Capítulo 3

1884 Words
Yve de Paula... Seria tentador, mas com Arthur Ribeiro nunca. Já não chega ter que aturar seu discurso hipócrita no final de ano. Mesmo que a distância, tinha raiva só de ouvi-lo. — Motorista tem como dar uma paradinha na próxima esquina por favor? — Peço mesmo sabendo que é errado, mas o cansaço me consumia e não custaria nada ao piloto. — O ponto é mais à frente moça, só posso parar nele. — Grosso. Na verdade o motorista não é grosso, só estava fazendo seu trabalho correto. A s*******o sou eu, o cansaço do trabalho naquela fábrica me faz ficar assim. Para completar a labuta, o termo "sardinha enlatada" faz jus toda vez que preciso desembarcar do ônibus. Sempre procuro os assentos mais próximos da porta, mesmo assim é inevitável um sarrar de bundas com bundas. Na caminhada até minha casa, voltei a pensar na proposta que o Rob me fez e só vinha minha cabeça que poderia ser com outra executivo, não com Arthur misógino Ribeiro. O cash seria bem-vindo, aturar aquele ser, é que não. Entrei em casa e veio a visão da atoa da Eva como sempre despojada no sofá, assistindo série. Olhei a minha direita na direção da cozinha e a louça até o teto. — Está esperando a janta para lavar? Claramente a louça do café da manhã e almoço estão ali. — Eu chego reclamando, pois realmente não dava para aturar esse tipo de coisa tranquila. Ela me olha com cara de poucos amigos, se achando na razão. — Já irei lavar chefe. — Responde petulante. — Agora estou descansando. Tive que soltar um sorriso sarcástico. — Descansando! De que? De ficar no paraíso Eva, quer uma maçã? Sem um pingo de vergonha na cara, Eva me dá outra resposta atravessada. — Ao invés de se preocupar com a minha vida, porque não vai ver o Jader? Minha mãe passou a tarde toda dentro de um posto médico com seu filho. Ao ouvir, larguei ela na sala e fui para o meu quarto. Assim que entrei de corrida minha mãe pois o indicador sobre a boca pedindo silêncio. Ela se levantou da beira da cama onde meu rapazinho dormia sereno e foi me empurrando para fora do quarto. Nossa casa era simples e pequena, ao menos haviam dois quartos. Eu divido o menor com meu filho e a minha mãe dividi o outro com a minha irmã. Querendo falar em particular, dona Irene me guiou até seu quarto e entramos para conversar. — Novamente as dores estomacais? Pergunto adiantando o processo. — Sim, não fica com essa cara que agora ele está bem, a medicação na veia é alívio quase que instantâneo. — Deveria ter me avisado mãe. — Para quê?! só pelo prazer de lhe deixar nervosa? Combinamos, você trabalha e Eva e eu cuidamos da casa e do Jader.— Na verdade quis dizer eu trabalho e a senhora cuida de todo o resto né? Pois Eva é uma inútil, a senhora teve que sair hoje de tarde, tem louça até o teto na pia e ninguém fazendo a janta. Despejo toda minha indignação em palavras, era um absurdo uma mulher de 25 anos não querer nada da vida como a Eva. Meu pai tinha que está vivo para ver a obra prima dele. Engravidei aos 16 anos e ele me pôs para fora de casa. Sempre fez questão de jogar na minha cara que enquanto eu embalava criança, minha irmã seria doutora. "E advinha quem está perto do doutorado?" — Filha não esquenta a cabeça com Eva, deixa que com ela eu me entendo. Realmente eu tinha coisas muito mais importantes com o que me preocupar, do que com a cara de p*u da minha irmã. — E a bendita endoscopia com biópsia conseguiu marcar mãe? — Ainda não tem vaga filha, mas eu tive uma ideia. — Puxei a cadeira do gabinete da costura que ficava entre as camas de solteiro e me sentei para ouvir. — Tive pesquisando sobre um plano de saúde de razoável para bom. Na idade do Jader, custa menos que R$200. Se a gente parar de pagar a prestação da TV, tem como pagar o plano. No mesmo momento tratei de discordar. — Seu nome vai negativar mãe. Além do mais, esses planos costumam ter carência e dependendo do tempo é melhor esperar o SUS. — Pouco me importo com o nome, a saúde do meu neto é o mais importante agora. Pesquisei,para fazer esse exame que o Jader necessita, são três meses de carência e para consulta com gastro infantil são apenas 30 dias. — Nesse caso realmente vale a pena. — Confirmo. — O bichinho está 7 meses esperando esse exame pelo SUS e o gastro só temos a cada 90 dias. — Isso quer dizer que minha ideia está aprovada? — Em parte, não acho que a senhora deva sujar seu nome. Talvez eu tenha a solução para quitar a TV e ainda adiantar uns boletos do plano de saúde. — Como? — Minha mãe franze o cenho e pergunta curiosa. — Depois explico a senhora mãe. Se eu quiser que dê certo, preciso me apressar. Na frente da minha mãe, retiro o celular do bolso e começo a procurar o contato do Rob na agenda. A situação era necessária, engoliria meu orgulho e se ainda desse tempo, aceitaria a proposta do Rob. Como meu colega disse, me arrumo de Betty, a feia e com certeza aquele imbecill não irá me conhecer, mesmo porque nos falamos diretamente apenas uma vez. O celular do Rob estava dando segunda linha, eu iria desligar, odeio quando estou falando com alguém ao telefone e uma terceira pessoa insiste em outra chamada. Surpreendentemente ele atendeu antes que eu encerrasse a