Jéssy Davis
Os dias têm sido cada vez mais cansativos e estressantes, minhas amigas têm falado repetidas vezes o quanto eu emagreci e o quanto eu tenho me alimentado m*l e isso já está me irritando. Enfim, mais um dia de aula termina e eu caminho em direção até onde elas estão, ninguém merece aulas aos sábados, mas aqui estou mais uma vez.
As aulas aos sábados são pela manhã e como pela tarde tem programação na igreja, eu corro para pegar o metrô e chegar logo em casa. Sei que meu pai vai me encher para ir hoje e eu não negarei por não querer mais confusão do que já tive durante esses últimos dias.
Nem dou espaço para que as meninas puxem conversa senão me atraso e não chego em casa a tempo do almoço, e hoje estou com uma fome de trezentos mendigos, mas quando chego na estação ele já passou e eu teria que esperar o próximo. Que sorte a minha!
Então eu me lembro do dinheiro que tenho guardado na bolsa, aquele dinheiro que o b****a deixou para mim. Penso por alguns minutos, e bufando de raiva com o estômago roncando, resolvo pegar um táxi e tentar chegar menos atrasada em casa.
O caminho é longo e demoro um pouco a chegar, mas quando chego corro para dentro e encontro todos na mesa. Mas algo não está bem, assim que sinto o cheiro de comida eu me sinto enjoada.
- Está atrasada mais uma vez, Jéssy! – Diz o meu pai e eu apenas o olho tentando entender o porquê de tanta implicância comigo.
- Acabei perdendo o metrô, desculpa! Preciso ir ao banheiro.
Falo e logo saio em direção ao meu quarto, ao abrir a porta corro e entro no banheiro, lavo o meu rosto e me sinto um pouco melhor. Mas ainda meio tonta, me sento por alguns segundos em minha cama, respiro fundo e ouço minha barriga roncar.
É nessa hora que eu tomo coragem e saio para enfrentar meu pai para poder comer em paz, meu estômago ronca mas a minha mente já se prepara para um sermão e rezo para não perder a paciência. Assim que me levanto, a porta se abre e Larissa entra trazendo o meu almoço no quarto, o que me faz agradecer.
Eu pego a bandeja e sento na mesinha de estudos que tenho próximo a minha cama e como desesperadamente rápido pois realmente estava com muita fome e meu horário já estava apertado. Termino logo devido ao desespero com o qual comi e então sigo para o banheiro para tomar banho e ao adentrar já corro para vomitar tudo.
Nossa, já estou desacostumada de comer bem. Ouço o barulho da porta do banheiro se abrindo e Larissa entra com uma expressão preocupada.
- Está tudo bem? – Ela pergunta, mas eu fico calada tentando controlar a vontade de vomitar e a tontura que estou sentindo.
Me concentro e por fim consigo levantar e entrar no box para tomar banho enquanto vejo que Larissa ainda não saiu do banheiro e que continua me observando, ela parece desconfiada ou apreensiva, sei lá.
Logo ela sai e me deixa ali preocupada e nervosa, preciso me reorganizar para voltar a me alimentar bem, isso tudo é reflexo da correria sem fim na qual estou vivendo ultimamente. Termino o meu banho, ouço meu telefone despertar e nessa hora eu corro para me vestir.
Já chegamos no horário de ir para a igreja com o meu pai que inventou esse círculo de oração logo após o almoço sei lá o porquê, quando estou terminando de me vestir ouço Larissa me chamar da porta do quarto e, como já estava pronta, saí do quarto apenas levando comigo a minha bolsa.
Ao passar pela cozinha, pego uma maçã para tentar comer algo e não ficar de barriga vazia a tarde toda, mas assim que entro no carro volto a sentir aquela tontura já conhecida, ela tem me acompanhado já há alguns dias.
Respiro fundo e vou pensando durante o caminho, e um alerta dispara dentro da minha cabeça, meu Deus do céu. A minha menstruação está atrasada, fazem dois meses daquela noite e eu não menstruei ainda, será que estou grávida?
O meu pai me mataria. Aquela tontura só piora a cada curva que o meu pai faz no caminho, minha cabeça roda e eu me sinto a cada segundo mais tonta ainda. Assim chegamos a bendita igreja e finalmente posso descer do carro e acabar com essa tontura.
Mas ao contrário do que eu imaginava, assim que saio do carro tudo fica preto e eu perco os sentidos. Ouço bem distante alguns gritos da minha mãe e sinto o meu corpo ser levantado nos braços de alguém.
Algum tempo depois, acordo com uma enfermeira tocando o meu braço, a luz branca e forte da sala incomoda os meus olhos e eu os fecho novamente.
- Vou apenas coletar seu sangue para alguns exames, tudo bem?
Após ela coletar meu sangue eu vejo minha mãe entrar na pequena salinha, ela me olha e eu vejo nos seus olhos que tem algo errado. Mas antes mesmo de ela poder falar algo, meu pai também entra e a cara dele é mais f**a ainda.
- Pai, me desculpa ter atrapalhado o círculo de oração, eu prometo me alimentar melhor daqui pra frente e não fazer mais vocês passarem por isso! – Eu falo mas ele apenas me olha. Meu pai sempre foi muito duro e rígido, eu fico desesperada com a possibilidade de uma gravidez agora, principalmente por eu nem mesmo ter um namorado.
Pensamento positivo, Jéssy, vai dar certo e nada irá sair do controle.
Meu pai se mantém em silêncio e isso é o que mais me deixa nervosa, ele nunca fica calado e nunca perde a oportunidade de falar tudo o que bem entende. Ele anda de um lado para o outro e todos permanecem em silêncio enquanto eu oro em pensamentos para que isso não seja verdade e que eu esteja apenas com algum atraso hormonal.
Mas logo a porta volta a se abrir e o médico entra, sei que ele é médico pois em seu jaleco está identificada a sua função aqui dentro. Ele entra e sorri para mim, se vira para os meus pais e começa a falar.
- Eu poderia falar a sós com a paciente? – O médico diz e na mesma hora o meu pai que estava sentado se levanta.
- Porque a sós doutor? O que o senhor tem a falar que não pode falar na nossa frente?
Meu pai fala isso já de rosto vermelho de raiva e a desconfiança em seu olhar é perceptível, resolvo então intervir e assim eu o faço.
- Pode falar doutor, não há segredos entre mim e a minha família! – Eu digo isso mesmo sentindo todo o meu corpo tremer e assim que eu termino de falar o médico ainda me observando assente e começa a falar.
- Bom, então você teve algo muito normal quando há uma má alimentação e excesso de esforço físico. Principalmente na sua condição! – Ele diz e meu pai logo inquire.
- Condição!? Que condição, doutor? Fale de uma só vez...
- Grávida. A paciente está grávida.
- GRÁVIDA!?
As palavras saem instantaneamente da boca do meu pai e da minha mãe ao mesmo tempo e eu sinto tudo rodar em volta de mim, meu Deus...