Capítulo 6

2008 Words
................................................................. *Lilly* -Não acredito que ficou tão incomodada assim, Lilly- começou Cloe- O Mctavish era um gatinho. Peguei minha necessaire e revirei os olhos. -Minha nossa! Vejo que os minutos em que você esteve com Matteo foram suficientes para pegar até o mesmo jeito que ele fala- retruquei. -O Matt, como eu carinhosamente o chamo, também era um gatinho. Mas o Mctavish não perdia para ninguém- disse ela dando seu suspiro “Encantado”- Só não ganha do meu favorito. Cloe terminou de escovar seus cabelos e eu comecei a trançar o meu. Nunca, em toda minha vida, havia pensado que um dia estaria num camarim colocando meu pijama do BB8 para dormir num teatro. E não era qualquer teatro, era O Teatro Bolshoi. Tínhamos passado o dia inteiro ali, conhecendo um pouco de cada um e respondendo às perguntas que os telespectadores nos mandavam. Naquele momento não estávamos mais sendo filmadas, pois eles paravam às 21hrs para dar um pouco de espaço para nós. Isso eu achei bem interessante, porque a maioria dos realitys não dava privacidade nem para os participantes dormirem. É claro que tínhamos um monte de regras que não podíamos desobedecer e milhares de seguranças em todas as saídas de ar possíveis. Mas tudo isso já era algo que deveríamos esperar agora, pelo fato de estarmos “Famosos”. De tarde, logo que acabou a valsa, o apresentador havia nos avisado que passaríamos a noite no teatro, mais precisamente dentro do mesmo salão que Pavlova um dia dançou. Seria uma espécie de acampadentro, com homens e mulheres todos juntos. E vocês acham que eu gostei? EU ADOREI! Se dependesse de mim eu moraria ali, casaria ali, teria filhos ali e… Misericórdia, eu disse filhos? Ops, apaguem esta parte por enquanto galera, ainda tenho muita coisa para aproveitar na vida. Não que eu não quisesse ter filhos, mas.. bem, vocês entenderam. Eu não sabia nem como lidar com toda a minha loucura, menos ainda de cuidar de uma criança. Depois de perceber que estava viajando na maionese de novo, voltei minha atenção para o diálogo com Cloe. -Cloe, você não está aqui para namorar com ninguém, está aqui para vencer- disse como uma tiazona autoritária que eu era. Ela revirou os olhos e bufou. -É lógico que eu estou aqui para competir, mas não tem problema dar uma bisbilhotada nos diamantes dessa temporada-disse ela rindo e dando uma piscadela. Não tinha como não ficar de bom humor perto de Cloe, ela era praticamente a própria definição da palavra “Encantada”. -Eu gostaria de ser um pouco mais como você- anunciei. -Deixe-me ver…-Ela colocou a mão no queixo, pensativa- Gostaria de ser indecisa em tudo? De se apaixonar em segundos por alguém que nunca nem disse um “Oi” sequer? Ou ainda, gostaria de adotar um peixe de estimação e acabar o matando depois de tanta comida que você deu? Dessa vez eu gargalhei. -Como você conseguiu matar um peixe com comida, Cloe?-perguntei entre a crise de risos. -Dorothy sempre fazia cosquinhas em minha mão quando eu colocava o dedo no aquário para fazer companhia pra ela,- ela suspirou melancolicamente- e eu achava tão fofo que sempre acabava dando mais e mais comida toda vez que ela fazia isso. -Você matou seu peixe por overdose de comida?- perguntei sem fôlego. Que bom que Cloe não levava a m*l minhas gargalhadas, pois eu não conseguia parar de rir. -Foi basicamente isso! Mas pelo menos aprendi a dar mais ouvidos ao que minha mãe diz, porque ela já havia me alertado que eu não levo jeito para animais- comentou ela achando graça. Até que paramos de rir quando alguém entrou na sala. -Garotas- anunciou Kira com seu jeito desagradavel de ser- Vim aqui avisar que já são 23 horas e a produção disse que todos devemos estar na cama às 23:15. Alguns já estão até dormindo, então parem de tagarelar como duas maritacas são! -Anunciou ela, fechando a porta com a mesma rapidez que abriu. -Humpf! Como eu odeio pessoas que acham que são superiores às outras- disse eu com amargura. E comecei a reunir minha necessarie e minha sacolinha de roupas sujas. -Não sinta ódio, isso só corrói a alma.