PRÓLOGO

1975 Words
CHRISTIAN ( Seis anos antes. ) Que as vezes as coisas conspiram contra nós, eu já sabia. Mas não podia imaginar que justamente em um dos dias mais importantes da minha vida, isso iria acontecer. Mil vezes maldito! Carro do c*****o! Passo a mão por meus cabelos, antes perfeitamente alinhados mas agora já mostram os sinais do meu desespero, encaro meu Straklher Âmbar quase como se ele pudesse me encarar de volta. Claro que foi arriscado sair com ele, mas é um dos meus preferidos mesmo sendo de uma coleção tão antiga. Por fora não parece um carro de tantos anos atrás, antes mesmo de eu nascer e meus pais se casarem. Mas os anos o fizeram parar na estrada no meio do nada. Totalmente sem controle, acerto um chute em direção ao pneu, não que ajude, mas na tentativa falha de controlar minha raiva. — Desculpe por isso... Isso é... tão desconcertante. — Acaricio a porta do carro num pedido de desculpas a pobre lata velha quebrada. — É mesmo como bater na minha mãe. Agora, estou falando sozinho. Torno a olhar o relógio caro no meu pulso. 6.45 da manhã. Em quinze minutos a reunião vai começar e o motivo dela, não vai estar na empresa. Pego meu celular mais uma vez e ainda estou sem sinal para poder avisar ao meu pai o que aconteceu. É o meu fim, definitivamente é o meu fim! Nem sei como seria chegar na empresa no estado que estou, para ficar na frente dos patrocinadores, associados, toda a equipe Straklher e alguns advogados. Acordei cedo, tomei um bom banho e passei uma fragrância masculina em partes estratégicas. Vesti minha camisa mais alva e sem nenhuma dobra, ajeitei os punhos deixando o mais alinhada possível. Separei e coloquei um terno grafite do melhor tecido, assim como meus sapatos italianos. Meus cabelos? Não deixei um fio fora no lugar. Agora estou parecendo que caí dentro de um caminhão de lixo. Arranquei o paletó, arregacei as mangas até o cotovelo e a camisa branca agora está amarrotada e coberta de graxa. Meus cabelos estão totalmente desalinhados e posso jurar que essa mancha na minha calça é de óleo. Assim que o carro parou na estrada e começou a sair fumaça, eu abri o capô para encontrar o motivo do problema. Descobri que estava realmente fodido, vendo o estado do motor. A fumaça azulada já me mostrava o problema, mas vejo que realmente não vou sair daqui sem ferramentas e um cilindro novo. Por que eu não tenho a p***a de uma chave inglesa no porta malas? Os anéis dos pistões estão com folgas excessivas e grandes, assim como os cilindros, que estão totalmente frouxos. Tentei apertar os anéis com as mãos, mexeram um pouco mas não se ajustaram perfeitamente. Já os cilindros nem adianta apertar, preciso de dois novos. Como vou achar no meio do nada? Para completar, nem uma alma penada passa pela rua para eu apelar para ela. Entro no carro, apoio o braço no volante e enterro meu rosto dentro. Mais uma vez eu estrago tudo, por que tenho esse dom? Isso é culpa minha, deveria ter usado um carro mais novo ao invés de usar o Âmbar simplesmente porque é minha preferência ou importante para mim. No mínimo eu deveria ter visto antes se estava tudo em ordem, mas não o fiz. Tudo parece tão fácil para meu pai, ser o líder da Straklher. Caramba, nossas vidas nunca foram perfeitas desde que eu era uma criança e tive minha casa incendiada. Se eu não tivesse tirado a mim mesmo e minha irmã de dentro... Nunca foi fácil. Mas meu pai nunca deixou a empresa sem atenção, nunca. A Straklher sempre esteve no topo, por mais que nosso teto estivesse caindo. Ao mesmo tempo meu pai nunca deixou que nenhum de nós ficasse sem apoio. Como toda família já tivemos nossas brigas, mas não importa o que fosse, meu pai estava lá por nós. Ser o todo poderoso senhor Patt parece fácil para ele, por mais que não seja. Claro que eu nunca vou ser como ele, nem sei porque ainda tento. Para ele, é como entregar um cartão de visitas. Levanto bruscamente o rosto do volante. É isso! Um cartão de visitas! Puxo minha pasta do banco do carona e num compartimento de trás busco um pequeno cartão que um homem me entregou essa semana, logo quando eu estava saindo da empresa. É um cartão de mecânico. Olho o endereço, que coincidentemente é aqui perto e não demoraria muito tempo. É possível ir andando inclusive, mas não posso deixar meu Âmbar aqui. Deixe um Straklher no meio da nada e nem precisa voltar para buscar. Não sou capaz de abandonar esse carro, mesmo que ele tenha me abandonado. A coleção da minha mãe não é mais fabricada, é uma relíquia que quem tem, tem. Deixo o carro no modo conversível para poder subir no banco, ergo meu celular o mais alto que consigo esperando encontrar algum sinal. Demora alguns minutos, mas encontro um ponto de sinal. É o suficiente para eu avisar a meu pai por uma mensagem de áudio que não chegarei a tempo. — O carro me deixou na mão, sinto muito mesmo, eu deveria ter sido mais prevenido. Cuide de tudo por aí. — Aviso. — Estou dando um jeito de resolver, espero que possa atrasar ou adiar a reunião. Vou chegar o mais rápido que eu puder. — Encerro o áudio e verifico se enviou. Demora graças ao sinal fraco, mas a mensagem aparece como enviada. Não dá tempo para comemorar, já começo a ligar para o número do cartão ainda de pé no banco do motorista. Ligação on ~ — Oficina Garden, bom dia. — Uma voz masculina atende. — Graças a Deus! — Me permito uma comemoração