Capítulo 2

598 Words
São Paulo, 3 de Agosto de 2001. 6 hrs da manhã. *** Dia de visita era mó parada. As mães do manos tudo chorando, e agarradas com eles, felizonas por tá vendo o filho ainda vivo. Todo domingo era assim, no pátio só se escutava o choro das mães, mulheres e filhos, e algumas risadas. Era bom demais, tá ligado?! Por mais que minha coroa não pudesse vir, é f**a ver os manos tudo feliz vendo a família. Minha mãe só veio uma vez aqui me ver, depois disso não quis mais ela aqui não. Mó ruinzão ela ficar saindo de lá de Osasco pra vir pra cá. Cada detento uma mãe, uma crença. Cada crime uma sentença. Cada sentença um motivo, uma história de lágrima. Quem vinha me visitar era o Neguinho, um parceiro meu lá de Osasco, do crime também, mas com a fixa limpa. Ele sempre trazia uns Marlboro, e algumas comidas ae. Pô, ficava animado por conta da comida mermo. Aqui dentro é f**a, só comida azeda e os caralhos. Tem mano que até encontrou Gillete no meio dessas porras. Gosto de comer não, mas sou obrigo. Ou é comer aquela desgraça, ou morrer de fome. E eu ainda quero sair daqui. Passei minha mão por meu rosto, e caminhei devagar até o muro. Me encostei ali, e fiquei observando aquele povo todo. Neguinho logo apareceu ali com algumas sacolas, e assim que me viu, veio andando até mim. Neguinho: Qualé, irmão. - deixou as sacolas no chão, e fez toque comigo. - Tá suave, truta? Sinistro: Na boa, irmão. Ele abriu as sacolas, e tirou algumas paradas dali. Quando vi aquele bolo, mermão, já fiquei maluco. Neguinho: Dona Ana que fez pra tu. Tua mãe arregaça nos bolos véi, que isso...- murmurou, e eu sorri de lado. Minha mãe era boleira, vendia bolo lá na nossa quebrada, fazia cada bolo f**a, pô. Considerada demais lá. Pena que teve que ver o filho mais velho ser preso, e o mais novo cair nas drogas. Sinistro: Ronaldo tá usando aquelas p***a ainda? Neguinho: Não, pô. Ele conheceu uma mina firmeza ai, e por enquanto parou. Pô, na hora eu já fiquei aliviado. Ronaldo era um moleque emocionado demais, que caiu nas drogas por influência dos outros. Neguinho: Ae Rafael, tu ficou sabendo que estão querendo fechar aqui? - me olhou, e eu neguei na hora. - Governo de São Paulo tá vendo essa parada ai. Talvez vão fechar até o final do ano que vem. Sinistro: Vão transferir nós pra onde? Neguinho: Vão distribuir pelas outras casas de detenção, mas a maioria vai pro Cadeião de Pinheiros. Balancei a cabeça negando, e vi a m***a que isso tudo daria. Não sei pra que fechar essa p***a aqui, mó palhaçada. Só queria ver o dia das transferências, vários manos vão tentar fugir, e vai virar uma bagunça do c*****o, mermão. Sinistro: Tu viu de novo aquele cururu que tentou me m***r? - olhei de relance pra ele. Neguinho: Não, mano. O cara sumiu mermo, mas fica tranquilo, o mundo gira e ele pode vir pra cá. Sinistro: Quero mudar, tá ligado? Mas se eu bater com aquele cuzão de novo eu assino outro 121. Neguinho negou com a cabeça, e sentou na mesa que tinha ali perto. Sentei também, e fui comer o bolo da dona Ana. Antes de eu cair aqui, um mano ai tentou me m***r, na covardia mermo. Veio cheio de macho do lado, falando que eu tinha pagado de talarico. Maior parada. Talarico eu nunca fui não, longe de mim essas paradas.
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