chamada. "Se está me ligando é porque vai aceitar minha proposta." Fala empolgado. "Sim, mas tenho condições." "Manda." "Quero mais quinhentos, para fecharmos em 4 mil. Total liberdade para usar o salão hoje e amanhã, como tem pouco tempo para me arrumar, hoje só irei descolorir as pontas do Black e hidratar, amanhã volto para fazer os demais procedimentos." "Mas que mulher exigente!" "Não quero que diga jamais quem eu sou de verdade." "Disso você pode ter certeza. Se Arthur Ribeiro descobre que uma de suas modelos ostentação, mora na Penha e na verdade é auxiliar de produção na fábrica dele, nós dois estamos no olho da rua." "Imagino. O nome não iremos mentir de todo. Diz que me chamo Paula Rosendo. E não se esqueça de dizer a ele, que não faço programa." "Nenhuma delas fazem, são apenas acompanhantes." Responde cínico. "Sei, claro." "Se apressa, não esqueça tem que ser sexy e elegante, não vai aparecer de super executiva tapando sua... seu... seus atributos." "Serei sexy, mas não preciso amostrar meu peitoo e minha b***a para isso." "Se você diz. Aonde o Chefe pode te pegar as 20hs?" "20hs! Tenho um pouco mais que duas horas para fazer o cabelo e comprar um vestido. É quase impossível." "Se tivesse aceitado minha proposta antes, teria mais tempo." Ele reclama. "Vamos fazer assim, vou para o instituto agora já tomada banho. Enquanto faço meu cabelo, escolho a roupa pelo aplicativo de mensagem, passo no shopping e pego a roupa e a visto lá mesmo e seu "Si Ou" me pega no estacionamento as 20:30hs" "Não, tem que ser as 20hs." "As 20hs não consigo, melhor chamar outra." "Não... está certo. As 20:30hs, não se atrase." Ele me alerta. "Se caso atrasar o homem vai ficar azedo." "Tudo bem! Agora faz o pix." Quando desliguei a chamada minha mãe tinha uma expressão de espanto olhando para mim. — Não é nada do que a senhora está pensando. — Eu ouvi e entendi, mas você acha mesmo que seu chefe não irá tentar forçar a barra. — Se ele for um estuprador, não irei relutar para continuar com vida e depois o jogo na cadeia. Se ele não for, quantas vezes Arthur Ribeiro tentar, eu direi não e tudo certo. O barulhinho que eu precisava ouvir tocou no celular, mostrando que o pix chegou. Amostrei para minha mãe feliz da vida. No final ainda posso curtir um pouco da cara do meu chefe. Estava começando a gostar dessa história. Fui para o banheiro tomar banho, pus um vestido de tecido molinho, assim ficaria fácil dobrar e pôr na bolsa quando eu me trocar no shopping. Calcei o scapin camurça, tinha que rezar para Eva não estar na sala quando for passar, pois ela criará caso por eu está calçada do seu sapato novo. A egoísta não entenderia que é menos um dinheiro que não precisarei gastar, vou comprar uma roupa que combine com o scarpin dela. Chamei o motorista de app, por sorte quando apontou na tela que o carro estava na minha rua, Eva se encontrava no quarto, assim consegui sair sem que ela visse. Cheguei no shopping, o bom é que para o qual eu vim, tem uma unidade do instituto beleza e foi lá que fiz um clareamento nas pontas do black e a mais cara da hidratação da qual eles tem a oferecer. O Beleza Black, oferece quase todos os serviços de beleza, isso já ajudou que eu saísse do instituto maquiada e de unha feita, além do cabelo pra lá de perfeito. Passei na boutique, o macacão off light que escolhi e paguei pelo app de mensagem, já se encontrava devidamente passado. Solícita, a vendedora veio me ajudar até o biombo. De frente, a peça era apenas elegante, corte de primeira e se encaixava perfeitamente no meu corpo. A extravagância do macacão era na parte de trás, o decote que possuia chegava até o meu cóccix, deixando minhas costas completamente nua. A vendedora tinha bom gosto, pedi um colar desses estilos africanos bem pesado para dar um contraste na cor neutra do macacão. A mulher trouxe o que pedi, porém me veio com outra opção que gostei mais, um colar com um pingente nas costas, na parte da frente era uma gargantilha bem rente ao pescoço. Escolhi o pingente de letra P e finalmente estava pronta. Fui andando pelo shopping apressada, Rob me mandou diversas mensagens o "Si Ou", estava impaciente me aguardando no estacionamento, apenas me atrasei cinco minutos, "o que são cinco minutos?" Ok até eu chegar lá, serão dez. Ele que aguarde na disciplina, ou vá embora. A minha parte cumpri e o dinheiro não terá de volta. Ainda me fará um favor me poupando de sua insuportável presença. Finalmente peguei o elevador que me deixaria no estacionamento VIP, assim que a porta de metal se abriu, dei de frente com Arthur e sua arrogância. Ele estava a uns cem metros de mim, falava ao celular, poderia apostar que era com o Rob. Ao me aproximar, ele pôs o aparelho no paletó. Ao invés de entrar no carro e partir para o compromisso que tinha pressa, ficou parado me olhando com uma expressão feroz. — Boa noite! — Tentei quebrar o gelo. — Não vai abrir a porta cavalheiro?" — Boa noite, nossa! Tempos uma dama a moda antiga.— Responde debochado. — Desculpa a falha, estou acostumado com as feministas dos tais direitos iguais, elas não ligam para esse tipo de tratamento.
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