era sempre complicado fazê-lo, mas eu gostava de coisas complicadas. Assim como Chloe gostava de garotos notoriamente complicados. Só de lembrar dela, um sentimento acolhedor toma conta de meu coração. Sai tão depressa de casa que não conseguira saber se Cloe tinha sido selecionada também. De qualquer forma eu esperava que sim, pois assim teria uma amiga ali dentro. As portas do Avião se abriram e eu retirei minhas coisas do guarda volumes que ficava na parte superior do corredor. Entrei na fila e segui o fluxo para sair dali. Segui as instruções para retirar as malas que eu havia despachado e fui em direção às portas de vidro. Assim que sai dali, tratei de pegar o primeiro táxi que parou na calçada. Entreguei ao motorista o endereço que o programa havia me passado e finalmente pude me acalmar. Mesmo com o frio intenso, Moscou era linda. Conforme o carro atravessava as ruas, podia-se ver o contraste de inúmeros edifícios modernos e casas com uma arquitetura vintage e encantadora. Era a cidade do quebra nozes e da patinação do gelo, eu ainda precisava ver aquele tipo de coisa ali. Na minha cabeça, tudo o que se passava era aquela música que tocava em todos os filmes de comédia romântica, quando a garota era nova na cidade grande e ficava extasiada com as belezas do local. Exatamente como eu! Fly me to the moon Let me play among the stars Let me see what spring is like on Jupiter and Mars Só me faltava um mocinho encantador, lindo e que me pediria em casamento no final, com mil rosas espalhadas pelo chão e um monte de pedestres dançando para me fazer aceitar o pedido. E entao eu diria sim e… Estava viajando na maionese de novo. Me desculpem por isso, mas é que meus neurônios deviam liberar alguma substância produtora de pensamentos esquisitos e fora de contexto. -Chegamos, moça!- disse o Taxista com um inglês misturado ao russo. O paguei e tirei minhas malas de dentro do portamalas. Peguei o papel com o endereço para conferir se tinha passado o ponto certo para o motorista. Pelo que se podia ver, o programa havia marcado o lugar de encontro exatamente no Teatro Bolshoi. Fiquei em dúvida, porque achava que eles, primeiro, fossem nos acomodar em um apartamento ou um hotel, mas pelo visto a primeira parada era ali mesmo. Eles não queriam perder tempo e eu não via a hora de poder conhecer melhor aquele lindo edifício que era o Teatro Bolshoi. Olhei para a grande escadaria e até um suor frio desceu pela minha coluna, afinal teria que levar as minhas duas malas, pequenas e extremamente pesadas, sozinha. As segurei firme, e segui em frente. Entrei no grande salão e vi que as portas do elevador estavam quase se fechando. Não iria querer subir todos aqueles andares de novo. Então... -Por favor, segure o elevador!- gritei. Por algum milagre, alguém realmente o segurou dessa vez. ................................................................. *Harry* O dia começou como qualquer outro. Corrida matinal, café da manhã, ducha e ir para a academia, só que naquele dia não seria para a academia do professor James, seria para a Academia que eu sempre passava em frente desejando que aquela fosse a vez em que eu entraria ali, como convidado de honra e agora estava se realizando. Passei pela grande fonte congelada que se parecia com uma escultura de gelo, e subi a escadaria principal e fui direto para a entrada. Estava muito frio, então estava levando na minha mala algumas coisas que talvez eu fosse precisar. Dentre elas haviam peças para o verão e outras para o inverno intenso, já que não sabia quais seriam os próximos destinos. Entrei no grande salão e pela primeira vez, pude observar detalhadamente o ambiente luxuoso. Havia mármore no piso e detalhes esculpidos em gesso nas enormes paredes, muitos quadros renascentistas e um carpete vermelho que levava a outras escadarias. Era lindo e se desse tudo certo, seria o meu novo espaço de trabalho. Uma das oportunidades que o programa dava era a de se tornar um professor Bolshoi, para isso o ganhador do programa, teria que concluir um período de 3 anos em mentoria com os mestres da Bolshoi Academy para poder exercer a nova carreira. Isso se deve pelo fato que ainda éramos considerados muito jovens para sermos mentores, então quem vencesse deveria passar por este processo de adaptação. Isso não significava que deixariamos de nos apresentar, mas sim que teríamos mais propriedade em nossas ações. Dei um suspiro de contentamento ao me imaginar nesse contexto e entrei no elevador. Apertei no botão para o ultimo andar, o lugar das lendárias e luxuosas apresentações. Não tinha entendido o por que do programa nos ter mandado diretamente para lá com nossas malas. Mas obedeci mesmo assim. Antes das portas se fecharem, tive uma espécie de Déjà-vu, pois foi exatamente naquele elevador que eu havia feito minha primeira inimizade ali. Até perceber que novamente estava acontecendo como da última vez. -Por favor, segure o elevador! Minhas mãos agiram antes que eu percebesse e bem na minha frente parou a mesma garota do elevador. Aquela coisinha irritante e peculiar, linda e estranha. Que não saia da minha mente desde então. Ela revirou os olhos assim que percebeu quem segurou as portas. -É claro, tinha que ser você.