PAOLLA
Meu corpo todo doía, minha visão estava meio embaçada, eu não ouvida nada além dos meus pensamentos confusos que me culpavam, me enchiam de "e se" e "talvez". No fim, a culpa de tudo isso era unicamente minha.
Eu achava que se eu me entregasse a ele, tudo seria mais fácil, se eu permitisse que ele usasse meu corpo sem revidar ou reclamar, ele me odiaria menos, mas eu estava errada, nada do que eu fazia era capaz de amenizar os sentimentos ruins de Hugo sobre mim. Seu ódio e aversão por mim era quase palpável.
Abri os olhos e me sentei na cama vazia, criando forças para viver, eu não podia me deixar levar por um episódio depressivo.
Levantei sentindo todo meu corpo doer e caminhei até o banheiro, tomei banho e após me vestir voltei para o meu quarto, me deitei e fingi dormir enquanto chorava baixinho.
Eu me odiava por ser fraca, por não conseguir manter as lágrimas longe, no fim do dia, no escuro, eu só queria deitar e chorar como uma criança que precisava desesperadamente do colo da mãe. E Hugo me odiava por esses mesmos motivos. Ele não queria que eu fosse fraca, queria que eu aguentasse calada, ele queria que eu suportasse meu castigo com um sorriso no rosto, ele abominava minha fraqueza tanto quanto eu.
Após alguns minutos, eu estava mais calma, então decidi me arrumar. Voltei ao closet e escolhi um dos meus melhores vestidos, arrumei meu cabelo e me maquiei. Se havia uma coisa que a vida me ensinou e que eu nunca esqueceria era que, não importe o quanto destruída você possa está, deve se vestir de forma apropriada.
Hugo nunca chegou a me bater, mas ele arranjava formas e meios de me destruir mais aos poucos, a pior dela, que mais me machucava, era com certeza, me fazer uma de suas prostitutas quando lhe dava vontade.
Não era algo realmente prazeroso, e mesmo que durasse relativamente bem pouco, chegava a ser doloroso e eu implorava calada que aquilo acabasse de uma vez.
Definitivamente, não era a vida que eu imaginei quando me casei. Tive o sonho bobo de que viveria bem, longe das garras do meu tio, meio-irmão do meu pai e último parente vivo, que me não me via como uma sobrinha, levando em conta que assim que meu pai se foi, ele tentou tomar tudo que era meu por direito. Às vezes eu achava era melhor estar sofrendo com ele do que sendo humilhada por Hugo, mas eu não tinha mais para onde correr.
A solução era lidar com tudo isso e aproveitar as poucas coisas que o sobrenome Espósito me concedeu: um cartão de crédito infinito e certa liberdade, que eu poderia aproveitar durante todo o dia.
Geralmente eu ia em lojas, salões de beleza, assistia desfiles de moda, eventos de gala, mudava toda a decoração da casa em um surto criativo, renovava o guarda-roupa, mudava o cabelo, tudo que uma esposa troféu fazia enquanto esperava o marido chegar do trabalho e essa parte era realmente do meu agrado, mesmo que não valesse a pena, eu já estava acostumada com a vida que levava.
Dor. Culpa. Eram as únicas coisas que eu conhecia. E claro. Compras. Preencher o vazio e curar meus machucados com coisas caras e que no fundo eu nem gostava, mas Hugo gostava de posar como um bom marido para os sócios, e por isso, fora daquele quarto, eu era a esposa mais mimada que você poderia imaginar.
E lá estava eu, em mais uma sessão de compras, quando esbarrei com Vincenzo e uma garota desconhecida, que além de ser sua noiva, estava grávida.
Cassandra.
Pensei nela durante todo meu trajeto para casa. Ela parecia tão jovem e inocente, o que me causou medo, mesmo que Vincenzo fosse um bom homem, apenas ela sabia o que acontecia de verdade quando eles estavam juntos a sós. Tive medo por ela, pelos filhos que carregava.
Entrei em casa e me surpreendi ao encontrar Hugo saindo do seu escritório. Ele nunca estava em casa, não pelo dia.
— Vicenzo está noivo... - sussurrei ignorando o formigamento em meu corpo. Eu ficava em alerta sempre que ele chegava perto, mas me recusava a abaixar a cabeça e sempre seguia em frente. Fingir que ele não me afetava era uma forma de enfrenta-lo, de mostrar a ele que eu ainda estava de pé, que eu não tinha medo dele, mesmo que fosse tudo mentira.
— O que? - Hugo parecia meio surpreso. O que me deixou surpresa, ele e o futuro consigliere cresceram juntos e quando assumissem seus cargos, seriam o braço direito um do outro.
— Esbarrei com eles quando estava fazendo algumas compras, ela está grávida...
Outra vez o choque atingiu as feições de Hugo.
— Parece que Vincenzo conseguiu mesmo alcançar seu objetivo - ele disse enquanto passava por mim, mas parou, segurando meu braço, me impedindo de seguir para as escadas. — Fique longe dela, não quero problemas. - me alertou e eu fiquei calada até que ele caminhasse para fora de casa, para minha sorte, estava indo embora e, eu pedi que ele demorasse semanas para voltar.
— Você não manda em mim, Hugo. - disse entre dentes e a vontade que eu estava de me tornar próxima dela, só aumentava.
Odiava a forma como Hugo me tratava, não importava o quanto eu tentasse agrada-lo, ele só piorava, então chegou um momento em que abri mão dele. Aquele casamento era apenas uma forma de se vingar de mim, eu sabia, mas quando ele me fez a proposta, eu não achei que Hugo ficaria tão empenhado em me controlar.
Eu não conseguia evitar lembrar da nossa adolescência, éramos felizes aquela época, mas eu estraguei tudo... Talvez sofrer daquela forma era um castigo por ter deixado Hugo destruído, por ter sido uma covarde, não ter tido coragem suficiente pra ficar... Aquele menino carinhoso, não existia mais, e eu era a culpada por isso.