Com agilidade, bons reflexos e um calor surpreendente ele me segurou com as mãos, firmando as duas na minha cintura e me puxando de encontro ao corpo dele.
Todas as células do meu corpo foram de aceitação com a queda para um incêndio enlouquecedor pelo contato com o corpo dele.
Eu sabia que estava vermelha pela forma que as minhas bochechas queimavam ao sentir o aroma dele, uma mistura de sol e cerveja inebriante que encheu a minha boca de água.
- Você está bem? - Eu quase podia sentir o gosto das palavras dele na minha boca, de tão perto que estavamos. - Aline? - Eu levantei os olhos e encontrei o par de olhos verdes dele me olhando profundamente, como se pudesse ver a minha alma. - Você se machucou?
Eu perdi a fala, o comando sob o meu corpo e até esqueci o meu próprio nome ao me dar conta da proximidade que estávamos. A boca dele estava a mesmo de uma palmo da minha, e o meu corpo estava totalmente apoiado no dele, enquanto ele me mantinha de pé, depois de um quase tombo que seria imensamente vergonhoso.
Se eu beijá-lo?
A boca dele era um convite e uma promessa, parecendo um grande botão de rosa carnuda… Imaginei o sabor, e o meu estômago tremeu refletindo em outros lugares que fizeram as minhas bochechas esquentarem mais.
E com todo o esforço do mundo e mais um pouco eu me afastei, tentando manter os pés firmes no salto alto. O meu corpo sentiu falta do calor imediatamente.
- Obrigada. - A minha voz estava baixa. - Me desequilibrei. - Tentei explicar sentindo a vergonha finalmente me atingir. Ele manteve as mãos abertas, esperando caso eu caísse de novo. - Acho que a bebida bateu. - Eu dei um sorriso, para mostrar que estava tudo bem.
- Melhor beber uma água? - Ele perguntou quase autoritário e em seguida levantou a mão sinalizando o garçom, enquanto eu sentava de novo, segurando a bolsa nas mãos.
Ele sentou e me encarou com uma emoção nova no rosto.
- Se machucou? - Eu neguei com a cabeça. - Desculpe se te toquei sem permissão…
De alguma forma o que ele disse me soou engraçado então eu dei uma risada estranha e ele parou de falar.
- Você evitou que eu caísse vergonhosamente de cara no chão e está me pedindo desculpas por me tocar? - Ele levantou as sobrancelhas surpreso. - Eu que peço desculpas por ser incapaz de ficar de pé, pelo que parece. - Eu continuei rindo da situação, para afastar do meu corpo toda a intensidade que a presença dele emanava. Ele me tocou por pouco menos de um minuto e ainda assim eu latejava, de uma forma que eu nunca senti.
O garçom me trouxe a água e eu bebi devagar, sentindo os meus sentidos ficarem mais alertas do homem lindo, quente e cheiroso que estava sentado na minha frente.
- Ia ser um tombo feio mesmo. - Ele continuou, agora em tom brincalhão. - Esses sapatos são perigosos. - Eu assenti lembrando de um pensamento que me ocorreu naquela manhã, enquanto eu me arrumava para ir para a prova.
- Hoje cedo, quando me troquei e coloquei esses sapatos eu pensei que deveria colocar um tênis. - Ele esperou o meu raciocinio. - Depois eu pensei melhor, sobre o que o meu pai diria. - Ele me deu um sorriso triste. - Pelo menos você estava aqui e me segurou a tempo.
- Deveria usar tênis. - Ele afirmou, os olhos brilhantes.
- Deveria mesmo, mas a minha futura carreira me obriga a usar sapatos como esse. - Levantei uma das pernas, mostrando o sapato de salto fino, de vinil preto, que eu achava lindo e mortal na mesma medida.
Ele encarou o sapato, depois o olhar dele subiu pela minha panturrilha, passando pelos meus joelhos e seguindo para a minha coxa, que estava mostrando boa parte da pele.
- Fica lindo… - Ele engoliu a saliva, quando eu abaixei a perna. - Mas duvido muito que algo não fique lindo em você. - Eu senti o rubor voltar ao meu rosto com as palavras dele e não soube muito o que dizer, então apenas agradeci.
- Obrigada Matheus. - Ele apoiou o tronco na mesa, como quem conta um segredo.
- Você é comprometida? - A pergunta me surpreendeu e eu levei mais tempo do que deveria até responder.
- Muito. - Tentei manter um tom engraçado. - Com as expectativas do meu pai, e isso não cabe um romance ou algo assim. - Ele assentiu, mas se manteve inclinado para frente.
- Você sonha com romance? - A pergunta era séria e eu refleti sobre aquilo.
- Não. Eu não me dou esse luxo. As minhas relações nunca foram sérias ou longas o suficiente para isso. - Ele parecia estar me avaliando quando os olhos dele caminhavam pelo meu rosto, descendo pelo meu pescoço até parar na minha camisa aberta, antes de voltar para os meus olhos.
- Seu esquema é mais casual então? - Ele parecia um imã me puxando na direção dele, e não esperou eu responder quando continuou. - Não costumo falar muito. - Ele admitiu. - Sobre o que eu quero. Sobre o que eu decido. Normalmente tomo decisões e sigo a vida. - Eu assenti, ouvindo atentamente.
- Te vi no prédio da OAB mais cedo, e que estava vendo um anjo. - Eu respirei fundo, sentindo o ar ao meu redor entrar em alerta. - Não te segui, se é isso que pensou. - Ele sorriu, envergonhado. - Eu segui a minha vida e quando te vi entrar aqui, imaginei que era um sinal de Deus… Ver um anjo duas vezes, no mesmo dia. - Ele respirou fundo e balançou a cabeça. - Eu tomei coragem para falar com você. - O sangue nas minhas veias pareceu correr mais rápido. - E veja só… Temos muito em comum, mesmo sendo dois estranhos… - Eu tinha inclinado o corpo na direção dele sem perceber enquanto ele falava. - Eu costumo ser direto, Aline. Nos meus negócios as minhas ordens são como lei. - Pisquei confusa, pelo rumo da conversa. - E faz bastante tempo que não sinto o que estou sentindo agora.
- O que você está sentindo? - Eu não estava pensando direito. Eu apenas senti e absorvi cada palavra dele no último minuto.
- Vontade de ser domado. - Eu sabia que a minha expressão tinha me delatado, que eu tinha me surpreendido, que o choque atravessou os meus olhos e eu subitamente subi a sobrancelha esquerda.
- Domado? - Perguntei, assinando a minha surpresa.
- Domado sim… - Ele falava tão baixo que eu achei por um instante que estava imaginando aquilo. - Por você!