Lorenzo
Estou de volta a Esmeralda e esperava não precisar mudar o meu estilo de vida, onde sempre estava rodeado de mulheres, mas desde que cheguei não tem sido desse jeito.
— Desde que voltei pra essa cidade, não saí de casa. — explique ao meu amigo de infância, Eric, pelo telefone.
— “Vamo” chegar junto ali num churrasco, cara.
— Que churrasco? — encolhi as sobrancelhas.
— Não sei. Minha irmã que tá indo. Ela não quis me contar direito. Parece que vai ser bom. Mulher sei que vai ter pra “nóis”. E eu tenho uns negócios pra animar todo mundo.
— Que tipo de gente você se tornou? — parei em frente ao espelho e verifiquei meus cabelos e barba. Impecáveis.
— Aquele que aproveita as oportunidades da vida. — ele respondeu todo corajoso. — Vai chegar junto?
— Claro. Mesmo que não tenhamos os convites, acredito que eu seja bem-vindo em qualquer canto desta cidade. A minha família é dona disso tudo.
Quero dizer, era.
— Você ainda é o mesmo i****a que se gaba do dinheiro que tem, né?
— Nunca foi problema pra mim. Passa aqui que eu pego uma carona. Não conheço mais essa cidade.
— “Falô”. — ele desligou o telefone.
Sair em Esmeralda… será que as pessoas aqui evoluíram? Que tipo de roupa eu devo usar para sair nas noites de Esmeralda? — encarei meu reflexo no espelho.
— Lorenzo? — minha mãe bateu na porta.
— Sim? — fui atendê-la. Ela estava sorridente, assim como está desde que voltei.
— Eu preparei um jantar pra gente. Convidei alguns amigos.
— Tenho outros planos, mãe. Eric me chamou pra sair. — lamentei.
— Eric? Você vai se misturar com esse rapaz? — ela parece não gostar da ideia.
— Por que a recusa? — voltei ao meu espelho e decidi que camisa polo não fica legal para esse evento aleatório. Na verdade, esse pedaço de vergonha estava enfiada no meu antigo guarda-roupas. Talvez eu vá com alguma camisa de linho. É mais arrumada, quente e essa cidade de noite é um pouco fria. — Pegue uma camisa de linho pra mim, por favor. — tirei a que usava.
Ela entrou no quarto e começou a procurar. — Ouvi dizer que ele viajou pra fora e voltou com aquelas coisas problemáticas, que passam no jornal…
— Drogas? — sorri olhando pra ela. A minha mãe ainda trata isso como algo tão proibido que não pode ser pronunciado. — Coisa mais normal da vida, mãe.
Ela arregalou os olhos para mim. — Não me diga que você usa isso?!
— Não. — evitei o infarto que ela aparentava estar prestes a fazer.
— Que bom. — ela me entregou a camisa. — Mas mesmo assim, não fique de amizade com esse menino. Ele não é bom pra você e nem para a nossa família.
— Pode ficar tranquila, mãe. — vesti minha camisa. — Eu não vou trazê-lo aqui.
Mas deixar a minha amizade por causa da minha mãe? Nunca.
Eu tenho idade para saber o que é bom e r**m para mim. Só estou nessa casa a passeio.
— Você é sempre teimoso, não é? — parecia desistir de mim.
— Sempre. — pisquei o olho e abotoei a minha nova camisa, que aliás estava bem cheirosa.
— Filho, eu sei que você quer curtir, é jovem… mas lembre-se do porquê você voltou. Eu quero que você dê orgulho ao seu pai. Que seja o melhor filho. — ela segurou meu rosto e acariciou as minhas bochechas.
— Não tem como ser diferente, mãe. Eu sou o único filho de vocês. — brinquei e ela soltou o meu rosto e assentiu, concordando com este fato.
— Mas se esforçar nunca é demais. — ela saiu do quarto. — Tenha cuidado ao sair.
— Combinado, Dona Nádia. — bati continência e sorri.
A minha mãe nunca vai deixar de me tratar como um inválido.
Uma buzina contínua gritava do lado de fora da nossa cara. Troquei a parte de baixo da minha roupa, rindo com isso. O Eric adora provocar a minha mãe porque ele já sabe como ela é. Ele não muda.
Deu três buzinadas e depois apertou a buzina sem parar.
Terminei de me ajeitar, passei um perfume e saí correndo. A minha mãe estava surtando na sala, na companhia das amigas dela e uma jovem bonita.
— Tô indo! — corri e saí da casa.
Ele estava com um carro de teto solar. Levantou dentro do carro e deu um tchau. — Simbora, Lorenzoooo.
— Maldito, barulhento. — fui rindo até o carro.
Ele saiu e veio me dar um abraço. — Quanto tempo, cara!
— Eu nem te reconheço com esse tanto de tatoo. Parece um caderno rabiscado. — saí do abraço e olhei para seus braços.
— As novinhas gostam. — ele garantiu e rimos, entrando no carro.
— Você anda pegando geral em Esmeralda? — fechei a porta do passageiro e ele ligou o carro.
— Digamos que eu sou o dono dessa cidade.
