12 - Vulnerabilidade

1499 Words
— Alô? Pai? — Piettro? Filho, o que houve? — Preciso falar com você.. Pode vir aqui no Loft? — Estou a caminho, filho! Daqui a pouco chego por aí. Piettro desligou o telefone, se levantou e foi até o seu banheiro tomar um banho. Afinal, ele e Graziella tinham feito amor e não tinha nem dado tempo de conversarem, pois ele havia feito merda, mais uma vez, a afastado. Mais um ‘item’ para sua lista de idiotices. Na sua mente, ele reviveu aquele momento, várias e várias vezes, buscando algum motivo racional para ter agido daquele jeito. Procurava entender os seus sentimentos. Na verdade, ele não sabia sequer identificar o que estava sentindo. A sua única certeza era que queria estar nos braços dela. Aquilo que chamam coração, aquele pequeno órgão do lado esquerdo do peito, batia de forma diferente por ela, desde a primeira vez que a viu. Bufou, frustrado. Odiava saber que, mais uma vez, havia a deixado ir. Se odiava por permitir, outra vez, que ela saísse da sua vida. Piettro lembrava do seu olhar magoado o encarando… ele sabia que Graziella não era uma mulher para ser amante. Sabia que ela não se sujeitaria a tal coisa. Tinha que resolver a sua vida com Antonella, não suportava mais a sombra daquela mulher atrapalhar seu relacionamento com Graziella. Relacionamento… era isso que eles tinham? Era isso que ele queria? Será que não era apenas uma atração s****l ou paixão? Se for isso, por que ele teme perdê-la? Por que só em imaginar que outro homem possa tocá-la, ele sente o seu sangue ferver? Por que, ao seu lado, ele se sente tão vulnerável? Se isso não for amar, ele de fato nunca saberá o que é amor. E talvez esse seja o mais próximo de amar que alguém como ele conseguiu, durante esses vinte e oito anos da sua merda de vida. Perdido nos seus pensamentos, ele não viu quando a porta abriu e por ela entrou uma figura sua, porém mais velha. Com o olhar preocupado, Enzo se aproximou do filho abatido e cabisbaixo. Nem parecia o temível e impiedoso Boss, dono de Tribunale e líder da máfia Cosa Nostra. Ali, diante dos olhos de Enzo, ele viu o que não via há muitos anos… O seu filho pequeno, indefeso e perdido… o seu Piettro. Ele o olhou com compaixão, sentou ao seu lado, e gentilmente, acariciou os fios loiros do filho. Isso foi o suficiente para que o loiro encostasse a sua cabeça no ombro do pai e suspirasse, cansado. — O que aconteceu, filho? — Eu acho que estou apaixonado…. — bufou e Enzo expôs um sorriso singelo. — Já era hora! — O loiro levantou a cabeça e encarou o pai. — Quando você descobriu que amava a mamãe? O mais velho suspirou, e encarou. Um sorriso formou-se nos seus lábios e ele respondeu: — Foi na faculdade… Eu estava prestes a terminar o curso de administração e para ganhar horas complementares, era auxiliar de sala de uma professora de psicologia. A sua mãe era uma aluna recém transferida do curso e chegou atrasada no primeiro dia. — Lembro, como se fosse ontem, quando vi aqueles lindos cabelos ruivos pela primeira vez. Ela entrou na sala como um tornado. Estava suada, com os fios bagunçados e seu peito subia e descia rapidamente. Tinha perdido um dos ônibus e precisou correr alguns quarteirões para chegar a tempo. Seu olhar era como se tivesse cometido um crime… e gosto de pensar que o maior deles foi fazer eu me apaixonar por ela. — riu. — Quando Carlota entrou na sala, senti como se o mundo inteiro se iluminasse na presença dela. De repente, ela havia se tornado a coisa mais bela e fascinante que meus olhos já viram. E era como se nada mais existisse além de nós dois… Meu coração parecia que ia sair pela boca a qualquer momento. E ali, encantado e completamente imóvel, eu tive a certeza que ela seria minha. —- Piettro sorriu para o pai. — Você já deve imaginar que não foi fácil. Sua mãe sempre foi desconfiada e geniosa. Não deixava ninguém se aproximar dela e não poupava esforços para afugentar quem quer que ousasse incomodá-la. E eu tive de insistir muito para que ela me desse uma chance. — Quando seu avô foi falar com o pai dela para pedir permissão e explicar a nossa condição, lógico que ele não