CAPÍTULO 2

1849 Words
ETHAN PARKER Anos atrás... Quando somos crianças tudo o que queremos é ser um super-herói, ter o poder de voar, de se teletransportar de um lugar para o outro e era exatamente esse o poder que queria ter nesse momento... Um dos momentos mais desesperadores da minha vida, o momento em que meu coração está prestes a morrer... O momento em que a minha vida está à beira de um grande precipício... O momento em que mudaria todo o meu futuro e me quebraria de uma maneira que seria impossível de ser reconstruída novamente... O momento do meu fim. Paro o carro em frente a uma clínica que parece ser abandonada, desativada há muito tempo e desço correndo, desesperando para tentar impedir que uma loucura seja cometia. Mas ao entrar e ver a maneira que um dos meus homens me olha, sei que já é tarde demais e o pior já aconteceu. — Onde ela está? — pergunto indo até ele. — Sinto muito, senhor... — Onde aquela desgraçada está? Eu mesmo vou matá-la com as minhas mãos. — Quando chegamos aqui, ela já tinha conseguido escapar e o aborto já tinha sido feito. Chegamos tarde demais, senhor. Ela simplesmente sumiu, sem deixar rastros. Dou um passo para trás como se estivesse sido atingindo com força no estômago. — Eu quero ver. — Olho para ele que arregala os olhos e me encara como se eu fosse um louco. — Senhor, é melhor não passar por isso. — Eu não estou pedindo a p***a da sua opinião. Quero ver os restos mortais do meu filho e o médico filho da p**a que ajudou aquela v***a desgraçada a matar o meu bebê. Ele sabe que não adianta me questionar mais, pois não vou mudar de posição. — Me siga. Faço o que ele diz e o acompanho até uma sala. Quando ele abre a porta, vejo o médico sentado em uma cadeira ao lado de uma maca. Assim que me aproximo, vejo o que era para ser o meu filho e sinto o meu peito se rasgar. — Sinto muito, não tive escolha — o médico diz sem olhar para trás, sabendo o que vai acontecer com ele. — Sempre se tem uma escolha. — No meu caso, eu não tinha. Eles estavam com a minha filha, com uma arma apontada para a cabeça dela. Escolhi a vida da minha filha em vez da vida dos seus filhos. Eu vou para o lado dele e só assim, ele me encara. — Você disse filhos? — pergunto querendo não acreditar no que escutei. — Eram gêmeos, senhor Parker, e se quiser me matar agora sinta-se à vontade. Eu prefiro morrer agora a viver com o que eu fiz, mas escolhi a vida da minha filha. Pela primeira vez, em muitos anos, choro. Choro sentindo uma dor no peito que não imaginei ser possível sentir, é como se o meu coração estivesse sendo arrancado do meu corpo. — Eu não vou te matar, não vai ser preciso. Você mesmo vai fazer isso, se não quiser mais viver com essa dor na consciência que vai te consumir a cada dia da sua vida, que vai te sufocar todas as vezes que você olhar para o rosto da sua linda e preciosa filha, sabendo que matou os meus filhos em troca do sorriso dela. Não existe castigo pior do que esse. — Eu tiro a arma da cintura e a coloco em sua mão. Em seguida, vou até à maca ensanguentada com os pedaços dos meus filhos e dobro o lençol, os tirando de lá. Pelo menos, um enterro digno vou poder dar a eles. Quando me viro para sair, olho para o médico uma última vez e digo: — A sua vida agora está nas suas mãos. Saiba que você também acabou de destruir a vida de um homem. — Eu me viro e saio da sala sem olhar para trás. Quando chego na saída, escuto o som de um tiro. — O velho desgraçado tirou a própria vida — um dos meus homens diz como isso fosse o suficiente. — Tirou, mas isso não vai trazer a vida dos meus filhos de volta. — Eu sinto muito mesmo, senhor, que esteja passando por isso. Eu sei que suas palavras são verdadeiras. Enquanto tudo é providenciado para o enterro dos meus filhos, um exame de DNA é feito em tempo recorde. Eu nem sabia que isso era capaz de ser feito tão rápido assim, mas com dinheiro se consegue tudo e dinheiro é o que a minha família tem de sobra. Agora, eles já estão cientes da minha desgraça e não sairão do meu lado, principalmente, a minha mãe que nesse momento me nina em seu colo como se eu fosse uma criança desamparada. E é exatamente assim que me sinto, desamparado pela vida. Fui traído da pior maneira possível pela mulher que achava que me amava de verdade, mas eu não passava de mais uma missão para a desgraçada que me enganou direitinho. Estou me sentindo o pior de todos os homens, fraco e enganado, mas isso nunca mais vai acontecer, porque não entregarei o meu coração a uma mulher novamente. — O exame deu positivo, eles eram mesmo seus filhos, sinto muito, Ethan. Eu imagino a dor que está sentindo nesse momento. — Meu pai entra no quarto em que estou deitado no colo da minha mãe. — Um dia vou encontrá-la e a matarei, papai — digo com o ódio ardendo por cada fibra do meu ser. — A morte vai ser muito pouco para