Kate
Sinto as mãos de Daniel me puxando, me tirando do meio da rua, como se eu fosse uma criança prestes a cometer um erro fatal. A adrenalina ainda corre nas minhas veias, mas, ao ver seu rosto pálido e tenso, percebo o quanto ele está preocupado. Mesmo assim, a raiva ainda está aqui, a chama que não se apaga.
— Mas que d***a, Kate! Parece criança! — Ele grita, os dedos apertando meu braço de forma tão firme que me faz doer.
— Solte-me, Daniel! Você está me machucando! — Respondo, a voz trêmula, mas a dor me faz querer me soltar.
Ele me solta, mas a tensão no ar continua. O silêncio é pesado, e a raiva dele parece fazer o meu próprio peito queimar.
— O que deu em você para correr daquele jeito? Por acaso você surtou?! — Ele questiona, os olhos fixos em mim, como se fosse impossível entender.
— O que deu em mim? — Eu me rio de nervoso. — Acho que o fato de você sempre estar louco para se livrar de mim, Daniel. E uma mulher te abraçar com tanta i********e.
Nossos olhares se cruzam, e, por um instante, parece que a tensão entre nós poderia cortar o ar. Então, Daniel, como sempre, sorri de forma arrogante, como se nada daquilo importasse. Mas dentro de mim, as emoções ainda estão à flor da pele.
— Kate, pare com isso... — Ele diz, o tom de voz tentando soar suave, mas eu sei que, por dentro, ele está lutando contra algo que nem ele entende.
Eu respiro fundo, me sinto exausta, resignada, e desvio meu olhar dele. Murmuro, a dor de tudo transbordando em minha voz.
— Negue, negue que toda a oportunidade que tem, tenta me tirar de sua vida.
Ele fica em silêncio por um tempo, seus olhos fixos em mim, tentando entender o que estou dizendo. Eu não espero uma resposta imediata. Só preciso que ele veja a verdade, mesmo que ele não queira.
— Olhe para mim. — Ele diz, sua voz baixa e solene, e, por mais que eu queira fugir, ele se aproxima. Sua presença me impede de escapar. — Olhe para mim, Kate. — Ele repete, e, finalmente, eu sou obrigada a olhá-lo.
Lentamente, nossos olhos se encontram. Ele passa os polegares suavemente pelo meu rosto, limpando as lágrimas que eu nem percebi que havia derramado. Meu coração aperta no peito. Sinto como se todo o peso do mundo estivesse sobre nós, e as palavras dele, tão sinceras, me fazem sentir algo que eu não posso ignorar.
— Perdoe-me. Eu realmente gosto de você, tanto, que acabo te afastando de mim. — Ele fala num tom doce, carinhoso, quase vulnerável.
Meu peito aperta. Ele não entende que a dor de me afastar dele é tão grande quanto a dor de vê-lo se afastar de mim. Eu sei o que ele quer dizer. Ele não se acha digno de mim, já me falou isso antes. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de me fazer de desentendida.
— Deveria ser ao contrário, você deveria me atrair mais a você. — Respondo, a dor e a saudade se misturando em minhas palavras.
Depois de um silêncio prolongado, ele me abraça com força, como se, naquele momento, tudo fosse desaparecer.
— Perdoe-me. Eu estava nervoso. — Ele diz, e o calor de seu abraço me envolve. O cheiro dele me embriaga, e meu coração bate mais forte, como se, ao estar nos seus braços, eu fosse segura, como se nada mais fosse importar.
Mas, então, a imagem daquela garota invade minha mente, e eu me afasto rapidamente.
— Quem é aquela garota? — Eu pergunto, sentindo uma pontada de insegurança me atravessar.
Ele sorri, e seus dedos tocam meu rosto, como se a resposta fosse simples.
— Tereza, irmã de Ruan, o rapaz que morreu.
— Vocês pareciam íntimos. — Eu não consigo esconder a frustração na minha voz. Algo em mim não consegue aceitar o jeito como ele se comporta com ela.
Ele sorri de novo, com aquele sorriso tão característico, e me sinto tentada a bater nele.
— Nem tanto assim. — Ele responde, como se aquilo não fosse nada demais.
— Ela parece gostar de você. — Eu falo, e a raiva me toma.
Ele mexe os ombros, dando a entender que não há nada entre eles.
— Pode ser.
Eu não aguento. Um impulso incontrolável me faz dar um murro em seu peito.
— Você confessa, então?
— Kate, isso não quer dizer que sinto o mesmo. — Ele fala, mas logo me traz para mais perto, e seus lábios tocam os meus com suavidade. O beijo é como um alívio, um consolo para a tensão que se acumulou entre nós.
Quando ele se afasta, ainda posso sentir o calor do seu corpo contra o meu. Ele olha para mim, e a distância entre nós parece maior do que nunca.
— Agora vá. — Ele diz, sua voz suave, mas firme.
Eu respiro fundo, tentando me acalmar, mas a confusão ainda está aqui, presa em meu peito.
— Está certo. Eu te amo. — Confesso, minha voz carregada de sentimentos que são difíceis de controlar. Olho para ele, esperando algo, qualquer coisa.
Ele não diz nada, apenas me abraça uma última vez, e quando se solta, sua expressão se torna mais séria.
— Vai, senão ficará tarde. — Ele diz, e eu sei que ele não quer mais discussões.
Eu o olho, pensativa, e, de repente, me lembro do jeito do meu pai, de como ele sempre foi protetor, e, mais do que tudo, controlador.
— Você entendeu por que ainda não quero que meu pai saiba de nós? — Eu pergunto, minha voz mais calma agora, mas ainda cheia de receio.
— Sim. — Ele responde, e eu sei que ele entende, mas algo dentro de mim precisa garantir.
Eu explico, com a esperança de que ele compreenda.
— Estamos engatinhando no nosso relacionamento. Não quero colocar esse peso sobre seus ombros. Quando eu terminar a faculdade e conseguir um emprego, as coisas mudam de figura.
Ele me olha por um momento, e sei que ele está pensando em tudo o que acabamos de passar. Mas, no fim, ele apenas assente.
— Está bem. — Ele diz. E, sem mais palavras, me observa ir embora, sabendo que a nossa história ainda está apenas começando.