Narrador narrando
No dia seguinte, os pais de Lucas estavam ocupados demais com os preparativos para a festa de Ano Novo. Lucas ficou em casa ajudando seus pais e Matheus, que estava na casa, ficou o dia todo ajudando. Ryan voltou para a casa de seus pais pra não fazer nada e chegando em casa, ele disse que ia ver Micaele para escapar das obrigações, mas a mãe repreendeu. Já o pai permitiu, e Ryan, enfim, se viu livre.
Narra mãe de Lucas
Não sei o que há de errado com este Matheus, ele parece às vezes tão triste. Fica com um olhar perdido, como se tivesse algum vazio ou algo assim. Será que ele sofre maus tratos?
Mas, quando Lucas olha pra ele, parece que surge um brilho no fundo de seus olhos como se o Lucas fizesse ele feliz ou algo assim. Este meu filho está muito estranho. Desde o dia em que eu cheguei em casa e ele estava dormindo, eu vi marcas na parede, nas roupas e até no chão. Parece ser de unha, unha de guaxinim. Estranho, naquele dia a camisa de Ryan estava jogada perto da cadeira e a de Lucas perto do sofá, o calção dele estava no chão.
— Mãe, o bolo já tá queimando! — diz Lucas para mim, me trazendo de volta dos pensamentos.
— Opa.
Eu desligo o micro-ondas, o bolo quase queima e eu coloco ele em cima da mesa.
Narra Lucas
Minha mãe está estranha. Ultimamente, ela fica me olhando, pensativa, como se ela quisesse me dizer alguma coisa ou se ela suspeitasse de algo. Ela às vezes me pergunta qual o nome da garota que tô ficando, quando vou apresentar ela e até suspeita que seja uma guaxinim. Mas essa garota é o Ryan e ele fez papel de menininha com perfeição, penso nisso com um rosto s****o.
Matheus pensamento
Os pais de Lucas são legais, queria que meu pai fosse como eles. Lucas tem tudo que eu gostaria de ter, ele tem sorte. Eles foram até legais comigo, gostei deles. E ele é um lobo!
Narrador narrando
O dia foi puxado com todos fazendo os preparativos para a festa de Ano Novo. Matheus quis ficar, mas seu pai não permitiu. Ele tinha que voltar para casa, Leonardo ia passar o Ano Novo na casa de sua namorada, a Juliana. Matheus, como não quis ir, teria que ficar em casa.
Matheus voltou para casa bem triste, com Lucas acompanhando ele.
Eram 5 da tarde e o sol começava a se pôr, o horizonte estava limpo e o céu estava com tons amarelos clareados, os pássaros estavam na maior algazarra se recolhendo em seus ninhos.
Enquanto isso, Lucas acompanhava Matheus até a sua casa. Matheus estava bem triste, com a cabeça baixa, e Lucas o acompanhava em silêncio. Chegando em casa, Lucas se despede de Matheus e, este, fica na porta vendo Matheus pegar as chaves, abrir a porta e dizer um último adeus.
Narra Matheus
Quando entro em casa, vejo que o meu pai está dormindo no sofá. Penso até que dormindo, ele tem uma aparência assustadora. Ele deve ter bebido, vejo uma garrafa de vinho próxima a ele e em uma das garras dele vejo um caderno com uma lista com alguns nomes. Quando me aproximo para ver do que se trata, ele acorda.
Narra narrador
— O que você tá olhando, Matheus? — pergunta Leonardo.
— Nada, pai — responde Matheus.
Desconfiado, Leonardo se levanta, ficando em pé na frente de Matheus.
Matheus fica trêmulo e Leonardo o olha fixamente. Ele esconde o caderno dentro da camisa e abraça Matheus.
— Você é o melhor filho — diz ele, bêbado — Agora some daqui, vá para o seu quarto.
Matheus ficou meio confuso, ele resolveu não contrariar. Ele estava com medo e feliz por ter recebido um abraço de seu pai. Matheus subiu as escadas, foi para o quarto, deitou na cama e adormeceu. Já eram oito horas, Leonardo entra no quarto todo arrumado e diz que irá sair. Diz para Matheus ficar em casa e também disse para não entrar no quarto ao lado.
Matheus fica se perguntando o que era o nome daquelas pessoas, mas ele tem medo de seu pai. Uma vez, ele entrou no quarto e acabou ficando de castigo no escuro. Leonardo trancou o quarto e levou as chaves consigo.
