3 - Revendo Helena e o dono da cidade

1700 Words
Lorenzo Estou de volta a Esmeralda e esperava não precisar mudar o meu estilo de vida, onde sempre estava rodeado de mulheres, mas desde que cheguei não tem sido desse jeito. — Desde que voltei pra essa cidade, não saí de casa. — explique ao meu amigo de infância, Eric, pelo telefone. — “Vamo” chegar junto ali num churrasco, cara. — Que churrasco? — encolhi as sobrancelhas. — Não sei. Minha irmã que tá indo. Ela não quis me contar direito. Parece que vai ser bom. Mulher sei que vai ter pra “nóis”. E eu tenho uns negócios pra animar todo mundo. — Que tipo de gente você se tornou? — parei em frente ao espelho e verifiquei meus cabelos e barba. Impecáveis. — Aquele que aproveita as oportunidades da vida. — ele respondeu todo corajoso. — Vai chegar junto? — Claro. Mesmo que não tenhamos os convites, acredito que eu seja bem-vindo em qualquer canto desta cidade. A minha família é dona disso tudo. Quero dizer, era. — Você ainda é o mesmo i****a que se gaba do dinheiro que tem, né? — Nunca foi problema pra mim. Passa aqui que eu pego uma carona. Não conheço mais essa cidade. — “Falô”. — ele desligou o telefone. Sair em Esmeralda… será que as pessoas aqui evoluíram? Que tipo de roupa eu devo usar para sair nas noites de Esmeralda? — encarei meu reflexo no espelho. — Lorenzo? — minha mãe bateu na porta. — Sim? — fui atendê-la. Ela estava sorridente, assim como está desde que voltei. — Eu preparei um jantar pra gente. Convidei alguns amigos. — Tenho outros planos, mãe. Eric me chamou pra sair. — lamentei. — Eric? Você vai se misturar com esse rapaz? — ela parece não gostar da ideia. — Por que a recusa? — voltei ao meu espelho e decidi que camisa polo não fica legal para esse evento aleatório. Na verdade, esse pedaço de vergonha estava enfiada no meu antigo guarda-roupas. Talvez eu vá com alguma camisa de linho. É mais arrumada, quente e essa cidade de noite é um pouco fria. — Pegue uma camisa de linho pra mim, por favor. — tirei a que usava. Ela entrou no quarto e começou a procurar. — Ouvi dizer que ele viajou pra fora e voltou com aquelas coisas problemáticas, que passam no jornal… — Drogas? — sorri olhando pra ela. A minha mãe ainda trata isso como algo tão proibido que não pode ser pronunciado. — Coisa mais normal da vida, mãe. Ela arregalou os olhos para mim. — Não me diga que você usa isso?! — Não. — evitei o infarto que ela aparentava estar prestes a fazer. — Que bom. — ela me entregou a camisa. — Mas mesmo assim, não fique de amizade com esse menino. Ele não é bom pra você e nem para a nossa família. — Pode ficar tranquila, mãe. — vesti minha camisa. — Eu não vou trazê-lo aqui. Mas deixar a minha amizade por causa da minha mãe? Nunca. Eu tenho idade para saber o que é bom e r**m para mim. Só estou nessa casa a passeio. — Você é sempre teimoso, não é? — parecia desistir de mim. — Sempre. — pisquei o olho e abotoei a minha nova camisa, que aliás estava bem cheirosa. — Filho, eu sei que você quer curtir, é jovem… mas lembre-se do porquê você voltou. Eu quero que você dê orgulho ao seu pai. Que seja o melhor filho. — ela segurou meu rosto e acariciou as minhas bochechas. — Não tem como ser diferente, mãe. Eu sou o único filho de vocês. — brinquei e ela soltou o meu rosto e assentiu, concordando com este fato. — Mas se esforçar nunca é demais. — ela saiu do quarto. — Tenha cuidado ao sair. — Combinado, Dona Nádia. — bati continência e sorri. A minha mãe nunca vai deixar de me tratar como um inválido. Uma buzina contínua gritava do lado de fora da nossa cara. Troquei a parte de baixo da minha roupa, rindo com isso. O Eric adora provocar a minha mãe porque ele já sabe como ela é. Ele não muda. Deu três buzinadas e depois apertou a buzina sem parar. Terminei de me ajeitar, passei um perfume e saí correndo. A minha mãe estava surtando na sala, na companhia das amigas dela e uma jovem bonita. — Tô indo! — corri e saí da casa. Ele estava com um carro de teto solar. Levantou dentro do carro e deu um tchau. — Simbora, Lorenzoooo. — Maldito, barulhento. — fui rindo até o carro. Ele saiu e veio me dar um abraço. — Quanto tempo, cara! — Eu nem te reconheço com esse tanto de tatoo. Parece um caderno rabiscado. — saí do abraço e olhei para seus braços. — As novinhas gostam. — ele garantiu e rimos, entrando no carro. — Você anda pegando geral em Esmeralda? — fechei a porta do passageiro e ele ligou o carro. — Digamos que eu