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*Lilly*
Peguei a posição 50. Provavelmente a melhor de todas, pois era exatamente a metade e ser a metade talvez me fizesse ter um pouco mais de segurança.
Vi os primeiros Bailarinos se apresentando e a cara de reprovação dos juízes. Como consequência, tive vontade de desistir.
"Você viajou quinze horas e subiu inúmeros andares. Vai desistir agora, Lilly Lebanc? Concentre-se!" - corrigi-me baixinho, enquanto terminava de amarrar minhas sapatilhas. Já devia ser a vigésima vez que eu ajeitava as fitas na minha panturrilha. Tudo parecia me incomodar.
Se minha avó estivesse comigo, provavelmente ficaria enchendo minha mente com assuntos frívolos só para me fazer esquecer que eu estava ali.
Céus! Eu não ia conseguir fazer aquilo sozinha. No que eu estava pensando? Uma professora e também aluna de ballet, de uma academia pequena e familiar, tentando uma vaga no maior concurso de Ballet? Eu deveria ter recusado.
Todos têm que saber de seus limites, e meu limite talvez tivesse sido ler a carta de seleção até o fim e não ter desmaiado no meio da leitura. Aquilo já havia sido o meu auge.
Olhei para o lado, bem a tempo de ver uma candidata torcer o pé durante sua apresentação. m*l tinha começado e ela já tinha sido desclassificada.
Eu iria perder! Certamente iria fazer pior que aquela desafortunada.
-Ela era do teatro- indagou uma moça de cabelo rosa perto de mim.
-Quem era do teatro?- perguntei, tentando saber se ela estava falando mesmo comigo.
-Esta garota que acabou de cair, fazia teatro comigo no ensino médio, o que torna a situação bastante incomum levando em conta que estamos novamente no mesmo local- respondeu ela com os dedos no queixo, perdida em seus pensamentos- Ah desculpe a minha ignorância, esqueci de me apresentar. Meu nome é Cloè Petit- disse com um sotaque Francês.
Ela tinha os cabelos tingidos de rosa claro, da mesma cor de seu tule. De alguma maneira, exalava alguma névoa encantada e seus traços pareciam com a de uma fada. Uma fada de muito bom humor.
- Muito prazer Clo.. Cloieé!- bati a mão na testa porque provavelmente havia pronunciado errado.
- Pode me chamar de Cloe, eu até prefiro na verdade. Minha mãe não gosta quando pronunciam errado, porque ela acha que meu nome é artístico e deveria acostumar meus amigos a falar da forma certa. Mas ela não está aqui para corrigir não é?! - deu uma piscadela. De repente pareceu constrangida e continuou - Desculpe comecei a tagarelar sozinha de novo e esqueci de perguntar, qual é o seu nome?
-Não precisa se incomodar, meu nome é Lilly -apertei sua pequena mão - Lilly LeBlanc.
-Que bom que não sou a única francesa aqui- disse dando um delicado risinho e se acomodando junto comigo no chão para nos alongarmos.
-Na verdade, eu sou americana. Moro em Atlanta com minha avó e meus pais.
-E de onde veio o sobrenome LeBlanc?- perguntou Cloè.
-Minha vó é 100% Francesa, morou na França quase a vida toda antes de eu nascer- abro um sorriso só de lembrar da pessoa que deveria estar naquele momento comigo- E você, onde mora?- perguntei para me esquecer dos anseios.
-Moro em Paris mesmo, sou quase um cartão postal da França- Cloe riu novamente, como se estar ali não fosse algo tão importante.
-Não está nervosa? - perguntei.
-Na verdade não estou- deu de ombros- Minha mãe já está lidando com nervosismo o bastante para nós duas. Também foi um dos motivos pelos quais eu pintei o cabelo de rosa.-comentou.
-Como assim?
-Pintei meu cabelo para me lembrar de que existem mais coisas em mim além do Ballet.- declarou se esticando novamente para alcançar a ponta dos pés.
-As vezes eu penso que deveria existir algo a mais em mim também.- disse eu melancolicamente.