apoiou nosso relacionamento de primeira. Precisou de tempo e de muita conversa para que eu pudesse convencê-lo dos meus sentimentos por sua mãe, e da nossa intenção em protegê-la da vida que nós levávamos. Mas depois, ele nos deu um voto de confiança e todos pareciam aprovar nosso namoro… menos a sua mãe, que não se deixou intimidar. — Ela me peitou na frente de todos e disse que não era porque eu era poderoso que poderia ter o seu coração facilmente. Disse que se eu a quisesse, teria que lutar por ela. E foi isso que eu fiz. Aos poucos, fiz ela se apaixonar por mim. E para ela, e apenas ela, eu era o Enzo Portinari, sem títulos, sem posses ou reputação. Sua mãe, assim como você, conhece a minha essência e meu verdadeiro eu… Piettro sentiu seu coração se aquecer, à medida que seu pai prosseguia a história, e um sorriso gentil brotou em seus lábios. O amor de seus pais era o que Piettro mais estimava em vida. Era um sentimento sincero, avassalador e honesto, que só crescia com o passar dos anos. Um tipo de amor que, por muito tempo, acreditou que fosse feito só para eles e mais ninguém. Porém ao ver como seu pai falava de sua mãe, pensou em Graziella. Pensou, silenciosamente, que se tivesse palavras que pudessem descrevê-la, seria como essas. — Há sete anos, eu a vi pela primeira vez. Piettro falava olhando para frente e sorrindo. — Ela era linda, vestia um vestidinho curto, estilo retrô e trabalhava numa lanchonete. Eu e o Luiggi, chegamos de uma noitada às duas da manhã e fomos comer um sanduíche em Tribunale. Então, ela apareceu e trocamos olhares… Não sei te explicar o que eu senti naquele momento, pai. Mas meu coração bateu forte e fraco ao mesmo tempo, minhas mãos suaram, e era como se eu me sentisse vivo pela primeira vez. Eu tive vontade de beijá-la, de fazê-la minha… — Enzo sorriu para o filho. — Porém, Luiggi me trouxe de volta a realidade. Estava prestes a completar 22 anos, ia assumir a Cosa Nostra e estava de casamento marcado com Antonella. — disse com amargura na voz. — Então, eu deixei a razão falar por mim e a deixei partir. Dois anos se passaram, nos encontramos no baile de máscaras e todos aqueles sentimentos estranhos que eu não compreendia afloraram novamente. Fizemos amor no banheiro e… bem, eu acho que fiz amor … porque não transei com ela como transava com as outras… fui paciente, carinhoso… e foi intenso! Mas a Antonella apareceu e tudo terminou da pior forma possível. Mas, dessa vez, foi ela que me deixou partir. — E o que foi que aconteceu de diferente agora? — Piettro abriu os olhos e dirigiu as suas safiras para o pai, respondendo em seguida: — Ontem nos reencontramos, e como da outra vez, não conseguimos evitar. Ela veio para cá e tivemos uma noite mágica. Mas pela manhã, acabamos discutindo, porque a Antonella deu as caras de novo… O problema mesmo foi que ela me fez uma pergunta, e eu não soube responder. — O que perguntou? — Se eu a amava. Enzo encarou o filho, com curiosidade e em seguida, perguntou: — E o que respondeu? —Nada. — suspirou — Eu simplesmente travei, porque eu não sei, pai, não quero falar da boca para fora e muito menos mentir. Mas eu realmente não sei! — E como ela reagiu? — Ela partiu e pediu para que eu não me aproximasse mais. Preferia levar um tiro ou ser torturado do que ouvir aquilo dela. — Quando ela estava aqui, com você, nos seus braços… o que sentiu? — Perguntou Enzo, tentando entender o que se passava no coração do filho. Piettro suspirou e respondeu: — Me senti vulnerável. tive medo de que esse momento acabasse e ela fosse arrancada dos meus braços. Pai, você sabe que eu nunca fiquei com uma mulher na cama depois de t*****r… mas com ela, eu a abracei. — Piettro sorria enquanto falava — Eu fiquei sentindo o calor do seu corpo e o seu cheiro até adormecer, e então, no calor dos seus braços, eu dormi em paz. Enzo sorriu para o filho e se levantou. Andou até o bar, colocou duas doses de whisky, deu um copo para o seu filho, brindou e tomou a sua dose. E sorrindo respondeu: — Parabéns filho, você descobriu finalmente o que é amar alguém.
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