Cap 8

855 Words
Emma Emma – Posso conversar com a senhora? Eu encontrei a minha mãe com os olhos fechados, sentada no sofá e sabia que ela estava orando pela saúde do meu pai Helena – claro Emma – Atrapalhei a sua oração, né? Helena – Você nunca me atrapalha filha e acho que Deus já sabe perfeitamente o que eu tenho pedido, é sempre a mesma coisa. As vezes eu penso que só converso com ele para ter certeza de que ele está me ouvindo, eu não posso ser egoísta filha, a ponto de ficar pedindo todos os dias que ele deixe o seu pai aqui do meu lado, mas sofrendo, com dor, eu também tenho que pensar no Arqueiro Era como se ela já estivesse conformada e acho que estava mesmo, o médico tinha dito que meu pai não tinha mais muito tempo e vida, a não ser que ele fizesse um transplante, mas ele não queria, dizia que a jornada da vida dele já estava acabando, que tinha vivido dias belos e felizes e que não queria a oportunidade de estragar tudo tendo mais alguns momentos Eu me sentei do lado dela, passei minha mão nos seus cabelos. Apesar de estar com o semblante mais cansado, ela não aparentava estar velha, apenas alguns fios de cabelo grisalho ousavam aparecer no meio dos seus cabelos castanhos escuros. Minha mãe era linda, sempre foi Eu contei que tinha ido atrás do Ítalo, que fui conversar com ele pessoalmente porque queria ver se ele realmente tinha a coragem de ser aquele valentão no cara a cara. Lógico que ela me disse que já sabia, porque me conhecia e tinha a certeza que a menina marrenta dela não ia deixar aquela história sem se resolver. Ela disse com todas as letras que, mesmo que não concordasse com o pedido do meu pai, sabia que eu iria fazer de tudo para cumpri-lo Helena – E o que ele te disse? Emma – No começo ele se fez de marrento, sabe, daquele jeito que eu já conheço, mas fui preparada Helena - estou vendo mesmo, você está linda filha, ele não caiu pra trás quando te viu não? Emma – Não, mas eu acho que foi porque a parede estava bem atras dele, senão, ele não teria nada para apoiar o corpo e ia sim cair Nós rimos juntas, como já há tempos não ríamos, mesmo sabendo que não era uma situação engraçada. Eu contei a ela que o Ítalo ainda tinha a ideia de que eu me fazia uma karma na vida dele, que eu simplesmente era um motivo para ele sempre se lembrar que a maldade passou na vida da sua família e deixou um grande estrago Emma – Ele jogou na minha cara de novo que não consegue me ver diferente, mas eu escutei uma coisa nova da sua boca, ele acabou me confessando que tentou, mãe, que tentou se livrar desse sentimento e por um momento, eu pensei que... Ela sabia, por mais que eu tentasse negar, até para mim mesmo, a minha mãe sabia que eu ainda guardava o Ítalo numa caixinha especial dentro do meu coração e da minha cabeça. O quanto eu tentei, meu Deus, fui até embora do Rio, do Brasil, para poder arrancar ele de vez do meu coração, mas não consegui. Nem eu mesma me entendia, nunca tive nada com ele, nem um beijo, o que eu vivi com o Ítalo, na minha cabeça, era fruto apenas de uma promessa, nada mais, eu não tinha nem mesmo o direito de sonhar, mas não conseguia parar Helena – Filha, eu conheço aquele menino, pode ser que a vida tenha tentado mudar a sua essência, mas eu ainda o conheço. Ele está perdido, só isso, pedido naquilo que ele acredita, nos sentimentos dele, perdido naquilo que pode ou não ser certo, eu creio mesmo que a história de vocês ainda não terminou Emma – A gente nem chegou a ter uma história mãe Helena – Por isso mesmo Ela me deu aquele sorriso, o que eu sempre guardava comigo e que me consolava quando eu estava longe. Mesmo eu tentando me convencer do contrário, sabia que tinha um sentimento pelo homem que nunca disse que me ama, que nunca prometeu ficar comigo e que, na primeira oportunidade, me deu um belo de um pé na bunda Eu acho que era isso que me fazia ter ainda mais vontade de cumprir aquela promessa para o meu pai, a vontade de mostrar para o Ítalo o que ele perdeu, o que ele podia ter tido comigo, a vontade de fazer com ele a mesma coisa que ele fez comigo, mesmo o meu coração dizendo que era errado Mas o que poderia ser tão errado? Eu iria fazer a vontade dele, iria embora quando meu pai também partisse, deixaria o Alemão nas mãos dele, assim como era a vontade das nossas famílias, a única diferença é que eu faria isso tendo a certeza de que o Ítalo viu que me perdeu de verdade, só que, querendo que eu ficasse. O que há de tão errado nisso?
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