-Existe mais em você do que imagina- ela pontuou com sua graça habitual- Olhe só para aquele Homem ali e aquela garota que está conversando com ele. Certamente que aqueles sim não tem tanta coisa além do Ballet. Estão tão sérios quanto uma rocha.-comentou rindo.
Olhei para o canto que Cloe havia apontado e percebi que lá estava o meu inimigo em forma de humano, conversando com seu clone feminino. A moça tinha cabelos e olhos escuros, com um ar de superioridade. Era realmente um clone fiel da seriedade e desdém do meu inimigo. Ainda não sabia o nome dele, mas tinha certeza que não nos veríamos mais. Ele olhou para mim de relance com curiosidade, como se não estivesse tão concentrado em sua performance ou talvez fosse fruto da minha imaginação.
-Se eles forem classificados, certamente serão parceiros.- acrescentei com humor.
-Com certeza! Olhe só para eles, até a sincronia no treinamento é perfeita. -Cloe comentou rindo também.
De repente, ela parou e focalizou em um canto escuro da sala. Suas pupilas se dilataram, suas sobrancelhas se ergueram e ela soltou um suspiro profundo, daqueles que aparecem em contos de fada e filmes clichês.
Dava para ver estrelas em seu olhar. Segui a trajetória de corações que ela deixou até o motivo de seu deslumbre e me preocupei com seu domínio mental.
Cloè olhava para um asiático estranho com uma grande parte do corpo tatuada, mas não era isso que me assustava, era a névoa escura que flutuava ao seu redor. Os únicos bailarinos que se atreveram a chegar perto do suposto Crush de Cloè estavam a três metros de distância dele.
Ele pareceu notar a atenção indesejada e olhou diretamente para minha nova colega. Cloè entregou corações, sonhos e paixão e ele a recebeu com gelo, fúria e impenetrabilidade. Era cortante como uma espada e trazia um anúncio bem notável em tudo isso, do tipo: "Bad Boy com b maiúsculo na área, garotas que possuem um bom coração, FIQUEM LONGE!"
-Cloe, essa provavelmente é uma péssima ideia.-adverti.
-Acho que encontrei o amor da minha vida.-ela suspira de novo ainda mais indigestamente apaixonada.
Céus! O que havia de errado com a popularização feminina do mundo? Todas as mulheres deveriam ter algum tipo de sensor para saber quando você está tomando uma péssima ideia antes de entregar cegamente seu coração a um t**o.
-Candidata Lilly LeBlanc!-chamou um dos jurados do programa.
O maior arrepio que eu já havia sentido contorna bem demoradamente minhas costas e se aloja bem no centro do estômago.
-Aqui.-ergui o braço trêmulo indicando presença.
-É sua vez de se apresentar.-anunciou o homem sem parecer mover um músculo sequer.
-Acho que nunca tive tanto medo de vomitar.-murmuro baixinho para que apenas a versão de Cloè apaixonada me ouça.
-Vai dar tudo certo garota! Eu sinto a Girl Power dentro de você.- ela respondeu, me ajudando a levantar e dividindo um pouco de sua calma.
-Obrigada, e boa sorte para você também!- dito isso, fui até minha pequena plateia.
Dizem que quando o cérebro está em estado de alerta, você consegue ouvir até o ruído mais silencioso perto de você. E era exatamente isso que estava acontecendo comigo, durante os passos até a minha forca, pude ouvir até o som da respiração de alguns bailarinos próximos, ou até mesmo o barulho oco da ponta da sapatilha batendo no chão enquanto uns treinavam.
Foram os exatos quinze passos mais demorados da minha vida inteira.
Assim que cheguei no centro do semicírculo de jurados eu me concentrei em respirar e controlar as emoções.
-Lilly LeBlanc, certo?- perguntou uma mulher que não parecia ser simpática.
-Sim.
-Quantos anos tem, Srta. LeBlanc?
-22 anos.
Ela me olhou de cima a baixo e registrou algumas anotações sobre mim. Isso me fez pensar sobre minha escolha de roupas, não havia nada de mais ali. Tudo bem que eu estava com polainas amarelas Néon, mas tirando isso o resto era inteiramente neutro. Que tipo de primeira impressão eu havia passado, afinal?
