Mãe do Lucas pensando
Lucas está estranho ultimamente, ele não desgruda daquele garoto chamado Matheus. Tudo que ele faz, aquele garoto está com ele. Lucas olha para aquele garoto e para o Ryan de maneira muito estranha, parece que Ryan está com ciúmes dele. Quando ele e o Ryan estão sozinhos, eles ficam rindo e brincando demais, parecem namorados.
— Roberto, você está acordado?
— O que foi? — perguntou ele.
— Tem uma coisa que tá tirando o meu sono.
— O que foi? — perguntou ele, sonolento.
— O nosso filho tá estranho ultimamente, ele não desgruda daquele garoto chamado Matheus e também do Ryan. Eles ficam o tempo todo rindo e brincando um com o outro. Não acha que isso tá errado? Será que ele é o que tô pensando?
— Ele não trouxe uma garota pra casa uma vez? — pergunta ele.
— Acho que sim.
— O Ryan não namora? — pergunta ele.
— Sim — digo a ele.
— Eles são só amigos, é normal nesta fase levarem tudo na molecagem — diz Roberto.
Eu começo a escutar risadas lá embaixo.
— Vão para a cama — diz Ricardo — Já ta tarde.
— Talvez seja coisa da minha cabeça, deve ser como eu na minha idade, mais retraído.
Ricardo já estava em sono profundo e eu voltei a dormir.
Narrador narrando
Lucas se deita no meio de Ryan e Matheus. Os dois olham para ele e ele começa a sorrir.
— Eu proponho um desafio a vocês dois — diz Lucas.
— O quê? — perguntam os dois ao mesmo tempo, se olhando.
— Que vocês dois se abracem — diz Lucas.
— Não! — diz Ryan, emburrado.
— De jeito nenhum! — diz Matheus.
— Por favor — diz Lucas — Vocês são meus amigos, quero ver meus melhores amigos juntos!
Matheus olhou para Ryan e Ryan para Matheus.
Ryan se aproxima um pouco e Matheus também, e eles se abraçam olhando para Lucas.
— Desse jeito, não — diz Lucas, sorrindo — Olhem um para os olhos do outro.
Ryan olha, mas tenta desviar o olhar e Matheus também. Aí, Lucas abraça os dois — Aêê, isso que eu gosto de ver, meus amigos juntinhos.
— Satisfeito? — pergunta o guaxinim emburrado.
— Não, proponho que você faça outro desafio. Quero que você dance na frente da gente — diz Lucas, rindo.
— Não! — diz Ryan.
— Vai, Ryan, acredito em você — diz Lucas
— Ah, tá bom — diz Ryan.
O guaxinim vai para frente do colchão e faz alguns movimentos enquanto os dois riam. Matheus tapou a boca enquanto ria e Lucas também. Ryan estava emburrado.
— Agora, — disse Lucas — duvido você mostrar a cueca Hihihi.
Os dois ficaram rindo.
— O quê? — pergunta Ryan, vermelho de vergonha.
— Eu duvido — diz Lucas, e Matheus ficou rindo.
Desconfiado, Ryan, como não gosta de ser desafiado, topou o desafio.
— Aqui está, prontinho — ao mesmo tempo que disse isso, ele encarou os dois com um olhar s****o. Ryan só tinha 14
anos e já tinha um corpo bem definido por praticar esportes, já Lucas e Matheus eram mais sedentários.
O Ryan é tão bonito — pensou Lucas.
Tô sentindo uma sensação estranha. Eu odeio esse cara, mas ele é muito bonito, até mais que o Lucas — pensou Matheus.
Lucas olha para Matheus, sorrindo, e diz:
— Agora é a sua vez.
— Quê? — perguntou Matheus surpreso. — Eu não tenho coragem.
— Vai, Matheus — disse Lucas, dando um tapinha nas costas dele.
Matheus se levantou do colchonete em que estava sentado e ficou na frente dos dois.
— Ele não tem coragem — diz Ryan.
— Vai, Matheus — eles dizem baixinho, para os pais não escutarem.
Matheus tira a camisa e depois o calção. Os dois começaram a rir sem parar com sorrisos abafados. Matheus era bem magro e um pouco alto, ele estava usando uma cuequinha e quase não tinha volume algum. Lucas e Ryan ficaram rindo, apontando pra aquele lugar. Matheus levanta o calção, com o rosto vermelho e envergonhado, até que do nada, Lucas beija Ryan.
Matheus fica vendo aquilo e fala sussurrando — Meus Deus, se os pais deles descobrem.
— Vem aqui, Matheus — diz Lucas — Duvido agora vocês dois se beijarem.
Os dois se entreolham. Ryan fica vendo Matheus com uma cara s****a.
— E se seus pais descobrirem — diz Matheus — Além do mais, isso não é coisa de gay, nem nada? — diz Matheus
É só uma brincadeira de amigos, vai ficar em segredo. — disse Lucas.
Matheus se senta no colchonete, aí Lucas segura ele por trás e Ryan beija ele.
