Capítulo 1

1830 Words
Após horas de vôo que pareciam intermináveis, Pamela chegou ao quarto que ocuparia na universidade. Ela foi bem recebida por Camila, sua colega de quarto, que se encarregou de explicá-la todos os pormenores antes de deixá-la a sós para tomar banho. A moça esperou a banheira encher, e colocou um dos dedos do pé para averiguar a temperatura da água. Ao achar tolerável, submergiu todo o corpo, esperando até que a água morna relaxasse os seus músculos doloridos.  Pamela não sabe ao certo quanto tempo passou na banheira, e lembra de ter escutado a porta abrir e fechar umas duas vezes, mas o que de fato a deixou preocupada foi um barulho suspeito que veio do quarto.  Gemidos abafados. Murmúrios incoerentes. Barulho de cama rangendo. Alguma coisa estava errada, e ela precisava impedir antes que destroçassem seus pertences que continuavam na cama. Ela se levantou da banheira, vestiu-se com o seu roupão azul-claro e caminhou vagarosamente para fora do banheiro. A cena grotesca que encontrou á sua frente a fez esquecer de como respirava por quase um minuto inteiro. Um homem posicionado entre as pernas de uma mulher, chocando o seu quadril ao dela sem a menor piedade. Ambos estavam nus, e foi possível visualizar os s***s bem desenhados da outra moça que ainda estava de olhos fechados e lábios entreabertos quando Pamela os flagrou. - Mas que diabos está acontecendo aqui?- Pamela gritou. Os dois se assustaram com a presença dela, e no fundo, sentiu uma enorme satisfação por isso. A garota estava muito vermelha, corada do pescoço as bochechas, e a raiva indescritível que sentiu ao ver o casal transando em sua cama só aumentou ainda mais quando percebeu que um de seus livros estava jogado ao chão. - Saiam da minha cama ou eu juro que arranco o couro de vocês dois.- Ela trincou os dentes. A primeira a ficar de pé foi Malu, que instintivamente cobriu os próprios s***s. O outro, ela pôde perceber, que o cinismo era inabalável.      O sorriso era torto, esbanjando malícia, e os olhos castanhos e insondáveis.  - Sou Henrique, irmão da Camila. Uso o quarto da minha irmã na ausência dela, não sabia que tinha chegado uma aluna nova.- - Quer fazer o favor de não pisar no meu livro!- Pamela agarrou o objeto, como se pudesse protegê-lo com um abraço. - E-eu sou a Malu, sinto muito por todo o transtorno.- - Por favor… Se vistam e vão embora do meu quarto.- Pamela deu de ombros, colocando o livro que tinha nas mãos na mesa de cabeceira ao lado de sua cama. - Oh puritana…- Disse Henrique, ao terminar de fechar a própria calça. Pamela parou de caminhar, mas não se virou de frente.  - Eu aconselho mandar alguém trocar o lençol. Bom… Sempre escapa líquido seminal da camisinha.- - Fora do meu quarto!- Indignada, Pamela agarrou o abajur que estava ao lado da cama de Camila, aproximando-se dele com o objeto, como se fosse batê-lo. - Calma… Eu só estava te dando um conselho.- - Quer que eu te diga aonde deve enfiar os seus malditos conselhos?-  - Garota m*l educada…- Resmungou Henrique, saindo sem camisa pelo corredor. - m*l educada? Ele usa o meu dormitório de motel, suja a minha cama, pisa no meu livro, e eu sou a m*l educada?- Pamela enumera cada um dos fatos nos próprios dedos, se virando para Malu, que terminava de calçar suas sandálias. - Eu sinto muito de verdade. Bom… Até mais.- A outra garota também foi embora. ... Meia hora depois - Desculpa mesmo pelo que meu irmão fez.- Camila pousa o copo de café gelado sobre a mesa do refeitório, colocando uma de suas mãos sobre a de Pamela. - Não foi culpa sua.- Pamela deu uma tapinha suave na mão da outra.-  - Saiba que eu não dei a chave do dormitório ao Henrique, ele que...- - Aqui estão suas chaves, irmã.- Henrique joga o molho de chaves na frente de Camila, apoiando as duas mãos na mesa.- Acabei esquecendo de devolver para a sua mesinha de cabeceira.- Ele encarou Pamela com um sorriso mordaz.- Culpa da sua amiga nervosinho. Pamela revirou os olhos com impaciência. - Eu nunca te dei o direito de fazer esse tipo de coisa no meu quarto! Eu o proíbo de usar o nosso dormitório para os seus...- Ela olhou com nojo para o próprio irmão.- Encontros amorosos. - Bom... Eu sempre te digo para fechar a porta. Culpe-se por ser esquecida.- - Esse garoto é um folgado! Camila, como você o suporta?- - Não tenho muita escolha.- A outra deu de ombros. - Não vai me apresentar para a sua amiga?- Ele ergueu a coluna. - Não me interessa ser apresentada para você, e menos ainda saber o seu nome. Não pretendo ter nenhum diálogo com uma pessoa m*l educada que não tem a capacidade de se desculpar, ou de sentir remorso.- - Remorso eu tenho do que não faço, gata.- - Não te dei o direito de falar assim comigo.- - Não liga para ele, Pamela. O prazer do meu irmão é infernizar os outros.- - Pamela... Então esse é o seu nome.- - Nos deixe terminar nosso café em paz, amanhã temos aula e precisamos dormir cedo.- Camila repreende Henrique. - Como se alguém precisasse estudar muito em uma faculdade de letras.- Henrique riu com desdém. Camila encolheu os ombros ao ver a expressão de fúria de sua colega de quarto. - Como é?- Perguntou Pamela. - Não dê ouvidos a ele, gosta de falar isso para me provocar.