sou o dono dessa cidade. Eu gargalhei. — Quem te iludiu? Essa cidade é da minha família. — Tá bom… Você quem anda iludido. Tem mais isso de família não, brother. — ele passou a marcha e deu um cavalo de p*u no jardim da minha casa. Imaginei a grama da minha mãe. — Minha mãe vai ficar p**a. — E você acha que é porque que eu “tô” fazendo isso? — ele dirigiu reto dessa vez. Não tem como não gostar dessa cruz. — Aonde a gente vai? — “Vamo” na casa de uma amiga da minha irmã. — Solteira? Você a pega? Não posso chegar desavisado. — Solteira, mas eu pego não. Eu não me interesso por mulher muito quieta. Gosto de mulher assanhada. — É bonita pelo menos? — fiquei olhando a cidade. Naquele horário não tinha movimento na rua. — Muito. Mas eu não me importo com beleza, brother. Eu me importo quando a química rola. Tá ligado? — Bandidão e ainda romântico… — esnobei. — Minha profissão não define meu caráter. Eu olhei pra ele e gargalhei. — Me conta que profissão é essa. Dá dinheiro? — Cara. Quando eu voltei pra cá, a galera não sabia o que era uma folha de maconha, quem dirá outras drogas. Agora eu mando nessa cidade. Passo pra todo mundo. — E não tem concorrência? — Concorrência? — ele franziu o cenho. — “Cê” é louco? Quem vai ter coragem de fazer isso? Aí meu meto o loco. Ri de preocupação. — Então não tem ninguém querendo te matar não. Não é? — Ainda não. — deu um sorrisinho malandro. Totalmente desaprumado. Passamos por uma rua e uma garota andava sozinha na rua parada. Um mulherão de vestido amarelo e cabelos soltos. — Dirige devagar. — apertei o braço do Eric e ele obedeceu. — Quem é essa mina? — Essa aí?... — ele esticou o pescoço para o meu lado. A gente conseguiu ver o rosto dela. — Essa aí é a Helena. Lembra dela? Gente boa pra caramba. Amiga da minha irmã. Praticamente minha irmã. Porra, que mulher bonita! Ela tem uma confiança enquanto anda. Toda charmosa… — Será que ela vai estar lá aonde a gente tá indo? — Sei não. Deve estar. Elas têm uma quadrilha de alcoólatras. — ele desviou para outra rua. — Aonde a gente tá indo? A mina foi pro outro lado! — procurei não a perder de vista. — Vou abastecer o carro. — Fodido… — Relaxe, que você vai ter muito tempo pra ver a Leninha. — ele abriu um sorriso pretensioso. — Ei, não era você que quando criança era apaixonado por ela? Puxei na memória. Acho que me lembro de alguma coisa. Ela era a garota que falava com todo mundo. — Quem não era? Ela tem alguma coisa que chama a atenção de todo mundo. — É que ela é gente boa. Muito carismática. Nunca faz cara feia pra ninguém e tem um sorriso bem bonito. — Você também era apaixonado por ela? Ou é? — olhei pro vagabundo. — Não, não. — ele falou tranquilo. — Ali é uma irmãzona pra mim. Ela e o Bernardo são como irmãos. — Acho bom. — cruzei meus braços. — Porque contra mim você não tem chances. Ele parou no posto e ficou rindo. — Você pode até ficar com ela uma vez, mas não se iluda que ela vai querer um futuro contigo. Rico, esnobe, egoísta… E nem ouse fazer ela sofrer. — Que tipo de amigo você é? — me ofendi pelas palavras. Ele entregou a chave para o rapaz do posto e mandou colocar 50. — Um amigo de verdade. Que te fala a verdade. — o****o. — ri com desdém. A Helena não vai só querer ficar uma vez comigo, ela vai querer ser minha namorada e até pensar em casamento. Quando eu era criança, era feinho, estudava na escola pública, mas não tive chances de conquistar a Helena. Mas agora, não tem mulher que resista ao meu charme. Depois de uns minutos esperando o abastecimento, voltamos ao caminho da festa. Helena estava bem a frente, só um pontinho amarelo a distância e Eric dirigia devagar. Havia um cara na rua, andando no mesmo lado que a Helena e esticando o pescoço para a frente. — Que cara esquisito. Eric não olhou. Ele estava concentrado na direção. Esse cara está tentando ver aonde a Helena vai. “Será que tá seguindo-a?” — Nessa cidade tem psicopatas? — Ahn? Eu? Não. Falar com o Eric do pensamento longe é o mesmo que falar sozinho. Passamos pelo homem e eu olhei para a cara dele. Ele estava andando bem rápido para quem deveria estar tranquilo. Helena sumiu. Um carro passou por nós e parou mais à frente. — É o carro da minha irmã. — ele freou bruscamente. Quase bati a testa. — Bora esperar um instante, senão a minha irmã vai achar que estamos a seguindo. Olhei para ele, desacreditado. — E ainda se diz dono da cidade…
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