Soraya
– Que absurdo!
– Absurdo é a sua proposta! – Acho que nunca em mil anos poderia imaginar que um dia Brendan iria me propor uma coisa dessas – é muito dinheiro, mas não para o senhor que é rico. – Retruquei decidida. Se ele quiser, vai ter que aceitar minhas condições.
— No entanto, são cento e cinquenta mil dólares? Eu ralei muito para conseguir tudo isto aqui — bate a mão na mesa, referindo-se a empresa. — Não posso jogar dinheiro fora atoa.
— Cento e cinquenta mil, nem mais, nem menos! — Disse firme.
Eu nem sei porque disse isso, mas eu vi nessa proposta de Brendan a minha válvula de escape para poder me livrar de todos os problemas. Sei que posso estar agindo de má vontade exigindo dinheiro em troca de favores, mas estou precisando.
— Cinquenta mil.
— Não quero.
— É um bom valor.
— Mas não é a minha condição.
— Que inferno ! — Resmungou ele.
Brendan se manteve pensativo por breves minutos, em seguida me observou com cara de poucos amigos e, por fim, aceitou.
— Quero te pedir que seja discreta com o nosso trato e que não exponha ninguém. Bem, quero ser bem claro em relação a essa proposta, confio em você, espero que não me decepcione. Poderia sim pedir isso a outra mulher, mas sei que poderia correr o risco de ser chantageado.
— Não farei, tenha minha palavra. Mas por via das dúvidas, para que tudo fique mais confiável, se quiser pode fazer um contrato.
Sei que é a forma mais viável para essa proposta, para que tudo fique em pratos limpos. Além do mais, não quero que Brendan interprete a quantia que exigi de maneira negativa, espero que ele não pense que eu desejo arrancar mais dinheiro seu com chantagens ou algo do tipo.
— É exatamente isso que irei fazer. Vou entrar em contato com o meu advogado. — Pegou o celular do bolso e começou a digitar algo nele — E você pode tirar o dia de folga se quiser.
— E a minha faculdade?
— Não se preocupe, eu mesmo resolverei esse pequeno empecilho. Em uma semana partiremos para a Califórnia.
— Você é da Califórnia?
— Sim, gracinha.
Nossa, eu sempre tive vontade de ir para Califórnia me falaram que lá é maravilhoso, sempre quis sair e viajar. Assim que cheguei aqui imaginei que mudaria de vida em um piscar de olhos,que trabalharia, teria uma bela casa, como as que vemos nos filmes, escolheria os melhores roteiros para conhecer. Ao contrário disso, minha vida se resume apenas em trabalhar e depois estudar, consequentemente fui deixando meus planos de turistar de lado. Sempre vendia as minhas férias, porque dinheiro extra é essencial, então abrir mão do que queria e foquei somente no que eu mais precisava no momento.
— Com licença Senhor Willians. Até amanhã.
Deixei de sua sala e preferi ir para casa mesmo, aproveitar o dia de folga para estudar e pensar em tudo.
Saí da empresa e fui em direção ao metrô, todos os dias durante a semana minha rotina é cansativa. De casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade e da faculdade para enfim, casa!
Quando cheguei nos Estados Unidos tinha apenas dezenove anos, e graças a Deus conseguir um visto durante um bom tempo.
Meu casamento com o Christian foi um inferno desde o "sim" até o dia em que me ligaram e falaram que ele havia morrido. Acho que esse foi o maior erro da minha vida, ter me iludido por alguém e casado pensando sentir amor, eu estava totalmente enganada.
No começo Chris, como eu o chamava, era um amor, parecia ser tão atencioso, hoje olho para trás e vejo o quanto fui ingênua em acreditar em tudo que ele me falava. Fui simplória quando casei com ele depois de sete meses de namoro que foram os melhores, ele foi o meu primeiro... no entanto, depois da nossa lua de mel, minha vida deu uma virada de trezentos e sessenta graus, tornou-se um inferno e, Chris mostrou ser um demônio. Não sei como pude suportar viver um ano e meio nesse inferno, outra em meu lugar teria surtado ou feito uma besteira.
Ele era agressivo e alcoólatra, também desconfiava que ele usava drogas. A única coisa boa em ter casado com ele, foi que assim conseguir o visto definitivo para ficar aqui, tirando isso, até sua morte me deu trabalho, não havia corpo para ser enterrado, dois dias depois que eu soube que ele morreu, fui notificada de que a casa havia sido vendida, portanto tive que sair as presas e procurar um lugar para morar. Tranquei a faculdade por um tempo e só retornei os estudos quando me estabilizei.
Sorte que desde quando cheguei aqui conseguir um emprego na empresa do senhor Willians, como estagiária e depois de um ano eu já era a mais nova contratada da empresa. O salário não é tão r**m, porém, às vezes tenho dificuldade em me manter, p**o a hipoteca da casa, p**o a faculdade e mando dinheiro para minha mãe que mora em uma cidadezinha no interior do México.