- - Meu pai sempre disse que o curso de letras é para quem não sabe o que quer da vida.- - Henrique faz parte da aristocracia do nosso prédio. Ele cursa direito.- - Eu sempre soube o que quis.- Pamela ficou de pé, segurando o seu copo de café.- E você, Henrique? Será que pode dizer o mesmo? Ou será que a sua opinião é a opinião apenas de seu pai.- E com sua deixa, Pamela se retirou do refeitório. - Como você consegue ser desagradável quando quer.- Comentou Camila, dando um último gole no café antes de sair. Pamela praticamente correu no sentido das escadas, precisava de seu quarto. Ela sentia os olhos arderem e estava morrendo de raiva por não ter voado no pescoço daquele preconceituoso.  Seu pai, Daniel Santiago, o advogado mais brilhante que o país já teve, um dia lhe disse que todas as profissões são importantes, e que com certeza a sua filha seria boa em qualquer coisa que fizesse, desde que fizesse com amor.  Ela cruzou o corredor um pouco desnorteada, por que diabos aquelas portas marrons eram todas iguais? Olhou para trás apenas por um breve momento para conferir se estava indo pelo lugar certo, e quando se voltou para frente, sentiu-se chocar contra um corpo firme, que a segurou pelos braços para que ela não caísse. - Me desculpe... E-Eu... É meu primeiro dia, e fiquei um pouco perdida.- - Não se preocupe, essas coisas acontecem.- Ele deu um sorriso extremamente gentil. O rapaz era praticamente um Adônis de cabelos negros e olhos azuis piscina. O coração de Pamela por um minuto não pulou pela boca, e ela sentiu que estava boquiaberta diante a beleza radiante do rapaz. - Sou o Otto. É um prazer conhecê-la.- Ele esticou uma de suas mãos. - Pamela.- Ela apertou a mão dele em um cumprimento. - Bom... Se quiser posso ajudá-la com seja lá o que estiver procurando. - Ah... Não será necessário, eu já achei o meu quarto.- Ela olhou na direção do corredor que dava para a porta de seu quarto.- Mas... Poderíamos caminhar pelo campus, ainda não conheço nada direito. - Será um prazer. Te mostrarei os prédios dos cursos que ficam aqui perto, as lojas para os universitários e depois poderemos almoçar. O que acha?- - Acho uma ótima ideia, Otto. E obrigada por tanta hospitalidade.-  - Não precisa agradecer.- O canto da boca de Otto se ergueu em algo parecido com um sorriso. A fisionomia dele fazia Pamela lembrar de alguém, embora ainda não tivesse assimilado.  Os dois caminharam de volta para as escadas, descendo os degraus até o outro piso. Eles cruzaram a área em comum do prédio em que ficava os dormitórios conversando sobre amenidades e passaram pela outra porta, que dava acesso á rua. Na área em comum tinha os outros estudantes dispersos pela pequena cafeteria que ficava de frente, e sentados pelos sofás e cadeiras que vinham acompanhados de pequenas mesas para estudos. Sentado próximo à janela que ficava acima de um dos sofás estava Henrique, acompanhado de seus amigos de sempre: André, Thom e Gustavo. - Aquele ali não é o seu primo com a colega de quarto da sua irmã?- Observou Gustavo, de maneira maliciosa. Henrique virou a cabeça no sentido em que o casal estava, vendo-os cruzarem á sala e saírem do prédio.  - Bonita a moça.- Comentou André. - Pufff. Essa coisinha esquisita?- Zombou Henrique. - Está implicando só porque ela não caiu aos seus pés, como a maioria.- Provocou André. - Não me sentiria atraído por essa magricela nem se ela fosse a última mulher da face da terra.- Henrique bufou. - Bom... Toda história de amor começa assim.- Thom cutucou a costela de Henrique com o cotovelo. - E desde quando você se prende a esses detalhes?- Henrique ergueu uma sobrancelha. - História de amor?- Gustavo gargalhou.- Que espécie de bicho exótico você virou? - Bom, eu acredito nisso.- Thom deu de ombros. - Eu achei a novata gostosa.- Comentou Gustavo. - Não deveria se referir a uma mulher desse jeito.- Repreendeu André. - Vocês dois não são homens.- Gustavo disse á Thom e André.- São duas gazelas cobertas de... Como é o nome daquele brilho?- - Purpurina.- Ajudou André. - Viu como ele sabe?- Respondeu Henrique, com um sorriso malicioso. André revirou os olhos, e Thom quase imitou o gesto. - Isso não me ofende. Um homem não seria menos homem por não se sentir atraído por uma mulher.- André disse secamente. - Eu concordo.- Falou Thom. - Estão querendo justificar a atração que vocês sentem por homens?- Gustavo continuou com a provocação. As vozes de seus amigos debatendo sobre o tema foram ficando distantes. Henrique estava pensativo sobre tudo o que lhe ocorreu naquele dia.  E por que diabos parecia incomodar tanto o Otto ter se dado bem com a garota nova, enquanto ele não?  Ele claramente não tinha respostas claras para isso. Exceto, é claro, o fato de que o primo sempre tentava competir com ele em tudo.  Era isso, Otto queria esfregar na sua cara que podia conquistar a única garota que o menosprezara, a essa altura já tinha se espalhado a confusão entre Henrique-Malu-Pamela.  Mas Henrique não deixaria isso barato. Ele iria mostrar para o seu primo que sempre consegue tudo o que quer, incluindo a garota nova.
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