Ótica de Daniel

1054 Words
Daniel Ela se aproxima devagar, mas eu m*l tenho tempo para reagir antes de sentir os braços dela ao meu redor. O calor do toque dela me atinge como um raio, e meu corpo inteiro estremece. É como se cada terminação nervosa estivesse viva, em alerta, ansiando por mais e, ao mesmo tempo, querendo fugir. Seus olhos me encaram, brilhando com algo que faz meu peito apertar. Esperança? Desejo? Seja o que for, ela está ali, me desarmando. Ela lambe os lábios, e eu sinto meu autocontrole vacilar. Meus olhos traem meu esforço, fixando-se na boca dela como se fossem atraídos por um ímã. Por um segundo, o mundo inteiro parece parar. Eu deveria me afastar. Deveria dizer algo. Qualquer coisa. Mas minha respiração está pesada, minhas palavras presas em algum lugar entre o que eu quero e o que eu devo. Ela me olha como se soubesse disso, como se estivesse esperando que eu cedesse à luta interna que me consome. Quando ela pede, com aquela voz rouca e cheia de urgência, algo dentro de mim cede. — Daniel, me beija. As palavras dela são um golpe final. Meu nome nos lábios dela soa tão íntimo, tão visceral, que eu sinto o impacto como um soco no estômago. Fecho os olhos por um instante, tentando recuperar o controle que já sei que perdi. — Eu não deveria... — Minha voz m*l sai, rouca, quase inaudível. Mas é inútil. Estou perdido. Eu me inclino, a distância entre nós desaparecendo, e quando nossos lábios finalmente se tocam, é como se algo dentro de mim explodisse. O primeiro toque é suave, hesitante, mas logo se transforma em algo mais. O calor dela é como um incêndio consumindo qualquer barreira que ainda restava. Quando nossas línguas se encontram, a intensidade do momento me toma por completo. Ela me puxa para mais perto, e eu a seguro com força, meus dedos cravando-se nos quadris dela como se precisasse de algo sólido para me ancorar. Eu me perco no gosto dela, no som dos pequenos suspiros que ela deixa escapar, no toque das mãos dela nos meus cabelos. É tudo que eu queria evitar e, ao mesmo tempo, tudo que sempre desejei. Mas, mesmo no auge do desejo, há uma parte de mim que não consegue ignorar a realidade. Isso não é certo. Não pode ser. Com um esforço que parece arrancar um pedaço de mim, eu termino o beijo. Minha respiração está ofegante, meus lábios ainda queimando pelo toque dos dela, mas eu sei que preciso parar. — Não podemos... Isso é loucura. — Minha voz está rouca, quase partida. Eu me afasto, evitando seus olhos, porque sei que, se olhar para ela agora, vou ceder novamente. Sem pensar muito, pego o capacete da moto. Colocá-lo me dá uma desculpa para esconder meu rosto, para bloquear a intensidade do olhar dela. Ligo a moto e acelero antes que possa mudar de ideia, o rugido do motor preenchendo o silêncio que deixei para trás. A estrada à minha frente é apenas uma fuga, mas não consigo escapar da sensação dela, do gosto dela, da lembrança de como ela fez o mundo inteiro desaparecer por alguns segundos. Enquanto me afasto, algo dentro de mim me diz que essa batalha está longe de terminar. Não voltei para a festa. Peguei a estrada sem destino, sem saber exatamente onde ir, até que algo me impulsionou a seguir para o Larry and Penny Thompson. Estacionei minha moto na frente do parque, tirei o capacete e o de Kate do meu braço, colocando-os no banco da moto, como se fosse possível deixar toda a confusão ali. Mas, não. A noite cai e, no silêncio, eu caminho até a praia, tentando encontrar algo que me acalme, que me traga algum tipo de clareza. Mas tudo que tenho são ecos das palavras dela, ecoando na minha mente, confundindo-me, me desestabilizando. Ela me procurou. Kate me procurou. E eu? Eu estou perdido em meio a isso. O que significa tudo isso? Perigo, desilusão. Eu me prometi, desde o momento em que a vi pela primeira vez, que não deixaria essas coisas entrarem na minha vida. Mas ela... Ela está quebrando todas as barreiras que eu construí, desafiando tudo que sempre foi claro e seguro para mim. Meu corpo, agora, não está mais sob o controle que sempre tive. Os hormônios correm soltos, dominando cada parte de mim. Desde o início, eu sempre vi esse abismo entre nós, um abismo que me impediu de ceder ao desejo que eu sentia. Mas ela... Ela tem algo. Algo que me desafia a todo instante. Ela chega, exala feminilidade, sensualidade, e tudo em mim se contorce, se agita. Linda, sim, linda de um jeito doce e suave, que machuca, que me faz querer mais. Por anos, eu mantive tudo sob controle. Mas agora, estou aqui. Confuso. Desorientado. Deus! Eu me vi sem ação quando ela me abraçou. Quando me olhou daquele jeito, fiquei paralisado. Não sei dizer o que senti, só sei que foi algo forte e incontrolável. Raiva, talvez, por estar tão atraído por ela, e aquela luta interna que eu mantinha em silêncio, que eu controlava com tanta habilidade, de repente, desapareceu. Quando vi aqueles lábios se aproximando, algo dentro de mim quebrou. Aquele beijo que eu sempre sonhei, que eu sempre imaginei... Quando aconteceu, foi como se o chão desaparecesse. A força do sentimento foi tão grande que eu não consegui resistir. Ele me dominou de uma maneira que eu não esperava. Passo a mão pelos meus cabelos, com raiva de mim mesmo, com raiva do abismo entre nós, que ela nunca irá perceber. Um abismo que o pai dela fez questão de me mostrar logo que comecei a trabalhar na casa deles. Eu sabia que ela olhava para mim de um jeito que não era apenas amizade, mas o pai dela, ele sabia disso também. E, por isso, me mandou embora e colocou outro em meu lugar. Como eu percebi, por que ele não perceberia? Curso? Eu não faço curso nenhum. Não tenho dinheiro para isso. Trabalho? Faço o que posso. Lavo pratos, me jogo em lutas improvisadas, disputo trocados em ringues. Isso é o que eu sou agora. E, mesmo assim, eu estou aqui, pensando nela, imaginando o que será de mim depois de tudo isso.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD