Capítulo 06
Erick narrando
Enquanto observava minha pequena menina dormindo em meus braços, percebi que ao menos me importei com o horário que meu despertador marcava sobre meu criado mudo. O corpo pequeno da minha doce menina encostado ao meu,me permitia sentir o calor que ela transmitia,sua respiração calma era sinônimo de uma boa noite de sono,e o mais importante,sua face calma e Angelical transmitia a serenidade que a anos não presenciava. Malia havia se tornado uma pessoa rancorosa e fria,as pessoas a sua volta a fizeram ver o quão c***l o mundo poderia ser,o quão impiedosas eram as pessoas que nele habitavam.
Enquanto passava meus dias em um campo de treinamento,me lembrava de cada detalhe da minha pequena praguinha,as lembranças que jamais me permitiria esquecer estavam guardadas em uma parte do meu cérebro,para que quando sentisse saudades, pudesse recorrer ao lugar onde jamais poderão ser arrancadas de mim. Mas sempre que repassava em minha mente,o arrependimento era o primeiro a me corroer,a forma fria que tratava a minha própria filha era algo que me fazia odiar cada parte de mim,o desprezo que insinuava existir em mim,a forma que minha pequena menina me olhava a cada "não" que lhe dava,todas as vezes que me neguei passar um dia ao seu lado por não poder abandonar meu "trabalho",eram cenas que jamais esqueceria e que nunca me perdoarei.
Sentindo seu pequeno e frágil corpo se abraçar mais ao meu, deposito um beijo casto em seus cabelos pouco bagunçados. Suas pequenas mãos seguram a minha enquanto Malia se acostumava com a pouca claridade que adentravam aquele enorme quarto decorado com móveis que demonstravam seriedade.
Bom dia minha menina! - O sorriso por se lembrar do apelido pouco utilizado por mim em sua infância,fez com que um sorriso também se formasse em meus lábios.
Ao olhar em seus lindos olhos azuis, consigo ver algo que procurei durante a sua chegada. Um brilho de felicidade se instalou em seus olhos,a forma que Malia me olhava era um misto de felicidade com carinho,mesmo com tudo que a deixei passar, a minha doce menina me amava se permitindo esquecer a raiva que presenciei ao encontrá-la naquele aeroporto.
Bom dia! Conseguiu dormir? Pois se me lembro bem, não gosto de dividir a cama com alguém. Dulce vivia me dizendo que ocupo o espaço por completo - um sorriso tímido se forma em seu rosto enquanto lhe observo por saber que continua a mesma tagarela de sempre pela manhã.
Ficando cada vez mais vermelha, Malia cobre o rosto com as mãos enquanto me faz rir por seu ato incrivelmente fofo.
Não acredito que a minha menina está com vergonha? O mundo não é mais o mesmo! - descobrindo o rosto e me encarando,vejo que suas bochechas ganharam um tom avermelhado enquanto seus olhinhos estavam vidrados em meu sorriso.
Para pai…- ao se abaixar tirando a cabeça do travesseiro,os seus lindos cabelos negros cobrem seu rosto de forma que suas mãos os afastem.
Por mais Marrenta que seja, Malia ainda tinha aquela essência de criança,seus traços lhe davam mais idade,porém não lhe permitia aparentar ter mais que era constado em seus documentos.
Vamos levantar sua preguiçosa,se passam das dez da manhã e ainda estamos aqui - me levanto estendendo a mão em sua direção.
Olhando em minha direção, Malia se levanta ficando em pé sobre a cama me fazendo rir quando ela me vira e sobe em minhas costas.
Vamos tomar o café da manhã primeiro,depois nos vestimos adequadamente - sabendo que não haveria como negar por Malia ser muito insistente,saio de meu quarto com ela em minhas costas.
Sua gargalhada gostosa ao descermos as escadas,acabou chamando a atenção de Luísa, que apareceu na sala de estar nos encarando sorrindo.
