As algemas tilintando conforme esfregava nervoso uma mão na outra compunham a sinfonia da ansiedade. Era estranho assumir isso, mas Mark Wolff m*l via a hora de se tornar um presidiário. Ou melhor dizendo, um policial infiltrado como presidiário.
E faltava pouco para estrear a sua rotina atrás das grades. O furgão que o encaminhou da delegacia já havia adentrado o terreno da penitenciária Windfeld. Tudo estava saindo conforme o plano, o guarda por trás de uma espessa camada de vidro blindado o conduzia com serenidade apesar das ameaças do segundo detento a bordo.
Mark não dava a mínima para o rapaz exaltado ao seu lado e ocupava sua mente revisando os detalhes que decorou sobre o seu alvo: Robert Lewinski, o polonês de 28 anos e filho de um traficante local, foi designado para reter toda a sua atenção pelos próximos sete meses. Apesar de ser considerado mais azarado do que violento, Mark sabia muito bem que estar infiltrado era uma perigosa faca de dois gumes, já que estaria próximo o suficiente do alvo para descobrir tudo o que queria, ao mesmo tempo que estaria totalmente exposto.
Lewinski era a peça fundamental para a erradicar a circulação de cocaína na região e sua prisão recente foi mais que conveniente para o início da operação. Wolff sabia ser amigável quando convinha e estava disposto a tudo para se tornar íntimo dele.
E, como se não bastasse vencer a guerra contra o tráfico, Mark também tinha uma questão pessoal em mente ao querer investigar o que aconteceu com seu pai. Dado como falecido, o policial estava desaparecido há 20 anos desde um tiroteio e Robert era sua única esperança para descobrir no mínimo onde o corpo estava enterrado. Apesar disso, se por um milagre tivesse a possibilidade de espiar o quanto sua vida mudaria após se aproximar do alvo, deixaria tudo para trás e tomaria qualquer destino que não o levasse diretamente para o fundo do poço.
***
Cerca de meia hora após o almoço, Robert Lewinski se encontrava deitado no chão da cela encarando o teto. O piso de cimento e as paredes de tijolos cobertas por uma tinta bege acabaram se tornando o seu novo ‘habitat’. Não havia muitas coisas por ali, apenas duas camas simples de metal com colchões finos situadas uma em cada canto da cela, uma escrivaninha com uma pequena televisão, armários metálicos e uma janela era tudo o que ele tinha para olhar além da pesada porta de ferro que se encontrava fechada.
O moreno tinha uma pequena noção de como era a maioria dos presídios ao redor do mundo e sabia que a prisão de segurança mínima Windfeld era uma das melhores da Europa. O sistema visava a recuperação dos presos e isso incluía dar-lhes a liberdade de transitar livremente pelas áreas comuns da unidade dentro dos horários previstos.
Lewinski parecia bem relaxado para alguém que ainda esperava um julgamento e não dava sinais de estar incomodado por já viver dois meses sem liberdade. Nem mesmo o uniforme sem graça parecia abalar o polonês de 28 anos acostumado a se vestir com as grifes mais caras. Ele usava o macacão azul marinho, com a parte de cima amarrada na cintura, e uma camiseta branca por baixo, a qual fazia questão de sempre dobrar as extremidades das mangas.
Quem o olhasse poderia julgá-lo como apenas um prisioneiro preguiçoso e privilegiado que não precisava se ocupar com os trabalhos remunerados do presídio para abastecer a sua conta prisional. O que também não estaria completamente errado, mas havia outro motivo para ele não sair muito da cela. E esse motivo tinha nome e sobrenome. O sinônimo de problema que atendia por Olivier Blanc significava muito para Robert pelo fato de compartilharem o mesmo passado. Anos atrás era possível dizer que eles eram inseparáveis, mas nos dias e condições atuais, Lewinski negaria qualquer tipo de memória afetiva enquanto não se vingasse de Blanc.
Apesar de gostar de não dividir a cela com ninguém, Robert também sentia falta de contato social. Não era sempre que um velho conhecido seu estava por perto para trocar uma ideia e mais ninguém naquela prisão o interessava. E foi assim, resmungando mentalmente sobre o seu isolamento, que o polonês acabou se lançando na armadilha.
Sua cela era localizada na parte superior do bloco Sul do presídio com uma pequena janela com vista para o portão principal. Robert sabia dos rumores sobre novos detentos chegando naquele dia, só não tinha noção do horário em que a transferência seria realizada. O jeito era levantar-se e espiar pela janela.
Algum tempo depois de checar periodicamente, ele pôde avistar um furgão adentrando as grades de Windfeld. Os portões se fecharam e dois guardas que aguardavam no pátio abriram a porta assim que o veículo estacionou. O primeiro a descer do furgão foi um jovem moreno de aparência latina, vestido com uma camiseta escrita “Go Green”, algemado e muito furioso. Robert não conseguia ouvir o que ele gritava, mas percebeu que o rapaz raivoso provavelmente exigia seus direitos. Lewinski não se conteve e riu do desespero do moreno. Era-lhe estranhamente prazeroso rir da desgraça alheia.
O segundo a pôr os pés na grama sintética de Windfeld era um rapaz que aparentava ter uns vinte e poucos anos. Loiro, cabelos num corte militar e com uma beleza acima da média. Ele parecia um pouco tenso ao sair algemado do veículo, mas não o suficiente para quem estava sendo preso, o que fez Robert pensar que talvez não fosse a sua primeira vez na cadeia. Mas os olhos do polonês repararam também em outro detalhe: O loiro olhava em volta como se procurasse alguém e não dava a mínima para o que o guarda tinha a dizer.
Agora, um tanto interessado no novato, Lewinski saiu da janela quando os dois novos prisioneiros foram levados para o interior da unidade. O loiro lhe pareceu intrigante e Robert queria arranjar um plano para conhecê-lo e talvez achar um motivo para passar as noites em claro. Faltava apenas contar com um pouco de sorte e esperar que o novo detento também fosse para o bloco Sul.