O passado de Leonardo

2488 Words
Narrador Narrando Era dia 14 de agosto de 1995, Leonardo estava arrumando as malas para seu pai, seu pai havia sido diagnosticado com um câncer e teria de ficar internado, as chances dele sobreviver eram baixíssimas. Leonardo gostava muito de seu pai, por ele o ter gerado em uma idade um pouco avançada, ele o tratava como se fosse seu neto. O seu avô e o pai brigavam entre si pela educação dele e dos outros dois irmãos, cada um queria os moldar na sua visão de mundo. Enquanto colocava as roupas na mala, Leonardo encontra um diário, ele não o abre de imediato, mas ficou curioso com o objeto e o guardou no bolso para o ler depois. Ele termina de pôr as roupas na mala e caminha para o carro que os estava esperando do lado de fora, o clima estava bem triste dentro do veículo. O avô estava dirigindo o carro, e sua mãe ia na frente, Leonardo ia atrás com seu irmão e sua irmã levando a mala. A irmã estava chorando um pouco e a mãe tentava consolar ela, dizendo que ia ficar tudo bem, o avô estava meio indiferente e não queria demonstrar seus sentimentos. Leonardo parecia com seu avô só na aparência um lobo branco, mas de personalidade era dócil e até um pouco ingênuo e meio bobo. [Quebra de tempo] Quando a família chega no hospital Leonardo se dirigiu logo para onde o seu pai estava internado e ele estava deitado em uma maca, ele logo seria submetido a um procedimento para retirar o tumor da garganta. Leonardo chegou abraçando-o e apertando o seu pai e lambendo seu rosto enquanto seus irmãos diziam — Para Leonardo. Vai ficar tudo bem, você parece uma criança agindo desse jeito. — o pai o abraçava também e dizia que ia ficar tudo bem. Promete que vai viver? — pergunta Leonardo. Eu prometo. — diz o pai. Leonardo gostava muito do pai e do avô e tinha medo de perdê-lo, os irmãos também gostavam do pai, mas não tanto se comparado a ele. Os irmãos abraçaram o pai e quando o horário de visitas acabou Leonardo não queria partir, ele queria ficar com o pai, tinha até trazido uma mala com várias roupas. Leonardo vem, ele vai ficar aqui só por três dias, não precisava este monte de roupa. — dizia a mãe dando leves risadas. O pai também riu passando a mão na cabeça do filho, o horário de visitas havia acabado e a mãe se despede do pai com um beijo na boca e enquanto eles saiam o pai acenava para eles, pensando — Acho que estraguei este garoto, talvez o avô dele estivesse certo, Leonardo precisa amadurecer, ele é muito inocente para a idade dele. O grupo então voltou para o carro em direção a casa e continuavam preocupados. Enquanto o carro avançava estrada a dentro, Leonardo ficava com o olhar perdido e preocupado olhando para o céu. A sua irmã segura a pata dele e diz — Vai ficar tudo bem Leo. Leonardo então aperta a pata da irmã e não responde nada, mas estava com um pressentimento r**m, como se algo fosse acontecer ao pai. Enquanto estava perdido nos seus pensamentos, Leonardo perguntou — Quando que a gente vai conhecer a família do meu papai? A nossa vó morreu — diz Theo. Mas e os outros parentes dela? — Leonardo perguntou. — Ela deveria ter parentes. Toda vez que a gente toca nesta história, o pai muda de assunto. — diz a irmã. Isto é um mistério — diz Theo. A mãe ouve tudo pensativa, mas não diz nada, ela gostava muito de seu marido. Os dois haviam se apaixonado perdidamente, mas ele às vezes era um homem misterioso e tinha hábitos estranhos, tipo sempre evitar de falar do passado dele. É estranho que tenha poucas fotos dele criança e dele crescendo. — diz Theo. É, ele era esquisitinho. — diz a irmã. Depois que ela disse isso o avô freou de uma vez e todos se assustaram e quase foram jogados para a frente. O avô abaixa o vidro do carro e começa a xingar palavras pesadas para uma hiena bêbada que estava rebolando no meio da rua e com um cigarro na boca. A hiena ficou sorrindo olhando para eles e gritando “LOBOS IMUNDOS!!” o avô buzinava pra ela sair da frente enquanto o chamava de marginal e filho da p**a. O avô já estava perdendo a paciência e iria pegar um revólver que estava em um porta Luvas, mas foi impedido pela mãe do Leonardo. A hiena foi retirada por outras e Leonardo percebeu que as outras falavam algo para esta como — Você tá maluco, tu sabe quem é ele? Tá vacilando! — através de gestos com os braços e com a boca. O avô se recompôs e pediu desculpas pelas palavras que havia dito. Raramente palavras como estas saiam de sua boca e continuou a dirigir em direção a casa deles enquanto praguejava e falava