5 - Perséfone

1145 Words
Uma risada escapa dos meus lábios enquanto assisto aquela merda. Meu pai tentava a todo custo ensinar Azazel a se defender e manusear armas, mas o garoto era uma negação e não conseguia aprender de jeito nenhum. Azazel pode ser a cópia do nosso pai, mas com toda a certeza não herdou os mesmos dons, esses dons foram repassados a mim e estava feliz por isso, meu irmão não conseguiria lidar com os negócios e fazer o que fosse preciso, até mesmo matar. Assisto o semblante do meu irmão se fechar quando erra mais uma vez a mira e acerta tudo, menos o boneco, até sento um pouco de pena por ele, pois é óbvio que estava tentando surpreender nosso pai. E papai era uma pessoa tão incrível que não demonstrava o que estava pensando, ele apenas coloca a mão no ombro de Azazel e aperta de leve, incentivando-o a continuar. O celular do meu pai começa a tocar e ele se afasta para atender, vejo meu irmão soltar um suspiro de alívio e abaixar a arma, ele imediatamente vem se sentar ao meu lado e passa a mão na testa tentando se livrar do suor, contudo consegue apenas deixar seus cabelos negros mais oleosos. Pego a arma de sua mão e coloco a trava no lugar, definitivamente não confio no meu irmãozinho com uma arma, ele poderia me matar acidentalmente e eu ainda tinha uma vida inteira para viver. De preferência com Cosmo, que parecia uma estátua no canto as sala de treinamento. — Droga, nunca consigo deixar papai feliz — Azazel resmunga e eu me compadeço com a sua dor. Só um pouquinho. — Você pode dizer a ele que não quer estar aqui — lhe dou a solução mais óbvia que existe. — Você não entende e nunca vai, é a filha perfeita. E eu só causo decepção! — ele parece a ponto de chorar e tento de alguma forma deixá-lo um pouco melhor. Dou umas batidinhas em suas costas e ele franze o cenho confuso. — O que você está fazendo? — Sério? Ele não entendeu que estou tentando confortá-lo? — Nada não — digo e tiro minhas mãos de suas costas, acho que essa coisa de carinho não estava no meu sangue. — Só para constar, não sou perfeita e estou longe de ser, apenas possuo mais treinamento que você. — Você é perfeita sim! Inclusive, papai tem preferência por você e não tenho ciúmes disso, juro — ele diz e olha para a parede a nossa frente, como se não pudesse desviar dela, parece que era melhor do que olhar para mim — Só queria ser bom em algo. — E o que você gosta de fazer? — pergunto e percebo que nunca tivemos uma conversa assim, profunda. De fato, vivíamos na mesma casa, mas nossa realidade era completamente oposta, esse é meu irmãozinho, uma pessoa que eu mataria e morreria para proteger, contudo não estava vendo o obvio há muito tempo, ele só precisa de um pouco de atenção. — Gosto de ir para a clínica da mamãe e ajudar, sabe? — ele sorri e vejo o sorriso doce da mamãe em seu lábios — Enfermeiro — diz e logo se exalta mais quando diz as próximas palavras — Talvez médico! — Então converse com o nosso pai e ele irá compreender, você pode até mesmo ser o médico que vai assumir futuramente a clínica e ajudará a família e todos envolvidos na máfia com o seu trabalho. — Você está certa! — ele se levanta de supetão — Até que você se serve para alguma coisa além de ser má, vou falar com o pai — ele diz e sai marchando atrás do nosso pai me deixando indignada. Má? Puff! Azazel não sabe de nada... Assim que meu irmão passa pelas portas me deixando sozinha, me levanto e sigo até Cosmo, que continua uma estátua de pedra, daqui a pouco já vai virar uma gárgula. — Conseguiu dormir ontem? — pergunto e abro meu melhor sorriso. — Consegui — diz e fica em silêncio. Ah Cosmo, por que tem que ser tão difícil?! — E? — E o que? — Não teve nenhum sonho? — provoco. Depois de tudo que falei para ele, tive até um sonho molhado! — Quando anos você acha que tenho? — Que eu saiba, da última vez que vi você tinha 45 anos. Isso não quer dizer que nunca mais irá sonhar. — E o que diabos você está querendo dizer com essa conversa? Não falo por enigmas, Perséfone — sento meu coração bater mais rápido ao vê-lo começar a perder a postura séria e ouvir meu nome em seu tom de voz rouco. Lhe dou uma rasteira antes que perceba e seu corpo bate forte no tatame, monto em sua cintura e encaro seus olhos castanhos claros, tão surpresos que quase saem para fora do globo ocular. — Também não gosto de falar por enigmas, mas o fato é que você é um homem muito difícil! É sério que ainda não percebeu? — Percebi o que? — ele tenta me empurrar, porém permaneço firme no meu propósito — Você quer treinar? É isso? Então vamos treinar! Bufo tão frustrada que minhas narinas poderiam soltar fumaça, ele sabe, mas não quer ver. Essa negação ridícula me deixa com tanta raiva que tenho vontade de pegá-lo pelo pescoço e beijar aqueles lábios vermelhos, entretanto meu pai e Azazel estavam perto, do contrário Cosmo estaria em apuros. Me levanto e deixo ele ali no tatame, caminho furiosa em direção ao banheiro, mas o que Cosmo diz logo em seguida me faz entrar em combustão de uma forma não muito boa. — Que garota louca! Dou meia volta e acerto um soco em seu rosto tão forte que minhas juntas doem até o fundo da alma, porém não deixo isso transparecer no meu rosto. — p**a que pariu! — Cosmo leva a mão ao nariz e sorrio ao ver o estrago que fiz, o sangue pintando lindamente o tatame — Você quebrou o meu nariz! — NÃO. ME. CHAME. DE. LOUCA! — digo furiosa, apenas eu mesma posso me denominar assim, nunca vou aceitar essa palavra saindo da boca de terceiros, até mesmo de Cosmo. A porta se abre e meu pai junto de Azazel assistem a cena com uma expressão confusa. — O que aconteceu? — meu irmão se adianta antes que nosso pai possa falar qualquer coisa. — Só estávamos treinando, acho que o Cosmo precisa ser levado para a clínica, estou indo tomar banho — dito isso, me afasto e vou rumo ao banheiro. Cosmo não quer enxergar o que está diante dos seus olhos, o homem é complicado demais, pelo jeito terei que redobrar meus esforços e tirar a venda dos seus olhos. E eu farei isso com o maior prazer.  
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