EVA DAVIS.
Manhattan, New York.
Olhando para uma das maiores vistas em mais um dia de trabalho, me pego pensando como seria se tudo voltasse a ser como era antes. Como seria se eu voltasse a morar naquela quitinete do Brooklyn pagando 100 dólares por mês pelo aluguel e muitas vezes sem ter o prato principal do dia.
Literalmente, tudo seria bem pior se eu não tivesse conseguido esse emprego, então eu não posso reclamar de barriga cheia. No maior país capitalista do mundo, não se deve reclamar da intensa carga horária, porque, afinal, nós precisamos disso para sobreviver. Se eu não levantar todos os dias, posso ir dando adeus à vida melhor que construí.
Saio dos meus pensamentos quando ouço baterem à porta e dou permissão para entrar. Me viro, dando as costas para a vista do meu escritório. Não é todo funcionário que tem uma vista privilegiada como essa. Consegui após me destacar por mais de um ano na empresa.
“Ocupada?”, pergunta Alex, o gerente do sexto andar, ao entrar na minha sala.
“Olá! No que eu posso te ajudar hoje, Alex?”, eu pergunto, já observando o que tem em suas mãos.
“Seguinte, Eva, a gente está falando de coisa grande agora, ok? Se você já dá o seu sangue aqui, vai ter que se redobrar nesse projeto”, o Alex diz, sentando-se na cadeira à minha frente.
“Você não me mete medo, Alex. Tem alguma secretária melhor do que eu para executar projetos aqui?”, eu pergunto e ele ri.
“Literalmente, nenhuma. Você é você, e é exatamente por isso que estou a escolhendo para fazer isso, minha cara Eva”, ele responde.
“Pode falar, estou toda a ouvidos”, eu digo, empolgada.
“Bom, aqui está mais um catálogo pronto da linha nova de celulares. Precisamos urgentemente de uma data para lançamento. Tem que ser em um dia estratégico. O chefe quer que tudo seja perfeito”, diz Alex, me entregando o catálogo.
“E ele terá tudo perfeito. Isso vai ser fichinha para mim”, eu digo, confiante, “Semana que vem eu já te passo a data e todos os detalhes do evento”.
“Perfeito! Até mais, Eva”, ele diz, se levantando e se despedindo.
“Até”, eu respondo.
Como sempre, o senhor Aaron Clark querendo tudo beirando à perfeição. Semana passada encontrei com ele no elevador. Estava com tanta pressa ao falar no telefone que com certeza não notou a minha presença, mas eu notei a sua, e notei bastante. No dia que eu ficar cara à cara com ele, pode ter certeza que eu vencerei na vida.
A agenda desse homem é tão concorrida que ele m*l aparece na própria empresa. Os empresários de Nova Iorque pagam p*u para o Aaron, e ele parece ser bem restritivo e reservado nessa questão. Espero que um lançamento bem elaborado o surpreenda, pois é uma das únicas coisas que posso lhe oferecer, até o momento.
Sozinha na minha sala, eu dou uma olhada rápida no catálogo. Nossa empresa trabalha com tecnologia e, a cada lançamento, eu me surpreendo mais. Esse lançamento com certeza vai ser um sucesso, e pelo que o Alex falou, eu serei a encarregada para garantir que tudo ocorra bem.
Mais uma vez batem à porta e eu libero a entrada. Dessa vez, é a Janeth. Ela insiste em competir comigo em tudo que eu faço. Pela sua cara emburrada ao entrar, posso garantir que ela ficou de fora do novo projeto.
“Olá, Janeth! Tudo bem?”, tento ser o mais simpática possível.
“Não poderia estar melhor, Eva”, ela responde, dando um sorriso bem falso.
“Ótimo! E o que você deseja?”, eu pergunto.
“Vi que o Alex passou aqui agora há pouco. Você precisa de alguma ajuda? Nós podemos dividir as tarefas, se quiser”, ela diz, se oferecendo.
“Ah, não. Se trata de um projeto individual, então pode deixar que eu realizarei sozinha”.
“Uau! É o projeto dos novos celulares?”, ela pergunta, surpresa.
“Sim, fiquei encarregada pelo evento de lançamento”.
“Que bacana! Espero que ocorra tudo bem”, ela diz.
“Obrigada pela preocupação, Janeth”, eu sorrio.
Janeth sai da minha sala e eu reviro os olhos. Ela sempre tem que vir saber de tudo. Quando não pergunta diretamente para mim, fica perguntando a todos os funcionários do nosso andar. Todos eles vêm me dizer depois, e isso me assusta um pouco, porque além de inveja, é obsessão. Se a Janeth não fosse hétero, eu poderia jurar que ela é apaixonada por mim, mas eu sei que é apenas recalque.
Acesso o meu computador para ficar por dentro de tudo que envolve tecnologia e novos modelos de celulares. O marketing da nossa empresa já está em todo vapor por todos os sites de pesquisa e principalmente nas redes sociais, o que me dá ainda mais incentivo para investir todas as minhas energias nesse projeto.
Dou pausa em todas as outras tarefas que eu estava realizando para me dedicar somente ao lançamento. Em uma semana eu resolvo isso e posso voltar às atividades normais. Todos os detalhes precisam ser minimamente pensados. Não posso deixar passar nada. Vai ser um projeto perfeito.
Vou completar dois anos trabalhando aqui na TimeTec e já me destaquei bastante, mas pode melhorar mais. Eu preciso me destacar para o chefe, já que ainda não nos conhecemos oficialmente. Preciso mostrá-lo que tenho potencial, pois aí, a minha chance de avançar de cargo é ainda maior. Tenho vontade de crescer. Tenho planos, ambições, e metas que só serão cumpridas com muito esforço.
Irei dar o melhor de mim, porque foi isso que eu fiz a minha vida inteira. Primeiro, sempre tirando as melhores notas na escola. E agora, sempre me destacando entre os milhares de funcionários. O Aaron Clark vai ouvir falar de mim. Eu serei a encarregada disso e eu vou conseguir, porque ninguém segura uma mulher segura.