-disse Cloe parecendo não se importar de ter sido chamada de maritaca tagarelante- Pense que Kira só está em um processo de se conhecer, e a identidade dela é tão fraca que precisa diminuir outras pessoas pra ser quem ela é. - Minha nossa Cloe! falando desse jeito você se pareceu com a minha avó. -Isso é o que minha mãe sempre me diz: Que por baixo dessa carcaça jovem eu tenho uma velha esquisita de 89 anos que odeia sair de casa e às vezes solta algumas pérolas como essa. Dou mais uma risada. -Bem, velha ou não, acredito que esteja certa- comentei- Eu só gostaria de saber lidar melhor com insultos, já que provavelmente teremos muito disso, daqui pra frente. -Infelizmente a gente nunca sabe realmente a como lidar com isso, apenas tentamos preservar nossa mente da opinião de outras pessoas.- ela fixou seus olhos melancolicamente em alguma memória perdida do passado- A autenticidade nem sempre é um caminho fácil- deu um suspiro triste. Quando percebi que ela tinha perdido seus traços de bom humor, mudei de assunto rapidamente: -Cloe, você se esqueceu de me contar um fato muito importante que aconteceu hoje. -Ah é? O quê? Cruzei os braços e apoiei o quadril na bancada do camarim, só para dar um suspense. -Como foi valsar com seu grande amor, Cloe? O brilho voltou aos seus olhos no mesmo instante. -Oh mon Dieu, c'était parfait! (Minha nossa, foi perfeito!) - ela deu um rodopio e colocou a mão em seu peito. Suspirou- Ele é um pouco quieto, devo admitir, na maioria das vezes ou fingia que não estava me ouvindo tagarelar ou respondia monossilabicamente. - Céus, Cloe! Como isso pode ter sido perfeito? Ela olhou para cima e deu um suspiro apaixonado. -Meu pobre coração francês quase não aguentou ao ver aquele sorrisinho lateral quando eu disse que tinha gostado da tatuagem do homenzinho. -Do homenzinho? -Sim! Bem, pelo menos era o que eu achava que fosse aquele círculo com alguns tracinhos. Até que ele disse: "Não é um homem, isso é um símbolo em Kanji"-imitou ela com uma voz grossa, como uma ordem militar. -E o que significava então? -Não faço a mínima ideia,- deu de ombros- ele não disse mais nada depois disso. Mas eu ainda acredito que por trás daquela máscara de aço deve haver um ursinho de pelúcia fofo demais para não ser visto. Eu ri mais um pouco. Cloè deveria tentar fazer Stand up se um dia se aposentasse do Ballet. -Bem, acho melhor irmos agora- anunciei secando as lágrimas do riso- antes que a Pavlova nos puxe pelas orelhas. Entrelacei meu braço ao dela e entramos no corredor que ia em direção ao palco, meu mais novo lugar preferido para dormir, depois do sofá. -Então, voltando ao nosso assunto- mormurou Cloe- Por que ficou tão irritada assim com o Mctavish?-perguntou ela com a curiosidade serpenteando seu olhar. -Aquele cara é um homem muito dificil de se lidar!-torci o nariz-Ficou me dizendo que eu estava errando a coreografia o tempo inteiro como se ele fosse perfeito demais para errar, fora que ele não queria nem me cumprimentar quando chegamos. Viramos a esquerda. - Na minha opinião ele é só um pouquinho mais introvertido que os demais, mas devo dizer que ele foi muito cavalheiro comigo durante nossos momentos juntos valsando. Bufei. -O Mctavish? -Ele mesmo!