Capítulo 4

578 Words
São Paulo, dia 4 de Agosto, de 2001. 14 horas da tarde. ****** Ratatatá mais um metrô vai passar, com gente de bem apressada, católica, lendo jornal, satisfeita, hipócrita, com raiva por dentro, a caminho do centro. Olhando pra cá curiosos, é lógico, não, não é não, não é o zoológico. Olhei mais uma vez o povo descendo do metrô, e olhando pra cá, alguns até paravam pra ficar observando, mas não dava em nada. O sol estava queimando lá fora, e um calor do c*****o aqui dentro da cela. Suava pra c****e, mesmo sem camiseta, e só queria uma água limpa pra beber, mas nem isso aqui tinha. A pia que tinha aqui era podre, nojenta pra c*****o, por que aqui nem limpeza nas celas tem, e eu que não tomo água naquela p***a. É, prefiro passar cede mesmo. Pô, nós tá aqui por que fomos filhos da p**a e cometemos vários crimes, erramos pra c*****o lá fora, mas nós também não merece ser tratados igual bicho, os manos aqui dentro são seres humanos também, p***a. Mas tu liga pra isso ai? Por que a desgraça do governo tá pouco se fodendo pra nós, querem mais que a gente morra mermo. Ladrão sangue bom tem moral na quebrada, mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens que custam trezentos reais por mês cada. Marcão: Jéferson do corretor de baixo mandou o papo que mataram o 213 lá. - murmurou, e eu encarei ele. - Arregaçaram o cara mermo pô, sem dó, e depois esquartejaram o mano. Sinistro: Bem feito pô, esses filhos da p**a tem é que queimar no inferno mermo. Murílio: Cara que faz isso não dura muito tempo aqui nesse mundão não. Ou morre na cadeia, ou morre lá fora nas mãos dos fortes. Túlio: Um primo meu ai já estuprou uma pá de novinha, e os caras da CDL queimaram o mano no matagal, depois de cortarem ele em partes. Minha tia ficou putona, e foi atrás, mas quase morreu também, mó otaria. Sinistro: f**a é que ainda tem muita gente que passa a mão na cabeça desses filhos da p**a, acha essa p***a "normal". - fiz aspas com os dedos. - Normal é meu c*****o pra esses arrombados. Na boa, me sobe até um ódio quando falo dessas paradas. Gosto não, pô. Mó vacilo. Sinistro: Se a p***a desse país fosse bom, tinha pena de morte pra esses cuzões. Marcão: Ala, tu acha mermo que eles fariam essa lei? Se liga Sinistro, tá na Disney não. Cruzei os braços, e me calei, fiquei no meu canto o dia todo. Falar desses bagulhos me deixava puto demais. Qualé... Enquanto era livre, vi vários caras da CDL matando filhos da p**a que estupravam. Era maior parada, bom demais de se ver. A CDL – Comando Democrático da Liberdade é uma das facções que predomina nas cadeias, em busca dos direitos dos manos aqui dentro, tentando parar com as torturas, opressões e várias outras paradas que acontecem nos presídios daqui de São Paulo. Eu quando era livre trabalhava pra essa Facção, os manos sempre ajudaram eu a minha família pô, pra c*****o mesmo. Quando cai aqui, pagaram advogado e os caralhos tudo pra tentar me tirar, mas não adiantou não, fui preso em flagrante e deu nisso, mais 19 anos dentro dessa p***a. É né, cometi pecado pra c*****o, e agora eu tô tentando pagar eles do modo mais suave.
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