Com um lenço humedecido, eu limpo as lágrimas secas que, estam nas pálpebras dela, organizo os lençóis da cama. Instintivamente faço um carinho em sua bochecha esquerda, assim que meus dedos entram em contato com sua pele fria, Fefé fecha os olhos e ofega, eu estou fazendo o possível e o impossível para não beijar ela. Inspiro seu perfume e o aroma floral preenche todo o meu sistema, minha boca enche de saliva. Ela continua com os olhos e os lábios entreabertos, como se esperasse por algo mais além das minhas carícias.
- Felícia - sussurro para despertar ela do transe, faço isso a contra gosto, porque por mim ela ficaria o dia inteiro com a expressão que tem no rosto - Por quê estava chorando? - questiono assim que ela abre os olhos e volta ao mundo real.
Ela tem os olhos fixos em mim, ela quer me falar o que aconteceu, mas algo a impede, tem algo assustando ela eu posso ler o medo através dos olhos dela. Quando entrei no quarto ela estava com uma mão em volta do pescoço, como se quisesse aliviar a dor e os olhos banhados em lágrimas e por detrás das lágrimas, tinha algo aterrorizante. As pupilas dela, estavam dilatadas como se ela tivesse visto algo realmente assustador, algo ou alguém.
- Ah! Quem é você? - ela indaga voltando em si.
Ela sabe que sou eu, é óbvio que as amigas dela falaram de mim, mas ela está usando isso como um pretexto para não responder a minha questão, eu vou entrar no jogo dela.
- Ah! Me desculpe eu cheguei pegando você, sem seu consentimento, me perdoe - visto a minha máscara de bom menino preocupado, logo logo ela vai morder a isca, ninguém resiste a minha cara de menino fofo e preocupo.
Me levanto da cama num sobressalto, faço uma vénia como forma de me desculpar, vou até o sofá e pego no buquê de lírios que comprei para ela, mas não direi que fui eu. Eu vou conquistar a confiança dela, como um bom cavalheiro faz, mas farei que ela se apaixone pelo meu outro lado.
- Eu fiquei preocupado quando vi você chorando, o que aconteceu - amoleço tom da minha voz e faço uma expressão fofa, para transmitir confiança.
Ela foi espancada por alguém, provavelmente a pessoa tenha voltado para ameaçar ela, se fôr quem eu estou pensando, ele não vai sobreviver. Ela não responde a minha questão, muito pelo contrário, o semblante dela, volta a ficar triste e ela abaixa a cabeça, como se estivesse envergonhada. Eu não me importo mais com o meu plano de ir com calma, eu só quero confortar o meu girassol. Em passos lentos e calmos, me aproximou da cama e inesperadamente, ela se agarra em mim, como se fosse o seu porto seguro, como se eu tivesse a capacidade de proteger ela de tudo. Eu quero ser isso para, eu quero ser a fortaleza dela sempre que ela sentir que todos os problemas da vida dela estão próximos de desabar, eu quero ser a caverna em que ela buscará abrigo em dias chuvosos, eu quero ser o sol que trará brilho a sua vida sempre que as trevas forem maiores que a luz.
- Está tudo bem, está tudo bem - ela está com a cabeça em meu ombro tentando se acalmar. Eu faço em carinho em seus cabelos, até que ela pega no sono.
Vocês acham estranho assistir alguém dormindo? Eu adoro assistir ela dormindo, mas hoje esta tarefa está se tornando impossível. O sono dela está agitado e parece que ela está tendo um pesado.
- Não, Vasco, não me mate - Fefé sussurra desesperada em meio ao sono.
Eu já sabia que foi o filho da mãe do ex-namorado que fez isso com ela, mas escutar dos lábios do meu girassol a confirmação, despertou o instinto assassino que com muito esforço eu tentei esconder, mas ele machucou ela, ele não vai impune dessa, ele mecheu com a pessoa errada.

Abro os meus olhos calmamente, passo os meus olhos pelo quarto inteiro procurando por Dylan, mas ele não está mais aqui, provavelmente deve ter ido embora quando peguei no sono. Do lado da minha cama, tem as mesmas flores que estavam com ele quando ele chegou, mas elas não estão mais embrulhadas, agora estão num
vaso com água, próximo dela, tem um bilhete escrito a mão, com uma grafia de deixar qualquer um de queixo caído.
