CAPÍTULO 4

1125 Words
25 anos. Levi precisava entender se essa idade tinha alguma coisa importante na vida: ele poderia finalmente arranjar uma namorada, deveria se aposentar da bebedeira. Talvez devesse até pensar no futuro. — Onde vamos comemorar? Bianca se jogou no sofá ao perguntar. Seu cabelo longo caiu sobre os ombros. — Pode ser naquele boteco lá, tava gostoso e a garçonete era bem atenciosa — Izadora sugeriu, ajeitando as pernas no estofado, ao lado de Bianca. — Nem parece que eu não gosto de comemorar meu aniversário — disse Levi, olhando o celular como se não ligasse para a conversa. Bianca fez um sinal com a mão como se dissesse um “deixa disso”. — Eu não vou bancar esse. Comandas separadas. — Nada humilde você, hein — Pedro falou. — Rico que não ajuda os pobres. — Cala a boca que você troca de celular igual troca de cueca. Bianca olhou para Izadora, com seu olhar de julgamento. — Disseram as putinhas. Uma falando da outra, mas são duas putas burguesas. Alá, o iPhone de última geração — apontou a mão de Levi. — Saiu o 14 o Pedro vai correndo. — A maior verdade já dita. Levi encarou as duas. — Tô sem grana. Dei entrada no carro e as parcelas são pesadas, vocês já me faliram no começo do mês porque fiz uma aposta estúpida. — Você apostou um jantar por sua conta se o seu time ganhasse. — Eu tava doidão, c*****o — o canto de seus lábios curvaram, querendo rir da própria situação. — É tipo apostar com uma criança. — Verdade. Devíamos ter apostado o seu carro. Levi revirou os olhos. — Não estaria tão doido. — Que sem graça. — Enfim, comandas separadas, hoje à noite naquele bar lá — Levi se segurou para não suspirar. Não queria comemorar o aniversário. — Quem vai? — Os de sempre. Vou mandar mensagem no grupo avisando os outros. Ele assentiu, voltando a encarar a tela do celular. Haviam inúmeras mensagens de feliz aniversário no ** e no w******p. Assim que entrou no aplicativo de conversas outra vez, a segunda mensagem de sua mãe chegou. Paola já havia desejado feliz aniversário para ele exatamente no horário em que ele nasceu, o que Levi acha sempre uma graça. Mãeeee Estou te esperando pro almoço, como de costume 12h tá? Levi digitou de volta. Levi sim, senhora ? Já eram 11 da manhã, ainda tinha algumas mensagens aqui e ali para responder. Era tanto “muitos anos de vida” que ele não aguentava mais ler a mesma frase. — Vou almoçar na minha mãe. A gente se encontra lá. A despedida não tão animadora deixava evidente que ele não queria comemorar. Mas ele teria. Principalmente porque os amigos dele queriam mais do que ele. (...) Nenhuma mãe nunca demoraria mais do que Paola para escolher um presente. Não deveria ser difícil, Levi estava com ela e estava experimentando tudo o que ela achava interessante para um presente para ele mesmo. Já estavam indo para, talvez, a décima loja. Ele parou de contar depois de 5 lojas. A casquinha era a única coisa que ele estava colocando no estômago desde o almoço, o que já fazia umas 3 ou 4 horas. — Você gosta de ganhar comida? — Ela perguntou, já sem esperanças. — Acho que é mais fácil te dar um vale presente de algum restaurante. — Eu nem sabia que restaurantes faziam isso. — Devem fazer. Levi sorriu. — Tá bom, quero no Alex Atala. — E por acaso eu te deixei escolher? — Não escolhe um restaurante de esquina que não recebe visita da vigilância há décadas, hein. — Nem parece que comia terra quando era mais novo. Levi bateu sua mão na dela só para o sorvete bater contra sua boca. Ele não estava esperando um t**a em público, achou que ela sentiria vergonha de alguém ver. t**a de mãe não dói pouco. — Pensei em te dar chocolates, mas você prefere coisa salgada. Levi suspirou. — Eu já falei uma, duas, três e não sei mais quantas vezes, que não precisa me dar nenhum presente. Você me dá tanta coisa que eu já me sinto muito grato, realmente não… — ele para de falar, percebendo que tudo o que ele falou não funcionou de nada. Sua mãe parou de novo, olhando fixamente para alguma coisa. Ele esperava que fosse uma loja, ela costuma ficar parada olhando quando encontra alguma coisa. — Que foi? Encontrou o seu presente dos sonhos? Levi ainda tinha um sorriso no rosto até olhar para onde Paola olhava. Ele nunca precisou de óculos, mas jurou que estava vendo errado naquele exato momento. Só podia ser coisa da sua cabeça. O sorvete congelou seu cérebro. — Levi… — sua mãe começou, sem saber bem como dizer aquilo — Aquele bebê parece com você quando você era bebê ou eu estou ficando maluca? Completamente doida? Lelé da cuca? — Talvez nós dois… talvez a gente esteja meio lelé porque eu… Paola virou a cabeça para Levi lentamente. Não dava para saber exatamente como ela se sentia com isso, mas parecia bem chocada. — Você se lembra? Você tem noção de ter feito algo assim? — Talvez a p******o não fosse tão boa quanto eu pensei que fosse — não era verdade, ele nunca foi o cara que carregava c*******a na carteira ou em lugares nada adequados para o produto, e nem do tipo que usava a mais barata. Porém, uma vez… ah, sim, uma vez ele havia ido para a guerra sem o colete. — Talvez? Levi engoliu em seco, nem o sorvete ajudaria mais a sua garganta. — Talvez… só talvez, eu possa ter feito a escolha errada e ter ficado com uma menina sem usar a capa. Paola o fuzilou com o olhar. — E você achou que fosse quem? O que passou na sua cabeça? Não sou super herói pra usar capa. Quem é que trata p******o como capa? Levi balançou a cabeça. O neném ainda estava lá com uma mulher que Levi não fazia ideia se era a sua mãe mesmo ou uma babá, uma tia. Mas não importava. Se aquele garoto um dia foi parte dele… Jesus o ajude, ele não conseguirá dormir sem pensar nisso a cada segundo. Ao mesmo tempo, se não for dele… — Vamos lá falar com ela. A frase de Paola quase fez os olhos de Levi saltarem para fora de seu rosto. Eles iam fazer aquilo? Abordar uma mulher aleatória em um shopping só porque o bebê dela se parece com ele? E também porque há mais de um ano ele havia cometido uma loucura porque estava bêbado demais para fazer uma coisa sensata.
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