Capítulo 1

1545 Words
Yve de Paula... Eu entrei na universidade cheia de sonhos e metas, dentro da graduação a maioria dos professores nos põe na realidade. Sempre tinha um para dizer: Vocês entram aqui merda nenhuma, e saem daqui pouca merda. Só a graduação não vai lhe levar a lugar algum. Foi por esses conselhos que me preparei para o mercado de trabalho. Não queria chegar aos 30 como uma fracassada. Pós, NBA e mestrado. Falo inglês, mandarin e dou aquela manjada em espanhol. ¿Quién no hablas un tantito del portuñol? Me enchi de esperança quando pleiteei uma vaga de supervisor(a) na empresa Beleza Black. Afinal, o meu colega de classe, Robson Rangel, conseguiu uma vaga de assessor da presidência apenas com a graduação. Meu currículo acadêmico, era mil vezes melhor que o dele. Eu passei em todas as etapas. Bem, quase todas, só faltava uma. A entrevista com o CEO da Beleza Black. O homem gostava de conversar com todos os colaboradores que seriam contratados para a área de estratégia da organização. Era um ponto bastante positivo, se cria uma relacionamento de comando hierárquico. Para o dia da entrevista, investir em um terninho. Nem era um dinheiro que poderia gastar. Mas valeria a pena, Calça social, blusa rolê colete e blazer, tudo na cor marrom, somente a blusa na cor marfim para dar uma quebrada. Pela chamada de vídeo minha irmã disse que era cor de merda, por ela eu vestiria algo vermelho. Nada de maquiagem, fiz um coque prendendo todo meu Black dando um ar ainda mais formal. Sai de casa confiante que não teria ninguém melhor que eu para vaga. Poderia ter igual, melhor não. Já na sala de espera, antes da entrevista com o poderoso chefão, achei super estranho quando tinham somente duas mulheres contando comigo,os demais dos sete candidatos eram homens. Em média a entrevista estava durando entre 15 e 20 minutos, até que a única mulher além de mim, foi chamada para entrar e saiu de lá apenas em dois minutos e aos prantos. Cheguei a cogitar que aquela mulher foi tratar de outro assunto que não teria nada a ver com a vaga. Após mais um candidato, finalmente chegou minha vez. A secretária, uma loira alta, com um vestido midi colado em um tom azul Royal, abre a porta para mim. A sala é muito bem planejada com móveis na cor mogno, sobre um carpete grosso na cor vermelho cravado com o nome Beleza Black. O homem n***o e robusto, estava sentado a cadeira ergométrica mexendo um ofício sobre a madeira, bem ao lado de uma placa dourada escrita Arthur Ribeiro. Fui andando até a mesa e lhe cumprimentei com um bom dia, que não foi correspondido.Puxei a cadeira de frente para ele e iria me sentar. No mesmo instante, fui interrompida por sua voz preenchendo o ambiente. — Não falei que podia. — Discorre sem olhar para mim. — Perdão senhor! — Respondo constrangida e ponho a cadeira no lugar. — Excelente currículo, senhorita Yve Rosendo de Paula! — Ele exclama e eu me empolgo. — Posso lhe indicar para uma vaga de supervisão de um de nossos institutos de beleza. No mesmo instante, minha face de sorriso pelo elogio da minha formação acadêmica se dissipou. — Obrigada senhor! Contudo, sou uma seguidora desta organização como um todo e sei que o cargo de supervisão dos institutos não cabe as minhas competências. São supervisoras de procedimentos estéticos, o senhor pode constatar que toda minha formação está voltada para área de sistema de informação gerencial. Sem olhar para mim,ele continua a grifar de verde fluorescente um currículo que não era o meu. — E quando tiver filhos? — Como? — Realmente não entendi aquela pergunta. — Filhos, a senhora sabe o que são filhos creio eu. — Deus do céu que homem arrogante. — Sim senhor, minha cabeça não está focada em filhos no momento. Meu foco é total no profissional. E finalmente ele olhou para mim. — Sim, mas pode sair daqui agora e no ônibus com o cara que sentar ao seu lado, mudar esse foco. Mulheres sempre estão abertas aos sentimentos. E depois disso, são oito meses no mínimo que perco de análise de uma importantíssima parte da empresa. Supervisão de estética qualquer um aprende. Agora o meu analista de SiG não posso me dar ao luxo de ficar sem ele mais que trinta dias. Por favor obrigado pela sua presença, já que não lhe interessa a vaga em nossos institutos,pode se retirar e peça para o último entrar. Era surreal o que estava