m*l das hienas, dizia que a cidade estava h******l com aqueles bando de hienas e ratos, e sentia que estava morando numa favela e que seria melhor a gente se mudar dali, não era um ambiente apropriado para lobos. A mãe não dizia nada, apenas concordava com o que o avô dizia e também falava m*l de algumas coisas, reclamava que os shoppings estavam cheios delas e de ratos. O grupo chegou em casa e se acomodou para o jantar, Leonardo pôs o diário do pai na bolsa e foi jantar, depois obedeceu toda uma rotina, ficou assistindo um pouco de tv, depois escovou os dentes, tomou um banho e foi dormir. No dia seguinte apenas pegou a bolsa e se dirigiu para a escola, o avô foi deixar ele de carro e o carro passou na mesma rua onde quase atropelou aquela hiena e ela estava toda machucada, parecia que havia levado uma surra. O avô olhou em direção a ela e cochichou — Mereceu… — e depois sorriu e disse — Elas tem que entender que os lobos é que mandam neste país. Leonardo não disse nada, ele já estava acostumado a ver aquilo sem tomar partido. Ele não odiava hienas ainda, mas também não era a favor de igualdade entre espécies ou algo do tipo. Enquanto o carro se aproximava da escola, o avô apontou para um lobo e disse — Estão vendo ali? É um mestiço, mas parece lobo, nunca será um lobo puro como nós. — O lobo apenas olhou para eles e entendendo os gestos com a boca, abaixou as orelhas e ficou meio cabisbaixo, ele estava perto de uma gata a qual segurava sua pata. O carro chega na escola e Leonardo sai de dentro dele, dá tchau para o avô e este deixa o local, Leonardo caminha em direção a entrada da escola indo direto para sua sala, passando por Roberto apelidado de Robertão. Ele estava com mais duas lobas bonitonas uma de cada lado, ele olha para Leonardo sorrindo com deboche e beijando as duas enquanto ambas olhavam para Leonardo com desprezo. Leonardo nem ligava, apenas continuou caminhando para sua sala, mas Roberto apareceu na sua frente sorrindo. Leonardo sabia que ele queria provocar, por isso desviou dele e apressou o passo na direção de sua sala, mas Roberto foi mais rápido e bloqueou seu caminho — Ola debilóide. — diz Roberto na frente de Leonardo e encarando-o nos olhos enquanto todos ao redor riam. Me deixa em paz Roberto. — diz Leonardo já sério tentando se desviar de Roberto mas ele bloqueia seu caminho de novo e continua encarando seus olhos com seu sorriso debochado. Leonardo já estava perdendo a paciência e o empurra para poder passar e isso enfurece Roberto. Roberto pega o braço de Leonardo e aperta seu pulso fazendo ele sentir dor — Olha como fala comigo debilóide. — diz Roberto já irritado. Leonardo sentindo dor e quase chorando puxa seu pulso de volta e continua a caminhar e Roberto dá um chute em sua poupança o fazendo cair no chão com bolsa e tudo. Leonardo se levanta e se dirige para sua sala enquanto todos zombavam da sua cara. Roberto ficou lá se gabando do que havia feito e ainda gritou — DEBILÓIDE! Leonardo entra na sala e se senta na carteira, de cabeça baixa ele abre a bolsa e pega o diário do pai e começa a ler, Leonardo ficou meio surpreso por descobrir que seu pai tinha um irmão e que a mãe dele não havia morrido quando o pai deixou a cidade Natal. Leonardo estava tão distraído lendo o diário, que não notou que a aula já havia começado e que a professora estava apresentando dois alunos novos. Quando Leonardo olhou, percebeu que eram o mesmo lobo e a mesma gata que havia visto pela manhã. Após se apresentarem eles se sentam perto de Leonardo e Leonardo ficou meio surpreso com ele pois ele realmente parecia um lobo tirando a parte dos olhos meio avermelhados e a gata tinha o pelo parecido com a pelagem de um lobo. Leonardo também notou que depois de alguns dias que eles tinham dificuldades de se enturmar, por algum motivo todos os excluíam, também notou que o lobo era meio melancólico, já a gata mais extrovertida e toda vez que algum outro lobo o encarava nos olhos, ele abaixava a orelha. Depois de duas horas de aula, bateu o intervalo e Leonardo resolveu abrir o diário de novo e estava distraído quando Roberto aparece e o puxa de sua pata — Olha o que temos aqui. — diz Roberto sorrindo e pegando o diário da mão de Leonardo que tentou pegar de volta mas era inútil. Isso fica comigo debilóide — diz Roberto. Pessoal, hoje eu vou ler o diário do Leonardo perto do lago depois da aula! — diz Roberto sorrindo enquanto todos ao redor sorriam e estavam ansiosos para saber do que se tratava. Leonardo já foi ridicularizado