Capítulo - 5

2208 Words
Vincent   Ontem conheci uma Chiara completamente diferente da qual estava acostumado, uma Chiara ousada, desinibida e sem vergonha. Engraçado, pois bastou alguns drinks para que ela se soltasse e se tornasse outra pessoa.   Fiquei intrigado, será que ela mostrou quem realmente é quando está longe das câmeras e de sua família, ou a embriaguez havia alterado sua personalidade? De qualquer modo foi interessante vê-la solta, a bêbada dançarina que flerta com todo mundo. —  Você subiu na pole dance e simplesmente resolveu presentear a boate com uma performance incrível. —  Revelei a ela enquanto arrumava o nó da gravata — ainda pagou calcinha.   Chiara murchou sob a cama, parecendo temerosa, fitou as próprias mães e só então me lançou um olhar pesaroso.    —  Por que deixou que eu fizesse isso?   —  Tentei impedir, mas você mandou eu me f***r.   —  Céus, eu disse isso? —  Ela parecia atônita.    —  Sim e muito mais, me fez ter que brigar com um carinha da boate que você estava beijando, ele queria levá-la para casa dele.   Odeio ter que bancar a babá de alguém, Chiara estava se comportando como uma adolescente de treze anos com os nervos a flor da pele.   Ela pôs as mãos no rosto e abaixou a cabeça, sei bem o que ela estava imaginando.   — O que vão pensar de mim? Que sou uma…  uma…   — Uma mulher que quando fica embriagada faz loucuras igual a qualquer outra pessoa. — Eu a interrompi, tenho quase certeza de que ela iria militar alguma coisa sobre ser indecente, uma pessoa do mundo, vulgar e algo do tipo — Está mesmo preocupada com isso?   Sua feição denunciava o quando me achava louco por pensar diferente.   — Você mesma vendeu essa imagem de “virgem pura que nunca erra” por isso tem tanto medo em ser crucificada por todos.    Sempre fui contra esse conservadorismo, primeiro porque ninguém é cem por centro santo, segundo porque acredito que todo mundo deve viver como bem quer e ninguém deve interferir nisso.    — Diferente do que você pensa, tenho meus próprios princípios, não quero ficar com alguém só para curtir, não quero um caso, tampouco sair transando com todo mundo e ainda sim sentir que não há ninguém ao meu lado, sentir que estou sozinha. Quero sim, casar, ter filhos, isso não é um pecado.   — Que lindo, estou completamente emocionado! — Debochei passando as pontas dos dedos no canto dos olhos.   Definitivamente eu não gosto de ver ataques de nervos de mulher alguma. Mas ver Chiara quase dando um enquanto me olhava com fúria, foi engraçado.   — Babaca! Cuidado para não pegar uma DST.   Ignorei seu comentário e olhei meu relógio. Oito e meia da manhã. Daqui a pouco tenho um compromisso, reunião de elenco de uma nova série, quis conhecer primeiro a equipe e o enredo do trabalho, pode parecer arrogante, mas sempre gosto de saber onde estou pisando, sempre gosto que meu trabalho leve uma mensagem positiva ao publico.     Mais cedo eu passei aqui no quarto com o intuito de acordar Chiara, mas ela dormia tão serena que não consegui, então voltei para o meu quarto, tomei um banho, me arrumei para ir à reunião, pedi para Maria preparar o café da manhã, não sei do que Chiara gosta, então pedi que incrementasse de tudo um pouco.    — Você colocou essa roupa em mim?   — Eu não, a moça que trabalha aqui em casa te deu banho, eu só ajudei ela a te colocar dentro do banheiro, emprestei a minha roupa e te pus na cama.     Ela respirou aliviada.   — Mas eu confesso que levei você ao banheiro quando estava se sentindo apertada e tive que tirar sua roupa porque nem isso você conseguiu — Chiara arregalou os olhos —, também segurei você para sentar no vaso e esperei até que se aliviasse.   — Você me viu nua? — Perguntou parecendo incrédula.   — Mas não precisa se preocupar eu já vi muitas mulheres nu...   — Você me viu nua? — Inquiriu novamente, mas desta vez com o tom de voz compassada e hostil.     Meu silencio foi sua resposta. Chiara voou em cima de mim e tentou me acertar com um soco. Por sorte fui mais rápido e desviei. Ela esta p**a da vida!   — Seu i****a… pervertido… filho da mãe! — Gritou furiosa.   — Me solta —  esperneou em meus braços.   — Você deveria me agradecer, Chiara, eu fiz uma boa ação, fui sua babá quando não era nem minha obrigação — gritei no mesmo tom que ela usou comigo minutos atrás. — Sua amiga saiu e te deixou sozinha, não achei ela por lugar nenhum, poderia ter a deixado lá, sozinha com pessoas das quais não conheci, mas eu a trouxe para cá, cuidei de você.   Chiara sabe que não pode contestar isso. Nunca me aproveitaria de uma mulher inconsciente, eu apenas a despi para que Maria lhe desse banho, e em nenhum dos meus atos ou gestos teve alguma conotação s****l, posso até estar errado, mas não tive nenhuma intensão maldosa.   — Tem certeza que não se aproveitou de mim? — Seu tom de voz dessa vez foi mais calmo ao perguntar.   Ela esta receosa e, acho que a entendo, pouco nos conhecemos. Ela é mulher e eu sou um homem, sei que mulheres sofrem constantemente com abusos por parte de caras ruins.   — Claro que não, Chiara, posso não prestar e ser um cafajeste, como você diz, no entanto, jamais faria isso. — Eu a tranquilizei — Bom, não com você embriagada... só vamos fazer isso quando você estiver consciente e disposta a...   Gargalhei antes de completar o que iria falar, e ela jogou o travesseiro em minha cara por conta de minha ousadia.   — Tudo bem! — Disse orgulhosa de mais para agradecer.     Nunca me aproveitaria dela dessa maneira, nem de Chiara ou de qualquer outra mulher, isso é inescrupuloso, é algo que abomino.   Prefiro que elas venham até mim, por livre e espontânea vontade.   — Acho melhor você se vestir e irmos tomar café. Tenho que sair daqui a pouco. Inclusive já estou atrasado.   Ela assentiu, me fitou por alguns seguros, abriu a boca e pensei que fosse me perguntar algo, mas desistiu.   — Bom, eu vou sair para você se vestir.   — Não pensou que eu me vestiria na sua frente, não é?   Arqueou as sobrancelhas e me olhou do jeito atrevido dela. Chiara gosta de me provocar, já percebi isso.   — Não me importaria, eu já vi tudo — rebati e deixei o quarto escutando seus protestos, nem me dei conta de que eu sorria. O banho fez bem a Chiara, já que quando se juntou a mim e Maria na mesa ela parecia mais calminha. Ela agradeceu maria e sentou-se na mesa para se alimentar, quando terminamos entreguei uma aspirina e a acompanhei até seu táxi que já estava esperando-a.     Chiara   Andar em horário de pique pode ser estressante, mas estava tão desnorteada dentro daquele táxi que m*l prestei atenção nas incessantes buzinas, nas filas intensas de veículos na avenida, tampouco nos palavrões que os motoristas destinavam uns aos outros. Meu pensamento estava longe, no homem que pouco tempo atras estava trocando farpas comigo. Nem acredito que Vincent me viu despida, ainda estou com vontade de socar a cara daquele… verme.  Agora toda vez que olhar na cara dele vou morrer de vergonha!   Bom, ao menos a minha depilação estava em dias, imagina só se eu estivesse com um matagal entre as pernas? Eu me jogaria no fundo de um poço e não sairia nunca mais.   Estou em frente a porta da minha casa e morrendo de receio de entrar, sei que meu pai e meu irmão irão me encher de perguntas sobre onde e com quem estava.   — Eu não acredito que você estava com aquele cretino!   Que susto! Pus a mão no coração. Matteo nem esperou eu entrar em casa e sentar. Meu objetivo era entrar sem que ninguém percebesse minha presença e aproveitar bastante minhas horas de paz, já que meu celular está perdido em algum lugar junto com minha bolsa, ao menos assim não tinha como me ligarem trezentas vezes. Pode parecer meio cafona, mas apesar de ser de maior de idade e independente eu tenho hora para chegar em casa, na maioria das vezes isso é um saco. E, digo na maioria das vezes porque minha vida é uma correria, quando estou em casa só quero deitar na minha cama e descansar.   — Cretino?   — Não se faça de tonta. Eu vi suas fotos com Vincent, estão em todos os sites e instas de fofocas. Vincent, Chiara? Logo no papinho daquele mulherengo que você foi cair!   Nem deveria reclamar da fama já que através do meu trabalho e exposição que ganho dinheiro, mas ainda não aprendi a lidar com toda essa exposição, é preço que tenho que pagar. Tudo o que faço o que falo é vendido e deturpado pelas pessoas.   — Você não deveria se importar tanto com minha vida que não sou uma garotinha, Matteo — bradei chateada, odeio ser controlada pelo meu pai e meu irmão. — Basta ter algum tipo de contato com o sexo oposto que vocês já fantasiam algo, pare com isso por favor!   — Não é o que parece! — Ele ergueu o celular na minha direção.   Uma foto minha e de Vincent abraçados em uma manchete tendenciosa em uma publicação de um i********: de fofoca. “Novo romance? Atores foram flagrados se divertido em uma badalada boate…”, mas essa não a pior, em outro blog de fofoca, fotos minhas dançando na pole dance, eu estava de vestido, em todas as fotos a minha calcinha era o que mais chamava atenção, fitei aquelas imagens indignada principalmente quando li alguns dos comentários. Me sinto violada, principalmente por terem filmado, fotografado e vendido imagens minha em um momento meu, o pior é ver milhares de comentários de pessoas que nem me conhecem me julgando, falando coisas horríveis sobre mim.     — Não acredito que essa na foto é você. — Matteo comentou lançando-me um olhar dececionado.   Isso me enfureceu, me enfureceu porque odeio essa cobrança, eu tenho a minha vida e mereço viver como quero, desde minha infância tive de conviver com esses comentários e imposições do meu pai, e isso se sucedeu ao meu irmão. O efeito desse machismo na minha vida é como ter um peso sob meus ombros, sempre tenho que seguir um caminho sem tropeçar, sem errar. É uma loucura pensar que tenho que ser perfeita sempre, principalmente porque passei a me cobrar também, sempre tentei dar o meu melhor e passar a imagem que as pessoas sempre quiseram de mim.     — Você está se exibindo como uma…   — Como uma o que? — Interroguei com hostilidade, estou cansada disso!   — Como uma pessoa vulgar! — Ele rebateu.   — Quer saber? Vá para o inferno Matt, me deixei em paz, e por favor, para se intrometer na minha vida.   — Você está se perdendo, sabia que andar com a Kelly não iria te fazer bem. Cuidado, lembre-se que você tem sua carreira.   — Não tens o direito de me julgar ou qualquer outra pessoa, você não é o melhor exemplo da moral e dos bons costumes. — Lhe dei as costas decidida a deixá-lo sozinho, meu irmão me cansa — nunca mais abra a boca para falar dos meus amigos, você não tem esse direito!    Subir para meu quarto e dei graças a Deus por não ter cruzado com meus pais, me despir e entrei na banheira, fechando os olhos me permitir a tentar lembrar mais detalhes na noite passada. Massageei as têmporas e suspirei. Não sei o que fazer, só quero ficar quieta no meu quarto sem ter que me explicar para as pessoas, sei que minha caixa de email deve está cheia de mensagens de Jade, minha assessora, só queria sumir por algum tempo, viver normalmente sem essa pressão.   Não sei se estou preparada para toda essa atenção, todo erros e quedas que uma pessoa normal vive, na fama tem um peso maior, tudo tem uma dimensão maior, todas suas falas são tiradas de contextos, deturpadas, você é frequentemente julgado, os haters não te deixam em paz, qualquer deslize as pessoas te cancelam, te atacam. As pessoas te rotulam como algo, se você é retraída, te chamam de metida ou “santinha”, se você é do tipo mais liberal as pessoas te chamam de rodada ou vulgar. Odeio tudo isso!   Distorcem totalmente o uso das redes sociais, ao invés ser um ambiente divertido e tranquilo, se torna um tribunal… um campo de guerra, e temos que ter bastante cuidado onde estamos pisando, pois podemos está em cima de uma granada.   Quase beijei Vincent, se Mike não houvesse chegado eu terei mais esse problema. Onde estava com a cabeça, senhor? Acho que foi culpa do álcool que bebi, porque eu em sã consciência nunca beijaria aquele crápula.   Apesar de que a noite não foi tão desagradável assim, não posso negar de que Vincent é uma boa companhia, tem um bom papo, é charmoso, e o beijo dele deve ser maravilhoso...   Inferno!   Para de fantasiar coisas, Chiara.    
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