Lucas narrando
A casa já está toda arrumada, à espera dos convidados. É uma pena que Matheus não esteja aqui, todos já estavam reunidos, até Mariana. A mãe dela deu uns beliscões nela pra ela se controlar, senão comia tudo.
Ryan não fez nada o dia todo, estava ele e a chata da Micaele. Eles não desgrudavam um do outro, que amor mais grude.
Raul não conseguia nem ver o rosto do pai de Bianca.
Bianca dava leves sorrisos e o pai de Bianca ainda estava bravo com eles. Bianca ficou em outra mesa, longe de Raul, e Raul ficava só de longe, olhando. Minha mãe servia todos, e meu pai não desgrudava da churrasqueira. A mesa estava farta, tinha tudo, até nozes da araucária do quintal. Estavam também alguns parentes de Bianca, do meu pai e uma tia de minha mãe, todos conversando e sorrindo. Aí, depois de algum tempo, Ryan voltou para casa com a namorada dele, aí eu fiquei sozinho. Já ia dar 00:00, todos estavam animados. Aí começou a contagem regressiva para 2016, depois, vários fogos de artifícios foram lançados. Foi uma animação e tanto, todos se abraçaram e sorriram, desejando um Feliz Ano Novo.
Raul aproveitou a oportunidade para ir abraçar Bianca, mas os dois foram separados pelo pai dela. Eu sorri, aí mandei uma mensagem para o Matheus e convidei ele pra vir de manhã na minha casa.
Narra Matheus
Matheus voltou para cama e continuou dormindo até o lançamento dos fogos de artifícios. Ele acorda, meio assustado, e vê as notificações do celular com a mensagem de Lucas.
— Gostaria de ser você, Lucas — diz ele.
Lucas narrando
A festa ainda estava rolando. O pessoal decidiu madrugar e assim, ficaram conversando até o amanhecer. Eu decidi sair de casa e ir até a casa de Matheus, queria muito abraçar ele. Pena que o pai dele não deixou que ele ficasse aqui conosco, o pai dele deve ser chato pra caraio. Digo aos meus pais que iria ver um amigo, saio de casa e vou na direção da casa de Matheus.
No percurso, vejo várias casas enfeitadas com pisca-piscas e uns bonecos de duendes na porta. Vejo algumas pessoas fazendo churrasco nas calçadas, conversando, se abraçando e sorrindo. Estava fazendo um friozinho agradável com o céu límpido e com as estrelas cintilantes. Eu me aproximo da casa de Matheus e bato na porta. Escuto alguém se aproximando e perguntando:
— Pai, é você?
E eu respondo — Não, sou eu, Lucas.
Ele abre a porta e me vê com um sorriso animado. Eu não perco tempo e abraço ele, Matheus é tão magrinho que dá pra sentir os ossos dele. Ele me abraçou tão intensamente e não queria desfazer o abraço.
— Feliz Ano Novo, Matheus — digo a ele.
— Obrigado — diz ele para mim — Você não pode ficar muito tempo aqui, meu pai não gosta de visitas.
— Relaxa — digo a ele — Eu só vim ver um dos meus melhores amigos — digo isso passando o braço ao redor do pescoço dele e bagunçando o pelo da sua cabeça o deixando meio sem jeito.
Eu me sento no sofá da sala e ele se senta ao meu lado. Eu e ele tivemos um ano animado juntos e meu desejo é que continue assim. Eu sei que o que eu fiz com o Ryan é estranho. Meus pais me matariam se soubessem, mas eu quero fazer isso com o Matheus, quero ficar do lado dele. Ninguém precisa saber, é só um segredo de amigos. Eu não sou gay.
Eu e Matheus ficamos conversando juntos sobre as aventuras que tivemos o ano todo, a noite no quarto, quando a gente estava no ônibus voltando pra casa, os bullys quando a gente ajudou Robert a tramar sua vingança, quando a Mariana cuspiu farofa na cara de Matheus e as músicas que a gente escutava quando Ryan se dava m*l.
Eu queria que Matheus e Ryan se dessem bem, eles parecem gato e cão quando não estão na minha frente. São inimigos.
Nós estávamos conversando e teve um momento que nós dois nos aproximamos, aí eu dei um beijo na boca dele e ele não desfez o beijo. Aí eu subi em cima dele, dando vários beijos. Aí do nada, Matheus olha pra alguém que vem vindo atrás de mim, parece que ele levou um susto, quando olho para trás e vejo uma silhueta e me assusto.