- disse ela me olhando com desprezo. -E tinha que ser você também, pelo visto.- disse eu com algum tipo de senso de humor inexistente em mim. A ajudei a colocar suas malas pesadas para dentro do elevador e fechei as portas. -Eu não tinha outra escolha, caso não percebeu. Assim como também não tinha na primeira vez. Era isso ou subir de novo as escadas-comentou afastando do rosto os fios que haviam se soltado de seu r**o de cavalo. -Não acho que tenham sido tão terríveis assim, já que tínhamos chegado juntos.-disse implicando-a. Ela me olhou diretamente nos olhos com ainda mais desprezo, assim como fez da outra vez. -Por que não fazemos um teste então?- ela perguntou com um ar diabólico-Eu te deixo no próximo andar e você vai subindo de escadas. Vamos ver quem chega primeiro. Eu apenas rio da sua tentativa de vingança, era tão encantadora que chegava a ser engraçada. Depois de três semanas, não me lembrava de como exatamente era seu rosto e nem mesmo gostava de me lembrar. Não era saudável notar o quanto ela ficava linda com as maçãs do rosto coradas e os cabelos desalinhados. Ou o quanto ela se parecia com uma sereia de cabelos tão claros e olhos tão vítreos. Uma sereia que se eu não tomasse cuidado me levaria diretamente para minha saida daquele programa. Ainda estávamos no quarto andar quando ela cortou o silêncio. -Você é bem quieto, não é?- perguntou com seus olhos curiosos- Afinal, qual é o seu nome? Pensei antes de responder, porque aquela pergunta me pareceu familiar em alguma memória do passado. -Harry-respondi. Ela me analisa, sem pudor, passando seus olhos congelantes por todo o meu corpo. Estava apertado ali. -Apesar, de você não ter perguntado e claramente não fazer muita questão em saber, meu nome é Lily-comentou- Lilly Leblanc- disse estendendo a mão. Senti o arrepio dos pés a cabeça, pois era exatamente o mesmo nome que eu havia notado na tv. Olhei para sua pequena mão e pensei se devia apertá-la ou não. Se eu a apertasse, estaria firmando algum tipo de trégua, mas se eu não o fizesse continuaríamos nutrindo pouca afeição um pelo outro. Talvez fosse melhor manter a fachada de inimigos, assim não precisaria me preocupar com a imagem que ela formaria de mim. Ela bufou. -Sou tão repulsiva assim? Aperte logo!- disse ela com impaciência. Eu a olhei com diversão e ela aproveitou minha deixa para pegar em minha mão sem o meu consentimento. Seus dedos eram macios, frios e delicados. Era gelo e fogo sobre minha pele. Senti uma corrente elétrica atravessar de mim para ela e achei que ela também percebeu. Ótimo! Assim Lilly entenderia que esse tipo de coisa não traria nenhum tipo de vantagem na competição, então o melhor era se afastar. Ela continuou segurando minha mão e chegou ainda mais perto. Seus lábios rosados se abriram e ela olhou diretamente para o meu. Droga! Será que ela não conseguia notar que isso seria um grande problema? Em toda a história da humanidade nunca, em hipótese alguma, misturar relacionamentos pessoais com profissão dera certo e não daria agora. Não que eu estivesse pensando em algo além do profissional e… Pela minha sanidade! Aquilo precisava terminar ali. Assim que as portas se abriram, eu soltei sua mão e sai sem nem mesmo olhar para trás. Outro gesto sem educação? com certeza! Mas tinha que manter o foco e olhar para aquela mulher, não me ajudaria em nada. Eu seria seu inimigo, e estaria fazendo isso por nós dois. Um dia ela me agradeceria. Lilly murmurou algo ultrajante pelo corredor, mas antes que eu pudesse ouvir, holofotes nos recebem logo que eu abri a porta que dava para a lateral dos palcos do teatro. Assim que minha vista se normalizou do clarão, consegui ver que éramos os últimos a chegar. -E finalmente chegaram nossos últimos participantes.