-Muito bem, você tem cinco minutos.- Vi em câmera lenta ela posicionar o dedo sobre o disparo do cronômetro e me preparei para começar- E o tempo é contado a partir de- fez uma pausa de suspense-Agora!
Antes de começar, instintivamente meus olhos se fixaram na figura masculina impecável que intercalava suas órbitas sobre as minhas.
De alguma forma, aquilo havia me passado um pouco de força e domínio.
Talvez eu estivesse louca ou simplesmente o orgulho tivesse tomado conta das minhas emoções e o desafio de superar aquele cara tivesse predominado.
Independente do que havia acontecido naquele momento, as intensidades daqueles olhos verdes haviam extinguido o meu medo.
Em um instante, tudo o que restou em mim foi a professora e aluna apaixonada por ballet, dançando a música animada que sempre colocava para tocar nas típicas manhãs de segunda feira.
Lilly LeBlanc estava de volta.
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*Harry*
Nunca gostei de roupa justa, mas acabei me acostumando por causa do Ballet. Durante os treinos, ficava tão concentrado nos passos e na música que não me importava estar tão preso a um traje.
Não me importava com a sensação do pinicamento ou o fato de estar tão exposto fisicamente. Mas naquele exato momento eu estava.
Talvez fosse pela importância do Reality sobre a minha profissão ou...Bem, nem eu mesmo sabia o que havia de errado comigo.
Minha concentração era péssima e por mais que eu tentasse não conseguia.
Errava em centímetros, sentidos e sequências, várias e várias vezes, sem contar com o fato de que estava sendo observado pelos olhos de gelo daquela garota que provavelmente falava algumas injúrias sobre mim para uma garota esquisita de cabelo rosa que estava sentada ao seu lado.
Olhei para o espelho e segurei na barra novamente, fechei os olhos e tentei mergulhar em meu silêncio interior, assim como Professor James havia me ensinado.
Não era fácil fazer esse exercício entre tantos desvios de atenção, e nisso inclui: 1⁰) O barulho de algum participante caindo brutalmente novamente;
2⁰) Uma musica que algum ser humano de um gosto musical decapitador colocou.
3⁰) Muitas pessoas falando entre si sobre assuntos sem significância alguma.
E por último:
4⁰) A incógnita da moça que eu não havia segurado o elevador, olhando para mim com a vingança colorindo suas íris.
Em meio a tudo isso, inspirei e expirei, segurando o ar por cinco segundos e focando na entrada e saída do ar em meu corpo.
Fiz isso por alguns instantes mais, até sentir a minha capacidade de concentração retornar.
-Pratico esse exercício também.- diz uma garota que estava próxima de mim, executando um Plié perfeito.
A garota tinha algum tipo de curiosidade brilhando em seu olhos negros, como se eu tivesse algo para lhe oferecer.
Não do tipo amoroso, mas material.
O tipo de olhar que alguém faz quando se tem algo de interessante para negociar.
Eu não queria perder meu foco, então apenas lhe devolvi um aceno e continuei a sequência.
-Andei analisando seus movimentos- ela continua- e devo dizer que o executou com uma técnica pouquíssima usada pelo grau de dificuldade.
Dei outro aceno e continuei treinando a sequência.
-Eu mesma só executei este movimento duas vezes, nas duas com perfeição, é claro.- comenta com superioridade.
Ela parou na minha frente e levantou uma de suas sobrancelhas, como se me instigasse a fazer a pergunta que ela queria ouvir.
-E no que eu posso ajudar?- e assim o fiz.
-Bom, vamos começar do início- ela estende sua mão para mim- Me chamo Kira.-Ela me dirige um olhar significativo, como se esperasse que eu já a conhecesse. Vendo minha incompreensão ela bufou e continuou.- Kira Pavlova.- completou.
Para minha inexistente sorte, eu estava de frente para uma descendente de Pavlova.
Anna Pavlova uma das maiores bailarinas russas que já existiu na história. Ela era um símbolo de orgulho entre o mundo do ballet e lá estava uma de suas tataranetas, provavelmente já garantida no Reality.
Logo depois que os jurados vissem seu sobrenome, ela certamente já seria aprovada.