— Não foi nada de mais. — disse Lucas, sorrindo.
Matheus ficou desconfiado, Ryan então passou o braço ao redor do pescoço dele e esfregou a outra mão fechada na cabeça dele.
Matheus gostou daquilo, mas não disse nada.
Lucas foi se deitar na cama dele e Ryan se deitou ao lado de Matheus.
Alguns minutos depois.
— Lucas, você tá acordado? — diz Ryan.
— Tô sim, não consigo dormir de jeito algum. — diz Lucas.
— Também tô acordado. — diz Matheus.
— Vamos ficar conversando pra ver se o sono chega. — diz Lucas.
— Sobre o quê? — pergunta Ryan.
— Sei lá. — diz Lucas.
— Me fale sobre você, Matheus. Você fala pouco. — diz Lucas.
— Sobre o quê? — pergunta a hiena.
— Pode ser sobre sua vida, como você foi parar na nossa escola? — diz Lucas.
— Bem — diz Matheus — Meu pai me transferiu, eu não me dava muito bem na escola antiga, tinha uns moleques que ficavam me atentando.
— Por quê? — pergunta Ryan, meio curioso.
— Eu tinha um outro amigo e a gente era muito próximo, ele se chamava Júlio e era um gato cinzento. Aí, tinha uns moleques que viviam implicando com ele, até que teve um dia que ele não queria dar o lanche pra eles e os moleques queriam bater nele no percurso pra casa. Aí quando fiquei sabendo disso, peguei um pedaço de p*u e bati nos dois garotos.
Eu peguei uma suspensão e os pais dos garotos reclamaram por seus filhos terem chegado em casa machucados. Tive que sair da antiga escola e fui transferido para de vocês. Quanto ao Júlio, ele se mudou pra Curitiba e nunca mais nos vimos. Eu me lembro do último dia dele na nossa cidade, o carro partiu e ele ficou me vendo pelo vidro na parte de trás do carro e dando adeus. Ele estava bem triste e chorando assim como eu também estava.
— Como vocês se conheceram? — perguntou Lucas.
— Ah — diz Matheus — Foi em um aniversário meu, em 2007. Eu fiz uma festa e convidei várias pessoas, mas ninguém foi. Aí eu fiquei na frente de casa chorando, até que eu vi um gatinho cinza se aproximando, era o Júlio. Ele perguntou o porquê que eu estava chorando, aí eu disse que era porque ninguém tinha vindo no meu aniversário. Aí a partir daquele dia, nos tornamos grandes amigos — Matheus já estava quase chorando quando disse aquilo.
— Não fica assim, Matheus — consolou Lucas.
Ryan ficou calado, vendo tudo aquilo.
— Como vocês se conheceram? — pergunta Matheus.
— Somos amigos desde criança, só não sei bem quando — respondeu Lucas.
— Você tinha cinco anos — disse Ryan lembrando e rindo — Você estava até chorando porque eu queria um pouco do seu sorvete de casquinha e você não quis me dar, eu derrubei ele no chão e você ficou chorando.
— Aí minha mãe brigou comigo, comprou outro sorvete e disse pra mim pedir desculpas. Eu fiz o que ela mandou, depois de levar umas palmadas, aí eu dei a você. Agora tô me lembrando — diz Ryan.
— Você estava emburrado e eu até dei um pouco do sorvete a você, aí a gente ficou amigo — diz Lucas.
— É mesmo — diz Ryan.
— Aí depois, a gente conheceu o Raul.
— Raul era engraçado — diz Lucas — Ele era muito esquentadinho, todo mundo atentava ele. Ele era bem baixinho, aí esfregavam a mão na cabeça dele e ele odiava. Aí a gente conheceu a Bianca e depois, a Mariana — Lucas cita o nome dela com um sorriso.
— Somos amigos de longa data — diz Ryan.
Depois da longa conversa, todos já estavam sonolentos e foram, enfim, dormir.
Matheus sonho
Eu sonho com minha mãe, ela está chorando muito ao lado do meu pai. Espera, aquele parece ser o meu irmão, um lobinho e ele tá vivo.
— Mãe, o que tá acontecendo? — pergunto a ela.
Ela não responde e continua chorando.
— O que tá acontecendo, pai?
Ele parece não ouvir e eu fico desesperado.
— Por favor, alguém me diz o que tá acontecendo.
Minha mãe e meu pai olham para mim e depois olham em uma direção. Quando olho para a direção, vejo que eu tinha morrido no lugar do meu irmão.
— Não pode ser — eu digo, em prantos — Por favor, mãe, pai, digam que isso não aconteceu.
O cenário muda e eu vejo meu corpo sendo enterrado.
— Não, eu não morri, eu tô vivo! — falo gritando.
Depois, vejo uma lápide ligando a data do meu nascimento e da minha morte: Matheus 2002 – 2006.
Aí eu acordo, com o coração a mil.
— O que foi, Matheus? — pergunta Lucas.
— Nada — digo eu — Eu só tive um pesadelo, só isso, nada mais.