ouvindo, me virei atônita rumo a saída, cheguei a segurar na maçaneta da porta e entre abrir alguns centímetros, mas voltei a fechar e regressei me pondo novamente de frente para o homem. — Deixa eu vê se entendi bem, o senhor está me escorraçando porquê tenho útero? — Precisava esclarecer essa história com o misógino a minha frente. — Se vai chorar igual a última que saiu, a toalha de papel fica no banheiro, essa porta atrás de você à direita. — Sem olhar para mim novamente, ele aponta na direção do cômodo. — Sabe quem não é qualificado para está nessa cadeira? — Ele me olha. — O senhor. Como pode avaliar uma pessoa por ela usar vestido e maquiagem. Naquele momento o homem n***o tinha um olhar inquisidor e coercitivo.Escaneou todo o meu corpo muito bem coberto pelo terninho. — Se tivesse vindo de vestido e maquiada, talvez eu tivesse outra vaga para lhe indicar. — Ele fala de maneira que beira obscenidade. — Mas não, vestida assim não poderia ser minha secretária. — Você não passa de um i****a! — Saia da minha sala, por favor, não me faça perder mais tempo. E essa foi a minha pior experiência em um processo seletivo. Ainda tive muitas portas na cara, mas nenhuma espancou o meu nariz como fez Arthur Ribeiro, o CEO da Beleza Black. Dois anos depois que um vírus maldito assolou o mundo e a escassez de emprego se tornou pior. Tive que parar de sonhar com um emprego dentro da minha realidade acadêmica. E aonde vim parar? No chão de fábrica da Beleza Black, sou auxiliar de produção. Por sorte, colaboradores de nível 4 como eu,não precisam de ter entrevista com a gestão. Para manusear maquinário, fazendo movimentos repetitivos até contrair uma LER, não é necessário o aval de nenhum pulha, misógino e arrogante. Estava em mais um final de expediente, derrotada, esgotada e vejo o Robson o meu amigo da faculdade que conseguiu o emprego de assessor nestas digníssima empresa, aquele com um currículo inferior ao meu. Ter um saco escrotal garantiu a ele habilidades necessárias para conseguir a vaga. Ele vinha pelo corredor e antes que eu entrasse no vestiário, Robson me chamou. — Yve espera. Eu bufei, ao mesmo tempo que debrucei meu rosto sobre o braço na parede. O que ele queria agora no final do meu expediente? — Fala Rob. — Está a fim de ganhar um extra? — Não.Nem adianta que não irei me ferrar naquela caldeira fazendo hora extra para ganhar mais 35 reais no meu salário. — Não é na caldeira, é de acompanhante. — O quê! — Nem que eu perdesse o meu emprego, mas iria enfiar minha mão na cara desse abusado. — Olha aqui Robson… — Ei…! Ei…! Ei…! Não é esse tipo de acompanhante que você está pensando. Apesar das maiorias delas aceitarem a proposta quando os magnatas se interessam. — Explica que não estou entendendo. — Um executivo precisa de uma mulher bonita para acompanhar ele até um jantar de negócios chic. Ele tinha já uma programada, mas a mulher adoeceu e a única mulher que conheço educada e gos… bonita é você, mesmo se disfarçando de feia. — Minha resposta é não. Primeiro, não tenho roupa adequada, segundo meu cabelo está um lixo, terceiro que mesmo não sendo aquele tipo de acompanhante,o engraçadinho pode tentar alguma coisa e eu irei perder meu emprego. Pois comigo não irá arrumar nada. Logo após a negativa, tentei mais uma vez me enfiar no vestiário, mas o Robson não parava de falar. — Sobre a roupa, eu iria te pagar agora e você pode comprar uma cara e de grife. O cabelo, vou ligar para um de nossos institutos para que tenha carta branca no que quiser de serviço e sobre o não para o cara, caso ele queira algo mais. Não precisa e nem deve dizer que trabalha aqui. — Ok de quanto estamos falando? — De 3.500. — O quê! Esse valor é quase o dobro do que ganho aqui em trinta dias de trabalho infernal. Vão me pagar mais de três mil só para sentar em um restaurante chic e ouvir homens falar de negócios e se gabarem de quem tem o p***o maior? — Não somos assim! Quero dizer, somos sim.Isso quer dizer que aceita? — Pergunta empolgado. — Quem é o executivo? — Rachuribeiro… — Robson tosse e limpa a garganta. — Quem? Não deu para entender. Ele enfia a mão fechada na frente da boca, como se fosse tossir novamente. — Rachuribeiro! — Fala direito homem, não está dando para entender. — Arthur Ribeiro...! — Não, ele não. Desiste… Ele nunca
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