- respondeu. -Impossivel! Se havia algo de cavalheiro nele eram só os trajes, porque o restante era um conjunto de Amargura, Orgulho e falsa perfeição- faço aspas com os dedos. Assim que terminei, percebi que Cloe havia parado de andar de repente e olhava fixamente para um ponto atrás de mim. Enguli em seco. Bem que minha avó sempre disse: “Nunca fale m*l de ninguém pelas costas, se você tem algo para dizer, diga de frente!” E lá estava o Starwalker do m*l acabando de sair do banheiro masculino com Matteo logo atrás dele. Ele estava petrificado no lugar, com o maxilar trincado e seus cabelos ainda molhados. Mctavish estava lindo de...Quero dizer, parecendo uma pessoa normal vestido com aquele pijama escuro. Ele piscou algumas vezes e, bem lentamente, chegou próximo de mim, como se estivesse circundando sua presa. O leão contra o ratinho. Nesta peça, eu era o ratinho que seria digerido em breve. Suas narinas se dilataram e ele cravou aquelas iris verdes escuras bem no centro dos meus olhos. Se isso fossem laminas, eu teria ficado cega pela tamanha impenetrabilidade naquelas iris. Seu cheiro madeirado derreteu meu cerebro ate eu virar uma ameba, olhando sem reação alguma para ele. Ceus! Quem passava perfume para dormir? O corredor pareceu ficar em silencio absoluto. -Bom noite para você também, LeBlanc.- anunciou Harry praticamente cuspindo em meu rosto, cheio de dureza em sua voz. Ele nem pediu licença e esbarrou em mim só para passar para as portas do palco. Aquele homem detestável! Como podia ser irresistível e ainda assim possuir tanta falta de educação. -O que foi isso que acabou de acontecer aqui?- perguntou Cloe. -Vamos dormir- resmunguei. ................................................................. *Harry* -O que foi isso?-perguntou Matteo. O cara estranho que não saia do meu pé desde o momento que eu perguntei que horas eram. -Nada. Ele riu. -Alguma coisa deve ter sido, para ela falar daquele jeito de você. Não respondi, porque meu humor estava insuportável até mesmo para mim habitar naquele corpo. Não sabia como Matteo ainda estava ali conseguindo me tolerar. -Cara, -começou ele dando um tapa nas minhas costas- se eu tenho algum tipo de experiência nessa vida, é com mulheres. Aquelas duas gatinhas na minha humilde opinião, são as melhores para sermos parceiros. Principalmente a LeBlanc. O encarei. -Por que disse isso? Ele olha assustado para o meu rosto e dá um sorrisinho de lado como se tivesse notado algo, mas graças aos céus ele não ousou dizer nada. -Bem, a francesinha de cabelo roxo foi um amor, ela é bem simpática e tal, mas não faz muito meu estilo. Parece ser boazinha demais para mim. Não que eu queira alguém que seja dura e tal, mas espero ter uma parceira que seja um pouco mais focada e rigida do que eu- disse ele dando outro tapa. -E você encontrou tudo isso na Leblanc?-perguntei, duvidando da capacidade mental de Matteo. -Tudo isso e mais um pouco! Ela foi “Good vibes” com as minhas gracinhas, sem contar que é una bella donna, capisci uomo? (uma bela mulher, entende cara?)- disse ele dando mais um extremamente irritante tapa. Que saudade do silêncio da minha casa. -A LeBlanc sendo “Good vibes”?- perguntei pela primeira vez naquela noite achando graça. -Exatamente! Sem contar que ela dança muito bem.- deu outro insuportável tapa em mim- Esse combo todo, Mio amico (meu amigo)- estalou os dedos - Ha vinto il mio cuore! (Ganhou meu coração)- dessa vez colocou a mão sobre o peito e não bateu mais em minhas costas. Senti algo desagradavel, sobre aquilo que matteo havia dito, então resolvi ficar em silêncio, para não acabar falando algo que pudesse me arrepender. Afinal de contas, como a LeBlanc havia pontuado tão bem, eu era um "Amargurado, orgulhoso e falso perfeito'', então era melhor guardar todas estas minhas qualidades para mim mesmo e não importunar mais ninguém. Afinal, estava ali para vencer aquela competição, e era exatamente isso que eu faria. A começar pelo próximo dia, em que Matteo ficaria com a insuportável LeBlanc, enquanto Kira e eu certamente seríamos escolhidos como parceiros. Seríamos imbatíveis, insuperáveis e... Perfeitos juntos. Não havia o porque se preocupar, era só esperar pelo próximo dia onde tudo se resolveria. Antes de pegar no sono, três palavras reverberaram pela minha mente: "Amargurado, orgulhoso e falso perfeito'' Fechei os olhos e engoli aquelas verdades sobre mim, pois era isso que eu era.
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