- começou o apresentador, a direcionar a câmera para os nossos rostos-Com vocês, Harry Mctavish e Lilly Leblanc! Os outros 18 participantes aplaudiram e nós acenamos para câmera. Lilly esqueceu rapidamente a cena anterior e pareceu mais animada que qualquer um ali, seus olhos brilhavam e tive a impressão que ela sairia dando pulinhos de alegria a qualquer momento. Cumprimentei o apresentador e fui conhecer os participantes um por um, assim como Lilly. Vi Kira dando um breve aceno para mim, com seu típico olhar de superioridade e perspicácia. Eu devolvo o aceno em concordância com nosso plano. -Muito bem senhores, vocês terão tempo para se conhecerem depois. Agora vamos dar início ao que todos estão esperando. A primeira fase da competição!”- ele sai do foco da câmera e aponta para nós- Antes vamos assistir a uma pequena apresentação dos nossos participantes tão queridos, para vocês que estão nos assistindo os conhecerem um pouco melhor. Assim que ele terminou de falar, as cortinas do palco em que estávamos se abriu e atrás um enorme telão tomou nossa atenção. Eles haviam feito um vídeo sobre nós quando tínhamos sido selecionados para o programa. Nele filmaram um pouco de nosso cotidiano e havíamos contado um pouco sobre nossas características em poucas palavras. Os integrantes que mais chamaram minha atenção foram o Japonês, que agora eu sabia que se chamava Ken Matsuno e o loiro italiano que não parava de sorrir: Matteo Spinelli. Estes eram meus maiores concorrentes, tanto pela origem acadêmica quanto pela influência que um deles já tinha no público. Matteo era famoso em suas redes sociais, então ele já tinha uma grande vantagem ali. Quando a apresentação pessoal de Kira passou, até os cameramens ficaram de boca aberta. Ela era a pessoa com mais influência e conhecimento em comparação com os demais. A última foi Lilly. De todos, era a única que não teve uma formação acadêmica tão privilegiada. Ela estudava numa pequena academia de Ballet que pertencia a sua própria família e também dava aulas em período integral lá. Fiquei bastante impressionado pelo fato de Lilly, mesmo vindo de uma situação não tão reconhecida, ter se saído tão bem no dia das classificatórias. Olhei para ela, enquanto ainda se passava sobre sua vida e a vi do outro lado da sala, levemente encolhida, próxima a uma garota de cabelo roxo. Era evidente que Lilly havia notado a diferença entre os demais, mas não havia motivo para ficar envergonhada, visto que sua apresentação anterior fizera até mesmo os juízes sentirem sua vibração. Mesmo que aparentemente não fossemos amigos, desejei que ela conseguisse ser colocada com alguém que a valorizasse e respeitasse acima de tudo, pois ela tinha sim potencial para ir até o fim. As cortinas atrás de nós se fecharam e o apresentador tomou seu lugar novamente. -E esses foram os nossos 20 participantes!- ele e a produção nos aplaudiram e focaram em nossos rostos- Mas agora vamos ao que interessa. Como vocês bem sabem, terão que fazer todas as provas em dupla até o final do programa, aprender a trabalhar em equipe e a dividir erros e acertos. Só assim chegarão juntos na semifinal. Olhei para Kira e vi que seus olhos brilhavam de orgulho e excitação. Seríamos ótimos juntos. -Mas, o que vocês não sabiam é que nessa edição do programa, quem escolherá seus parceiros não serão vocês,- engulo em seco- o público é quem irá votar.- um gelo escorregou demoradamente pelas minhas costas- Temos dez homens e dez mulheres, todos terão 2 minutos para dançar um com o outro. Isso significa que terão que testar a sintonia com cada um do lado oposto: homens com mulheres. O público escolherá os arranjos que forem convenientes.- ele retirou do bolso um relógio- Vocês terão cinco minutos para se prepararem, as malas poderão ficar nas cabines que colocamos ali- aponta para o fim do teatro, onde antes ficavam as cadeiras que eles tiraram para acomodar as cabines- Ahh e antes que eu me esqueça, não coloquem as sapatilhas de Ballet, pedimos que usem o figurino que deixamos para cada um de vocês- ele voltou seu olhar para a câmera- E agora, é com vocês pessoal. Assim que estas primeiras apresentações terminarem, a votação ficará aberta em nosso site, votem em seus casais e amanhã divulgaremos quais foram os resultados. Sem mais delongas, iniciaremos agora a 5a edição do reality Bolshoi!- anuncia o apresentador, saindo do foco da câmera. Kira olhou de novo pra mim, pela primeira vez com traços de desespero em seu olhar. Ela sabia tanto quanto eu que um parceiro podia levar uma dupla do troféu ao penhasco. O público poderia escolher quem eles quisessem, mas se mostrássemos que éramos bons juntos, não havia o porque escolherem parceiros diferentes. Uma boa apresentação nos daria algum tipo de benefício com o público, disso eu tinha certeza. Pelo menos, é o que eu esperava.
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