Nunca passei fome, graças a Deus, mas diversas vezes me sufoco com tudo e penso em desistir da faculdade só para sobrar uma graninha extra no fim do mês. Minha hipoteca está atrasada há dois meses e essa proposta de Brendan é ideal para que eu possa quitá-la completamente, mandar um dinheiro para mamãe reformar a nossa casinha e ajudá-la a se manter.
De modo algum imaginei que Brendan poderia me fazer uma proposta dessas. O que mais me intriga é por que logo eu? Onde trabalho tem mulheres lindas e exuberantes, não sei o porquê de me propor isso, mas não foi de todo modo r**m.
Já são quatro e meia da tarde. Decidi fazer algo rápido para jantar, hoje meu dia foi tranquilo, fora da empresa. A campainha toca e me assusta, não recebo muitos convidados, não tenho uma lista extensa de amigos. Para ser sincera, apenas Dona Amália -uma senhora muito gentil que mora na casa ao lado-, vem aqui de vez em quando perguntar se preciso de algo.
— Brendan? — Pigarreio e logo me corrijo — Quer dizer... Senhor Willians.
— Não precisa de tanta formalidade, estamos fora da empresa.
Era a última pessoa que eu esperava bater na minha porta.
— O que faz aqui?
— Precisamos conversar. — Responde ele. Sem esperar por minha autorização ele adentra a sala em passos rápidos.
— Tudo bem, pode sentar. — Indico um canto do sofá, e não entendo o meu nervosismo em vê-lo na minha casa. É tão… íntimo — Como sabe onde moro?
— Eu xeretei sua vida, precisava saber se não tem antecedentes criminais. — Ele diz, o rosto impassível, até cair no riso.
— Pesado.
— Não se ofenda, precisava saber.
— Não me ofendi.
— Por que não me disse que era casada?
— Viúva. — Esclareci sentando no sofá à sua frente — Meu marido morreu faz uns anos.
Percebi que ele estava intrigado, certamente por não ter ideia de que eu era casada. Apesar de nossa relação no trabalho ser próxima, a todo momento estamos juntos, conversando sobre algum projeto, analisando papeladas, fazendo anotações, relatórios… somos dois estranhos um para o outro, o pouco que sei sobre Brendan é o que todos sabem. Rico, gostoso, inteligente e vive desfilando com mulheres diferentes por aí. Confesso que senti uma inveja branca do Senhor Williams por ter ficado com a Taylor Swift e a Margot Robbie, elas são tão lindas e perfeitas.
— Hum… tem algo a mais que você queria me contar?
— Não! Sou mexicana, moro nos Estados Unidos há quase sete anos, faço faculdade, não tenho pai, somente mãe, nunca fui presa, não bebo e muito menos fumo. Ah… não tenho passagens pela polícia.
— A quantia que exigiu, para que quer? — Brendan perguntou e pareceu curioso em questão de saber o que tinha por trás da minha exigência — Seja sincera.
Eu não precisava mentir, principalmente porque não quero que ele pense que sou uma interesseira, que aceitei somente por dinheiro. Em partes sim, porque preciso quitar minhas dívidas, no entanto, minha precisão é bem maior.
— Preciso pagar a hipoteca dessa casa. — Retorqui sincera, esfreguei minhas mãos sobre as coxas ao explicar — Como vê, a casa não é das melhores, o bairro também não é lá essas coisas, mas às vezes tenho dificuldade de me manter sozinha aqui. Estou com dois meses atrasados.
— Se tivesse me falado antes eu nem teria questionado, aceitaria lhe dar o dinheiro sem reclamar.
— Como eu poderia imaginar, né?
— Verdade. Nós nunca conversamos… — relatou Brendan pensativo.
— Nós nunca conversamos, desde quando comecei a trabalhar para você. Bom, ao menos, não sobre nossa vida pessoal.
— Mas agora teremos todo o tempo do mundo para nos conhecermos. Você vai ser minha noiva... de mentirinha. — Ele se corrigiu, olhou para seu relógio.
— Isso aí!
— Espero não esta atrapalhando.
— Não se preocupe, não está.
E se for parar para pensar, essa é a primeira vez em anos que nós conversamos algo que não tem a haver com trabalho. E o olhando assim, ele não parece ser aquele homem mau humorado e estressado que eu costumo lidar todos os dias. Provavelmente todo aquele gênio de cão que ele possui quando está na empresa é somente uma farsa. Afinal, tomar conta de uma empresa deve exigir muito dele, é uma rotina cansativa, lidar com pessoas é difícil.
E hoje a noite, com Brendan nos rendeu uma boa conversa. Fiz um cafezinho, e nos perdemos aos risos. Acabei faltando a faculdade, não queria ser grosseira em ter que mandá-lo ir embora. Aliás o papo estava tão bom, falamos sobre tantas coisas, chorei de rir em uma de suas histórias do colegial. Acabamos nos encontrando em alguns aspectos, compartilhamos o mesmo gosto em relação à músicas e filmes. No fim da noite quando ele foi embora os músculos do rosto estavam doloridos, me senti feliz. Me peguei sorrindo ao fechar a porta depois que ele deixou minha casa.