Emily narrando
Eu estava ansiosa pra chegar em casa e encontrar meus pais, o dia na faculdade foi puxado, mas saímos mais cedo como era o primeiro dia, então eu montei num mototáxi e parti pra rocinha, onde era a minha casa, não era bem na rocinha, era bem no início, não ficava dentro da favela mesmo
Eu cheguei em casa e vi dois carros no meu portão, um estava até sem placa ainda, era zero, não entendi nada, mas entrei vendo as luzes acesas
- pai ? Mãe ?- eu falei entrando e os dois pularam em cima de mim me abraçando e eu desabei a chorar, me entreguei ao choro de saudade
Como esses dois me fizeram falta, meu pai me apertava chorando com muita saudade, e eu não conseguia desgrudar deles, tá tos anos só por videochamada, eu estava precisando me sentir em casa como só me sinto nos braços deles
Jantamos juntos e era tanta conversa pra por em dia, tantas coisas a serem ditas, o tanto de fofoca que tinha do alemão, não era brincadeira, e eles como sempre, sabiam de todas elas, eu precisava tanto desse momento em família, que eu nem imaginava, me sentir em casa, mesmo num lugar tão pequeno, era como um sonho pra mim, eu estava em paz, realizada demais por ter eles perto de mim desse jeito
- que carro é aquele lá fora ?- eu pergunto enquanto comíamos a lasanha
- seu, compramos pra você, amanhã vou levar ele pra emplacar, mas depois de amanhã você já pode usar - meu pai fala e eu chego engasgar com a comida
- pai, não precisava, eu ia comprar uma motinha pra mim, eu guardei um dinheiro bom esses anos, eu não quero dar despesa pra vocês- eu falo séria - inclusive, vocês só pagaram esse mês do aluguel, e eu vou devolver tá, eu tenho o dinheiro pro aluguel- falo e eles negam me olhando sérios
- não mesmo filha, seu dinheiro você guarda para as suas coisas, até porque você vai precisar se manter aqui, então não queremos você gastando dinheiro com isso, e já pagamos três meses da casa - eles falam decididos comigo e eu suspiro
Com o tempo vou invertendo isso, isso é saudade de mim, querem me mimar como se eu ainda fosse criança, e eu não posso jogar essa responsabilidade pra cima deles, já estou bem grandinha pra isso
- minha filha arrumei todas as suas coisas no armário, no banheiro, tá tudo direitinho, fizemos compra também pra você, e eu trouxe algumas coisas congelada pra te facilitar, tudo que você trouxe do Goiânia eu já coloquei tudo arrumado - minha mãe fala apertando a minha mão - eu estou tão feliz que você está de volta meu amor, senti tanto sua falta - ela fala e eu sorrio
- eu também senti muita falta de vocês mãe, vocês nem imaginam- eu falo emocionada abraçando ela de lado
- e olha o coringa me mandando mensagem porque não fui beber com ele hoje - meu pai comenta rindo e meu corpo gela na mesma hora e eu fico em pânico só de ouvir o nome dele
- vocês não comentaram nada com ele né ? Pelo amor de deus - eu falo em desespero e eles negam rapidamente me olhando e me dando a mão, e eu já estava suando
- claro que não filha, ele viu seu carro hoje cedo, achou que era nosso e tudo, da nossa boca ele não vai saber de nada, você pode ficar calma, vamos fazer de tudo pela sua segurança - meu pai comenta e meu corpo estava gelado com o nome dele, só em imaginar o Hugo descobrindo que eu estou no Rio e vindo atrás de mim pra me envernizar de novo, eu tenho pavor só de me lembrar dele
Conversamos quase a noite toda, eu olhei a casinha e era perfeita pra mim, um quarto, sala, cozinha, banheiro, garagem, uma pequena lavanderia, estava ótimo, eu estava muito feliz de verdade
- nós já vamos, mas voltamos amanhã tá bom ?- meu pai da um beijo na minha testa
- me avisem quando chegar em casa tá - eu peço e eles concordam - eu devo chegar tarde da faculdade amanhã, hoje que foi mais tranquilo, então eu vou falando com vocês - eu falo e eles concordam- me abraçando
