Migay é um cara legal, e às vezes nem aparenta ser gay. Não que isso importe, de jeito nenhum! As pessoas podem ser o que quiserem, do jeito que quiserem e onde quiserem. Digo isso por mim mesma. Então, tenho que me corrigir!
Migay é um cara legal, e o melhor, passei as horas mais legais do meu final de semana com ele. Será que já posso dizer que tem uma amizade começando?
Depois de passarmos a tarde no shopping, entre comer, assistir filme e provar roupas sem comprar, ele me deixou em casa. Ele me trouxe de moto! E foi aí que descobri que ele tem dezenove anos. E desde que ele foi embora, eu não paro de pensar que eu tenho um novo amigo, e mais velho que eu. Está até parecendo filme de comédia romântica.
Cruzes!
Inclusive, agora estou contando isso para minha irmã e Abby, que vai almoçar aqui, e as duas acham a mesma coisa.
- Você já tem o amigo, agora falta o boy por quem vai se apaixonar. - Abby comenta.
- Mas ela já tem o Arthur. - Eliza diz.
- E eles terminaram logo no início do filme. Agora ela tem que se apaixonar por outro. - Abby explica gesticulando.
- E quem pode ser o sortudo? - Minha irmã cruza os braços e levanta as sobrancelhas, certamente duvidando da amiga. Ou da minha capacidade de ser amada por algum cara.
- Pode ser meu irmão. - Abby diz como se fosse óbvio.
Quase engasgo com o refrigerante que estou tomando.
MeuDeusDeOndeElaTirouIsso?!
Elas me olham preocupadas. Acho que o líquido subiu para o meu nariz, que agora arde.
- Viu. - Abby diz depois que paro de tossir, e a olho com uma cara de raiva. - Certamente acertei.
- Você está apaixonada pelo Lucas? - Eliza pergunta, como se já não soubesse.
- De onde você tirou isso, Abby? Isso é loucura! - Tento mudar de assunto, entre uma golada e outra no meu refrigerante de uva.
- Do dia da formatura, né! Vocês não se desgrudavam um momento sequer. Sem contar as horas em que vocês iam para algum canto para se beijarem. Vocês achavam que estavam escondendo o lance de vocês, mas todo mundo viu. Até nossos pais.
- Ah! - Elizabeth parece ter se lembrado. - Verdade!
Agora fico sem fala. Não tenho o que dizer, e nem posso mentir. Certamente estou num filme, ou quem sabe livro. Prefiro livro.
- Olha, ela nem n**a. - Abby diz me olhando com um ar triunfante.
- Não estou acreditando que você está apaixonada, e por um cara que nem fala com você.
- Ele nem olha para ela. - Abby confirma.
- É! Vocês ficaram na festa. E foi do nada! - Eliza demonstra espanto, como se não se lembrasse de tudo o que eu lhe disse. Talvez esteja fingindo.
- Pois é... E depois só restou o pobre coração partido e abandonado da Aura...
- Ainda estou em dúvida se vocês são loucas ou... Sei lá! - Reviro os olhos e me levanto da espreguiçadeira. - Acho melhor descermos, e ver se o almoço está pronto.
- Não muda de assunto! - Elizabeth se levanta e se cobre com a sua toalha roxa.
Abby se levanta também e se cobre com uma toalha idêntica. As duas ficam me encarando, enquanto me visto com meu kimono branco.
- Não vou falar nada, se é isso que estão esperando. - Cruzo os braços e as encaro.
- Então nossa suposição está correta. - Eliza pega sua amiga pelo braço e as duas descem as escadas, na minha frente.
- Vou perguntar para o Lucas, então. - Abby diz baixinho para minha irmã, mas eu escuto.
- O que?! Não! - Falo exasperada, o que as fazem parar no meio da escada.
As duas me olham, primeiro sem entender nada, depois vejo um lampejo em seus olhos quando entendem.
Ferrou.
Agora elas sabem que eu gosto dele. Já tenho que me preparar psicologicamente.
- Meninas, o que estão fazendo aí, paradas no meio da escada?
Olho para baixo, atrás das duas, onde minha mãe está, nos observando super desconfiada.
Tomara que essas duas não abram o bico, penso.
- Nada não. - Abby diz meiga, e volta a descer as escadas, passando por ela.
Minha mãe fica nos observando, enquanto descemos, sem dizer nada. Deve estar achando que somos loucas ou alguma coisa parecida. Seja o que for ela está certa, minha mãe sempre está certa.
Chego na cozinha e todo mundo já está se sentando à mesa. Me sento de frente para minha irmã que está do outro lado, ao lado da Abby. Minha mãe se senta numa ponta da mesa e Gabriel noutra. Mas quando estamos prestes a nos servir ele se levanta, vai para o lado da mamãe e abaixa, se ajoelhando.
Sério?!
- Victória, você aceita se casar comigo?
Olho para a minha mãe e ela está chorando. Minha mãe não chora. Nunca.
- Claro que aceito, meu amor!
Ele se levanta e a abraça. Abby e Elizabeth batem palmas, eu reviro os olhos.
Tudo o que eu precisava era de romance e melação. Definitivamente.
Apesar disso tudo, fico feliz pela minha mãe. Ela nunca achou um homem que a fizesse feliz de verdade, tanto que para ter eu e Eliza ela teve que fazer inseminação. Então, agora que ela achou um homem que a ama e quer viver com ela, tudo bem. Fico feliz por isso.
De repente um celular toca, quebrando totalmente o clima.
- É o meu! - Abby diz, já silenciando o aparelho. - É o Lucas!
Ela sorri para ele de orelha a orelha, e depois me olha, virando a tela na minha direção. Arregalo os olhos, sentindo minhas bochechas corarem.
Lucas estava sorrindo, e para na mesma hora que me vê.
Maravilhoso!
- Oi gente... - Ele diz um pouco sem graça, evitando ao máximo não me olhar.
Abby finalmente vira a tela, agora para minha mãe e Gabriel.
- Filho, vamos nos casar! - Meu padastro diz numa animação total, mostrando o dedo anelar da minha mãe.
- Ah! - Ouço Lucas falar. - Que... Ótimo! Meus parabéns!
Talvez ele esteja pensando algo do tipo; d***a, agora vou ter que conviver com essa gorda. Ainda bem que não preciso morar com eles, já que estou na Europa, estudando na melhor faculdade do mundo...
- ...Acabei de fazer o pedido, outro dia pensamos em datas.
Olho para o casal do ano, suspirando.
Algumas pessoas demoram a ter sorte na vida, tipo minha mãe... Bem, no caso "amor". Porquê ela sempre teve sorte na vida profissional, e tem duas filhas. Tudo bem, nesse quesito ela teve um erro na primeira, mas logo consertou na segunda.
A família comercial de margarina continua conversando animadamente, sobre várias coisas. E eu nem faço questão de entrar na conversa. Ora, estou com a boca ocupada, e é f**o falar de boca cheia.