Eu gargalhei. — Quem te iludiu? Essa cidade é da minha família.
— Tá bom… Você quem anda iludido. Tem mais isso de família não, brother. — ele passou a marcha e deu um cavalo de p*u no jardim da minha casa. Imaginei a grama da minha mãe.
— Minha mãe vai ficar p**a.
— E você acha que é porque que eu “tô” fazendo isso? — ele dirigiu reto dessa vez.
Não tem como não gostar dessa cruz.
— Aonde a gente vai?
— “Vamo” na casa de uma amiga da minha irmã.
— Solteira? Você a pega?
Não posso chegar desavisado.
— Solteira, mas eu pego não. Eu não me interesso por mulher muito quieta. Gosto de mulher assanhada.
— É bonita pelo menos? — fiquei olhando a cidade. Naquele horário não tinha movimento na rua.
— Muito. Mas eu não me importo com beleza, brother. Eu me importo quando a química rola. Tá ligado?
— Bandidão e ainda romântico… — esnobei.
— Minha profissão não define meu caráter.
Eu olhei pra ele e gargalhei. — Me conta que profissão é essa. Dá dinheiro?
— Cara. Quando eu voltei pra cá, a galera não sabia o que era uma folha de maconha, quem dirá outras drogas. Agora eu mando nessa cidade. Passo pra todo mundo.
— E não tem concorrência?
— Concorrência? — ele franziu o cenho. — “Cê” é louco? Quem vai ter coragem de fazer isso? Aí meu meto o loco.
Ri de preocupação.
— Então não tem ninguém querendo te matar não. Não é?
— Ainda não. — deu um sorrisinho malandro.
Totalmente desaprumado.
Passamos por uma rua e uma garota andava sozinha na rua parada. Um mulherão de vestido amarelo e cabelos soltos.
— Dirige devagar. — apertei o braço do Eric e ele obedeceu. — Quem é essa mina?
— Essa aí?... — ele esticou o pescoço para o meu lado. A gente conseguiu ver o rosto dela. — Essa aí é a Helena. Lembra dela? Gente boa pra caramba. Amiga da minha irmã. Praticamente minha irmã.
Porra, que mulher bonita! Ela tem uma confiança enquanto anda. Toda charmosa…
— Será que ela vai estar lá aonde a gente tá indo?
— Sei não. Deve estar. Elas têm uma quadrilha de alcoólatras. — ele desviou para outra rua.
— Aonde a gente tá indo? A mina foi pro outro lado! — procurei não a perder de vista.
— Vou abastecer o carro.
— Fodido…
— Relaxe, que você vai ter muito tempo pra ver a Leninha. — ele abriu um sorriso pretensioso. — Ei, não era você que quando criança era apaixonado por ela?
Puxei na memória. Acho que me lembro de alguma coisa. Ela era a garota que falava com todo mundo.
— Quem não era? Ela tem alguma coisa que chama a atenção de todo mundo.
— É que ela é gente boa. Muito carismática. Nunca faz cara feia pra ninguém e tem um sorriso bem bonito.
— Você também era apaixonado por ela? Ou é? — olhei pro vagabundo.
— Não, não. — ele falou tranquilo. — Ali é uma irmãzona pra mim. Ela e o Bernardo são como irmãos.
— Acho bom. — cruzei meus braços. — Porque contra mim você não tem chances.
Ele parou no posto e ficou rindo.
— Você pode até ficar com ela uma vez, mas não se iluda que ela vai querer um futuro contigo. Rico, esnobe, egoísta… E nem ouse fazer ela sofrer.
— Que tipo de amigo você é? — me ofendi pelas palavras.
Ele entregou a chave para o rapaz do posto e mandou colocar 50. — Um amigo de verdade. Que te fala a verdade.
— o****o. — ri com desdém.
A Helena não vai só querer ficar uma vez comigo, ela vai querer ser minha namorada e até pensar em casamento.
Quando eu era criança, era feinho, estudava na escola pública, mas não tive chances de conquistar a Helena. Mas agora, não tem mulher que resista ao meu charme.
Depois de uns minutos esperando o abastecimento, voltamos ao caminho da festa. Helena estava bem a frente, só um pontinho amarelo a distância e Eric dirigia devagar. Havia um cara na rua, andando no mesmo lado que a Helena e esticando o pescoço para a frente.
— Que cara esquisito.
Eric não olhou. Ele estava concentrado na direção.
Esse cara está tentando ver aonde a Helena vai.
“Será que tá seguindo-a?”
— Nessa cidade tem psicopatas?
— Ahn? Eu? Não.
Falar com o Eric do pensamento longe é o mesmo que falar sozinho.
Passamos pelo homem e eu olhei para a cara dele. Ele estava andando bem rápido para quem deveria estar tranquilo.
Helena sumiu.
Um carro passou por nós e parou mais à frente.
— É o carro da minha irmã. — ele freou bruscamente. Quase bati a testa. — Bora esperar um instante, senão a minha irmã vai achar que estamos a seguindo.
Olhei para ele, desacreditado. — E ainda se diz dono da cidade…