Kira estava sempre sendo destacada pelos olheiros das revistas de esporte e arte sobre sua perfeita execução durante as coreografias sobre a técnica e a agilidade dos movimentos.
Ela notou minha compreensão e deu um aceno satisfeito.
-E você é?-perguntou.
-Harry McTavish.- cumprimentei, apertando sua mão.
-Escocês?
-Em parte sim, mas americano de nascença e russo de moradia.-respondi.
-Mora aqui na Rússia?
Aceno com a cabeça.
Ela me olhou dos pés aos fios de cabelo, fazendo uma avaliação genuína sem um pingo de constrangimento.
-Bem, não estou acostumada a treinar com parceiros americanos, mas posso abrir uma exceção dessa vez.- ela comenta estendo a mão novamente.
Mais uma vez eu não compreendi o que ela quis dizer com aquilo. Cruzei os braços e ela bufa impaciente.
-Estou querendo firmar uma parceria com você, Mudak (i****a). -retrucou.
Olhei desconfiado para ela.
-E como seria essa parceria?-perguntei.
-Olhe bem para esta sala- virou de lado para que eu olhasse amplamente- Eu andei analisando um por um rigorosamente e cheguei a conclusão de que nós dois seremos selecionados. Dentre todos, você é o que possui mais talento. Então, estou lhe perguntando se gostaria de ser o meu parceiro durante o programa.- explicou.
-Como pode ter tanta certeza de que seremos selecionados?
-E você não tem?- pergunta zangada, empinando o nariz- Eu andei olhando sua postura, McTavish, e a mim você não engana. Sei que sabe tanto quanto eu que chegaremos até a final juntos. Afinal de contas somos os melhores.- constatou colocando a mão na cintura.
Ainda de braços cruzados, tentei analisar pela primeira vez os outros participantes. Nenhum deles chamou minha atenção. Não era tão orgulhoso a ponto de dizer isso em voz alta, mas era uma verdade incontestável que, entre os 20, nós dois seríamos os primeiros.
-Não vê? Seremos ótimos juntos.- ela comentou baixinho.
Continuei minha inspeção, procurando erros e acertos em cada um. Alguns ainda se destacavam bastante, mas não era nada que eu não conseguisse executar.
Um deles era muito bom. O asiático tatuado estava em um canto afastado da sala e mostrava a todos que estava ali para vencer também.
-E quanto aquele próximo à janela?- pergunto.
-Aquele, bem…- ela voltou ao meu lado e colocou a mão no queixo- Ele tem um ótimo domínio sobre o corpo principalmente em passos difíceis, devo admitir, porém ele tem dificuldade em realizar passos simples. E eu preciso de alguém que seja bom nos dois. - constatou.
Ela tinha razão, o asiático teve problemas com um simples Plié.
Procurei mais algumas vezes, até achar um cara loiro que parecia brincar ao invés de treinar, mas não errava em nenhuma das sequências.
-Aquele está fora de questão.- Kira respondeu antes mesmo de eu perguntar.
-Por que?- perguntei mesmo assim.
-Porque ele..-Ela pareceu procurar a palavra certa para descrevê-lo- ele simplesmente não..- começou a ficar confusa e de repente- Não combinamos! É isso, ele e eu não seremos bons juntos.
-Tudo bem, só estava perguntando.-me rendi.
-Não estou lhe fazendo nenhuma proposta indecente e nem te oferecendo algo r**m. Sabe tanto quanto eu que...
-Seremos perfeitos juntos.-completei.
-Isso. Então o que me diz?
Olhei para o lado bem a tempo de ver a moça que desmaiou na rua sendo chamada para se apresentar. Não sabia explicar, mas de alguma forma eu conseguia sentir cada uma das emoções que permeavam sua mente como se fosse em mim.
Aquilo prendeu minha atenção de forma que tudo pareceu ficar em câmera lenta e silencioso.
Senti o medo contornar sua coluna. A vi lutar contra ele pela forma que levou seus ombros para trás e empinou o queixo, não com orgulho, mas com algum tipo de coragem que restou dentro de si.
