Graziela Lombardi é uma nova empresária do ramo da moda em Tóquio. Apesar de muito nova, adquiriu respeito no mercado através de seu esforço pessoal e dedicação. Mas nem tudo foram flores. Escolhas difíceis foram feitas e com isso, laços foram rompidos.
Os Lombardi eram conhecidos na Itália por serem uma pequena firma de advocacia em ascensão. Lorenzo Lombardi, líder e fundador, ansiava que a filha mais velha assumisse o seu lugar, porém Graziela nunca se interessou. Ela sempre gostou de desenhar roupas e sonhava em ter o seu próprio negócio. Mas o país passou por uma recessão e Lorenzo se viu prestes a perder tudo o que tinha conquistado. Num ato de desespero, pediu ajuda financeira a um homem. Um advogado e empresário conhecido de um amigo: Tiziano Bernardi. Um homem c***l e com gosto peculiar para mulheres, que ficou encantado pela doce Graziela.
Lorenzo se viu num beco sem saída. Sua dívida seria paga caso ele cedesse a mão de sua adorável filha em casamento. Mas sabia que se aceitasse às chantagens do homem, estaria condenando sua filha a uma vida miserável, já que Tiziano não era um homem qualquer: ele era advogado da Cosa Nostra, a família de mafiosos mais perigosa do mundo.
Lorenzo precisava pensar, e rápido. Conhecia o temperamento da filha e sabia que ela jamais o perdoaria se aceitasse a proposta de Bernardi. Mas ele não podia se dar ao luxo de recusá-la.
— Graziela, minha filha, você precisa pensar na nossa família. É a única forma de conseguirmos salvar a nossa empresa!
— Não, papai! Me recuso a casar sem amor! A empresa é mais importante que minha felicidade para você? Tiziano é um sádico, narcisista e egoísta! Prefiro ser atirada aos porcos do que me casar com ele!
— Você ousa desafiar o seu pai? Você se recusa a assumir a empresa porque quer brincar de costureira e fazer roupas para bonecas? Isso não é uma profissão, Graziela! E quanto ao casamento, jamais conseguiria sozinha um partido melhor. Saiba que se você não aceitar minhas condições, é melhor esquecer que um dia foi minha filha!
Graziela encarou o pai assustada e magoada. Sua mãe já chorava ao seu lado e estava sem acreditar que seu marido tinha sido capaz de algo tão baixo e c***l.
— Pois fique sabendo, senhor Lorenzo Lombardi, que eu não sou mais sua filha. Essa é minha palavra final. — Todos na sala ficaram mudos. Então, ela continuou: — Eu vou crescer através do meu suor e do meu próprio esforço. E quando esse dia chegar, meu pai, você saberá. Você vai ouvir falar de mim e de tudo o que conquistei. Guarde as minhas palavras.
— Filha…
Patrícia, sua mãe, tentou se aproximar da garota, mas ela a impediu. Lorenzo estava de costas para a filha. Ele precisava ser forte. Era uma decisão dolorosa para os dois, mas sabia que esse era o único jeito de proteger sua garotinha de um destino pior.
— Por favor, mãe, não dificulte as coisas para mim. Eu perdi um pai, mas você e Pia continuarão a fazer parte da minha família.
Lorenzo fechou os olhos e sentiu seu peito sangrar. Sem dizer uma única palavra, se retirou do local, deixando a esposa chorando sozinha. Naquele momento, se odiou amargamente por ter cruzado o caminho de Tiziano, mas preferia cortar laços com a filha do que entregá-la à própria sorte. Lorenzo tentou poupar Graziela de qualquer ligação com a Cosa Nostra, mas não podia imaginar que o destino fosse colocá-la no meio de seu pior pesadelo.
Naquele dia, Graziela saiu de casa, do lugar que viveu por 18 anos. Deixou para trás sua mãe, sua irmã e seu pai. Por mais que vivessem brigando, ela sempre o amou incondicionalmente. Graziela o admirava porque nem sempre a vida deles havia sido fácil e reconhecia os esforços do pai para manter sua pequena empresa. Sabia que ele tinha lutado muito e que tinha feito sacrifícios em nome de sua família. Na mesma noite, foi para a casa de sua melhor amiga, Mia Fontana. Chorou a noite inteira no ombro dela e decidiu que nunca mais olharia para trás.
