Diário de um Detento

Capítulo 8

São Paulo, dia 10 de fevereiro de 2016.

9 hrs da manhã.

Eu olhava caladinho os guardas gritando com os caras das outras celas, e as vezes dava uma risada vendo o quanto esses caras se acham os fodões por estarem do outro lado da cela.

Queria ver se iriam bater de frente com as celas abertas. Iam nada pô, tudo um banco de frouxo.

14 anos aqui nessa p***a e quase nada mudou. Vim pra prisão de Tremembé depois de um ano no Cadeião de Pinheiros. O diretor de lá acabou morrendo por um preso do Carandiru, e depois dessa treta toda, eles tiraram todos que eram daquela p***a e trouxeram pra cá.

Se pá aqui é melhor do que aquela p***a. O diretor é outro folgado, mas dá pra suportar, né.

Ele veio com o mesmo papo de psicólogo que o outro lá, e vei, só fico puto com isso. Eles acham mermo que vou abrir a boca nessa p***a? Ih ala.

Quando tenho as consultas eu apenas fico olhando pro psicólogo com a minha pior cara, calado como sempre. O cara até tenta conversar comigo, mas eu evito o máximo, tá ligado?!

Olhei outra vez para alguns caras ali conversando, outros dormindo, e os guardinhas ainda botando marra.

Quase todo dia tinha briga aqui nesse presídio. Os caras não aguenta, e fica arranjando confusão por nada, p***a. Mó chatão.

Alguns companheiros têm a mente mais fraca, não suportam o tédio, arruma quiaca...

Os caras não aguentam, querem brigar por qualquer m***a, mermão. Eu prefiro ficar na paz mermo, apenas observando tudo, calado!

Hoje eu não tava legal não, véi. Acordei puto, com nada mermo, e a dor de cabeça veio pra f***r mais ainda.

Tava chovendo lá fora, um frio do c****e. Dava não pô, ainda mais com esses cobertores finos, que não esquentam p***a nenhuma.

Magrão: Pô, que frio do c*****o, mané. - falou do nada, esfregando uma mão na outra. - Meu p*u até encolhe com esse frio.

Dei uma risada baixa negando com a cabeça, e ele me olhou.

Magrão:, Qual foi, Sinistro? Tá rindo da minha cara, por que p***a? Tá me tirando? - perguntou, e eu mandei dedo pra ele, fazendo o vacilão rir.

Magrão é moleque novo, apenas 23 anos nas costas, caiu aqui por conta de 10 homicídios, vai cumprir uma cota aí ainda. Moleque é brincalhão pra c*****o, mesmo com as dificuldades aqui dentro ele sempre tá sorrindo, e fazendo graça.

Magrão: Pô, ouvi falar que entrou uma gostosa aqui no presídio, ala.

Sinistro: Como que entrou, pô? Tá doidão?

Magrão: Entrou como funcionária, carai. Só não sei em que área ela tá, ouvi por cima, enquanto jogava futebol. - deu de ombros, e eu deixei isso de lado, por que essa p***a não me importava nada.

Sinistro: Quando for pegarem o jantar, pega pra mim, vou dar uma dormida agora. - olhei pra ele, que concordou com a cabeça.

Me ajeitei ali na cama, e virei, me cobrindo, pra tentar dormir um pouco, mas o sono não veio, fiquei pensando em altas paradas ali, só brisando nas minhas ideias.