01

2031 Words
― Ok, ok! Não há o que temer. ― Fechei os meus olhos e respirei fundo, tentando me convencer de que não havia nada de errado. ― Ele é apenas um... Um cara! É! Ele é apenas u-um cara, que... Está desfilando por todo o apartamento apenas de toalha! ― quase gritei as últimas palavras. Levei as minhas mãos até minhas bochechas, sentindo-as queimarem. Dei algumas batidinhas nelas, tentando controlar a minha tensão. Eu conseguia vê-lo nitidamente pela brecha da porta do quarto. Ele caminhava para lá e para cá como se não se importasse com nada. Deslizei minhas mãos até a minha boca, tampando-a, ao vê-lo vir em direção ao cômodo. ― O que eu faço? ― olhei para todos os lados, pensando em encontrar algum lugar para me esconder. ― Armário! ― olhei a caminho do médio guarda-roupa. Ele poderia me servir até o momento em que o garoto terminasse de fazer o que queria aqui e fosse embora. Assim, corri até lá, e como o planejado, entrei em um dos três compartimentos. Abaixei-me e envolvi-me entre as diversas camisas masculinas. Eu precisava ligar para Benjamin e dizer que alguém havia invadido o seu apartamento, apesar de que poderia ser um dos seus amigos. Retiro o meu celular de dentro do bolso da minha jaqueta e procuro por seu contato em minha agenda, mas, por azar, Benjamin não atende. Respiro fundo, tentando controlar o meu nervosismo. Ouço passos pelo quarto, logo noto que ele já estava ali. O barulho das batidas dos pés contra o chão parecia se aproximarem cada vez mais. Esquivei-me um pouco para frente, tentando espiar pela pequena fresta do armário. Mas, inesperadamente, as portas são abertas, fazendo-me cair de encontro aos seus pés. Pressionei os meus olhos e os meus lábios fortemente ao me deparar com ele. Eu estava de quatro. Caída diante aos seus pés. A cena constrangedora, apenas intensificou-se a partir do momento em que ouvi a sua voz. ― O que está fazendo? A intensidade com que falara, fizera com que o meu corpo se arrepiasse por completo. Que voz excitant*. Sem ter para onde fugir, decido encarar aquela situação de forma pacífica. Ergui minha cabeça e passei a observá-lo. De fato, indiferente de sua voz, ele conseguia ser um homem fascinante. O seu peitoral nu, bem definido, chamou ardentemente a minha atenção para ele, e depois, para a toalha por volta da sua cintura que ameaçava cair a qualquer segundo. ― Vai ficar aí? ― perguntou e arqueou as sobrancelhas, impaciente. E logo... Despertei de meu encanto. Tomei impulso para levantar-me. Mantendo-me ainda próxima a ele, voltei a ficar em pé. ― O que está fazendo aqui? Ou melhor... Quem é você? ― observou-me intrigado. ― Como entrou aqui? ― Eu quem pergunto! Quem é você? E como entrou aqui? ― cruzei os braços e o encarei da mesma forma. ― Você está em meu apartamento! ― enfatizou. ― O apartamento não é seu! ― rebati. ― Claro que é! ― cruzou os braços, marcando bem os seus músculos. ― Não, não é! ― retruco. ― Este apartamento é do Benjamin! Nossos olhares claramente disparavam faíscas acirradas. ― Ele o dividia comigo. Mas não mora mais aqui. ― Respondeu breve. ― O que? Os meus ombros que antes estavam contraídos, enfraqueceram-se ao ouvir aquela revelação. Eu acreditava que Benjamin ainda morava neste apartamento, inclusive, ter visto as roupas masculinas hoje cedo, quando cheguei aqui, não surtiu efeito de preocupação alguma em mim, porque eu julgava serem de Benjamin. ― Você é a prima do Benjamin, não é? E ele não te disse nada sobre isso? ― arqueou as sobrancelhas e neguei com a cabeça, embasbacada. ― Enfim... ― O seu olhar percorreu ligeiramente por meu rosto, fazendo uma espécie de analise, e em seguida, soltou um suspiro. ― Se você pretende ficar aqui... Fique à vontade. Mas, não