Bom dia Lulu - pensando que ela desceria das minhas costas para ao menos cumprimentar Luisa, faço menção de me abaixar para descê-la - Não... você vai me levar até a cozinha! - olho para Luísa que gargalha ao ver minha cara de indignação.
Você está parecendo uma criança desse jeito, Lia. Tenho pena do seu pai - ainda com indignação, sigo para a cozinha com ela em minhas costas.
Ao colocá-la sentada em uma das cadeiras em frente ao balcão, alongo minhas costas ao sentir um pequeno desconforto.
Está assim? Idade é uma merda! - Encaro Malia seriamente fazendo-a gargalhar enquanto Luísa prendia o riso voltando a lavar a louça, após entregar o famoso iogurte de Lia.
A observo abrir a pequena embalagem calmamente enquanto mantinha um sorriso divertido em seus lábios. Ao abri-la, Lia solta uma gargalhada, assustando tanto eu quanto Luisa.
Tá possuída? Ainda dá tempo de te mandar embora - lhe encaro enquanto Luísa se acalmava do susto que havia levado pela gargalhada repentina de Lia.
Na última vez que fui ao supermercado com Dulce, passamos pelo corredor dos laticínios…- a olhamos tentando entender o que de fato havia lhe feito rir daquela forma - nesse dia,Dulce havia me dito que, quando ela passava por aquele corredor acompanhada de uma amiga,a mulher virava para ela e dizia que,uma pessoa que compra um iogurte mais barato precisar beber o líquido todo para achar um mísero pedaço de morango, enquanto a pessoa que compra o mais caro, só de abrir o recipiente pode ver de cara o que tanto procuramos em um iogurte - de fato ela estava certa,mais vê-la se divertir com algo assim era meio estranho,pois se me lembro bem, Lia nunca riu de coisas assim,por mais engraçado que seja.
Você é estranha, está comprovado! - Era incrível a liberdade que Luísa estabeleceu com Lia,ambas agiam como se conhecesse a anos e fossem melhores amigas.
Gostava de ver a interação delas,o que me deixava aliviado em saber que enquanto minha menina ficasse aqui, seus dias seriam regados de conversa e animação com Luísa.
_ Sabe! - ficamos em silêncio e com feição séria ao ver Malia encarar o nada pensativa - as únicas pessoas que conseguiam o melhor de mim,eram Duce e Ricardo. Eram eles que substituíam a mulher que deveria agir como minha mãe…- ao me aproximar de Lia,vejo seus olhos se encheram de lágrimas enquanto um sorriso estava em seus lábios - sempre que chegava do colégio,as únicas pessoas que estavam me esperando eram eles. Nas reuniões sobre algum projeto novo eram eles que estavam presentes,nos momentos que mais precisei eram Ricardo e Dulce que estavam…- uma lágrima molha seu rosto a fazendo abaixar a cabeça - mas quando era para me castigar... não importavam o peso de suas palavras, não importava se elas estavam me destruindo ou não. Era sem dó e nem piedade. Em um dos dias onde ela havia me pegado na delegacia por corridas clandestinas…- ao vê-la sorrir amargamente,soube que Lorena havia lhe magoado de uma forma que nunca poderá ser perdoada.
Você não precisa se lembrar de nada disso, Lia. Agora você está com seu pai,tem a mim!
Ao contrário de Luísa, queria saber o que aquela v***a havia feito para minha filha, queria saber cada detalhe de sua vida enquanto estive afastado,porém quero que ela me conte por vontade própria, não por lhe pressionar.
Ela disse que devia ter me matado quando havia tempo,que se pudesse voltar atrás,a primeira coisa que faria, era dar um fim no ser que crescia em sua barriga e que nunca deveria ter nascido…- a puxo para um abraço enquanto Luísa deixa o pano de prato que segurava sobre a pia e se aproxima acariciando seus cabelos - vamos esquecer aquela mulher! Quero sair e me diverti,com vocês dois - assentimos ao vê-la limpar as lágrimas e nos olhar com seus olhos vermelhos.