Daniel
Eu vivo num turbilhão, onde a tristeza é uma constante e a solidão me abraça como se fosse um velho amigo. Sinto um peso tão grande no peito que parece me consumir por dentro. Não sei mais como explicar o vazio que me corrói, essa falta de sentido que eu sempre tentei preencher com tudo, menos com amor. Mas, paradoxalmente, a felicidade que tanto procurei parece estar justamente naquilo que ela me oferece. E ainda assim, é estranho... ao mesmo tempo que a desejo, tenho vontade de afastá-la. Talvez eu tenha medo. Medo daquilo que não sei se sou capaz de sustentar, medo de um amor que não sei se mereço.
Eu sinto raiva de mim mesmo pela minha fraqueza. Como posso desejar alguém com tanta intensidade e ao mesmo tempo temer o que isso pode significar? Eu sei que, no final, ela vai acordar para a realidade e eu vou ser apenas o cara que ela teve pena de amar. Mas, por mais que eu tente me convencer de que isso vai acontecer, por mais que eu me torture com esses pensamentos, ela não vai embora. Ela insiste. E é isso que me destrói, me faz questionar o que estou fazendo com minha vida.
Eu preciso mostrar a ela quem eu sou, preciso que ela entenda o peso da minha história, da minha dor, talvez isso a faça desistir de mim. Mas, quando acabo de falar, vejo seu olhar se desviar, mas ela ainda sorri. E me abraça. E eu… eu me perco. Meu corpo trai meu pensamento, e meu desejo por ela explode em algo que eu não consigo mais controlar. Eu a quero de uma forma que me assusta.
Ela olha para mim, sem hesitar, sem medo. Seu sorriso é um bálsamo, sua confissão uma sentença que eu não posso ignorar. E, naquele momento, todo o medo, toda a raiva, todo o conflito dentro de mim desaparece. Eu sou dela. Eu sou perdido por ela. Eu só quero ela. E meu corpo não consegue mais resistir. Eu me rendo, porque, no fundo, sei que nunca fui capaz de resistir.
Kate
Estamos deitados, e o mundo lá fora já não importa mais. O silêncio é acolhedor, o quarto só tem o som da nossa respiração. Eu me sinto segura, como se nunca tivesse que sair dali. Cada parte de mim se sente inteira nos braços dele. Eu nunca pensei que fosse possível, mas quando estou com Daniel, o resto desaparece. Não sinto falta de nada. Não há mais espaço para o medo, para as dúvidas. Só há o agora. Só ele e eu.
Eu sinto que encontrei o que buscava, e tudo se alinha de uma maneira que parece quase mágica. Ele está mais tranquilo, mais presente, e isso me dá uma paz que nunca pensei que seria capaz de encontrar. Eu me entrego completamente a esse momento, a essa sensação de conforto. Não quero mais nada além disso. Apenas continuar assim, nesse abrigo, sem pressa de que o tempo passe.
Eu sempre sonhei com esse momento, sempre desejei tanto estar com ele, mas agora, tocá-lo, sentir seu calor, é mais do que eu imaginava. É real. É mais do que qualquer fantasia que eu tenha alimentado. Eu fecho os olhos e deixo o momento me envolver, sem pressa, sem ansiedades. Ele está comigo, e isso é tudo o que eu preciso.
Daniel
Eu me ergo na cama, o olhar fixo nela, e posso sentir seu corpo ainda quente contra o meu. Nossas pernas se entrelaçam, e, com a ponta dos meus dedos, toco sua barriga, suavemente, como se quisesse marcar aquele momento de forma que ela nunca esquecesse. O desejo por ela é tanto que, a cada segundo, parece crescer, tomar conta de mim de uma maneira que me faz esquecer de tudo ao redor.
— Você precisa ir. Não quero que saia muito tarde daqui. — Eu falo, tentando ser racional, mas o desejo ainda pulsa em mim.
Ela não responde com palavras, mas com um beijo. Um beijo que me tira a razão, um beijo que me faz esquecer o que eu estava dizendo, o que estava fazendo. Ela me devora, e eu me entrego. Como sempre, não sou capaz de resistir a ela.
— Irresistível — murmuro, meu corpo se inclina para ela, e os beijos se tornam mais intensos, mais urgentes. Ela me provoca, e eu a sigo, sem mais reservas.
A sensação de suas mãos explorando meu corpo é algo incontrolável. Eu sou tomado por ela de uma forma que não posso explicar. A respiração dela, pesada e quente, se mistura à minha, e nesse caos de sensações, eu só sei que preciso dela. Eu a quero com uma força que não posso esconder, que não posso controlar.
Enquanto ela se entrega a mim, eu me movo, cada toque meu mais profundo, mais intenso. Quando ouço barulhos, gritos distantes, algo no ar muda. Ela também percebe, e por um momento, há uma pausa. Eu me afasto de cima dela, não sei o que está acontecendo, mas sinto a tensão no ar.
— Fique aqui. — Eu digo, colocando rapidamente as roupas, o coração ainda batendo forte, a urgência de ir me consumindo.
— O que foi isso? — ela pergunta, assustada.
— Tiro. — Eu respondo, tentando disfarçar a apreensão. Não quero que ela me veja assim, mas sei que não posso ignorar o que está acontecendo. Não posso ser cego à realidade que nos cerca.
A mulher grita mais uma vez lá fora, e o som de seu choro me angustia, mas não tenho escolha. Eu sei o que devo fazer, sei que preciso ir. Mas ao vê-la tão desesperada, ao sentir o medo em seus olhos, uma parte de mim quer ceder, ficar com ela, protegê-la. Mas isso não é algo que posso fazer agora.
— Não, não vá. — Ela me segura pelo braço, desesperada, e isso me dói mais do que qualquer coisa.
— Preciso ir. Podem estar precisando de ajuda. — Eu falo, a tensão me consumindo. Não posso ignorar as pessoas que precisam de mim.
Seus olhos se abrem de terror, o que me corta por dentro. Mas eu sei que, onde estou, onde vivo, há algo maior. Uma necessidade de união, de apoiar uns aos outros em momentos difíceis e eu não posso fugir disso. .
— Deixe que eles resolvam o que tem para resolver. Não vá, seja lá o que tenha acontecido fique aqui. — Ela implora, e eu sei que dói, mas a decisão está tomada.
— Não posso, Kate. Não é assim que funcionam as coisas por aqui. — Eu digo, e sinto o peso daquilo em meu peito.—Somos uma comunidade unida. Nos ajudamos mutuamente. Já somos um povo desprezado, esquecido, por isso dessa união. Precisamos um do outro.
—Aqueles homens não parecem ser seus amigos.
—Não digo que não há delinquência no nosso meio. E realmente, não somos íntimos, mas há mães, mulheres, pessoas que precisam de ajuda. Aqui é minha gente.
Ela me abraça, e, por um segundo, eu hesito. Mas sei que a realidade me chama, a necessidade de fazer o que é certo me puxa para fora, para o caos. E, mesmo que eu queira ficar, algo maior me faz seguir em frente.
— Por que você tem que ir? O que você é agora? Líder comunitário? — Ela pergunta, um tom de indignação na voz.
— Mais ou menos isso. — Eu digo, tentando suavizar a situação, mas a verdade é que não posso deixar de fazer o que sei que preciso.
E eu saio, deixando-a para trás, com o coração pesado, sabendo que há algo mais importante no momento, mas sem poder deixar de sentir que parte de mim fica com ela.