Quando ele me manda embora, o chão simplesmente desaparece sob os meus pés. O meu coração não está acelerado pelo desejo, mas pela dor que dilacera, uma dor que vem das palavras cruéis dele. Ele está ali, parado, com o olhar fechado, quase gélido, e eu vejo os ombros tensos, a respiração entrecortada, como se estivesse se contendo para não explodir em algo que pudesse destruir ainda mais o que restou.
A minha voz sai trêmula, mas faço questão de que ela soe firme, tentando disfarçar a ferida que sangra dentro de mim.
— Você é um covarde, Daniel — eu atiro, sem esconder a dor e a raiva que queimam por dentro. — É isso o que você é. Está se escondendo atrás de desculpas, me afastando porque é mais fácil do que admitir que você tem medo. Medo de se entregar, medo de sentir, medo de que eu veja quem você realmente é. — as minhas palavras são lâminas afiadas, e eu sei que estou ferindo, porque é a única defesa que me resta contra a dor que ele me causou.
Ele fecha os olhos, respirando fundo, como se tentasse afastar a tempestade de emoções que sei estar se formando dentro dele. Quando abre os olhos novamente, o brilho frio volta, como uma máscara que ele coloca para me afastar. Mas eu vejo além dela. Ele está sofrendo tanto quanto eu.
— Eu estou te fazendo um favor, Kate — ele diz, a voz baixa, quase um sussurro. — Você acha que sabe o que está pedindo, mas não sabe. Não conhece a escuridão que carrego, o peso que arrasto todos os dias. Eu só estou tentando te proteger.
— Me proteger de você? — Eu dou uma risada amarga, sentindo as lágrimas queimando em meus olhos. — Daniel, eu não preciso da sua p******o. Eu preciso de você. Exatamente do jeito que você é. Com suas falhas, suas dores, seus medos. Eu quero você, não uma versão idealizada de quem você acha que deveria ser para mim. Eu quero o homem que está bem aqui, na minha frente.
Ele passa a mão pelo cabelo, frustrado, respirando com dificuldade.
— Você não entende, Kate! Eu sou um desastre. Eu vou te destruir. Você acha que pode lidar com isso agora, mas quando as coisas ficarem difíceis, você vai correr. Porque todo mundo corre.
— Eu não vou correr — dou um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. — Eu sou teimosa, teimosa o suficiente para enfrentar o que for. Eu escolhi você, Daniel, e não vou desistir tão fácil.
Por um momento, ele vacila. Seus olhos buscam os meus, e eu vejo uma mistura de desejo, dor e incerteza. Ele leva a mão até o meu rosto, o toque é tão suave que quase me quebra ali.
— Kate, você merece mais — ele sussurra, a voz embargada. — Eu só vou arruinar tudo.
Eu seguro a mão dele e a pressiono contra minha bochecha, sentindo o calor, a intensidade da pele dele.
— Então deixe-me decidir se vale a pena — eu respondo, minha voz trêmula, mas firme. — Porque, para mim, vale. Cada segundo, cada lágrima, cada momento ao seu lado vale a pena.
Ele balança a cabeça, como se estivesse lutando contra algo dentro dele. Vejo o conflito no rosto dele, a batalha interna entre se afastar e me puxar para perto.
— Eu quero você, Daniel — eu repito, a intensidade da minha voz cortando o ar entre nós. — E eu estou disposta a lutar por isso, mesmo que você não esteja.
Por um instante, o tempo parece parar. Somos só nós dois, encarando um ao outro, prestes a mergulhar em um abismo sem fim. Então, lentamente, ele solta minha mão e dá um passo para trás, o rosto dele uma máscara de dor.
— Eu não posso fazer isso, Kate — ele diz, a voz m*l passando de um sussurro. — Não posso arrastar você para o meu inferno.
Eu sinto como se o chão tivesse sumido sob mim. As palavras dele são uma faca afiada, e a dor que elas causam é tão forte que me deixa sem ar. Tento respirar fundo, tentando me recompor, tentando manter a dignidade, mesmo que tudo dentro de mim esteja desabando.
— Se é isso que você quer, então eu vou embora — minha voz vacila, mas eu me forço a continuar. — Mas saiba que você está deixando ir a única pessoa que não tem medo de te amar de verdade.
Me viro, caminhando em direção à porta, cada passo pesando mais do que o anterior. Antes de sair, olho para trás, uma última vez. Ele está lá, parado, olhando para mim com uma expressão de perda e arrependimento.
E é assim que eu o deixo: um homem dividido entre o medo e o amor.