Capítulo cinco

1917 Words
Escutei um barulho na porta e sentei no colchão. Em pouco tempo o Eduardo entrou no local. Suspirei em finalmente ver comida. — Que demora! — reclamei e peguei as coisas da mão dele. — Esse cara é complicado de enganar... — Quem ele é? — perguntei mastigando uma banana. — É um cara chamado Théo. Ficamos devendo a ele e agora veio cobrar. — Devendo o que? — Dinheiro. — Vampiros mexem com isso? — perguntei franzindo a testa. — Como acha que conseguimos sua comida? Para as pessoas, quando passamos na rua, somos normais. — Mas vocês não saem de dia. — Sim, mas muitas pessoas fazem coisas à noite. — É. Ficamos em silêncio. Ele ficou me encarando enquanto comia. Ele era bom de lidar. Mark também era. Só que com Eduardo às vezes tinha dificuldade, mas Mark não, sempre me dei bem com ele. Exceto quando tenho que ir para cama com ele. — O que você disse que ia fazer? — Não disse. — Saiu sem ser visto? — Sim. Você ia acabar passando m*l de fome. — Obrigada Ele ergueu as sobrancelhas. — Está agradecendo? — perguntou sarcástico. — Vai se ferrar! — Não poderia durar muito. — Sua risada ecoou o pequeno espaço. — Como saberei que posso sair daqui? Sabe, não tem banheiro! Eduardo ficou pensativo. — Pode ir no mato aqui fora. — Está brincando comigo, né? — Você não pode ir à casa. Me joguei no colchão e respirei fundo. Além de ter que ficar aqui, ainda não posso usar um banheiro decente! Mas assim que tiver uma oportunidade, vou sair e me encontrar com esse tal de Théo. — Vamos tentar fazer com que ele vá embora rápido. Assim você não precisa ficar usando o matinho — falou debochado. — Ok. — Vou voltar antes que percebam. — Tchau. Eduardo riu e saiu. Fiquei sozinha outra vez com as aranhas e defuntos. Depois que ele saiu eu dormi. Estava há horas esperando comida e quando comi, o sono veio com força. Acordei com um pequeno feixe de luz nos olhos. Estava de manhã e eu podia sair dali. Isso porque eles não saem de casa durante o dia, mas isso não quer dizer que eu não possa pegar um sol de vez em quando. E o tal de Théo não deve me ver, pois nem a cara na janela eles colocam, por isso tem tábuas nas janelas, para o sol não entrar nos quartos. Sempre ouvi dizer que os vampiros não gostam de sol porque queima eles. E se está se perguntando, já pensei sim em tirar aquelas porcarias de lá e deixar eles queimarem, mas ia receber um castigo imenso por isso porque para eles morrerem por causa do sol, têm que ficar exposto por muito tempo e não como nas histórias, onde o sol os toca e já viram **. Então foi outro plano inválido. Abri a porta da tumba e por um momento fiquei cega. Isso porque lá dentro era escuro e quando abri, a luz do sol ficou bem forte, mas logo me acostumei com a claridade e saí de lá de dentro. Estava apertada para ir ao banheiro. Como faria isso? d***a de vida! Segui para a parte de trás da tumba e no meio do matinho fiz o que precisava. Fechei os olhos e não pensei que estava no meio do mato e que algo poderia me picar ali. Assim consegui mais fácil. Voltei para frente da tumba e olhei ao redor, nunca pegava sol perto do cemitério. Não gostava de chegar muito perto porque lembrava dos meninos e dos montinhos de terra que eles me mostraram no primeiro dia que vim aqui. Só que agora não podia me afastar dali, pelo menos não muito. Não posso entrar na casa, senão o tal de Théo me vê. Não posso passar dos limites do quintal, pois se alguém me ver vai ser terrível. Mark pode até não me castigar, mas acho que se eu saí do terreno ou tento fugir, ele vai me machucar bastante... Sentei no chão perto de umas flores. Eduardo morre de ciúmes delas, mas eu não estou nem aí, ele não está vendo mesmo. Fechei os olhos e suspirei, o sol estava delicioso. Não estava queimando, estava aquecendo, isso porque não estávamos no verão e sim no outono. Algumas árvores já estavam sem folhas. Essa é a estação do ano que mais gosto, não é tão quente feito o verão e nem tão frio feito o inverno, é meio que a mistura dos dois. Abri os olhos e olhei a mansão. A parte de trás da casa era arrumada. A frente eles não mexiam para as pessoas acharem mesmo que ninguém mora naquele lugar. Descobri que isso é como uma isca para os curiosos que sempre vão ali para ver a casa m*l-assombrada e acabam não voltando para contar o que viram... Esse é o meu caso, mas não tive o mesmo destino dos outros curiosos, vendo que ainda estou viva. Só que eu acho que a morte me ajudaria mais. Não quero passar mais dois, ou dez, ou vinte anos aqui sendo obrigada a me deitar com esses caras. Falta muito para eu começar a ficar velha e eles não me quererem mais, não posso aguentar muito mais tempo. Olhei para as janelas do andar de cima e fiquei paralisada. Entre as madeiras da janela consegui ver um rosto. Não era nem o Mark, nem o Frank e nem o Eduardo. Só podia ser o tal de Théo. Ele ficou um tempo me encarando e depois saiu, isso porque o sol devia estar queimando-o. Céus! Ele me viu! Ele me viu! Deve vir aqui de noite e me m***r. Não podia ser melhor! Mas pensando bem, agora que ele sabe que estou aqui, não estou certa se quero mesmo morrer... Só que agora já era. Ele me viu. Me viu... Agora estou ansiosa como em todos os dias que tenho que entrar no quarto de Frank. Também fico assim quando tenho que entrar no quarto dos outros dois, mas no de Frank sempre é mais difícil. Ainda mais depois do que ele fez comigo. As horas passaram rápido demais para o meu gosto. Assim que o sol sumiu, fiquei extremamente tensa. Nem fome eu sentia pelo medo que estava. Acho que mudei de ideia, não quero morrer! Na verdade, estou em guerra dentro de mim, não sei o que realmente é o melhor. Ficar aqui com esses três sanguessugas ou perder todo o sangue do meu corpo. Escutei um barulho do lado de fora e prendi a respiração. Inutilmente me escondi atrás do túmulo onde o colchão está em cima. Sei que não adianta nada isso, mas é inevitável, pelo menos me sinto um pouco segura. Sei que eles sentem o cheiro e não só do sangue. Sentem quando estamos com medo. O que mais eles gostaram em mim no primeiro dia que entrei aqui foi exatamente isso, sabiam que estava com medo, mas eu não dei o braço a torcer como todos os outros humanos que entraram aqui. Encarei mesmo sabendo que ia morrer e encaro até hoje. A porta se abriu e eu engoli em seco. Fiquei em silêncio esperando que fosse um dos três, mas o silêncio me disse que não era. Lentamente coloquei a cabeça para fora do túmulo e olhei. A única luz que tinha no local era a que vinha de fora da tumba e eu não conseguia enxergar muito bem, ainda mais que estava no total escuro. Vi a silhueta do homem se mexendo em minha direção e apertei o mármore com força. Ele parou em frente a mim e ficou em silêncio. Respirei fundo e olhei para cima. Estava agachada atrás do túmulo. Como a luz era pouca, não consegui ver muito bem, mas sei que era tão bonito quanto os outros três. Ele ficou me encarando por um longo tempo. Será que não vai me m***r? Ou o que será que está esperando? Eu correr? Lentamente levantei do chão encarando-o. Por falta de luz, seu rosto estava escuro e não sei dizer qual era o olhar dele ou mesmo sua fisionomia. — O que faz aqui dentro? Dei um passo para trás quando escutei sua voz. Era uma voz grave, mas de uma maneira sedutora. Só me falta esse cara querer que eu me deite com ele também... — Estou escondida. — De que? — De você. Ele ficou em silêncio me encarando. Ou eu acho que está me encarando, não consigo enxergar. — Por que se esconde de mim? — Pelo óbvio. — E qual é o óbvio? — Percebi que cruzou os braços. — Você vai me m***r. E falando nisso, por que demora tanto? Ficou um grande silêncio quando falei isso. Acho que não devia enfrentar ele. Sei que enfrentando os três eles gostam, mas não conheço esse cara. Pode ficar irritado e me machucar antes de me m***r. — Se eu não quiser te m***r? — E vai querer o que então? Ai meu Deus! Outro não! — Quero saber como está viva. — Bem... Não sei se devo dizer. — Por que não? — Não é minha escolha. Ele ficou em silêncio ainda de braços cruzados. O que está acontecendo? Achei que os vampiros gostassem de sangue puro e blá-blá-blá. — Me conte. — Se eu não quiser? Ele respirou fundo e eu me arrependi de ter dito isso. Maldita boca incontrolável! — Vou perguntar aos donos da casa. — Pode perguntar. — Mas se você me disser, eles não precisam saber que sei de sua existência. Ficamos em silêncio de novo. Não entendi. Ele não vai me m***r e quer saber o que fiz aqui e ainda não vai dizer nada a eles? — Sou escrava deles. Vi ele descruzar os braços. — Escrava — repetiu o que eu disse. — Sim. E me colocaram aqui pra você não me ver. — Eu não desconfiei, mas te vi aqui fora de manhã. — Eu vi. Você não se queima como eles? — Sim, mas eu já me acostumei com isso e sei o tempo de sair do sol. — Hum... — Por que é escrava deles? — Porque sou “boa”. — Boa em que? — Essa pergunta vai ter que ser feita a eles, pois eu não sei. — Que tipo de escrava você é? Demorei a responder agora. Se eu falar, ele também deve querer entrar nessa bagunça, não é? Mas ele deve descobrir de qualquer forma. — Tenho que me deitar com eles nos dias marcados. — Os três? — Sim. — Você quer uma vida diferente? — A única vida diferente que posso ter, não é bem uma vida e sim a morte. — Como assim? Você prefere morrer? — Bem, estava bolando um plano quanto a isso, mas agora que você realmente está aqui, estou em dúvida. — Queria que eu te matasse? — Deu um passo à frente e senti um arrepio na espinha. — Sim, mas agora não sei... — Prefere ser escrava deles? — Mais um passo. — Não. — Então o que você realmente quer? — Agora estava bem perto de mim. Mais um passo e eu poderia tocá-lo. Com a pequena luz que vem de fora e a proximidade dele, consegui ver a cor de seus olhos. Azul. — Eu não sei. — Então pode ser do meu jeito.
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