Capítulo 2

1019 Words
Eu encarava a lousa em minha frente mas não conseguia prestar atenção e muito menos entender nada que estava sendo ensinado, minha cabeça só tinha a imagem do meu irmão recebendo um pacote enorme de drogas para vender dentro da escola e isso me perturbava.  Ele fingia que nem me conhecia enquanto estava dentro da escola, portanto dentro da sala não era diferente, ele nem sequer me olhava mas estava sempre rindo e bagunçando com seus amigos no fundo, como se ainda estivéssemos no quinto ano do fundamental e não no último ano quase nos formando. Ele não crescia nunca e isso me dava nos nervos. O que eu faria se ele fosse pego? O que diria para minha mãe? Só de pensar nela chorando por causa de Rafael meu coração já se partia. Mas meus pensamentos sofridos não duraram muito, logo o sinal tocou e o intervalo estava começando fazendo meus pesadelos virarem realidade. Esperei todo mundo sair para poder ir e observei Rafael pegando o tal pacote na mochila e escondendo boa parte do negócio nos bolsos. Ele ia vender isso na escola mesmo.  Tinha como piorar? Suspirei enquanto descia as escadas que levavam em direção ao pátio e coloquei meus fones para não dar espaço de ninguém vir falar comigo. Me sentei num lugar isolado longe das várias pessoas conversando entre si. Não estava afim de falar com ninguém, então quanto menos pessoas me vissem, era melhor. O fato de estar num lugar distante não me tirava o privilégio de ver de longe meu irmão vendendo o que estava em seu bolso, fazendo meu coração ficar ainda mais apertado com aquilo. Por que ele estava fazendo isso? O que ele achava que iria ganhar entrando nesse mundo? Ele só ia trazer desgraça para si mesmo, assim como para nossa mãe, se isso desse errado. Seu amigo Paulo era exemplo disso, estava preso a mais de um mês e ninguém foi ajudá-lo, por que ele achava que seria diferente com ele? - Ele é muito bonito não é? - Ouvi uma voz feminina vir do meu lado e assustada eu tirei os fones para olhar para ela que falava comigo. - Quem? - Perguntei, confusa, observando que não passava de Brenda, uma garota apaixonada no Rafael desde que entramos na escola, a dois anos. Ela nunca tinha conseguido se aproximar, até por que eu sabia que ela não fazia o tipo de garota que meu irmão gostava, e ainda sim ela e sua paixão nunca acabava.  - O Rafael. - Ela murmurou o óbvio. Claro que ela percebeu que eu estava encarando ele, porque seria diferente? Talvez eu tivesse fazendo isso mais do que devesse e já estava ficando mais estranho que o normal.  - Ah. - Falei com desdém. Erguendo os ombros, amuada com a situação constrangedora.  - Você gosta dele não é? Você não para de encarar ele. - Ela perguntou, e eu conseguia perceber o desespero em sua voz com medo de outra garota conseguir seu coração ao invés dela. Tadinha, m*l sabia que ele era o pior tipo de garoto para se apaixonar e que ela não passaria de um brinquedo em suas mãos.  - Ele é meu irmão. - Respondi, esclarecendo as coisas antes que a situação ficasse pior. - Ah! - Sua surpresa foi tão óbvia que me fez revirar os olhos no mesmo instante. Não estava acreditando naquela situação. - Sério? - Sim. - Disse curta e grossa, voltando a colocar um dos fones em meu ouvido, afim que ela entendesse que eu não queria companhia. Não tinha amigos por um motivo, se ela não tinha percebido isso ainda, ela era burra. Fazia dois anos que estava estudando ali, ela esperava que eu fosse acolhê-la de braços abertos? Se bem que ela gostava do meu irmão, tinha um amor platônico por um cara ridículo, então não esperava muita coisa dela. - Minhas amigas sempre disseram que achavam que vocês tinham algo. - Ela insistiu no assunto e eu não conseguia pensar em como aquilo era nojento. Nem que ele não fosse meu irmão, eu tinha amor a minha vida, qualquer um com olhos sabia que ele não era um garoto para se apaixonar.  - Credo! - Respondi, fazendo uma careta para sua afirmação. - Você deveria ter amor a si própria e parar de pensar nele, ele é um moleque mimado, vai te comer e te largar.  Ela me encarou por alguns instantes como se eu tivesse falado algo fora do comum e logo depois assentiu, finalmente levantando para sair de perto de mim, o que eu agradecia profundamente. Não estava em um bom dia, nem mesmo numa semana legal, em outras circunstâncias talvez tivéssemos sido colegas mas naquele momento não.  Tive que ser grossa e usar palavras que eu geralmente não gostava de usar mas parecia que aquela forma era única para fazê-la entender.  Quando ela finalmente saiu e eu tentei encontrar meu irmão de volta, não consegui. Ele tinha saído da minha vista e eu não conseguia saber o que ele estava fazendo. Precisava ficar de olho nesse garoto. Amaldiçoei Brenda com todos os nomes que eu sabia de cor por ter atrapalhado minha vida e levantei, indo para as escadas. Faltava pouco tempo para o sinal tocar e eu não queria me entrosar com ninguém. Quando eu entrei na escola até tentei fazer amizade com as garotas daqui mas parecia que não importava o que eu fizesse, elas sempre tinham rivalidade comigo. Descobri tempos depois que o motivo era garotos, como eu era "carne nova" a atenção e os desejos dos garotos estavam em cima de mim e elas não gostavam disso. Eu nunca me importei com isso, tanto que nunca me envolvi com ninguém do morro. Nunca se sabe de onde vai brotar uma doida dizendo que eu estava pegando o presente de Deus que ela roubou da amiga. Então eu preferia ser a estranha que anda sozinha.  Tudo que eu precisava fazer era terminar a escola, depois disso eu nunca mais precisaria suportar os cochichos e olhares maldosos que essas meninas faziam questão de ter.  
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