Meus pés estacam antes de entrar no bar.
Será que ele estará aqui?
Não que eu esteja ansiosa para vê-lo, a verdade é que não pensei por um minuto em Axel até o momento, entre acordar, ir para o estágio, voltar novamente para casa, estudar e me aprontar para o trabalho, o único momento que tive para pensar nele é agora, há poucos segundos de entrar para trabalhar mais uma noite.
Não deveria estar ansiosa, mas estou.
Há algo nele que me atrai, vejo homens bonitos todos os dias, contudo, algo na sua expressão me atrai imensamente.
Como o mel atrai a abelha.
Entro no estabelecimento e olho ao redor, em busca dele. Meus olhos demoram alguns segundos para localizá-lo no ambiente levemente escurecido, e lá está ele com o dono do bar, Vladimir.
Marjorie está servindo a ambos com um largo sorriso no rosto, e o que me afeta é o sorriso que ele devolve a ela.
Talvez em agradecimento?
Marjorie é uma mulher linda e os homens seriam tolos se não lhe poupassem um segundo olhar, mas quando ela sai, ele não lhe dirige sequer um olhar, ao contrário, aquelas orbes castanhas se fixam em mim.
Respiro profundamente, pois por um pequeno momento, senti o ar faltar em meus pulmões.
Maldição de homem gostoso!
E ele era totalmente consciente disso, pois deu aquele sorrisinho de canto de lábios que deixa qualquer mulher de pernas bambas.
Axel assente em cumprimento e eu retribuo o mesmo gesto, em seguida corro para o banheiro para me preparar.
Será que ele virá todos os dias?
Porque se vir, será difícil manter a concentração e trabalhar ao mesmo tempo.
[...]
Axel
Deliciosa e apetitosa.
Meus olhos a seguem enquanto anda rapidamente para o banheiro.
Fiquei surpreso ao perceber que notei sua presença assim que passou pelas portas, ainda não tinha visto-a, entretanto algo me fez senti-la.
Estranho?
Um pouco, talvez.
Mas o que não era estranho na minha vida?
Cresci no meio de sangue e morte, fui criado para ser o substituto do meu pai assim que morresse e comandar uma cidade não era fácil, tudo requer minuciosa atenção e planejamento, desde a parte mais grotesca da cidade, como drogas, prostituição, armas, controlar a polícia, a política e até mesmo o prefeito, até a melhor parte da cidade, como gerar empregos para os mais necessitados, doações, saúde, educação, dentre as mais diversas áreas.
Eu sou aquele que controla essa cidade e a tenho na palma das minhas mãos.
Meu pai não era uma pessoa boa, mas me ensinou com punhos de ferro como lidar com esse trabalho, nessa parte sou grato, entretanto, o ódio é maior por ter causado a morte da minha mãe.
Vê-la definhar na minha frente enquanto meu pai se divertia com as prostitutas me fez praticamente dançar em cima do seu caixão no dia do seu velório.
— Parece que você se perdeu, meu amigo — Vladimir aponta e volto minha atenção para seu rosto, que expõe um grande sorriso sacana — E sei exatamente para onde ela foi — Ele inclina a cabeça indicando o caminho por onde Yesenia foi.
— Não é nada demais.
— Imagina se fosse! — Vladimir ri alto e isso faz uma vontade absurda subir em meu braço para socá-lo.
Respiro fundo e peço por paciência em minha mente.
O d***o e até mesmo Deus sabe que as pessoas não gostam de me ver sem paciência.
— Nunca vi você correr atrás de uma mulher, se bem que Yesenia vale a pena — arqueio a sobrancelha e ele rapidamente levanta as mãos em sinal de rendição — Não sou cego para as mulheres que trabalham aqui, mas você sabe que não misturo negócios com prazer, por mais tentador que seja muitas e muitas vezes.
— Não estou “correndo” atrás dela como você tão graciosamente disse, apenas estou interessado, você sabe que não me envolvo profundamente nos meus relacionamentos, Yesenia é apenas uma mulher para passar o tempo.
— Só tente não estragar a vida da garota, ela não sabe um terço do que essa cidade e você esconde.
— Parece que não me conhece, Vladimir, nunca estraguei a vida de ninguém, muito menos de uma mulher — nunca sujeitei uma mulher há uma vida que não merecesse, exceto aquelas que me traíram na ânsia em busca de poder.
Afinal, eu ditava a máfia dessa cidade.
O poder de comandar Southward Angel está nas minhas mãos.
— Bom, não sei tudo sobre a sua vida, apenas o que me mostra, mas você sabe que não está ficando mais novo, já está com 34 anos e o tempo está passando depressa, daqui alguns anos fará 40 e ainda não tem nenhum filho.
Ah...
A maldita pressão para ter filhos, ouço isso pelo menos uma vez por mês e toda vez tenho vontade de estrangular a pessoa que fala isso.
— Eu saberei o momento certo, Vladimir — corto a conversa, já estou saturado desse assunto, e Vladimir não é uma pessoa que gostaria de matar, gosto de sua companhia quando a mesma convém — Irei para casa agora — levanto e aperto a mão do meu sócio.
Lanço meu olhar pelo ambiente pela última vez e encontro Yesenia conversando com o barman enquanto o rapaz faz as bebidas.
Meus punhos se apertam enquanto assisto à interação, ela sorri de uma forma que não sorriu desde o dia em que a conheci, um sorriso que se estende até a orelha.
O barman diz algo que a faz soltar uma gargalhada e eu conto mentalmente até três para não cometer uma loucura no meio de várias pessoas, viro-me para Vladimir que me assistia atentamente e digo as palavras que colocarão um ponto final na merda que estou assistindo.
— Despeça o barman, se não o fizer, ele terá destino pior — dito isso saio irritado do bar e vou direto para o meu SUV, batendo a porta com toda a força quando entro.
Respiro profundamente tentando me acalmar e percebo minhas mãos trêmulas, de uma forma que não acontecia a anos, algo que ocorria principalmente quando estava com meu pai ou em ataques de raiva.
E é nesse momento que me pergunto se não é o melhor abandonar essa conquista.
Yesenia não vale tudo isso.
Não se isso prejudicará tudo o que construí durante esses anos.