Manuela Cardoso
Estou deitada na cama do hospital, minha mão direita continua aferrada ao celular, minhas lágrimas caiem sem parar.
— Tenho que ligar para ele, não tenho escolha — murmuro para mim mesma, não tenho escolha, preciso ligar. Minhas lágrimas banham o meu rosto e minha roupa de hospital.
Como será que Collin vai reagir a notícia? E se ele me expulsar de novo, como tinha feito há cinco meses atrás, se ele pensar que quero o dinheiro dele? Eu não posso me humilhar novamente.
— Você precisa fazer isso Manu, seja forte — murmuro mais uma vez, para me encorajar. Pressiono a tecla de chamada, o celular toca por alguns segundos, mas não tenho coragem e desligo o celular.
— Como está hoje, senhorita Cardoso? — os meus pensamentos são interrompidos pela enfermeira que entra em meu quarto sorrindo.
— Bem — sussuro fracamente.
— Já tem tudo organizado? — indaga controlando o soro que está conectado a minha veia. Engulo em seco, mas não respondo.
— Sabe muito bem que o doutor não vai te deixar sair daqui, até que tenha alguém para cuidar de ti, enquanto estiver de repouso — a enfermeira me dá um olhar de reprovação.
— Ia mesmo fazer uma ligação agora — solto num suspiro entre os meus lábios.
— Óptimo — assente a enfermeira — Quando terminar, eu te deixo sozinha — a enfermeira declara e se senta no pequeno sofá da clínica. Parece até o meu segurança.
Respiro fundo mais de uma vez, fecho os meus olhos para tentar fazer uma oração. Olho para o ecrã do meu celular, volto a discar a tecla de chamada no número dele.
— Morris! — a voz grave reverbera pelo celular, sinto minhas forças fugirem de mim.
— Quem fala? — ele insiste com um tom de voz autoritário.
O tom de voz, foi o mesmo que ele usou quando me expulsou de seu escritório e tirou o meu emprego, não posso falar com ele. Desligo o celular nervosa, não posso me atrever a ter mais uma decepção.
— Seu celular está tocando — a enfermeira informa antes que eu pudesse pensar em mais alguém que pudesse me ajudar.
O celular vibra em minha mão, tantas vezes que sou forçada a atender. Atendo o celular mas não falo nada.
— Sei que estás aí — ele ruge — Quem demônios és tu, e porque tens o meu número? — indagou ainda bravo.
— Desculpa — sussura com medo — Não devia ter te incomodando — completo querendo desligar o celular mais uma vez. Minhas lágrimas clamam por libertação, sinto uma vontade grande de chorar.
— Um momento — Collin murmura antes de uma longa pausa — Manuela, és tu? — ele indaga surpreso.
Passaram-se cinco meses desde a última vez em que nos vimos, eu pensei que não reconheceria a minha voz. Como é possível?
— Sou eu mesma — balbucio por fim.
— Graças a Deus, efcharistó Theé¹ — murmura ele do outro lado da linha — Procurei-te por todo o lado, onde esteve? Como pode desaparecer assim da face da terra — ele berra do outro lado da linha, como se estivesse falando com um de seus funcionários.
— Quê?
— Onde estás?
Ambas as perguntas se produzem simultaneamente.
— Eu primeiro — ordena ele como sempre — Onde estás? Estás bem? — ele faz um monte de perguntas.
— Estou no hospital — murmuro depois de me recuperar das bombas de perguntas dele.
— Theé¹ — ele murmura uma palavra em grego que não compreendo — Onde estás? Em qual hospital? Diz! — ele ordena sem nem me dar espaço.
Sem nem palavras e completamente aturdida face à reviravolta que a conversa tomou, dou-lhe o nome do hospital.
— Estou aí o mais rápido possível — ele fala sem me dar tempo de responder antes de desligar o celular.
Com as mãos trémulas, deixo o celular na cama e abraço a minha barriga com as mãos.
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1. efcharistó Theé: Obrigado Deus;
2. Theé: Deus;