Senti também suas memórias sendo revividas pelas sutis lágrimas presas em seus olhos claros. Em momento algum ela perdeu sua compostura.
-Já vi aquela ali. Ela é boa, mas não tem tanta precisão quanto eu. Aposto que ela não passa para a próxima fase. - Kira comentou.
Algo estranho se alojou em minha garganta e tive que engolir em seco para tirar aquilo dali. Um sentimento r**m e contraditório a tudo o que Kira havia dito se fixou em meu peito.
Olhei para a moça segundos antes dela começar sua apresentação. Como se sentisse também, ela deslizou seu olhar sobre o meu.
No mesmo instante um arrepio doloroso nasceu da base da coluna e correu até a raiz dos fios do meu cabelo.
Elétrico e desconfortável.
O desespero sólido penetrou suas íris azuis e ao invés de cessar o contato, eu permaneci a encarando como se pudesse lhe assegurar de que ela seria classificada.
Inexplicavelmente, vi aqueles olhos feitos de gelo impenetrável se transformarem em brasas vivas. Quentes e devastadoras. Ela então se virou para os jurados e começou sua sequência.
Segundo as cláusulas do programa, tanto a música quanto os passos da primeira classificação ficariam à escolha do competidor.
Mas isso não significava que qualquer música seria boa o suficiente para passar daquela etapa, isso dependeria muito da performance do candidato, pois uma linda melodia combinada a um péssimo desempenho, resultaria em uma notória desclassificação. Deveria haver harmonia entre ambos elementos: música e competência.
A garota em questão escolheu provavelmente a combinação mais difícil e esquisita de todas.
Roar- da Katy Perry.
Música pop e ballet clássico no mesmo arranjo.
Se fosse em qualquer outra pessoa, esse ritmo ficaria medonho combinado ao Ballet.
Porém não com aquela mulher.
Ela fez disso sua cartada de mestre. Tudo se fundiu em um só, seus passos em perfeita sintonia com as batidas da música.
Era algo entre o Ballet clássico e uma dança esquisita, melodramática e encantadora. Sei que esses dois adjetivos não combinam na mesma frase, mas não havia outra maneira de explicar. Seus movimentos eram precisos e empoderados.
Era garra e delicadeza.
A garota das polainas amarelas distribuía sorrisos satisfeitos entre uma sequência a outra. Parecia até estar se divertindo, feliz e desprovida de medo, totalmente o oposto de como estava quando chegou. Todos pararam o que estavam fazendo para vê-la se apresentar, alguns até com um sorriso t**o no rosto.
Ela espalhava uma energia boa pelo ar, algo mágico, alegre e elegante. Até mesmo os juízes pareciam estar de bom humor.
Em meio a todos os passos, a garota fez inúmeros fouettés e em um deles ela se desequilibrou, mas se recuperou ao fazer um Adágio no final.
Ela tinha essência no ballet e a facilidade em mesclar o clássico com o contemporâneo.Sem dúvidas seria classificada.
E isso era um problema.
Eu nunca tive sentimentos, era frio e calculista, mas se ela fosse selecionada isso significaria que eu teria que lidar com esse "eu" que desconhecia.
Droga! Eu nem parecia eu mesmo, se levasse isso para o resto da competição estragaria tudo. Para vencer aqueles infindáveis desafios do programa teria que manter o foco, a disciplina e nenhuma distração.
Só havia uma possibilidade de ganhar o Reality com o "eu" que dominava.
-Eu aceito!-disse para Kira.
Algo amargo se formou em minha garganta, mas não dei ouvidos a nada além da razão.
Eu estava tomando a decisão certa.
-Se tudo for conforme planejado, seremos parceiros então.- concordou ela.
Kira deu um sorriso presunçoso, arqueando a sobrancelha em superioridade e uma pergunta se formou em seu olhar assim que a garota de polainas amarelas terminou sua apresentação, algo como: "Eu não te disse?"
Sim, ela disse que a garota de polaina amarela não passaria dessa fase, mas aquilo evidentemente não era verdade. Por que ela passaria e eu teria que lidar com isso depois, mas primeiro precisava garantir a minha vaga.
E foi isso que eu fiz.
Dei o melhor de mim.