se meta muito comigo. Não gosto que fiquem me rodeando. Franzi o cenho ao notar tamanha arrogância nele. ― Como se eu fosse cair aos seus pés. ― Debocho e reviro os olhos. ― Você caiu há momentos atrás. ― Disse cínico e piscou para mim. ― Não foi porque eu quis, ok? ― aumentei a intensidade da minha voz. ― E fique tranquilo, você não faz o meu tipo. Bufei e caminhei para fora do quarto. Passei minhas mãos brevemente por entre os fios curtos do meu cabelo e depois retirei novamente o meu celular do bolso da minha jaqueta, fazendo uma ligação. Eu precisava entender o motivo de Benjamin ter mentido para mim sobre não morar mais no apartamento, e o pior, deixar-me rente a um desconhecido, que por sinal, era o extremo de um arrogante. Saio do apartamento. ― Alô? ― Benjamin disse ao atender a ligação. ― Por que não me contou que tinha alguém no apartamento? ― Achei que você não fosse se importar. ― Benjamin! Claro que eu me importaria em receber ao menos uma informaçãozinha do lugar onde irei passar os próximos cinco anos! E... Eu imaginava que moraríamos juntos! E... Não com um cara, que é um baita de um arrogante! ― Você se acostuma com o jeito dele. Foi apenas a primeira impressão. ― E onde você está morando? Por que não me disse que se mudou? ― Eu sabia que se contasse, você falaria para a mamãe. E, por enquanto, eu não quero que ela saiba. ― E por que não? O que você está fazendo? ― Você sabe que ela não quer que eu siga no teatro, mas, é o meu sonho! Então, por enquanto, eu peço que guarde segredo. Procurarei uma forma de contar isto para ela sem que ela surte. ― E onde você está morando? ― Não é tão longe daí. Somente algumas horas. Suspiro ao telefone. ― Você vai se dar bem com o Kai. Como eu disse, foi apenas a primeira impressão. ― E só com essa primeira impressão... Eu já quero ir embora. ― Murmuro. ― Você disse que queria um apartamento para se sentir mais independente quando fosse para a faculdade. E o seu sonho era morar na cidade grande, então... Relaxa, sei que você vai conseguir se adaptar. E, daqui a pouco, você se formará. Respiro fundo e encosto as costas na parede. Mas seriam longos cinco anos convivendo com aquele cara... ― E... Quando você virá me visitar? ― Assim que eu puder. Escuta... Preciso desligar agora, falo com você depois. Tchau. ― Tchau. Encerrei a ligação e encarei por alguns instantes o número "12" na porta do apartamento, antes de voltar para o interior. ― Ok, ok... São apenas cinco anos. ― Tentei relaxar. ― Sessenta meses... ― Estreitei os olhos. ― E mil oitocentos e vinte e cinco dias. ― Tombei minha cabeça para trás. ― Tantos dias assim para suportá-lo? Argh! O que eu faço? ― resmunguei para mim mesma. ― Só tem um quarto. ― Kai alertou ao adentrar à sala. ― O segundo está interditado com algumas caixas. Depois você pode organizá-lo para você. ― Sacode um pouco os seus cabelos negros com a mão desocupada. Olhei para ele com um olhar forçado de "tudo bem", mas na verdade eu estava queimando por dentro. ― Por enquanto, pode ficar com o meu, enquanto não organiza o outro. ― Deu de ombros. Uau, de repente tão gentil... ― Dificilmente eu durmo em casa. ― Vestiu o moletom preto que carregava em suas mãos. Isso explicava o motivo de não o ter encontrado mais cedo quando cheguei ao apartamento.  ― E sobre a faculdade... Não comente nada sobre isso com ninguém. Quero evitar constrangimentos. E de volta o arrogante de antes. Reviro os olhos. ― E por que eu diria a alguém que estou morando com você? ― soo indignada. Kai mexe os ombros. ― Eu tenho uma reputação para prezar lá. E que reputação seria? O de “insuportável” do ano? ― E de qualquer forma, você não sabe se estudaremos na mesma faculdade. ― Contesto. ― Você se mudou para o prédio onde há uma universidade à 1km daqui. E se você veio para cá através de Benjamin, logicamente o meu raciocínio está certo. ― Soou seco. ― Bem, preciso ir. Um bom dia. ― Despediu-se e saiu do apartamento. ― Argh... ― Olhei f**o em direção a porta. ― Como ele pode ser tão chato assim? ― novamente reviro os olhos. ― E ainda mais... É o perfeito de um bagunceiro. ― Analisei todo o ambiente e parecia a casa dos horrores da bagunça. ― Parece que terei que arrumar tudo isso se eu não quiser viver em um chiqueiro. ― Bufei e caminhei por todo o apartamento pegando cada peça de roupa espalhada pelo chão. (...) O dia havia passado como um flash de luz. Logo era noite. Entretida com a arrumação do apartamento, sequer vi as horas passar. Eu estava exausta, mas o meu cansaço havia valido a pena. O apartamento, de fato, estava bem melhor do que antes. Um brilho. Ajustando apenas os últimos detalhes, termino por completo. Joguei-me no sofá e observei ao redor. Parecia mesmo que o tal Kai não voltaria esta noite para casa. Um alívio. Eu poderia comer algo e ir descansar sem me sentir desconfortável, já que era a primeira noite longe da minha família. Como eu havia planejado uma rotina noturna de uma verdadeira estudante que está morando sozinha ― teoricamente ―, preparei algo para comer e logo me encaminhei ao quarto. No dia seguinte eu teria aula ― o primeiro dia em uma universidade ― então, eu deveria estar preparada. Vesti o meu pijama e deitei na cama de casal, eu teria espaço de sobra. Apaguei a pequena luz que se fazia pelo abajur e virei para o lado, enrolando-me em meus lençóis e esperando cair no sono. (...) Ouvi a porta do quarto fechar com uma batida e um barulho de passos vir até a cama. Senti o peso de algo sobre o colchão, fazendo-o afundar um pouco. Parecia que eu tinha companhia. Olhei para o ser ao meu lado e quase surtei. O que ele está fazendo aqui? ― E-Ei! ― sentei na cama e cutuquei o seu braço. ― N-Não pode dormir aqui! Apenas ouvi um grunhido como resposta. ― Ei! Está brincando comigo? ― novamente o cutuquei. ― Não pode dormir aqui! ― Silêncio. ― Murmurou. ― Eu quero dormir. A sua voz parecia um pouco embriagada. Ele estava bêbado? ― V-Vá dormir em outro lugar! ― exijo. Kai balbuciou algo e apenas se enrolou nos lençóis da cama. ― Ei! Eu não estou brincando! Inesperadamente o seu braço passa por volta da minha barriga, fazendo-me tombar para trás. Todo o peso dos seus músculos estava sobre aquela região, forçando-me a ficar deitada. ― E-Ei! Tire o seu braço de cima de mim! ― esbravejei. ― Eu estou falando sério! Kai novamente resmunga algo inaudível. E depois diz: ― Essa sua boca só serve para reclamar? Por que não procura algo bom para se fazer com ela? ― lançou, sonolento, o que arrancou um grito de indignação dentro de mim. ― O-O que?! ― A cama é minha. ― Concluiu. ― Se quiser o sofá... Pode ficar. ― Retirou o braço de cima da minha barriga e virou para o outro lado. E para onde foi aquele cara que havia dito mais cedo que eu poderia ficar com o seu quarto? Já vi que ele não era alguém de palavra. ― Grr... i****a. ― Levantei da cama e recolhi os meus lençóis e um dos travesseiros, encaminhando-me até a sala. ― "A cama é minha". ― Resmunguei as palavras ditas por ele. ― Precisava esfregar na cara? ― revirei os olhos e joguei o lençol junto a um travesseiro sobre o sofá com um pouco de força, como método de descontar a minha raiva. ― Onde Benjamin dormia? Deveria ter a cama dele aqui. ― Resmunguei para mim mesma. Suspiro. Jogo-me no sofá e tento encontrar uma boa posição para dormir, apesar de saber que no dia seguinte eu amanheceria dolorida, independentemente da posição que eu dormisse.  
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