Eles deixaram meu carro aqui, e como eles também tem a chave, meu pai pegaria aqui amanhã, nem acredito que eles compraram um carro pra mim, é um popular, mas é zero, perfeito, eu não merecia tanto
Voltei pra dentro de casa, já estava tudo organizado, tomei um banho, e falei com um pessoal de Goiânia e depois fui descansar
No dia seguinte foi correria, fui pra faculdade e nem café da manhã tomei, passei o dia na correria me inteirando de tudo, organizando o meu currículo de aulas, interagindo, fui almoçar com uns amigos que fiz, dentre eles o Bernardo, um doce, mas uma carinha de vagabundo, ficamos de altos papos, e eu vou com eles para uma balada amanhã comemorar o início das aulas, já está tudo combinado
No fim do dia eu já estava exausta, estava tarde, lanchei com o pessoal na faculdade, e fui chamar meu Uber
- eu te levo poxa - Bernardo fala e eu n**o
- eu vou de Uber, não se preocupa- eu falo com ele que insiste e me leva pra casa
Ele morava na rocinha, me deixou quase no portão de casa, porque ele encontrou uns amigos, me chamou pra beber também mas eu preferi ir pra casa, ele quis me levar até o portão mas eu neguei, como era duas ruas da minha casa eu fui a pé
- amanhã podemos ir juntos- ele fala me dando um beijo na bochecha e eu esquivo um pouco pois foi bem perto da boca
- eu te mando mensagem, se ainda tiver sem carro nós vamos tá bom - falo e ele concorda
Eu fui pra casa e no caminho me distraí falando com o pessoal no grupo, olhei não vinha carro, quando cheguei no meio quase perto da minha casa, um carro bateu em mim e eu torci o pé caindo no chão na mesma hora, eu não sei de onde surgiu aquele carro
O homem veio me socorrer e eu vi que era o coringa, não pude acreditar, agora eu estou perdida, o Hugo vai descobrir de mim, ele não havia me reconhecido, então eu saí correndo, mas eu não conseguia colocar o pé no chão, doía muito e eu fui do mesmo jeito, até perder o equilíbrio e cair de novo
Coringa me levantou e me segurou com força, eu tentava fazer de tudo pra ele não me reconhecer, mas foi em vão, quando ele chamou meu nome eu gelei
- o que você faz aqui ? Do outro lado da cidade ?- ele fala estranhando e eu começo a chorar na mesma hora de desespero - tá doendo ? Deixa eu te levar no posto - ele fala e eu n**o
- não fala com ninguém que você me viu, principalmente com Hugo, eu te imploro - eu falo e ele parece confuso- vamos esquecer esse fato, só me deixa ir, por favor - eu falo e ele n**a- um amigo me leva pro posto, não se preocupa, não foi nada demais - eu falo tentando colocar o pé no chão mas não conseguia - coringa, eu juro, eu tô bem - eu falo sentindo todo o meu corpo tremer
- que amigo o que ? Eu vou levar você pro posto, você tá machucada- ele fala rude - vem, entra no carro- ele sai me puxando e eu faço força contra ele, mesmo que parecesse em vão
- não coringa, só me esquece, finge que nunca me viu, por favor - eu falo e ele n**a e me coloca dentro do carro ficando com a porta aberta e parado na minha frente
- por que você está com medo de mim ?- ele fala e se apoia na porta e sua camisa estica revelando os seus braços fortes, peito largo, e sua expressão mais madura, mas ao mesmo tempo jovem, é bem marcado que ele estava irritado
- não é de você coringa, mas esse encontro nunca poderia ter acontecido - eu falava e as lágrimas rolavam pelo meu rosto
- você vai me explicar o por que disso direitinho, mas primeiro vamos no posto ver seu pé, eu não vou te deixar aqui assim de jeito nenhum- ele fala sério e dá a volta no carro e eu só sabia chorar
É sério !? No meu segundo dia aqui ? Eu tinha que bater de frente logo com ele ? Isso não é justo.