- Eu não acredito que você é primo da Camila!- Pamela parecia surpresa, mas não de um jeito r**m. Os dois estavam de frente um para o outro, em um dos restaurantes que ficava bem próximo do campus.
Otto a mostrou o prédio que ela estudaria - que por sinal, era o mesmo que ele, que cursava direito, assim como Henrique, seu primo.-, depois os dois foram em uma feira local para que Pamela conhecesse o artesanato da cidade, e por último, Otto a convenceu de fazer uma travessia de barco para que pudessem almoçar. O restaurante que ele escolheu para levá-la era lindo, apesar da aparência uma pouco rústica. Flores vermelhas ficavam dispersas pelas paredes, assim como uns quadros antigos.
- Ah, nem eu acredito nessa coincidência.-
- De certa forma, vocês se parecessem.- Pamela deu de ombros.
- De certa forma?-
- Na hospitalidade. A Camila foi muito receptiva comigo.-
- Já conheceu o irmão dela?-
- O Henrique?- Pamela deu um gole generoso no seu suco, devolvendo-o para o mesmo lugar da mesa.- Tive esse desprazer.-
- Não gosta dele?-
- E nem ele de mim.-
- Algum motivo específico?-
- Prefiro não falar disso.- Ela bufou.- Me fala sobre você, então quer dizer que já termina no ano que vem?-
- Sim, no final do ano, felizmente.-
- E o que quer?-
- Advogar. Quero ter meu próprio escritório de advocacia.-
- Você tem perfil de advogado mesmo… O jeito que fala e olha para as pessoas.-
- O que significa?-
- Significa que você demonstra ser uma pessoa segura e tranquila. Pessoas assim tendem a ter uma forte inteligência emocional.-
- Você é bem observadora.-
- Sou.- Ela esboçou um sorriso triunfante.
- Mas eu também sou.- Otto se aproximou como se lhe fosse confessar um segredo.- Posso te dar alguns adjetivos só olhando nos seus olhos.- Ele abriu um sorriso de canto.
- E quais são os meus adjetivos?- Ela se inclinou para frente, imitando o mesmo sorriso dele.-
- Você… Pamela Salsa, tem olhos vivos. Eu diria que é uma pessoa muito intensa, sem medo de viver ou de sentir.-
Pamela, que parecía ter gostado da descrição, estava sorridente. Otto percebeu que os olhos dela tinham duas cores. Eles eram uma misturada de verde com dourado, e ficavam ainda mais destacados por conta dos cabelos escuros.
- E o que mais você diria?- Ela não perdeu o contato visual com o rapaz.
- Eu diria também… Que você sabe o que quer, e que não desiste fácil.-
- Acertou… Nas duas características.- Ela parecía orgulhosa.
- Então mereço um prêmio…-
- Qual prêmio?- Ela estreitou os olhos.
- Sorvete hoje a tarde… O que me diz?-
- Jamais recusaria um sorvete.-
- Sorte a minha.-
- Sorte a nossa, Otto.-
Ela havia gostado dele de primeira, assim que seus olhos bateram. Otto era gentil, educado, prestativo… Justamente o oposto de seu primo Henrique.
- Gosta de festa?-
- Gosto… Por quê?-
…
9 horas p.m
- Será que foi boa ideia? Amanhã temos aula logo cedo.- Murmurou Pamela, assim que as duas adentraram a área privativa reservada para a festa dos calouros.
- Claro que foi! Hoje é seu primeiro dia aqui, para se enturmar com os outros tem que frequentar pelo menos três calouradas.-
Pamela respirou fundo, lembrando-se de que marcou presença com Otto. Ele havia sido tão gentil que ela se sentiu na obrigação de comparecer áquela festa.
A chamada calourada estava sendo realizada em um dos jardins do campus. Alguns músicos se apresentavam próximo as mesas de comes e bebes, e uma iluminação decorativa margeava todo o jardim. Pamela varreu o ambiente com os olhos, procurando pelo seu novo amigo.
- Procurando o Otto?- Perguntou Camila.
- Acho que ele ainda não chegou.-
- Daqui a pouco ele vem. Vamos, quero te apresentar minhas amigas.- A garota segurou uma das mãos de Pamela, arrastando-a no sentido em que estavam as outras meninas.
Todas tinham entre 18-19 anos, e pelo carinho com que se cumprimentavam, Pamela percebeu que, provavelmente, aquelas meninas já faziam parte da vida de Camila há muito tempo.
- Meninas, essa é a Pamela, minha colega de quarto.-
As duas moças acenaram na sua direção, com um sorriso acolhedor.
- Já suporto essas duas há mais de dez anos.- Confessou Camila.
- Ela nos ama… Não é sempre, mas ama.- Brincou Ariane, tomando a iniciativa de estender a mão.- Sou a Ariane.
- Pamela. É um prazer te conhecer.- Pamela apertou a mão dela.