Assim que vi estes lírios, pensei em você. O tom róseo lembra-me suas bochechas quando você está envergonhada, lembra-me também seus lábios que sempre que os vejo me controlo para não roubar um beijo teu. Você é igual a um lírio, doce, delicado e com uma alma pura, não deixe que ninguém corrompa isso, deixa que ninguém arranque suas pétalas, se alguém o fizer, eu estarei aqui para recolher cada uma delas e cuidar do ramo até que nasçam novas pétalas.
Ass: Seu rei.
Quem poderia ter escrito bilhete tão bonito? Dylan? Ele foi a última pessoa que vi antes de pegar no sono e foi ele quem trouxe as flores com ele. Mas para ela desse bilhete que li, tem um outro bilhete da mesa, a grafia não é tão estonteante quanto a primeira, não é preciso ser um gênio para deduzir que forem pessoas diferentes que escreveram os bilhetes.
Você fica tão linda quando dorme que, não consegui te acordar, alguém entregou-me as flores que estão nesse vaso, acho que você ganhou um admirador secreto. Espero que melhores logo.
Ass: Dylan, primo do Khensane.
Estou decepcionada em saber que não foi ele quem comprou as flores, mas também, o que eu esperava? Que alguém que não me conhece tivesse comprado um buquê lírios e dissesse que sou linda? Sim, eu estou louca por desejar isso, o que posso fazer? Ele é simplesmente estonteante. Mas quem é o meu rei? Por que escrever um bilhete tão lindo para mim e por que me dar lírios?
- Meu amor, você acordou, que bom, hoje finalmente podemos voltar para casa - minha mãe entra no quarto e me pega de surpresa ao informar que já posso voltar para casa.
Como assim já posso voltar para casa? Que dia é hoje? O quanto eu dormi?
- Voltar para casa? Que dia é hoje? - me remexo um pouco na cama para tentar acertar a postura do meu corpo.
Minha mãe já está vestida para me levar para casa, ela trás algumas sacolas com ela, devem ser minhas roupas.
- Bom! Ontem você dormiu demais, já amanheceu bebé, podemos voltar para casa e assistir anatomia de grey - informa e eu só reviro os olhos.
É impressionante como essa senhora gosta de me torturar com toda aquela gostosura daqueles médicos bonitões. Sem verbalizar a minha resposta, pego nas sacolas e vou até o pequeno banheiro. O espaço é pequeno, mas não tão pequeno que possa me impedir de me locomover a vontade. Tiro a minha roupa de hospital com muita dificuldade, por ficar muito tempo deitada, meus músculos focaram dormentes e fazer coisas simples como tirar, uma roupa, me deixa cansada. O pequeno compartimento, tem um espelho embutido na parede, mas eu faço todo o possível para não ver o meu reflexo nele, não quero ver a minha imagem toda destruída, não quero ver as marcas que ele deixou em mim e acima de tudo, não ver a minha cara de derrotada no espelho, pois, mesmo que a minha cara reflita a derrota, eu não perdi a guerra ainda. O meu espírito continuará lutando dentro de mim.
...
A viagem de volta a casa, é feita em silêncio, eu tenho medo de abrir a boca e minha mãe perceber que estou assustada, eu só quero chegar logo a casa, colocar a minha cabeça no travesseiro e esquecer de tudo. Assim que chegamos a casa, a primeira coisa que recebo é um abraço do meu irmãozinho que pelos vistos, morreu de saudades minhas, devolvo ao abraço dele, o aperto com todas as minhas forças, como se a minha vida dependesse disso. Quando entro no meu quarto, encontro mais um buquê de lírios na mesinha do mesmo e junto do buquê, tinha mais um bilhete. A mesma grafia, a mesma excelência na escrita, a mesma delicadeza na escrita e as mesmas palavras doces e acolhedoras como às da última vez.
O primeiro passo para ser amado, é amar suas cicatrizes acima de tudo.
Oi girassol, eu vi que você não consegues se olhar ao espelho desde o ocorrido, mas deixe-me te falar uma coisa, « um vaso quebrado, nunca saberia que está quebrado se sempre fugisse da cola» vá ao espelho, veja suas cicatrizes e me diga, se não és uma criatura extraordinária, mesmo com todas essas cicatrizes que mancham você, você consegue ser a criatura mais magnífica que eu alguma vez vi.
Ass: Seu rei.