CAPÍTULO 1

1790 Words
ALERTA DE GATILHO: Essa história retrata um relacionamento abusivo muito tóxico. Se você vive um relacionamento abusivo, só um aviso: Ele não vai mudar.  E um conselho: Abandone esse cara. Você merece algo melhor.   MONIQUE   Agora:   — Atira, Monique! Atira! —  Gabi gritou ao meu lado. Minhas mãos estão soando frio e a Glock treme nas minhas mãos, enquanto está apontada na direção dele.   Meu coração está apertado.   Sinto que não vou conseguir fazer isso.   — Eu não vou conseguir. — comecei a chorar. — Eu não consigo matá-lo, Gabi. Ele é o amor da minha vida.   — Agora ele é o cara que fodeu com a sua vida. Atira nele, Monique. Atira na testa. — ela me incentivou sedenta por aquilo.   Felipe entrou na sala e se aproximou da gente. Ele olhou para o outro de um jeito frio, depois ficou atrás de mim e colocou as suas mãos na Glock, arrumando a posição da arma, que deixou na pontaria perfeita. — Agora aperta.   Engoli o meu choro e deixei todo o meu passado de lado. Fechei os olhos e disparei.       Antes:     Chegamos na cidade de Esmeralda e eu já me sinto perdida. Fodida. Eu tô morta. Douglas me trouxe para cá depois de ouvir que aqui é uma cidade em desenvolvimento e que daria um bom lucro a ele, como traficante de drogas. Mas eu sei quem sobra nessa história.   Comecei a tirar as coisas da caixa, para colocar nos armários e deixar a casa arrumada. Douglas tá muito animado com a mudança e até saiu para comprar nosso almoço.   O trabalhão todo fica pra mim. Ele não me ajuda em nada em relação a casa, mas ele me dá dinheiro. Eu não trabalho. Eu sei fazer algumas coisas de computação gráfica. A Helena queria que eu trabalhasse com ela aqui. Mas eu sei que o Douglas não vai deixar. Ele não me deixar sair muito, contudo, ele me dá tudo o que preciso e tudo o que eu quero, então eu não reclamo disso.   — Meu amor! Voltei! — ele entrou na casa todo animado. A gente alugou uma casa legal, na periferia. E a periferia dessa cidade é mais chique do que o centro. Eu amei a casa. É muito bem iluminada e o mais doido é que tem um porão. Que casa no Brasil tem um porão? O Douglas adorou, porque ele vai montar o laboratório dele lá.   Ele voltou com comida.   — Que cheiroso! — peguei as sacolas e levei para a cozinha.   — Meu amor, eu dei uma olhada pela cidade. Aqui de noite deve ser muito bom pra passar. Tem muito beco sem poste e tem uma galera nube toda alternativa. Já vejo eles como meus futuros cliente.   — Que bom. — sorri, tirando as bandejas das sacolas e destampando. — O que você quer comer?   A fumaça cheirosa da comida subiu e eu inspirei profundamente. Durante a viagem a gente comeu m*l.   — Quero duas colher de feijão tropeiro, põe três colher de arroz, um pouco de macarrão... — ele foi falando e eu foi colocando no prato. — E a carne de frango... — do nada ele me deu um tapa na mão e a colher voou. — Não coloca com molho, p***a!   A minha mão ardeu na hora, mas ele não ligou e arrastou o prato com a comida para perto dele. — Não presta nem pra colocar comida direito!   — Desculpa. — peguei a colher do chão e levei pra pia.   Eu não gosto que gritem comigo. Me dá vontade de chorar.   Me lembra a minha família. — Ei! — ele me chamou e eu virei. — Nem chora, hein! Nem chora! Tu é chata demais chorano!   — Desculpa. — puxei a cadeira engolindo o choro e coloquei a minha comida.   A gente almoçou em silêncio e depois eu lavei a louça. Penso no positivo. É melhor agora do que antes. Eu já sofri muito. {flashback} Meu pai acertou um tapa na minha cara e eu cambaleei pela sala, me batendo num dos móveis. — Imprestável! VOCÊ É UMA IMPRESTÁVEL! UMA VAGABUNDA IMPRESTÁVEL!  Comecei a chorar com a dor física e psicológica, enquanto toco o lugar do tapa. — VOCÊ SÓ PRECISAVA TRAZER DINHEIRO PRA CASA! NEM PRA TRABALHAR VOCÊ PRESTA! — uma coisa pesada e dura acertou meu braço e me doeu até na alma. Olhei para o chão e vi um dos enfeites de cerâmica que ficava no raque da sala se quebrar. — Você só precisava trazer dinheiro! — ele rangeu, enfiando as mãos nos meus cabelos e os puxando logo em seguida. — Se amanhã você não aparecer com dinheiro, eu te expulso dessa casa. TE EXPULSO!  — empurrou minha cabeça e bati a testa na parede. {...} Essas lembranças me trazem dor.   — Meu amor... — Douglas apareceu me abraçando, quando eu estava na pia e beijou meu pescoço. — Você sabe que eu te amo, né?   — Aham.   — Mas as vezes você me tira a paciência. Eu já te ensinei como gosto das coisas. Você nunca aprende.   — Desculpa. Eu vou prestar mais atenção. — desliguei a tornei e me afastei da pia. Ele me virou de frente para seu corpo e encarou meu rosto.   — A mulher mais linda do Brasil. — sorriu e me beijou. Eu não contive o sorriso com esse elogio. — Fica mais linda sorrindo.   — Você me deixa sem jeito. — cobri minhas bochechas.   — Vamo tirar um cochilo... Ah, não. — ele olhou para as caixas. — Eu vou tirar um cochilo. Tu arruma tudo que hoje eu já tenho um trabalho pra gente.   — Tá bom. — assenti e ele me deu um selinho, antes de me soltar.   — Você já arrumou o quarto, não foi? Eu te falei pra começar do quarto.   — Já arrumei sim. — balancei a cabeça com um sorriso pequeno.   — Ótimo. — ele se foi.   Eu tô com tanto sono, mas é muita coisa pra arrumar sozinha. Não dá pra parar pra descansar.   [...]   Quando deu 19:00 eu já estava morta. Minhas pernas doíam muito, mas felizmente tudo estava em seu devido lugar. Coloquei a água do café no fogo enquanto o Douglas foi comprar pão.   Eu só quero comer, tomar um bom banho e dormir o quanto mais cedo. Os meus pés estão doendo de verdade e quando sentei na cadeira, temi não conseguir levantar para fazer o café.   Ainda nem pude sair para dar um rolê na cidade. O dia passou tão rápido. Nem avisei a Helena que estou aqui.   Fiz o café e depois que o coloquei na garrafa, procurei meu celular, para mandar mensagem para a Helena, avisando que estou em sua cidade. Somos amigas a algum tempo e ela é a única pessoa que conheço nesse lugar.   — Cheguei. — Douglas entrou em casa com uma sacola enorme de pão e outra com queijo, presunto e manteiga de gado. — Com quem tá conversando? — ele parou na minha frente.   — Tô mandando uma mensagem para a Helena, avisando que cheguei.   — Não mesmo. — tirou o celular da minha mão.   — O que?   — Não vai avisar pra aquela garota que você tá aqui. Eu não gosto dela. — deixou os pães e as outras coisas encima da mesa.   — Mas ela é minha amiga e a única pessoa que conheço nessa cidade.   Não entendo essa recusa.   — Você só precisa de mim. Entendeu? Quem te sustenta? Quem paga as suas roupas de marca? Quem te dá o que comer? Quem te dar prazer?   — Você. — abaixei a cabeça. No que eu tô pensando... A Helena e o Douglas nunca se deram bem. — Eu não vou mandar mais mensagens pra ela.   — Acho bom. — sentou numa cadeira. — Agora levanta essa b***a preguiçosa e coloca café pra mim, que daqui a pouco a gente vai sair.   Levantei rápido e coloquei o café pra ele, curiosa com a história da saída.   — A gente vai pra onde?   — Eu vou para um lado da cidade e você vai pra outro. Não quer passear? Pois bem. Vamo sondar pra ver se tem outra pessoa que vende droga por aqui e vamo oferecer também as minhas balinhas.   Odeio fazer isso. É perigoso. É contra tudo o que aprendi na vida.   — Eu preciso ir mesmo? Tô tão cansada. Passei o dia todo arrumando a casa... — coloquei café também pra mim.   — Quando eu fiquei contigo, não imaginava que tu era tão preguiçosa. Arrumou umas coisinha e já tá reclamano. Tu vive na moleza. Não reclama. Vai sim e não tem escolha.   — Tá bom. — suspirei fundo procurando forças.   — Se suspirar de novo vai levar tapa. — ele disse de repente e eu até tomei um susto.   — Desculpa. Eu não fiz de propósito. — tomei um pouco do café.   [...]   Um dia depois...   Saí novamente pelas ruas da cidade tarde da noite. Na noite passada eu conversei com alguns Zé droguinha e até consegui passar algumas balinhas para eles. Douglas disse que era amostra grátis. Sobre algum outro traficante, ninguém respondeu nada.   Essa noite usei um casaco preto de capuz, para não mostrar meu rosto, de novo, e nos bolsos dele, enchi de balinhas. É a droga mais leve que o Douglas faz, também a mais barata e a que ele sabe melhor fazer.   Chegando num dos becos, achei alguns meninos. Um deles eu vi na noite passada. Ele havia pegado uma balinha comigo e assim que me viu disse que queria mais e os amigos dele também. Comecei a vender as balinhas pensando na felicidade que o Douglas vai ficar ao saber que já tem clientes nesse lado da cidade.   Ontem ele disse que eu não sabia vender o peixe. Mas olha hoje!   Quando terminei, saí do beco e andei pela cidade a procura de outro. Achei um outro beco escuro e entrei. Lá no final tinha alguns meninos e eu pretendia oferecer a eles.   Essa cidade é muito tranquila e nunca foi tão fácil vender drogas. Poucos feixes de luz iluminavam a parede. Pouco mais de um metro acima do chão.     Do nada, alguém derrubou meu capuz e me puxou por ele, depois me empurrou na parede. Era um rapaz alto, de jaqueta, com tatuagens, brincos e uma cara não muito feliz.   — É você quem anda me procurando? — perguntou ele, debruçando seu corpo para cima de mim.                                                                                        — Quem é você? — fiquei colada na parede, assustada. Os batimentos do meu coração devem estar sendo ouvidos por ele, de tão forte que estão agora.   Ele encostou sua testa na minha e fixou seus olhos nos meus. — Eu sou o dono dessa cidade, princesa.       
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