Abro os meus olhos, ainda sonolenta. A claridade da manhã invade o meu quarto, mas não me apresso a levantar. Hoje é sábado, o dia da tão comentada festa na casa de Jake. Meu pai, empolgado como nunca, quase flutua pela casa com a ideia de que talvez haja algo entre eu e Jake. m*l sabe ele que Jake provavelmente estará com Karen hoje à noite.
Decido não esclarecer nada para ele. Para quê? Para ele me atormentar com perguntas e comentários? E, sinceramente, nem sei se Jake estará mesmo com Karen. É bem capaz de ele aparecer com outra acompanhante. Karen me ligou ontem de novo para confirmar se vamos juntas. Na verdade, passamos a semana inteira conversando sobre a festa. Ou melhor, ela passou a semana inteira falando. Especulou sobre como seria a casa de Jake, os pais dele, e tudo mais. Ela está tão animada... Bem diferente de mim.
Não que eu esteja desanimada, mas me sinto em um meio termo. Talvez por ainda carregar aquele gosto amargo de quando não deu certo com Daniel. Meu coração parece viciado em se lembrar dele. Quando menos percebo, estou pensando nele, revivendo o nosso beijo.
O dia passa num piscar de olhos. De repente já são sete da noite. Tomo um banho demorado e, enquanto me enxugo, começo a pensar no que vou vestir. Coloco um roupão e vou até o guarda-roupa. Meus dedos percorrem os cabides até encontrar um vestido preto de viscose, acima dos joelhos. Visto-o junto com uma meia-calça preta e botas. Para quebrar um pouco o visual todo n***o, escolho um colar prateado com pedras negras.
Como ainda é cedo, vou até a sala e me sento ao lado do meu pai, que está assistindo TV. Ele lança um olhar crítico para a minha roupa, especialmente para as botas.
— Botas? — ele pergunta, sem esconder a surpresa.
Dou uma olhada para as minhas botas novas de cano curto e sorrio.
— Pai, o senhor sempre diz que pareço uma velha. Hoje estou me sentindo meio roqueira.
Ele suspira e balança a cabeça, mas sorri.
— Está bonita. Acho que sou antiquado mesmo.
— Obrigada. — Dou um sorriso, satisfeita.
— Karen vem te buscar?
— Sim, combinamos às oito e meia. E o senhor? Vai sair hoje?
— Não, vou ficar em casa. E vou te esperar voltar para saber das novidades.
— Pai, é só uma festa. Não precisa ficar acordado me esperando. Karen não bebe quando dirige e eu também não costumo beber. Amanhã te conto tudo.
Ele concorda, apertando os lábios como se estivesse tentando esconder a preocupação. Voltamos nossa atenção para o noticiário.
Poucos minutos depois, o som de uma buzina soa em frente ao portão. Olho o relógio: oito e meia em ponto. Karen é pontual. Dou um beijo na bochecha do meu pai e saio.
Karen está radiante, vestida em um delicado vestido rosa pálido, bordado, que sobe vários palmos acima dos joelhos. Seus cabelos negros estão presos em um coque solto nas laterais. Sapatos de salto alto completam o visual.
— Uau! Você está linda, Karen! Arrasou! — exclamo, já imaginando que meu pai teria preferido me ver vestida assim.
— Obrigada! Você também está bonita — diz ela, com um sorriso gentil, embora eu tenha a impressão de que ela não gostou muito do meu estilo "roqueira".
Em poucos minutos, chegamos aos grandes portões da casa de Jake. O segurança me reconhece e nos deixa entrar sem precisar conferir nossos nomes. Quando entramos no hall, noto a expressão de Karen, um sorriso nervoso que ela tenta disfarçar. A sala está cheia de gente bonita e rica. Logo de cara, vejo Jake de braço dado com uma loira deslumbrante. Karen pisca várias vezes, atordoada, e me lança um olhar de surpresa. Eu apenas respondo com um sorriso de "eu te avisei".
A música que toca é "Three Times A Lady" dos Commodores, algo bem mais calmo do que eu esperava para uma festa assim. No canto da sala, perto do som, Jason está lá, usando suas típicas roupas de cowboy, destoando de todos os presentes. Eu, vestida de roqueira, e ele, de cowboy. Que dupla, penso comigo mesma.
Quando ele me vê, abre um sorriso caloroso e caminha em nossa direção. Seus olhos rapidamente percorrem minha roupa, avaliando meu estilo.
— Olá, meninas! Que bom que vieram! — diz ele, animado.
— Estamos felizes por estar aqui — respondo, me sentindo inesperadamente confortável ao lado dele.
Karen força um sorriso, ainda abalada pela cena de Jake com outra.
— Sim, muito felizes — ela diz, tentando soar convincente.
Jason oferece:
— Querem beber alguma coisa? Fiz questão de pedir um ponche de abacaxi sem álcool, pensando em vocês. Sei que não bebem.
Fico surpresa com o gesto atencioso.
— Eu aceito, obrigada.
Ele olha para Karen, que parece perdida em seus pensamentos, mas logo responde:
— Eu também quero.
Enquanto Jason vai buscar as bebidas, nós observamos Jake e sua acompanhante. Karen balança a cabeça, meio desolada.
— Você tinha razão... Não sei por que criei tanta expectativa nesse cara.
Sinto um aperto no peito por vê-la assim, mas antes que eu possa responder, a música muda. "Skyline Pigeon" de Elton John começa a tocar, deixando o clima da festa ainda mais melancólico.
— Quem escolheu esse repertório? — reclama uma garota ao nosso lado. Ela está certa. Está muito "down" para uma festa. Sinto um nó na garganta ao pensar em Daniel e no quanto ando sensível desde nosso afastamento.
Jake parece perceber o clima e logo muda a faixa para "California Dreamin'" de The m***s & The Papas. A vibração da sala melhora instantaneamente. Todos parecem gostar da escolha.
Jason volta do bar carregando os ponches. Ele se destaca, alto, com seu chapéu de cowboy, pedindo licença a todos para chegar até nós. A cena é cômica, e não consigo segurar a risada.
Pegamos os copos, sorrindo.
— Espero que gostem — ele diz, olhando para nós com um brilho sincero nos olhos.