rápida. — Eu preciso de ajuda, meu carro parou. Estou na via principal a caminho do centro. Preciso que venha me encontrar. — Seu nome é? — Christian, Christian Patt. — Sr. Patt, estou em serviço e não posso sair agora. Mas fique seguro, estarei aí assim que terminar com o cliente daqui, prometo que será rápido. — m*l deixo ele terminar. — Não tenho tempo. — Afirmo. — Por favor, olha, eu sei concertar. Só preciso de uma sacola de ferramentas e dois cilindros novos. Tem algum funcionário que pode me trazer? — Bom, eu... — Faz uma pausa. — Na verdade eu tenho uma pessoa. Já estamos indo, aguarde. — Obrigado, muito obrigado. — Não consigo segurar o grito. — Não tem de que, garoto. Cuidado por aí, é uma rua perigosa para ficar parado muito tempo. Nos despedimos e encerramos a ligação. Ligação off ~ O tempo foi se arrastando na minha espera, estou sentado no banco do carro e em vez de ficar atento estou quase adormecendo. São 7.15 e nada. Luto contra o sono, m*l consegui dormir de ansiedade. Quando finalmente preguei os olhos, era hora de acordar. Agora com dezoito anos vou deixar de ser um estagiário e ser anunciado hoje num cargo de autoridade, já que meu pai disse que provei meu valor nesses dois anos de trabalho. Serei o segundo, a autoridade máxima depois dele. Bato os olhos devagar e até penso estar vendo uma miragem quando vejo fios tão avermelhados como brasas, levanto devagar a cabeça e vejo uma garota caminhando até mim. Os cabelos ruivos junto com a pele tão branca que é possível ver o rosado de suas bochechas, formam uma perfeição indescritível – são os cabelos mais lindos que já vi. Além do tom quente, as ondas descem compridas em mechas cheias até a cintura. Não só o cabelo, mas ela inteira é perfeita, noto enquanto ela se aproxima. Fico de pé, vendo a garota caminhar cheia de delicadeza num vestidinho branco e soltinho. Ela parece um verdadeiro anjo, ainda é difícil acreditar que seja real. Parece ter uns dezessete anos, é pequena e como sempre fui bem alto não posso dizer a idade pela altura. Também é bem magra, mas o vento que bate no vestido colando ele no corpo revela o corpo desenhado e uma cintura fina que parece quebrar, assim como as curvas do quadril. Tudo acontece rápido mas é como se eu visse em câmera lenta de tanta leveza que ela tem em cada passo. — Sinto muito pela demora, ainda estava dormindo quando meu pai pediu que eu viesse. Um sorriso doce e ingênuo nos lábios vermelhos e cheios acerta em cheio meu coração – Ela nem chegou a mostrar os dentes, Christian, o que aconteceu com você? Já vi todo o tipo de garotas bonitas, desde que era uma criança sou cercado de pessoas belíssimas. Nenhuma como ela – meu cérebro responde. Engulo seco quando ela estende a mão pequena para mim. — Não posso, perdão. — Mostro minhas mãos cobertas de graxa. — Não se preocupe com a demora, o importante é que está aqui. Você me salvou. — Sorrio saudoso e ela retribue. — Acredite, eu não me importo em sujar as mãos. Sou filha de um mecânico. — Brinca e se aproxima mais. — Aqui está tudo que pediu. — Não parece nesse vestido. — As palavras escapam e ela cora mais. Me arrependo de ter falado, ela fica ainda mais linda e angelical quando está corada. Finjo naturalidade e pego a sacola das mãos dela, então caminho até a frente do capô. — Eu o uso apenas quando vou para a academia de ballet. — Começa o assunto, se aproximando de onde estou. — Nem sempre sou tão limpinha assim. Então é do ballet que vem toda essa delicadeza. Não respondo nada, apenas arregaço mais as mangas e afasto os cabelos que escorrem para minha testa. Deixo a sacola no chão e pego a chave inglesa. Vou apertando os anéis soltos, colocando o máximo de força possível. — Bom, se você já tem tudo que precisa eu vou embora. — Dessa vez a respiração descontrolada faz ela falar mais devagar, solto a chave e viro para ela. Encontro seu olhar fixo em mim, com um brilho diferente, como se ela estivesse gostando do que vê. A ruiva encara meus braços expostos e sujos de graxa, seu olhar caminha até meu peito exposto por alguns botões da camisa que abri em minha agonia e sobe até meu rosto com meus cabelos despenteados. Minhas veias saltam, engulo seco buscando autocontrole. — Espere, se quiser. Assim que eu concertar você pode ir comigo e meu motorista te leva para a sua academia. — Seu motorista? — Não sabe quem eu sou? — Me aproximo dela, que dá um passo para trás e olha para mim um pouco assustada mas não com medo de mim, seu medo é de si mesma. — Não. E bom...não devo entrar num carro com alguém que não conheço. — Você está certa. — Deus, que vontade de senti-la ao menos com um toque. Mas seria um pecado sujar de graxa essa pele tão imaculada e que com certeza é mais macia que um pêssego. — Meu nome é Christian, Christian Patt. — Patt? Como aquele cara rico dono da... — Apenas um cara, um cara que seu pai sabe o nome. Pode confiar em mim, menina. Eu não vou te sequestrar ou algo do tipo. Se eu fosse, seu pai saberia exatamente onde me encontrar e isso não é muito inteligente. — Eu a interrompo. — Ainda não sei seu nome. — Jasmine. — Os lábios se mexem de uma forma tão sexy, que ela nem sabe o quão bem soa quando ela fala. — E acho que tem razão. Quando mais eu vou ter a chance de ir para a academia de motorista? Talvez mais do que você imagina, Jasmine.
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