por escrever poesias e Roberto pensou que aquele era um livro de versos dele. Leonardo ficou preocupado, estava com medo de ter alguma coisa comprometedora sobre o pai naquele diário e resolveu chamar a diretora. A diretora obrigou Roberto a devolver o diário, mas o estrago já estava feito. Roberto já havia lido alguns trechos do diário o suficiente para causar um estrago. Leonardo notou que depois que Roberto devolveu o diário, ele começou a ser visto com ódio ou desprezo pelos outros lobos sem saber o motivo, Roberto havia espalhado alguns podres do pai de Leonardo para a metade da escola. Três semanas depois Leonardo havia feito amizade com o outro lobo e a gata que eram novatos. Leonardo havia ficado mais 15 minutos conversando com seus novos amigos, quando uma loba entra na sala e diz que seu irmão estava brigando perto de um lago. Leonardo deixa a sala e corre para o local e chegando lá havia algumas pessoas, lá ele foi insultado por um lobo amigo de Roberto que o empurrou não deixando-o se aproximar do Theo que era três anos mais novo que ele e estava chorando e ferido enquanto dois lobos o insultavam o chamando de “hiena imunda”. Quando Leonardo consegue passar ele pergunta nervoso — O que aconteceu Theo? Eles ficam falando que somos hienas imundas, que nosso pai é uma, mas não é verdade. — diz Theo chorando. Seu pai é uma hiena imunda sim! — diz Roberto sorrindo. Olha como fala do meu pai! — diz Theo se levantando tentando acertar Roberto, mas é segurado por um dos lobos, Theo ainda consegue dar um soco no rosto de Roberto e este se irrita e o pega pelo pescoço. Leonardo já com raiva, acerta um dos lobos e tenta se aproximar do irmão, mas leva um soco no rosto de outro lobo e começa a chorar de dor com o rosto no chão, enquanto Roberto o olhava com desprezo. — Vocês não são nada. — diz Roberto, enquanto Theo chorava e os outros lobos junto com a plateia riam. — Não passam de hienas miseráveis. Ver o irmão ferido e chorando nas patas de Roberto e ter escutado vários insultos contra o pai, fez com que nesta hora, a ficha caísse para Leonardo. Então, ele se levantou do chão com a mais pura ira, encarando os três lobos e indo em direção a eles. Os dois lobos que estavam com Roberto ficaram rindo da cara de Leonardo, o subestimando, até que Leonardo, enfurecido e sem pensar muito no que estava fazendo, acertou vários socos nos dois lobos enquanto a plateia assistia tudo não acreditando no que estavam vendo. De tão enfurecido que Leonardo estava, os dois lobos recuaram com medo dele. Então Roberto solta Theo e Leonardo parte para cima dele. Ele até tentou se defender, mas foi inútil. Os dois rolaram no chão, com Leonardo em cima dele acertando vários socos sem parar no rosto e Roberto que apenas tentava segurá-lo, mas a raiva de Leonardo era maior. Leonardo só parou de bater em Roberto quando ele desmaiou com tanto soco que havia recebido. Então com o rosto vermelho de sangue, sujo de terra e chorando muito, ele se levanta e olha para o rosto de Roberto que estava repleto de hematomas, com os olhos inchados e estava com a boca e o nariz sangrando. Ele apenas pega o irmão pela pata e o tira dali. A plateia não disse uma palavra sequer, estava muda vendo Roberto que havia desmaiado. Enquanto eles caminhavam, Theo ia chorando e Leonardo pensativo — Estava na hora de mudar. — pensava. Ele estava no seu íntimo, se despedindo de seu antigo eu, um Leonardo que nunca mais voltaria, tentava conter as lágrimas enquanto elas caiam. Leonardo e seu irmão chegam em casa e a mãe os vendo daquela maneira ficou preocupada perguntando o que havia acontecido Foi só uma briga. — disse Leonardo friamente enquanto Theo chorava. Me conte o que aconteceu. — falou a mãe preocupada. Uns lobos tentaram bater na gente e eu fui lá e acertei eles. — disse Leonardo friamente e o avô e a mãe ficaram impressionados. Eles notaram que Leonardo estava estranho, era como se algo tivesse mudado nele. Eles se perguntaram o que havia acontecido com aquele antigo Leonardo. A mãe ficou se indagando que pela manhã o filho era um e depois voltou totalmente mudado. O avô passou a gostar mais dele e não parava de se impressionar com o garoto, pelos próximos dois anos eles se tornaram mais próximos, com o avô o moldando em sua visão de mundo. De vez em quando os rumores que o pai de Leonardo era híbrido vinham tirar seu sono, e ele se afundou cada vez mais no mundo dos lobos e se afirmava cada vez mais como sendo um lobo.
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