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1398 Words
— Tá legal, última vez, senão a gente procura outro. — A gente, não querida, você. Não sou eu quem cismou em alugar um namorado só pra aparecer acompanhada na frente do ex. — Até parece que você não conhece o João... — Ah! Liga logo pro gostosão da foto. Liguei, ele atendeu no segundo toque. — Alô? Gaguejei. — É... oi... é... eu.. é... — Quer marcar um programa. — ele perguntou ou afirmou? — É. — minha voz saiu quase que um pedido de desculpas! — Mulher ou homem? — Mu-mulher... mulher! Pude sentir que ele sorria do outro lado da linha, meu Deus que ódio de mim! —Tá, uma mulher... várias mulheres... só mulher... — Só eu. — São cento e vinte a hora, vaginal, a posição que você escolher, não faço chuva de cor nenhuma, dourada, n***a, e não aceito isso também, nada com sangue, crianças, animais ou árvores... — Crianças?? Árvores?? Ele continuou com as condições e precisei interrompe-lo. — Moço. Moço! — ele se calou — Sou só eu, sem vaginal, oral ou anal. Ele ria do outro lado da linha, uma risada gostosa, Carolina segurava a boca, até então não havia tido nenhuma conversa assim, na agência era diferente, só precisei dizer que queria um acompanhante para um fim de semana prolongado e pronto! — Isso é trote, moça? Se for, não ligue, não posso ficar ocupando essa linha com besteiras e... — É sério! Só preciso de um acompanhante. Ele ficou mudo. Será que estava pensando? — Certo... onde podemos nos encontrar? — Anota o endereço.Passei meu endereço a ele enquanto Carol ficava gesticulando que era louca, pra não fazer isso. Mas eu fiz! E depois fiquei morrendo de medo! Foram mais de um século pra ele chegar, na eternidade de quarenta e cinco minutos, meu coração estava saindo pela boca! Carol resolveu manter um spray de inseticida à mão, afinal de contas, a gente não tinha spray de pimenta nem gás lacrimogêneo! A campainha tocou, Carol se levantou num pulo e olhou pelo olho mágico, se virou pra mim, com uma cara insana, a boca se abrindo aos poucos até formar um O, estava eufórica, se abanava com uma das mãos e a outra no peito. Fui até a porta, ele tocou novamente a campainha, olhei pelo olho mágico, mas ele estava apoiado na porta, cabeça baixa, só vi seus cabelos repicados. Franzi o cenho, Carol foi para o sofá, do lado oposto ao que havia escondido o spray de inseticida. Respirei fundo e abri a porta. O cara levantou o rosto e eu congelei. Ao mesmo tempo que minhas pernas tremeram. Ele sorriu, fazendo que não com a cabeça, umedeceu os lábios com a língua e voltou a sorrir de lado. O cara da livraria. Fiquei tão sem ação que ele levantou as sobrancelhas, esperando que eu dissesse algo, como não disse, fiquei feito uma retardada na porta, Carol veio em meu socorro, me puxou de leve para um lado e o convidou pra entrar. Senti o ar sair dos meus pulmões. Eu estava prendendo a respiração???? Que ridícula!!! Espera! O cara culto da livraria era um garoto de programa??? Meu Deus! Esse mundo tá perdido! — Oi, me chamo Carol, essa é a Débora. Senta aí. — Carol indicou o sofá e ele sentou justamente onde ela havia escondido o spray. Ele se recostou e sentiu algo o incomodando, puxou a lata de inseticida e fez uma cara de “ eu hein”, deixou a lata no chão, ao lado dele e ficamos super sem graça. Estava tão bem vestido, uma calça social cinza matizada, sapato social preto, camisa polo da Lacoste preta, relógio de prata, quando passou por mim senti um cheiro bom, tinha quase certeza de que era um perfume Giorgio Armani, mas sei lá, estava tão desorientada de ver o cara ali que me perdi nos pensamentos. Me sentei na poltrona de frente pra ele, Carol no sofá, mas na outra ponta. Ele ficou com pena da gente e começou a falar, parecia que era ele quem estava nos contratando! — Podem me chamar de Théo. Então meninas, qual de