A vida de Graziela mudou drasticamente. Precisou deixar tudo que amava para trás e tomar escolhas difíceis, mas não se daria por vencida. Arrumou um emprego como garçonete em Tribunale, um dos bairros mais perigosos da Itália. No início, pensou em não aceitar a proposta de emprego, mas precisava do dinheiro para se sustentar e pagar a faculdade de moda. Não queria ficar de favor na casa de sua melhor amiga. E este havia sido o emprego que lhe oferecia o mais próximo do que precisava: um salário razoável e discrição, para que quem quer que estivesse atrás dela não a encontrasse.
— Graziela… você tem certeza? Tribunale é perigoso, amiga. Quem comanda aquele local é a Cosa Nostra, é um ambiente pesado para uma garota como você.
— Mia, o salário é bom e o emprego não requer qualquer tipo de experiência. Amiga, essa é a minha nova realidade e terei que me adequar a ela a partir de agora. Não posso continuar vivendo às suas custas.
— Você sabe que eu não me importo e…
— Eu sei… mas confia em mim. Eu vou conseguir. Você vai ter orgulho de mim!
Graziela se aproximou de Mia e a olhou nos olhos enquanto sorria, confortando-a. Abraçou a amiga e disse:
— Vou me arrumar, fiquei sabendo que o meu chefe é um homem bem exigente e não tolera atrasos — disse com um sorriso nos lábios. — Te amo, amiga. Nos vemos amanhã!
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Graziela chegou ao trabalho mais cedo do que previsto. Foi até a sala atrás do restaurante e colocou o seu uniforme. Estava feliz porque era a primeira vez que fazia algo por si mesma, sem a interferência dos pais.
Era mais ou menos 2:30 da manhã quando a porta do local foi aberta e dois homens entraram. Por um momento, Graziela temeu. Por conta do horário, pensou que poderia ser algum bêbado ou drogado, mas, ao encarar os dois jovens, não soube explicar o que sentiu quando seus olhos cruzaram com os do homem loiro, alto de olhos azuis.
Ele a encarou com curiosidade. E aquele olhar fez uma confusão em seu interior. Todos os pelos do seu corpo se eriçaram e seu coração bateu acelerado. Ela suspirou, tentando recuperar o fôlego, e se aproximou. O loiro estava acompanhado de um moreno de cabelos negros. Os olhares se cruzaram por uma fração de segundos, quando o moreno resolveu falar:
— Senhorita, queremos dois sanduíches completos, por favor.
O homem fitou a morena, que desviou o olhar do seu amigo para encará-lo, e anotou o pedido em silêncio.
— Algo mais, senhor? — perguntou. Com a visão periférica, percebeu que o loiro ainda a encarava.
— Pietro? Ei, Pietro! Você vai querer mais alguma coisa?
O loiro finalmente saiu do transe e encarou o amigo, negando com a cabeça. A morena pediu licença e se afastou devagar, deixando os dois sozinhos.
— O que houve com você, cara? Parece que nunca viu mulher.
— Você viu aquela mulher, Luiggi? Viu aqueles olhos?
O amigo suspirou fundo e apenas concordou com a cabeça.
Pietro Portinari. Filho único e herdeiro da Cosa Nostra. Estava prestes a receber seu legado, quando completasse 22 anos. Sua vida já estava planejada nos mínimos detalhes. Quando assumisse a máfia, se casaria com a mulher que tinha sido escolhida pela família antes mesmo de ter nascido. A garota era a esposa perfeita para o futuro Dom da máfia italiana. A união dos dois era boa para os negócios e ainda melhor para manter os inimigos longe.
— Você sabe que não deve se aproximar dela.
Pietro encarou o amigo e apenas consentiu.
Graziela encontrava-se na cozinha ainda desnorteada. Ela não era mais virgem e tinha controle de seu próprio corpo, mas quando aqueles olhos azuis a encararam… não soube explicar o que sentiu. Era como se estivesse presa naquela imensidão azul. Sorriu ao lembrar do que Carina, uma outra amiga, havia lhe dito tantas vezes: que quando estivesse diante de um amor verdadeiro, ela não conseguiria mais controlar suas emoções e desejos.
Graziela pôde, finalmente, compreender o que ela dizia.. Se por acaso estivesse sozinha com o loiro e ele a tomasse em seus braços, não hesitaria em se entregar a ele, mesmo que tudo o que soubesse era o seu nome: Pietro.
Retornou ao salão com o pedido e tudo o que encontrou foi apenas um valor embaixo do porta guardanapos. Sorriu triste. m*l sabia o que o destino estava planejando para os dois.