uma mulher que tem coragem de fazer o que ela fez, meu filho. Achei que tinha te ensinado direito. A verdade, é dois vamos fazê-la implorar pela morte no dia em que colocarmos as nossas mãos nela. As palavras do meu pai me dão força para não desistir de caçar a desgraçada por cada canto do mundo. Ela vai ter que dormir o resto da vida com os dois olhos bem abertos. Os meus pais não sabiam que estava me envolvendo com uma mulher, não a esse ponto. Eu sabia que eles nunca iriam aceitar nenhum relacionamento meu por causa do maldito acordo que eles tem com a família Jones. Mas, no meu momento de dor, eles ficam ao meu lado, afinal eram seus netos que foram mortos de uma forma c***l. — Eu não quero mais ouvir dizer no nome dessa mulher, e você, Ethan, vai voltar para casa hoje mesmo — minha mãe diz sem me dar chance de recusar. Mas eu não vou questioná-la, não agora, pois preciso de paz para conseguir me levantar novamente. — Temos que ir para o cemitério, está na hora. Eu não precisava fazer isso, os médicos consideravam os restos mortais dos meus filhos como material biológico que podiam ser descartados, mas eu não ia fazer isso. Eu era a p***a do pai deles e eles vão ser enterrados como meus filhos, afinal é o mínimo que posso fazer já que não consegui salvá-los. Se eu tivesse conseguido encontrar a desagrada antes dela fazer isso, a teria deixado amarrada os noves meses até que eles nascessem saudáveis e depois eu mesmo a mataria. Mas um dia eu ainda vou colocar as minhas mãos nela novamente. — Vamos acabar logo com isso. — É tudo o que a minha mãe diz, me fazendo levantar. *** Depois do que parece uma eternidade, finalmente cheguei em casa, no meu antigo quarto que está exatamente do jeito que deixei. Tiro a roupa, entro no banheiro e vou para embaixo da ducha que sai água gelada. É isso que preciso para fazer o meu corpo reagir, fazer a minha cabeça pensar, tentar colocar a minha vida nos eixos novamente. Depois que termino de tomar banho, visto um roupão e saio do banheiro, dando de cara com uma pessoa dentro do meu quarto, sentada na cama. Isso é a última coisa que preciso no momento, afinal não tenho tempo e nem paciência para tratar com ela no momento. — O que está fazendo aqui, Aline? Ela se levanta e me encara. — Amaya me contou o que aconteceu e sinto muito mesmo. Se tivesse me falado teria ido com vocês ao cemitério. Eu acabo sorrido, porque isso só pode ser mesmo uma piada de muito mau gosto. Aline Jones é uma das poucas pessoas que sabiam do meu caso, ela descobriu por que teve a brilhante ideia de me seguir um dia e não percebi nada. Ela ficou p**a de raiva nesse dia. — Será que dá para você sair do meu quarto, ou melhor, sair da minha vida e me deixar em paz de uma vez por todas, garota? Eu não suporto mais você atrás de mim, não quero essa p***a de compromisso, não quero esse casamento. Olha para você... Será que não se enxerga? É uma criança e sempre vai ser a p***a de uma criança aos meus olhos. Agora cai fora daqui e não apareça nunca mais na minha frente. Eu não queria que ela presenciasse a minha destruição, o quanto estou acabado. Preciso afastar essa menina da minha vida de uma vez por todas, ou ela será tomada pela mesma escuridão que me domina agora. Eu nunca vou poder ser o homem que ela merece, o homem que ela espera que eu seja, o marido que a faça feliz. Não sei quando foi que ela viu que poderia ter isso tudo de mim, já que nunca dei esperanças nenhuma a ela. — Eu posso ser uma criança ainda, Ethan, mas um dia eu vou crescer, vou me tornar uma mulher e você vai implorar para estar comigo... Aí, será a minha vez de te expulsar da minha vida. Eu acabo sorrindo. — É melhor esperar sentada, criança. Isso não vai acontecer. Ela se aproxima da porta e me olha uma última vez antes de sair. — Um dia, ainda vou ter forças o suficiente para desistir de você, Ethan, e aí será você que irá correr atrás de mim. Guarde bem a p***a das minhas palavras. Mas no dia que isso acontecer, vai ser tarde demais para nós dois. — Não espere nunca isso de mim, Aline. Agora, fora daqui. Ela sai batendo a porta com força, então vou até à mesinha de cabeceira e pego a abajur, o jogando na parede, furiosos. Será que essa menina não entende que estou a afastando da minha vida para o bem dela? Eu tenho que arrumar uma maneira de acabar com isso antes que ela se iluda mais com a possibilidade de um casamento no futuro. Eu nunca mais vou me envolver com uma mulher e não vou poder dar a ela a vida que sonha. Aline é uma garota mimada que sempre teve tudo o que quis na vida. Mas ela está enganada se pensa que sou o príncipe encantado dos seus sonhos. Eu sou agora um homem machucado, com uma ferida aberta que dificilmente irá cicatrizar um dia. Ela não pode ficar perto de mim... Ela merece muito mais.
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