vocês precisa dos meus serviços? Levantei a mão meio envergonhada, Deus!!!! Voltei pra sexta série! — Tá, é... Bárbara... — Débora. — corrigi. Que mania que as pessoas tinham de trocar meu nome por Bárbara, nada a ver! — Tá legal, desculpe, Débora. Quando você disse sem vaginal, oral ou anal, o que tinha em mente? Ir em algum evento com você? É isso? — Isso. — E, você não tem namorado? — ele parecia incrédulo, enquanto gesticulava, era tão desenvolto... — Nnnnão. — Eu já vi que essa conversa vai ser longa. Posso? — ele indicou o pequeno bar que tinha próximo a televisão. Fiz que sim com a cabeça e ele foi lá, se servir, como se estivesse em casa! Carol abriu a boca mais uma vez e abriu as mãos também, fazendo mímica, “nota dez” mexeu os lábios. — Débora, toma alguma coisa comigo? — ele estava me oferecendo minhas bebidas?? — Carol? — ela fez que não, ele me olhou esperando eu responder. — Uma tequila. — eu estava aceitando??!! Ai meu coração tinha que parar de pular daquele jeito! Ele se serviu de uma dose de Absolut e misturou com alguma outra coisa, voltou com os copos, me entregou um, agradeci e ele os bateu num brinde mudo. Voltou a se sentar, visivelmente mais relaxado, de pernas cruzadas. — Que tipo de even— É que haverá uns eventos, ensaio de casamento, coquetéis, chá de panela e... e... seria estranho... — Se você aparecesse no dia casamento, do nada com um namorado. — ele pega as coisas rápido. — É. Ele deu um sorriso aberto, lindo. — Gosto desse seu “ é”. Olhei pra Carol e ela envergava a boca pra baixo, um sinal de afirmativo surgia discretamente em sua mão direita, escondidinho dele. — Escuta, Débora, a gente não se esbarrou na livraria na terça-feira, acho? — É. — outra vez esse maldito “ é”, mais parece um pedido de desculpas! Droga! — Você é o cara da livraria? — Carol estava boquiaberta — Tá explicado! — O que? O que tá explicado? — ele olhava curioso pra ela, que me olhava e eu fazendo que não, ele me olhou e olhou de volta pra Carol, os olhos se apertando um pouco, a cabeça levemente inclinada... Espera aí! Ele estava seduzindo minha amiga? — Ela comprou um livro qualquer só pra ir pra fila atrás de você. — ela falou! Falou? Quase cuspiu a frase inteira! — Jura, Débora? — Senhor!!! Cadê um buraco pra eu me enfiar??!! — Pensei que só quisesse ver o meu livro. Agora minha boca abriu de vez. Ele percebeu! Que merda do c*****o! — Eu... eu... — bebi a tequila de uma vez! — Como não perceberia, você estava “ lendo” uma revista de ponta cabeça. — escondo meu rosto em uma das mãos — Por isso deixei você matar sua curiosidade, claro, depois de ficar brincando um pouco com seus contorcionismos. Ele ria livremente da minha cara, estava absolutamente à vontade, que homem é esse?? Ele mordeu o lábio antes de continuar falando. — Mas achei bonitinho. Eu ri um sorriso amarelo. Então ele olhou no relógio, suspendeu as sobrancelhas e se levantou, instintivamente me levantei também. Théo deixou o copo no bar e se dirigiu à porta. Pelo menos consegui ir até ele e abrir a porta. — Carol, prazer em conhecê-la. Débora, como no seu caso não tem sexo, são trezentos Reais por dia ou obviamente cento e cinquenta por meio período de evento, você tem meu telefone, se resolver alguma coisa. Se aproximou de mim, era bem mais alto que eu, cheiroso demais, segurou no meu queixo me olhando nos olhos, pensei que fosse me beijar, meu coração pulando feito louco no peito! Fechei os olhos. Théo se inclinou, deixou um beijo em minha bochecha pegando uma pontinha ínfima dos meus lábios, senti meu ventre contrair no mesmo instante. — Tchau. — Tchau. — ele se foi, fechei a porta. Carolina me olhava com as mãos tapando a boca aberta. Arrastei meu corpo até o sofá e me sentei. O cheiro dele ficou na almofada, fechei os olhos inalando.
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