- Igualmente.- Respondeu a moça.
- Sara.- A outra jovem também estendeu a mão para Pamela, que imediatamente a segurou.
- Está gostando da faculdade?- Perguntou Ariane.
- Cheguei hoje de viagem, mas pelo que conheci… Estou apaixonada.-
- E o que conheceu?- Perguntou Sara.
- A feirinha local e fiz a travessia de barco para aquele restaurante hawaiano.-
- Bom… Ali não é bem um restaurante hawaiano. Tem de tudo um pouco.- Sara falou novamente.
- Ela foi com meu primo. Os dois ficaram amigos.- Camila deu uma cotovelada em Pamela.
- O Otto?!- Ariane levou uma das mãos a boca, ao perceber que falou alto demais.
- Qual outro primo meu estuda aqui?-
Ariane olhou de cara f**a para Camila.
- O Otto não namorava a Malu?- Perguntou Sara, confusa.
- Isso foi há algum tempo, antes do Henrique ficar com a Malu.- Respondeu Ariane.
- Ah, foi! Os dois ficaram quando a Malu ainda namorava o Otto?- Perguntou Sara.
- Isso. Henrique foi o pivô do término dos dois.- Explicou Ariane.
Pamela apenas olhava de uma para a outra, tentando não se perder no diálogo.
- A Malu por um acaso era…- Pamela se virou para Camila.
- A garota que você flagrou com o meu irmão no nosso quarto.- Camila completou.
- Gente… Como assim? Explica isso direito. Voce flagrou os dois no ato?- Ariane perguntou á Pamela.
Pamela explicou a situação sem muitos detalhes, era muito vergonhoso para ela admitir a forma em que viu Henrique entre as perna da moça, e em como os s***s de Malu estavam vermelhos e descobertos.
Ela também não evitou lembrar dos sons dos gemidos, e de como Malu arqueava o corpo ao se agarrar nos lençóis da cama que consequentemente era a SUA cama.
Pamela não evitou enrubescer.
- Gente… Que situação desagradável. No quarto de vocês…- Sara parecia atônita.- E na sua cama.- Ela se virou para Pamela ao falar.
- Bom… Eu fiquei furiosa.-
- E não é para menos.- Concordou Ariane.
- Malu contou que você ameaçou o Henrique com um abajur.- Camila prendeu o risinho.
- Bom, eu não tinha outra arma que usar… - Pamela ponderou a situação.- Até tinha, mas não estava disposta a colocar a integridade física de um dos meus livros em risco.
- Entendo.- Proferiu Sara, ao sentir cumplicidade com o momento.
De repente, ele entrou.
Por que estava tão em expectativa para a chegada do Otto?
Pamela sentiu seu coração acelerar, desacelerar e dar cambalhotas.
Tudo bem, ele foi extremamente gentil e amigável.
Tudo bem, ele é extremamente bonito e atraente.
Mas isso não justifica o fato de Pamela sentir um frio arrepiante na barriga só porque o viu entrar na área da festa. Ele olhava para ela e caminhava na sua direção.
Era como se todo o restante das pessoas tivessem sumido, incluindo as meninas que a acompanhavam. As vozes foram ficando distantes, e Ariane pareceu ter perguntado algo, mas Pamela não conseguia mover a boca para responder.
- Você veio.- Otto disse o óbvio.
- Disse que viria.- Ela se forçou a não deixar a voz falhar.
- Fico feliz que esteja aqui.-
- Eu também fico.- Pamela respondeu rápido demais.- Feliz… De estar aqui.- Ela hesitou ao complementar a frase, mas achou que fosse necessário.
- Boa noite, meninas.- Ele ergueu as vistas para as outras.
- Boa noite.- Responderam em uníssono.
- Parece que alguém pediu uma música lenta.- Otto estendeu a mão para Pamela.
- Isso é um convite?- Pamela segurou a mão dele.
- Posso reformular se quiser.-
- Assim está mais do que o suficiente.-
Os dois caminharam para perto da banda. Outros casais tomaram coragem de ir depois que os viram no centro do salão improvisado.
Otto levou suas duas mãos a pressionarem a cintura de Pamela e ela sentiu o ar lhe deixar os pulmões. A moça, habilidosamente, envolveu os dois braços ao redor do pescoço de Otto, deixando a ponta do seu indicador roçar sobre a nuca dele. Quando a música tocou, eles moveram os pés com maestria e sem perder o contato visual.
A pele dele era quente, como se ardesse sempre em febre, e seus lábios pareciam diabolicamente macios.
Pamela foi impulsionada pela súbita vontade de beija-lo. Em um momento específico que a música tocava, ele a girou, e quando Pamela retomou a posição inicial, os metros de distância, que antes separavam os dois, diminuíram, e Pamela sentiu que era capaz de sorver todo o ar quente que ele soprava de seus lábios.